domingo, 30 de dezembro de 2012

Identidades e Amigos Secretos


Alguns de vocês já estão acostumados a minha habitual paranóia na internet. Não acho que me prive de muita coisa, caso contrário não teria um blog em que ocasionalmente posto fotos pessoais e praticamente sempre deixo escapar muito do que eu penso mas não teria coragem para falar na vida real. Contudo, ao mesmo tempo em que desfruto de certa liberdade na internet, morro de medo de ser “desmascarada”.

Sou do tempo em que internet era sinônimo de anonimato. Em que a gente podia ser quem a gente quisesse, sem mostrar a cara, sem esbarrar em pessoas que não temos a menor intenção de encontrar nos momentos de lazer na vida real. É claro que com o advento das redes sociais isso tudo mudou e ao invés de a internet ser o lugar onde as pessoas se escondiam para se mostrar, agora ela é o lugar onde elas se mostram para se esconder (se é que faz algum sentido). E isso bagunçou tudo. 

Porque com a Lei dos Seis Graus de Separação, bastam alguns cliques para ter acesso a todo um arsenal de informações sobre gente que você conhece ou pode vir a conhecer.

Pois então. Tenho blog, conta no Twitter, Orkut e recentemente abri um perfil no Facebook, mas faço o possível para uma coisa não interferir na outra e dificulto a vida de quem queira traçar as conexões entre elas e estabelecer mais contatos do que o nível de privilégios de sua conta permite. Tremo na espinha toda vez que alguém de um determinado nicho invade o habitat do outro (principalmente no blog), cheia de medo do que elas vão pensar.

Sei que devia deixar esse tipo de paranóia de lado, porque na maioria das vezes o resultado dessa interferência é bem legal, e ao contrário do que eu sempre imagino, elas não vêm falar comigo cheios de pedras na mão, mas com um punhado de palavras elogiosas que inflam bastante o ego.

Mas faço isso porque eu sou boa nesse negócio de detetive virtual e quando tenho tempo para fazer esse tipo de coisa, descubro outras bem nonsense. Para você ter uma ideia, na época do colégio, quando não tínhamos mais nada para fazer, digitávamos o nome de professores no Google só pra ver o que aparecia. E traçávamos um bom perfil dos caras, mesmo com pouca coisa disponível. 

Então, para você que se pergunta por que eu não coloco widgets do Twitter no blog ou link do blog no perfil do Twitter, ou uma foto de rosto nas redes sociais, a razão da minha paranóia já começa por eu não confiar em mim mesma. Que dirá confiar em qualquer um que apareça pelo meu caminho e decida procurar meu nome por aí para ver o que acha.

Não quero ficar dando satisfações da minha vida real e virtual para quem não merece. Não quero que elas tenham acesso a partes da minha vida que não lhes dizem respeito. E não quero que algumas pessoas que apenas fizeram participação como coadjuvantes dela em algum momento continuem tendo acesso a minha pessoa (ou à determinada parte da minha pessoa), depois já terem saído dela completamente.

(Você que lê esse blog e nunca dá as caras nos comentários, e por acaso me conhece de verdade, não se sinta acanhado ou expulso desse humilde espaço cibernético. Pode continuar vindo, tenho maturidade suficiente para postar somente aquilo com o que eu posso lidar no futuro. Se quiser, pode até dar um “ Oi” nos comments ali embaixo. E você que lê esse blog e gostaria que mais pessoas o conhecessem, tudo bem, também. Não me importo com a divulgação. Até gosto. Já passei DESSE nível de paranóia, sei que não tenho controle sobre a internet, apenas faço a minha parte para ter essa falsa ilusão de que tenho algum poder sobre ela.)

Recentemente encontrei com uma pessoa assim, que ficava procurando o nome dos outros nos sites, rastreando a vida virtual de qualquer um que conhecia e agradeci muito a Deus por ainda não ter colocado a foto no perfil do Facebook, por usar um pseudo-pseudônimo no blog, e por não ter página de apresentação sobre a blogueira. Acho até que a pessoa chegou muito perto de me descobrir, mas acho que a falta de integração entre as contas não permitiu que ela fizesse o trabalho completo.

Mas o problema maior não é se mostrar para pessoas que você não conhece. É se mostrar para pessoas que acham que te conhece. Pessoas que você fez um esforço hercúleo para esconder aquela parte de si que sabe que será alvo das infinitas brincadeiras sem graça. Ou pessoas que você fez questão de não mostrar outros lados mais sombrios, mais alegres, diferentes de você mesmo, por pura preguiça de ficar se explicando demais.

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Certo dia, em pleno feriado ensolarado, eu estava no escritório trabalhando por causa do prazo apertado de um projeto. Nas baias ao lado, estava uma outra equipe também trabalhando pelos mesmos motivos. O tal dia era o dia da estréia de Amanhecer – Parte 2 e uma menina da outra equipe caiu na desgraça de contar que era fã da saga. Pronto. Foi o suficiente para virar motivo de chacota entre todos os colegas durante toda a tarde. O gerente metia o malho na série, e a menina ainda tentava defender Edward, Bella e Cia, inutilmente, claro, já que não existe argumento no mundo capaz de fazer qualquer um com um mínimo de consciência mudar de opinião.

É claro que no dia eu não me agüentei e ri demais das zoações do pessoal com Crepúsculo (porque eu não me agüento e tenho que rir com essas trollagens de Crepúsculo, pelo simples motivo de a série já ter nascido zoada pela própria autora que não teve a capacidade de parar um segundo e pensar: “Peraí, o meu vampiro BRILHA, isso não tem nada a ver!” ou “Será que não vai ficar esquisito esse negócio do imprinting do Jacob num bebê?”), mas secretamente tentei mandar mensagens telepáticas para ver se melhorava a situação dela: “Mas, menina, você não tem noção, não? Ficar falando esse tipo de coisa pros seus colegas de trabalho? Para de tentar defender! Ria de você mesma, vai ficar menos constrangedor!”.

Pra piorar, a menina ainda contou que gostava de Harry Potter e tinha ido a uma premiere fantasiada uma vez. Ok, as mensagens telepáticas não funcionaram e ela cavou a própria tumba agora, enfim.

Mas enquanto ria e morria de vergonha por ela, lá no fundo, a verdade é que eu invejei a tal garota. Achei-a muito corajosa, de fato. Porque é preciso uma boa dose de coragem para admitir em alto e bom som, num ambiente completamente hostil: “Gosto de Crepúsculo mesmo. E daí?”. Por um momento quis ser completamente honesta como ela e não ter medo de me esconder debaixo de uma “identidade secreta”. Porque eu não gosto de Crepúsculo, mas é claro que também tenho um monte de esqueletos no armário que acho (e às vezes sei) que não seriam muito bem vistos por pessoas do mundo adulto e por isso os escondo.

Mas desisti porque ser corajoso e honesto dá muito trabalho (mais trabalho do que dificultar a conexão entre os perfis das redes sociais), e perto de gente que não te entende traz mais dor de cabeça do que alívio.

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Num outro dia, estávamos conversando eu e a Ju no Twitter sobre o que comprar de amigo oculto para um amigo contador. Como sou contadora, dei várias ideias e me diverti num site com camisetas personalizadas que acabei descobrindo. O tempo passou e por causa de um outro amigo oculto (esse só com pessoas da blogosfera), acabei adicionando a Ju também no Facebook. Num belo dia, eis que estava passando as atualizações do Facebook e apareceu uma foto de um cdt (colega de trabalho) nas fotos da Ju!!!!! E depois que eu fui falar com ela, ela me disse que o tal cdt era o contador que ela tinha tirado no Amigo Oculto!!!!!!!!

:O
:O
:O

Eita, mundo pequeno!!!!!

(Se você parar pra pensar, até que não seria tão pequeno, já que, eu e a Ju moramos relativamente perto, mas mesmo assim, né!)

É claro que naquele momento, todo o meu plano de separação das IDs na internet estava prestes a ruir já que a Teoria dos 6 Graus de Separação tinha precisado de apenas 1 Grau para se cumprir e o cdt obviamente iria me adicionar no Feisse (agora eu já tinha foto!), abrindo as portas para os “Adicionar” de todos os outros CDTs, então pedi encarecidamente pra Ju não contar do blog, por causa da história das Identidades Secretas e da minha paranóia sempre alerta, ao passo que ela, professora, entendeu completamente a minha preocupação (Obrigada, Ju!).

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E eis que depois daquele casamento de que comentei outro dia, a galera lembrou como era bom estar todo mundo junto novamente e num dia desses travamos uma conversa que foi até a madrugada.

Como sempre acontece quando a gente resolve conversar, tenho uma sensação boa, de pertencimento mútuo que é muito difícil de acontecer. Entre piadas absurdas e babados fortíssimos, em certo momento do papo, chegamos à conclusão de como é bom se esquecer que crescemos de vez em quando. E como era bom como isso acontecia quando estávamos juntos.

Gosto de estar com eles porque eu não preciso lembrar que cresci. Gosto de estar com eles porque não recebo olhares tortos cheios de julgamentos sobre tudo. Gosto de não ser a novata, a responsável, a quietinha. Gosto de ser um pouco maluca de vez em quando e como eles me entendem sem precisar dizer uma palavra. Gosto de como não preciso pensar muito antes de falar, nem escolher ou esconder qual identidade mostrar, com medo das interpretações erradas e das piadinhas de mau gosto que durarão para sempre.

Nesse dia outra coisa legal aconteceu e a gente quase marcou uma viagem junto. Em outra situação, não vou mentir pra você, a tal viagem também me daria um frio na espinha, porque esse tipo de coisa com gente que você não tem intimidade suficiente só poderia acabar em roubada. Mas naquele contexto, estranhamente, eu achei que seria uma boa ideia. O motivo do passeio era ainda mais nobre. E eu percebi o quanto eu tinha sorte de ter encontrado amigos tão leais.

E eu percebi que também que gosto deles porque com eles eu tenho vontade de ser uma pessoa melhor. Gosto deles porque com eles eu sou uma pessoa melhor. Gosto deles porque com eles eu posso ser quem eu quiser. Porque eu posso ser simplesmente eu.

PS A propósito, eu gosto de vocês, leitores do blog por todos esses motivos que eu listei agora também.
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sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Treinamento para o Fim do Mundo

Queridos leitores do Inútil Nostalgia, começo escrevendo esse post exatamente às 20:00 do dia 21/12/2012, mais conhecido como o Dia do Fim do Mundo.

Pelo menos o Fim do Mundo dessa década. Em 1999 também tinha uma dessas e estamos aqui até hoje.

Eu sei que o blog anda meio parado nesse último mês e a verdade é que não tenho nenhuma razão boa o bastante para que isso tenha acontecido. É claro que existem motivos para tal ocorrido (ou não ocorrido, no caso), mas, por ora, posso garantir que desistir do Inútil nem sequer passa pela minha cabeça e que esse hiato mais demorado do que o normal talvez esteja relacionado com o próprio fato de dezembro ter começado. Queria ter escrito um texto sobre isso também. Prometo que escreverei. Não sei porque estou me alongando tanto me explicando, já que parece que quase ninguém passa por aqui mesmo, mas enfim. (Sim, estou fazendo chantagem por comentários se você ainda não se ligou)

Mas a questão é que são oito da noite e o mundo não acabou. E a questão é que já são 21/12 e faz quase um mês que o blog não recebe uma nova postagem. E a questão é que até meia-noite ainda é dia 21/12/12 e só me restam umas poucas horas para aproveitar essa desculpa para atualizar isso aqui.

A ideia inicial era fazer uma Playlista para o Fim do Mundo (e ela ainda será executada), mas antes queria contar que ontem, dia 20/12, teve treinamento de incêndio no prédio em que estou trabalhando essa semana e que, depois que descobri que também teve o tal treinamento no mesmo prédio em que um amigo meu trabalha, na mesma hora, ficou muito claro que na verdade era tudo um treinamento para caso o mundo realmente acabasse no dia de hoje.

Ah, sim, teve esse treinamento ontem e eu morri.

Veja bem, obviamente, não estou escrevendo esse texto do além (estilo Brás Cubas). E se vocês estão lendo esse texto, o mundo não acabou (ainda) e estamos todos vivos (acho).

Mas o negócio é que se realmente estivesse ocorrendo um incêndio no prédio (ou o mundo estivesse acabando), eu teria morrido sem ter a chance de tentar me salvar (se bem que se fosse o fim do mundo não ia ter muita saída mesmo, mas enfim).

Ok, vamos começar do começo agora.

E pra começar eu queria dizer que nunca participei de um treinamento de incêndio.

Por isso, quando o cliente veio lá na nossa salinha pra dizer que ia ter um negócio desses no prédio e que aí a sirene ia tocar e que todo mundo ia fazer filinha para descer as escadas (mesmo sendo 11 andares) eu achei que ia ser muito legal.

Estava realmente animada para o “evento” também porque sempre que falam em treinamento de incêndio em lembro de Um Tira no Jardim de Infância e da cena em que o Arnold Swasjcbnjkbjgkjkbhjs consegue salvar as criancinhas do seqüestrador porque tinha ensinado a não entrar em pânico em treinamentos de incêndios antes.

Já estava contando os minutos para quando a sirene tocasse e eu fingir pânico ou fingir para as pessoas não entrarem em pânico, e me sentir como uma criancinha de Um Tira no Jardim de Infância.

Só que deu 16h e a sirene não tocou. Deu 16h05, 16h10, 16h15 e nada. A gente olhou para fora da nossa salinha e achou muito estranho porque não tinha quase ninguém dos funcionários nas estações de trabalho. Mas por outro lado, nem era tão anormal assim, visto que pelo que eu percebi essa semana eles passam a maior parte do tempo comendo na copa ou conversando no banheiro mesmo. E de qualquer forma, a sirene ia tocar.

Dali a pouco entra uma mulher na sala zoando a gente: “Caramba, a Joana* [minha chefe] é carrasca, não deixou os meninos nem descerem pro treinamento de incêndio!”.
*nome fictício

A gente ficou com cara de tacho e perguntou: “Mas as pessoas já estão descendo?”, ao passo que a mulher respondeu: “O pessoal já está até voltando!”.

Nós: Mas como assim? Disseram pra gente que a sirene ia tocar! E a gente não ouviu!

Mulher: Ah, mas é que ela toca baixo na empresa do lado porque é uma empresa maior, blablablá

Que mané importa se a outra empresa é maior? As pessoas de lá valem mais do que as daqui?

Nós: Mas se tivesse pegando fogo de verdade ninguém vem aqui avisar pra salvar a gente? Iam deixar a gente morrer queimado? A gente só ia ficar sabendo quando a fumaça acionasse o sprinkler do teto?

Mulher: É!

Ela saiu da sala meio que ignorando tudo o que a gente tinha dito sobre a segurança do prédio e continuou a sacanear minha chefe de carrasca para todos os seus colegas de trabalho durante toda a tarde.

Tentamos alertá-los sobre o perigo da sirene não ter tocado inutilmente o resto do dia de ontem e de hoje. O prédio, por mais treinamentos que faça, não está preparado para o dia que ocorrer um incêndio de verdade. Eu sei porque nesse de mentira, eu morri queimada.

(Hoje chegamos à conclusão também de que o dia em que morrermos queimados, ninguém nem vai lá buscar nossos corpos, porque às vezes o pessoal da portaria deixa a gente entrar SEM CRACHÁ NENHUM, pela portinha do deficiente físico, então vai ser como se nunca tivéssimos entrado!)

Então, é isso. Pra quem tava enferrujada, até que deu pra tirar as teias de aranha disso aqui um pouquinho. Fiquem com a minha Playlist do Fim do Mundo. Acho de verdade que tinham que fazer um especial de fim de ano do mundo com gravação em DVD de todas essas músicas.

Lado A
Natasha (Capital Inicial)- Imagino muito a galera se acabando hoje no show do Capital aos versos de “O mundo vai acabar, ela só quer dançaaaar”.
Dançando (Agridoce) – “O mundo acaba hoje e eu estarei dançando...” – Alguém duvida que o eu-lírico dessa música é a própria Ana Paula que virou Natasha?
Um Minuto para o Fim do Mundo (CPM 22) – “Um minuto para o fim do mundo, toda a sua vida em sessenta segundos, uma volta no ponteiro do relógio pra dizer”. Porque tocava direto na Rádio Cidade, antes dela acabar (e voltar agora). Porque me lembra que 2006 foi um ano muito legal. De acordo com a observação da minha irmã, o 2º verso do refrão não acrescenta em nada, mas eu acho que discordo. Acho que e ainda ensinam quantos segundos tem num minuto inteiro.

Lado B 
It's the End of The World as We Know it (REM) – Narrando o fim do mundo. E nenhum pouco deprimido com isso.
Closing Time (Somesonic) – Porque a letra lembra Fim do Mundo e tem aquela cena bacana do flashmob de Amizade Colorida.
4 Minutes (Madonna ft. Justin Timberlake) – Porque Madonna nos lembra que por mais que o tempo passe, ela ainda consegue fazer como poucos uma música dançante legal dessas em 4 minutos.
O último dia (Paulinho Moska) – “Meu amor/O que você faria se só te restasse um dia?/Se o mundo fosse acabar/Me diz o que você faria?”
E pra encerrar...
E o mundo não se acabou – Aí a pessoa fez tudo o que o Paulinho Moska falou que ia fazer mesmo. Só que o mundo não acabou e aí, né...

Agora se liga. A música foi originalmente gravada pela Carmen Miranda. Pra você ver como esse papo de fim do mundo é antigo.

Não vou desejar Feliz Natal porque amanhã só vão ter sobrado as baratas mesmo pretendo fazer um outro post até lá, pra compensar o tempo perdido.
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