segunda-feira, 28 de abril de 2014

Onde vivem os monstros

Existem histórias de monstros que vivem no armário. Existem histórias de monstros que moram debaixo da cama. Ou atrás da porta. Ou dentro da caixa de brinquedos.

Não importa o lugar, os monstros sempre se escondem naquele cantinho escuro, apertado e bagunçado do quarto.

E nenhuma dessas histórias é tão assustadora quanto a sensação de descobrir que o verdadeiro monstro vive dentro de você.

Eu achei que fosse uma pessoa calma, tranqüila, serena. E que só saía desse estado de paz quando forças “ocultas” vinham me perturbar. Não sou nada disso.

Descobri que sou babaca, vingativa e egoísta. Que falo mais do que devo. E que tenho uma língua ferina e afiada. E que não sei manuseá-la direito. Daí quando quero (e quando não quero também) minhas palavras cortam como navalha. E na pele de quem não devia.

Descobri que afasto as pessoas como mecanismo de auto-defesa. E depois sofro pra mudar essa impressão. Porque infelizmente tem gente que confunde ser legal com ser otário. E otária é uma coisa que eu não sou.

Descobri que sou mais do tipo “bateu-levou” do imaginava. E que a revanche pode demorar, não falha. E quando vem, é com 10 vezes mais força. Também uso do humor, ácido, como forma de vingança. E passo do limite. Por isso ele não é nada engraçado. 

Descobri que não sou só idiota com as pessoas que merecem (porque tem gente que merece, sim!). E que muitas vezes machuco gente que só quer o meu bem. Na verdade, tendo a machucar mais justamente as pessoas que gosto de verdade, do fundo do coração.

Descobri que existe um monstro furioso dentro de mim. E que ele não se manifesta só quando está com fome. Mas também quando se sente sufocado, injustiçado, ansioso e amedrontado.

A minha sorte é que essas mesmas pessoas que não merecem são corajosas e não têm um monstro feroz dentro delas também. E elas não têm medo usar todas as armas pra colocar ele no seu devido lugar e o combatem com doses de carinho que eu não estou acostumada (e não mereço) receber. E isso é capaz de derrubar qualquer monstro.

Descobri que no cantinho mais escuro, apertado e bagunçado da minha alma existe um monstro mais aterrorizante do que o bicho-papão. E a sua força me assustou. Mas, por mais que não dê para acabar com ele de vez, existe um jeito de controlá-lo ou escondê-lo. Porque é dentro dos armários, atrás das portas, debaixo das camas que os monstros devem ficar.

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segunda-feira, 21 de abril de 2014

O lado ruim de ser ótimo

Eu sempre fui a aluna nota 10. Não que meu boletim fosse nota máxima do início ao fim (ok, no primário isso era bem próximo da verdade), mas sempre fui uma boa aluna. Dá pra contar nos dedos de uma mão a quantidade de vezes que fui pra recuperação ou prova final.

Não sei dizer se era a melhor aluna. Talvez fosse a mais “completa”. Gostava tanto das humanas, quanto das exatas. Tinha o mesmo prazer em fazer uma redação, quanto de resolver uma lista de matemática. E contrariando a imagem criada por todos os filmes, ia bem até na Ed. Física (era do time de handebol do colégio e nunca era escolhida por último pelos capitães dos times).

Também contra todas as expectativas, nunca liguei muito pra essa história de notas e alto desempenho. Nunca quis ser “a melhor”. Só queria dar o meu melhor. E curtir ao máximo meu período escolar. Os resultados seriam consequência.

Fiz questão de manter a humildade e os pés no chão pra não virar aquela pessoa chata que se acha e não tem amigos. Aliás, minha maior vitória talvez tenha sido o grupo de amigos mais legal que eu poderia ter. Porque a escola, os boletins, as notas... passam. E a vida lá fora não tem nada a ver com esse experimento pelo qual passamos toda a nossa vida até os 18 anos.

Acontece que eu ando descobrindo que, bom, talvez a vida aqui fora não seja tão diferente assim do colégio. E que esse negócio de ser uma aluna nota 10 talvez não tenha sido a melhor estratégia. Porque a vida não te prepara para certas coisas que já deveriam estar no sangue e aí:

1) Você tem vergonha de pedir ajuda
Você está acostumado a ser a pessoa a quem as pessoas perguntam as coisas. A pessoa que resolve os problemas. Aquele que tem as respostas na ponta da língua. E às vezes você se sente na obrigação de saber tudo. E se sente frustrado por não saber todas as respostas. E tem vergonha de ser aquele que pergunta. E às vezes também não sabe a quem perguntar, já que quem geralmente tem as respostas é você.

2) Você não sabe lidar com o fracasso
Você está acostumado ao sucesso o tempo todo. E quando falha se sente a pior pessoa do mundo. E tem dificuldade de seguir em frente e fica com aquilo martelando na cabeça durante um bom tempo, racionalizando, tentando entender onde você errou, até chegar à conclusão que não é o fim do mundo e que errar não te faz pior, só te faz humano.

3) Você trabalha mais que os outros
Talvez essa seja a principal diferença para os tempos de colégio. Afinal, realizar um bom trabalho durante o ano te garantia mais fins de semanas livres, saídas mais cedo durante os dias de recuperação e férias garantidas em pleno mês de novembro. Mas, ao contrário dos tempos áureos da escola, quando você é bom no que faz, a única coisa que você ganha é... “Mais Trabalho!”. Você faz o seu e refaz o dos outros que fazem errado. Você ganha mais responsabilidade e mais preocupação. E começa a pensar que ser “medíocre” seria um negócio muito mais vantajoso, mas é orgulhoso demais para fazer as coisas de qualquer jeito e acaba “carregando o mundo nas costas” assim mesmo.

4) Você tem que lidar com altas expectativas o tempo todo
As pessoas criam expectativas muito grandes em cima de você. E te dão mais trabalho do que dariam para os outros, confiando na sua capacidade de resolver problemas. E todo mundo acha que você tem que ser o melhor sempre. E você se pega pensando que não pode errar (vide números 1 e 2) e que tem que agradar a toda essa gente e se esquece que você pode ser bom, mas ainda assim é gente, e que quem manda na sua vida, no final das contas é você.

5) Você vive o eterno dilema do herói
Como já diria o tio Ben: “Com grandes poderes, vem grandes responsabilidades”. E logo você sente a pressão das expectativas, do peso do possível fracasso, da dependência das outras pessoas e do mundo que colocou nas costas (o peso sobre os ombros não é psicológico, é físico, eu já senti). E aí começa a se perguntar: “E quem é que vai ‘me’ salvar?”. E se eu não for nada disso? E se eu for, mas não quiser ser? Alguém me perguntou alguma vez a minha opinião?

Outro dia li um texto, com gráficos e desenhos no paint (indicado pela Karol, Valeu, Karol!), sobre as pessoas da geração Y se sentem especiais quando na verdade não são. E precisam parar com isso.

Acho que meu problema é um pouco o contrário. Aceitar esse fardo do destino, ao mesmo tempo em que tento encontrar o meu lugar no mundo e um jeito de sobreviver. 

Nunca me senti especial, de forma alguma. E também rejeitei muitas vezes o título de líder, pois nunca achei que levasse jeito pra coisa. Mas estou começando a aceitar o fato de que talvez seja mesmo diferente, de alguma maneira (porque eu já me formei e continuo sendo uma das melhores no que eu faço – não sou eu que estou dizendo, é o que venho escutando nos últimos meses de várias pessoas, gente inclusive que nem tem tanto contato comigo assim -, mesmo ainda achando que na maioria das vezes não faça nada de mais). 

E como já dizia o Mr. Schue: “Às vezes ser especial é um saco”.
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segunda-feira, 14 de abril de 2014

Sociedade dos Poetas Mortos

O meu problema é que eu assisti filmes demais. Li livros demais. Ouvi música pop demais.

E tento encontrar resposta e sentido para as situações da vida real nas palavras da ficção. E encontro. Porque faço conexões na velocidade da luz e sempre tem uma frase, um verso, um parágrafo que se aplique.

O meu problema é que eu tenho facilidade de aprender. E tenho uma boa memória. E ao invés de esquecer as mensagens do final, levo tudo muito a sério aquelas histórias de “Seja você mesmo” e “Fazer a coisa certa” e “Você pode ser tudo o que quiser”.

O meu problema é que eu acho que posso mudar o mundo. Sozinha. E fico acreditando que eu posso ser a exceção à regra que protagoniza o filme. E fico querendo desafiar as coisas erradas da humanidade.

Alguns acham que é imaturidade, infantilidade, rebeldia. Mas acho que o meu problema é que eu sou...romântica. Uma romântica inveterada, eu diria.

Daquelas que acredita no amor. Nas pessoas. Nas idéias. Num mundo, senão idealizado, pelo menos ideal. Que detesta injustiça. Que acha não é porque as coisas são assim que elas têm que continuar assim. E que acredita que “o sonho que se sonha junto é realidade”.

Já tentaram me convencer a aceitar o mundo do jeito que é, e que nada vai dar certo no final. E eu quase perdi a fé na vida por me sentir impotente diante da grandeza da covardia do sistema.

E eu logo desisti de desistir. Por que, se a gente deixar de acreditar, qual a graça que tem? De que adianta viver sem esperança? Pra que aceitar a inércia do incorreto quando a gente pode de fato fazer alguma coisa?

E por mais que eu saiba que a vida real não é nada como nos filmes e que eu nunca vou ter a coragem pra dizer tudo o que falam as letras das músicas, sigo acreditando que lá no fundo a gente devia se inspirar mais na poesia como diretriz para alcançar o final feliz.

O meu problema é que eu acredito no final feliz. Sempre.

Mas acho que isso não seja um problema de verdade.

Na verdade ele é a solução.
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