terça-feira, 30 de setembro de 2014

Toy Story 3 e o Fim do Orkut

A pessoa que diz que não chorou com Toy Story 3 ou é muito mentirosa ou é muito sem coração. Um dos primeiros filmes da seqüência de seqüências da Pixar (sério, Pixar, vocês têm que parar com isso!), Toy Story 3 mira direto na turma que ainda estava trocando os dentes na época do primeiro filme e acerta no lado esquerdo do peito do povo que nesse meio tempo esqueceu dos brinquedos. 

* Tenho uma teoria de que, tirando Carros 2 (por que, sinceramente, quem liga para Carros?), a Pixar vem num movimento de atingir seu antigo público com tramas que se aproximem de sua atual realidade. Primeiro Toy Story 3, com Andy indo para a faculdade. Depois Monstros Universidade, com Mike e Sully também durante a vida universitária.

Se a Disney queria um terceiro filme (e a Pixar relutou um bocado para fazer esse aqui), o estúdio da luminária saltitante não poderia ter feito escolha mais acertada ao acompanhar os 15 anos que separavam o filme de 1995 do fim da trilogia. 

E o filme cativa já desde o início justamente por transpor na tela tudo o que aconteceu com o público do lado de cá no decorrer de todos esses anos em que não nos encontramos com Woody, Buzz e cia.

Só que Toy Story 3 não é só o nosso reencontro com aqueles brinquedos que nos encantaram há 15 anos atrás. Toy Story 3 é o reencontro com uma parte de nós que pensávamos que já estava muito bem, obrigada. O reencontro com a criança escondida lá dentro de nós, espremida pela imposição da vida adulta, e que cresceu, sem saber muito bem como ou quando isso tudo foi acontecer. Ah, e claro, que Toy Story 3 também é o reencontro do próprio Andy com os leais companheiros teoricamente inanimados. Mais do que nunca, #somosTodosAndy, afinal de contas.

O filme já começa matador com a sequência do crescimento do dono de Woody e nos deixa com uma sensação imensa de culpa por termos abandonado nossos brinquedos no baú por tanto tempo, sem nem dar satisfação. 

E mesmo com um desenvolvimento eletrizante, o final, com a derradeira despedida – mas não sem uma última aventura - volta com tudo para aniquilar de vez nosso coração, que já tinha esquecido como era não ser criança durante a projeção, para nos lembrar que a vida lá fora continua e nos espera e mesmo que seja difícil, uma hora isso ia acontecer. 

Porque a gente tem essa ilusão de achar que consegue enganar o tempo e não percebe direito as mudanças que aconteceram até que uma das grandes nos encara de frente e não deixa escolha senão seguir em frente. E a hora do adeus dói. Crescer dói. E perceber que a infância acabou pelos olhos de um brinquedo pode ser ainda mais doloroso do que se dar conta disso sozinho.

E daí que esses dias o Google anunciou que vai descontinuar o serviço do Orkut até 30 de Setembro (mais conhecido como HOJE). A rede social, que já vinha cambaleando nos últimos anos, fechará suas portas de vez e não dará mais donuts para ninguém. E mesmo quem tripudiou em cima do bichinho depois de ter migrado para outros sites mais descolados, ficou com dó na consciência e cheio de nostalgia agora que o site vai acabar. O Twitter, que tem uma tag só para relembrar coisas antigas, nunca viu tanta poeira em sua linha do tempo. Isso porque, com a notícia, muita gente resolveu entrar no há muito abandonado perfil para salvar as coisas mais legais e dar aquele último adeus, tal qual o Andy, de Toy Story 3.


Eu, particularmente, sempre fui #TeamOrkut, mesmo depois de abrir conta nas outras redes da moda. E quando o pessoal ironizava “Volta pro Orkut!” (aliás, Deus tá vendo vocês falando que vão ficar com saudade agora, hein!), eu queria mais é que todo mundo voltasse mesmo, porque o Orkut era o melhor “site de relacionamentos” (rs!) disparado.

Criado em 2004, o Orkut foi a 1ª rede social de verdadeira expressividade no Brasil (talvez até no mundo). Mais do que isso, o Orkut foi a porta para a inclusão digital do brasileiro. Numa época em que nem todo mundo tinha computador, e quem tinha internet era daquela discada que fazia barulhinho para conectar, muita gente ia para a lan house (lan house!) para acessar e dar aquela atualizada no perfil. O nome do turco virou música de corno e tema de funk proibidão. E o site provou que a vida virtual não é uma realidade alternativa, mas apenas uma extensão do mundo real.

Posso dizer com orgulho que sou praticamente pioneira da rede. Entrei meio a contra-gosto, sim. Meu pai estava enchendo o saco pra ver qual era a desse negócio e descolou um convite (sim, convite, amigos), com um colega de trabalho. Mas não demorou para eu me apaixonar por aquele site azul que demorava para carregar e quase sempre dava erro.

Porque o Orkut era uma estrutura com milhares de fóruns - as tais comunidades (mais sobre elas depois - e eu sou forunzeira de carteirinha!!!!!!!!! O Orkut tinha os fóruns mais legais, uma boa organização para trocar idéias, promover debates, conhecer pessoas por afinidade... Pra discutir livros, filmes e séries, então? (Pra baixar também, diga-se de passagem!) Era a melhor coisa que tinha!!!!!!

Participei ativamente da comu do Diário, virei moderadora, conheci a Paula (gente, fiquei sabendo do resultado do concurso da Meg, via Orkut, pela Paula!!!!), conheci outras pessoas legais via Comunidade, criei comunidades também (Ana Banana), passei tardes e mais tardes rindo das comus mais absurdas (seria bobagem tentar listar todas aqui)... 

Tinham as nossas comus também, onde estão guardadas nossas lembranças de adolescência (Elisa’s Club foreveeeeerr, Info Geração Eterna e as outras que eu ri demais quando voltei esses dias – Mateus, você está impossível, A fatídica piada da Cinderella, Eu tenho medo da escada da Li – para todos os que tem medo da escada aqui de casa que balança, mas não cai)... Tinha aquela com a receita do brownie da Jami que a gente sempre acessava quando queria fazer o bolo porque ninguém tomava vergonha na cara pra anotar a receita (E agora como vamos fazer brownie???).

E os fakes? Minha amiga tinha um fake da Andy (Diabo Veste Prada) e, cara, ela VIVEU a vida fake como ninguém. Está desolada com o fim do Orkut. Ela fez muitos amigos de verdade no fake, por mais irônico que isso possa parecer. 

Antes da Andy a gente fez um fake do Raffaello (o ex-detento e ex-namorado da Anne, agora. Mas a gente fez antes dele ser preso.) Cara, só a gente!!!! O perfil dele era muito bom. Me lembro até hoje da gente no telefone criando as coisas. Tipo: “Livros: Como enriquecer rápido. Programa de TV: O Aprendiz.”. Mas o melhor era a senha. BUFUNFA!!!!! Me estrago de rir só de lembrar.

Encontrei um amigo de infância por causa do Orkut! Acompanhei a vinda da Anne no Brasil também via Orkut (já na época do seu declínio, mas nessa época é que as comunidades ficaram boas para debate, com bem menos Spams)!

E as histórias? Tinha uma menina que brigava que tinha visto o Michael na webcam (Senhor!), e uma menina que dizia que era amiga da Anne e, o pior, a gente acreditava!!!!! Ficávamos horas no telefone discutindo esse tipo de coisa, pra você ver.

Mas nada dá tanto aperto no coração quanto ler os depoimentos. Muito S2 pros depoimentos.

Com tanta coisa legal, é realmente de ser admirar como um site tão maneiro foi cair no esquecimento. Já há algum tempo, não passava de um parque de diversões abandonado. Uma cidade fantasma que só faltava aquela bola de feno passando de tão desabitada. Mas o negócio é que, por melhor que fosse, o código do Orkut era um código “velho”, pouco dinâmico, que não conseguiu sobreviver à era do mobile.

A bem da verdade é que o Orkut sempre foi um site bugado. Quem não se lembra do famoso “Bad, bad server. No donut for you?”. Ou dos inúmeros spams que dominavam páginas de scraps e comunidades? Parece difícil de acreditar, mas o Orkut foi beta por quase toda a sua existência.

O Orkut era uma coisa, um lugar, e, mais do que nunca, agora é uma lembrança. Um retrato virtual de toda uma geração, ali parado no tempo.


Mas não são só as fotos (até porque os álbuns, no comecinho mesmo só podiam ter 12 fotos – o que levou muita gente a criar um Flogão. Ai, Senhor, Flogão! Isso eles não apagam, rs! Engraçado que do Flogão ninguém tem saudade, né?), são as NOSSAS memórias. Quem o Google pensa que é para decidir jogá-las fora assim, sem perguntar o que a gente acha?  (Diz ele que vai manter um arquivo no futuro. Estudo psicológico com propósitos obscuros? Registro histórico? Só o tempo dirá!)

O Orkut estava presente em nosso cotidiano e seu auge coincide com os anos dourados de muita gente. Éramos felizes. E sabíamos. Daí a nostalgia ainda maior.

Acho que vale a pena revirar e se divertir em nosso baú virtual pela última vez. Nossos brinquedos estão para a infância, assim como o Orkut está para a adolescência. E dizer adeus é sempre uma tarefa inglória.

Talvez a culpa seja nossa, porque paramos de acessar. Talvez a culpa seja do próprio site, que não conseguiu acompanhar velocidade dos dedos nervosos de seus usuários agora também no celular. Talvez não seja culpa de ninguém e sim, do tempo, que muda tudo sem pedir permissão.

Em Toy Story 3, o Andy tem dificuldade de dar o passo adiante. De deixar pra trás. E, antes de dar adeus, faz questão de vivenciar a última aventura com aqueles bonecos. Então, convido a todos a vivenciar uma última aventura no brinquedo de tela azul que nos fez tão feliz na última década.

O fim do Orkut veio nos lembrar que crescemos. E que não é só o Google que não nos dá opção de escolha. Pra falar a verdade, a vida também não.

Peraí, mãe, tô fazendo backup do Orkut!
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sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Dever Cumprido

No outro post, descrevi um pouco o misto de sentimentos que ficaram guardados aqui dentro durante os últimos anos (o último ano principalmente). E pode ter parecido que foi tudo muito ruim. Mas não foi.

O que acontece é que em auditoria as coisas são todas muito superlativas (tão superlativas que até o superlativo é superlativo, rs!). As coisas boas são MUITO boas. E as coisas ruins são MUITO ruins. 

Cresce-se muito rápido (tanto profissional, quanto pessoalmente), e as promoções são constantes, e você aprende muita coisa, em muito pouco tempo. Você tem a oportunidade de ver como as coisas funcionam em diversos tipos de negócio e te dá uma visão muito mais ampla das operações. Enfim, é uma experiência que abre a cabeça total. Pra quem quer aprender, é a melhor coisa que tem.

Mas ao mesmo tempo em que te dá o mundo, também te tira em igual proporção. Coisas simples como saber onde você vai estar na próxima semana ou se você vai poder marcar uma viagem no feriado, e algumas noites de sono. Fora as outras coisas que eu já comentei no outro texto.

A decisão do que pesa mais varia de pessoa para pessoa e do momento de cada um. E é preciso respeitar a decisão tanto de quem sai, quanto de quem fica. Não existe caminho certo ou errado. E cada um sabe o que é melhor para si.

A bem da verdade eu acho até que fiquei tempo demais. Não imaginei que fosse agüentar tanto.

E fiquei porque, apesar de tudo, fui MUITO FELIZ.

De uma certa maneira, todo esse tempo que passei lá, muito se assemelha a minha trajetória no Cefet. Foram muitos perrengues, muita injustiça, muito esforço, mas também muito aprendizado, crescimento e amizades que vão ficar pra sempre no coração.

As pessoas que encontrei lá, aliás, foram uma grata surpresa. Graças a Deus só trabalhei com gente legal em todo esse tempo. Gente unida, engraçada, bacana e leal que fez os momentos difíceis suportáveis. Acho até que as adversidades forçam a gente a ser mais colaborativo, e não dão espaço para que surjam picuinhas sem sentido. Porque a gente tinha mais o que fazer do que se preocupar com essas bobagens. E ficava tão ferrado que a única saída era se ajudar e rir de si mesmos.

Tinha dias que eu não via meus pais e minha irmã, mas tinha passado o dia todo com eles. E aí acaba que essas pessoas se tornam um pouco a nossa família mesmo. (O que é engraçado porque, de brincadeira, a gente se trata tudo por “parentesco”. É “mãe” pra cá, “pai” pra lá, “tia” pra um lado, “irmã” pro outro...)

Acho que um dos segredos para as coisas darem certo nesse ramo está na própria contabilidade. Não na contagem, nos números em si. Mas em ter “com quem contar”. E graças a Deus, sempre tive gente em quem confiei, em quem me espelhei, gente para quem olhava e dizia: "Quando eu crescer, quero ser igual a você".

E quando pensei que estava sozinha, descobri que, na verdade, tinha muita gente cuidando de mim o tempo todo. Não tinha colegas de trabalho. Tinha "anjos da guarda". Não tinha "chefes". Tinha "pais" e "mães" com uma preocupação tão, mas tão grande que era uma relação quase maternal mesmo.

E já na fase do filho adolescente, era uma coisa de se amar e brigar, e dar conselhos, e demorar pra assimilar que o que estão te dizendo é só porque elas querem o melhor para você. E você achar que sabe tudo, e elas acharem que sabem tudo. E no final do dia, ninguém estava totalmente certo. (Diz se não é uma relação tipicamente familiar?)

Pra alguém que por muito tempo se fechou e afastou as pessoas, no meio do caminho chegar à conclusão do tamanho do carinho que tinham por você foi especialmente emocionante.

Na hora da saída, deu até dó de deixá-las pra trás. O coração apertou todinho. Mas o trabalho vai, e as pessoas ficam. E elas são especiais demais para sair da minha vida.

(E de fato não saíram! A gente está em contato direto!)

Contando para as pessoas

Quando tomei a decisão de aceitar a proposta do novo emprego, decidi que não ia contar pra ninguém antes do exame médico. E foi difícil à beça ter que me fazer de desentendida e não comentar nada, enquanto escutava os planejamentos para os próximos meses. 

Mas, antes disso, um dia minha melhor amiga por lá (ela tão amiga que acabou virando irmã – não falei que é tudo família?) acabou descobrindo por acaso. Ela estava praticamente virada por várias noites, e sensível, por conta da pressão do fechamento e das noites mal dormidas. Era de manhãzinha, e como a gente sempre fazia, mandava um “Bom dia!” no messenger da empresa, pra dar aquela animada. Segue a conversa, que foi mais ou menos assim:

Eu: Bom dia!!!
Maninha: Bom diaaaa!!!!
Maninha: Tenho uma boa notícia pra te dar. Vou sair da empresa semana que vem.
Eu: Que coincidência! Eu tb!!!
Maninha: O quê?????
Eu: É.
Maninha: Você tá de brincadeira, né?
Eu: Não.
Maninha: Porque eu falei de brincadeira. Diz que é brincadeira.
Eu: Não é.
Maninha: COMO ASSIM???
Eu: Caramba, pensei que você estivesse falando sério.
Eu: Peraí que eu preciso te ligar.

E foi bom eu ter contado, porque foi um alívio danado ter alguém pra desabafar até o Dia D (de Demissão!).

Pra falar a verdade, tinha uma outra pessoa que eu queria ter contado antes. Tinha dias que eu vinha tentando marcar pra gente se encontrar, mas estava difícil. Quando a gente finalmente conseguiu se ver, ela meio que já sabia. Como sempre soube o que estava acontecendo comigo antes mesmo de eu falar. Mas sabia também porque nos últimos tempos muitas coisas mudaram e a gente vinha se falando cada vez mais. Então, quando eu comecei com o papo de "A gente precisa conversar", assim do nada, e só pessoalmente, só podia ser sobre uma coisa.

E foi extremamente bonitinho como, na primeira tentativa de se falar, mesmo não podendo me ver, ela fez questão de ligar no dia seguinte pra saber se estava tudo bem (“Que que tu qué? – a delicadeza na nossa relação é algo tocante, haha) e como depois, no Dia D, quando eu precisei de alguém pra desabafar, ela fez questão de dizer: “Não se preocupa comigo. Eu vou estar feliz se você estiver” (Essa daí foi tocante de verdade). Nesse dia a gente ficou conversando sério no telefone até a meia-noite. Depois foram mais duas horas no telefone com a “Maninha” (sim, fiquei no tel até as 2h da manhã). Obviamente eu estava tão pilhada nesse dia que não consegui dormir.

O Dia D

Por muito tempo pensei em meter o pé na porta e pedir as contas de qualquer jeito, sem nada em perspectiva. Mas sabia que não ia ser a coisa certa. E que não iam me deixar ir embora assim tão fácil.

E mesmo com tudo encaminhado, olha, vou te dizer que só faltaram me amarrar, rs!
Por um lado foi um saco ter que ficar o dia todo na sala do sócio me explicando porque eu não queria mais ficar (e ele era bem insistente!). Pelo outro fiquei muito lisonjeada de causar toda essa comoção com a minha saída. E por mais difícil que tenha sido convencê-los que a minha decisão estava tomada e que o que eu queria para o futuro não poderia encontrar ali, também foi muito gratificante ter saído tão de bem com todo mundo, com as portas abertas, e recebendo um carinho tão grande de gente que eu não esperava, inclusive. 

Você sabe o que é uma das diretoras da empresa te ligar e, depois de você explicar seus motivos, escutar que ela se via muito em você e que, mesmo que você não queira voltar, você ainda pode ligar pra ela se precisar de qualquer coisa, que ela te arruma uma vaga em qualquer lugar? Pois é. Acho que eu fiz algumas coisas certas nesse tempo.

A despedida

E depois que contei para as pessoas, e pedi definitivamente a conta, me senti mais leve, afinal. E resolvi que iria viver aquela semana como se fosse a última. Até porque era a última mesmo.

E me permiti muitas coisas que estavam aqui dentro, mas nunca tinha tido a oportunidade de mostrar, de fazer, de dizer. Me permiti mandar emails bregas (meu email de despedida foi ÉPICO! Entrou pra história dos emails de despedida!), dizer mais "Eu te amo" para as pessoas que gosto e o quanto elas foram importantes pra mim, abraçar mais as pessoas, agradecer todo o carinho recebido e chorar (porque chorar faz bem!) enquanto fazia isso, ir de saia (só pra dizer que eu fui porque EU QUIS!), ir de jeans no último dia (só de revolta, porque o jeans sempre foi proibido), não levar as coisas tão a sério, estampar um sorriso no rosto que há muito não aparecia, cantar alto e dançar até o chão na despedida, escrever cartas multi-páginas com coisas diferentes para pessoas que me marcaram de forma diferente...

Durante a despedida, faltaram as palavras, mas sobrou cumplicidade no olhar. Os abraços, mais fortes do que nunca, diziam tanta coisa que não era preciso dizer mais nada. Mesmo assim, fiz força para colocar para fora aquele "Te amo" há muito guardado, entalado aqui na garganta. E melhor de tudo foi ouvir de volta um "Eu também" sincero e emocionado ao pé do ouvido, que também nunca tinha tido a oportunidade de ser dito.

Uma nova pessoa

Assim como no Cefet, tenho certeza de que entrei uma pessoa, e saio outra completamente diferente. Que todas as dificuldades no final me fizeram bem. E o saldo é muito positivo. Como muita gente gosta de falar, é realmente uma grande escola. Só que chega uma hora em que a gente precisa se formar.

Assim como no Cefet, eu também era muito boa naquilo. Só que sabia que no futuro, era algo que não ia me fazer feliz. E talvez alguns tenham ficado decepcionados com a minha escolha, achado um desperdício alguém com a minha capacidade, que tinha um futuro brilhante lá, escolher outro caminho menos "meteórico".

Mas acho que desperdício mesmo é ver a vida passar diante dos seus olhos. E se eu sou tão boa assim, as coisas vão acontecer de qualquer jeito. O futuro é imprevisível, como diria o Colin, do Teorema Katherine.

(E o engraçado é que durante esse mês de agosto, estava lendo outro livro do Green, Cidades de Papel, que não é tão legal quanto Katherines, se você quer saber a minha opinião. Mas parece também que foi o livro certo na hora certa, dada a filosofia de vida da Margo de não deixar para vida no futuro, e a passagem em que o Q descreve o sentimento de liberdade que é simplesmente "ir embora".)

Ao olhar para o prédio pela última vez, a sensação foi de dever cumprido. E dentre as múltiplas sensações que experimentei durante esse tempo, essa é uma das melhores que têm.
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domingo, 21 de setembro de 2014

Mudanças

O mês é setembro e é com muita vergonha que venho aqui escrever apenas o nono post do ano. É bem verdade que este blog nunca teve postagens diárias, mas nunca na história desse país elas foram tão escassas. Mas podem ter certeza que existem justificativas mais do que plausíveis para isso. Não estou pedindo desculpas. Encarem como um desabafo. Ou como um anúncio das novidades de um amigo com quem não se fala há muito tempo. 

Como expliquei em algum post desse ano, desde meados do ano passado, minha vida tem sido uma montanha russa de emoções. Um liquidificador de sentimentos. Um turbilhão de pensamentos.

Parte deles eu já expliquei nesse post, e nesse post, então os detalhes vocês conferem por lá. Farei apenas um pequeno resumo do que aconteceu nos episódios anteriores da minha vida.

Previously on My Life

1. Minha irmã viajou pelo Ciências Sem Fronteiras pra Espanha
2. Comecei a procurar outro trabalho
3. Viajei pra visitar minha irmã no fim do ano
4. Tive uma das conversas mais impactantes da vida, com minha chefe, regada a soluços e lágrimas sem fim

Só que ainda rolou um monte de outras coisas esse ano que tomaram muito meu tempo e me desestruturaram pra caramba, fora as minhas férias... Que férias! 

Ainda esse ano eu:

1. Perdi minha (outra) chefe. (Março)
Ela não morreu. Só foi pra outra empresa. Mas sabe o baque que é saber que você não vai mais estar com uma pessoa que você gosta e admira? Chorei muito, de verdade. De um jeito que eu não chorava desde a despedida do Cefet. Pra você ver só.

2. Perdi meu principal cliente (Abril / Maio)
O meu caminho lá na empresa estava mais ou menos traçado. Eu fazia esse cliente, de que eu gostava muito, desde o início. Só que, ninguém esperava, eles não renovaram esse ano e aí eu fiquei chateada pra caramba. Acabou que no fim das contas, acho que foi para o bem. E dessa experiência, eu percebi uma coisa muito gostosa que foi que tinha alguns “anjos da guarda” que gostavam e cuidavam muito de mim. (Tem mais detalhes corporativos nessa história, mas vou poupar vocês disso tudo).

3. Comecei a academia. E parei. (Junho)
Minha amiga do trabalho me chamou e eu falei: “Por que não?”, e eu malhei durante um mês. Foi legal. Só que aí eu entrei de férias e...

4. Viajei. (Julho)
Em plena Copa do Mundo, viajei pra Madrid novamente pra re-econtrar minha irmã. Lá assistimos Brasil x Colômbia na Fan Fest madrilena cheia de colombianos e de lá partimos para Londres, de onde pensamos em assistir ao fatídico Brasil x Alemanha de um bar, mas depois do 5º gol foi impossível continuar por lá. (Eu estava de casaco no dia, e conforme os gols iam sendo sofridos o zíper só subia de tanta vergonha). Fora isso, bom, zeramos as férias. Como vocês podem conferir no meu albo do Feice. Depois disso, minha irmã voltou comigo pro Brasil.

5. Pedi demissão (Agosto)
Vocês acompanharam aqui mesmo quando eu consegui o emprego. Meu primeiro emprego. E entre um post e outro, também viram tudo o que eu passei. Já tinha tempo que estava procurando outra coisa. E por mais que não estivesse dando muito certo, sabia que o que era meu estava guardado. Porque as oportunidades aparecem para quem se prepara. E quem me conhece sabe que esse não é problema pra mim.

E, se vocês não se importam, gostaria de discorrer um pouco mais sobre isso hoje (talvez sejam necessários mais do que um post para fazer isso até). Porque foram 3 anos intensos que mudaram a minha vida e o meu jeito de eu ver o mundo. 

E daí que eu queria fazer um balanço dessa minha trajetória (porque balanço é uma coisa de que eu entendo). E se preparem, porque tem mais de um mês que eu não escrevo, então, eu tô quente, fervendo.

O balanço

Acho que um dos conflitos mais constantes dentro da minha cabeça nesses anos foi uma discussão sem fim sobre identidade. Até que ponto você pode ser você mesmo, até que ponto você deve mudar para se adaptar e ser aceito, e por fim, que tipo de pessoa eu estava me tornando e que tipo de pessoa eu queria ser.

No início não foi nada fácil. Pra alguém que só usava jeans, tênis e camiseta, camisa social, e sapatilha eram coisas de outro mundo. Era muito esquisito se olhar no espelho e não enxergar a menina de camiseta e calça jeans.

Me senti muito deslocada no começo. A sensação que tinha era de que não pertencia aquele lugar. Era tudo muito novo. Pessoas com cabeças diferentes, hábitos diferentes, gostos diferentes. E daí que eu ficava o tempo todo me policiando, media 3 ou 4 vezes as palavras, pensando no que iam pensar.

Por muito tempo também me incomodava o fato de as pessoas estarem mais interessadas em mudar a minha personalidade do que de fato entender quem eu era. E aí eu me fechei. E muitas vezes fui grossa. Porque eu tenho essa cara de menina (até porque eu sou mesmo!), e por proteção, vendi uma imagem de quieitinha talvez até um pouco mais distante da realidade do que deveria. E tem gente que confunde isso com ser otário. E se tem uma coisa que eu não sou é otária. Daí a necessidade de engrossar a voz de vez em quando.

Só que não demorou muito para descobrirem que eu era muito boa. E aí eu descobri que talvez eu pertencesse aquele lugar mais do que muita gente ali. E aí eu pude me soltar um pouco mais e me sentir em casa, afinal. Só que quando isso estava acontecendo, a cobrança aumentou e o salário nem tanto (costumo dizer que a primeira cresce em PG, e o segundo em PA), e junto com isso a pressão para mudar um pouco do que você é*. E aí eu fiquei rebelde pra caramba. E soube que estava na hora de ir embora.

(*Demorou muito pra eu entender que não era nada de mais e que ia me fazer bem no final das contas, mas até lá o dilema de identidade que me assombrava desde o começo voltou com tudo e na minha cabeça tinha toda uma guerra mental que soa até infantil de "E o que mais vocês querem, então? Será que tudo isso que eu faço não é suficiente?" e "Não vou fazer porque eles falaram, mas porque EU quero")

É difícil explicar auditoria pra quem está de fora. Só quem vive entende. Não são só os prazos apertados. É a falta de pessoal. É o sentimento de estar sozinho, às vezes. É o peso que fica sobre os ombros (e não só do computador que tem que levar pra casa). Ao contrário do que se pode pensar, esse peso não é psicológico. É físico. E é uma sensação horrível de se lidar.

Utilizando os verbos modais do inglês, o "must" tinha se tornado uma constante. Mas eu sentia falta de conjugar o verbo "can" na sua forma mais simples do presente. Só que todas as vezes que as possibilidades eram expressas de uma forma positiva, era usando o "might", que está num futuro incerto, remoto e distante.

Tenho certeza de que se continuasse lá, as possibilidades seriam infinitas e eu poderia ser muito grande. Eu só NÃO QUERIA. Porque no fim do dia, elas estavam todas no futuro. E não dava mais pra viver uma vida de promessas.

Colocando as coisas na balança, e projetando outras, a percepção do que estava por vir não era muito animadora. Quer dizer, obviamente as coisas iam dar muito certo, tendo um pouco mais de paciência. Porque em auditoria o plano de carreira é alavancado mesmo, e essas é uma das poucas certezas que se têm. (E modéstia à parte, eu estava mandando muito bem também) Mas o preço a se pagar por isso era alto demais. Minha vida, meus planos, minha paz de espírito. E esse tipo de coisa não dá nem pra parcelar, só à vista.

E o pior é que a recompensa por esse preço, permanecendo por lá, parece que não chega nunca. Ela não vem em forma de dinheiro, nem em forma de diminuição de trabalho, nem de diminuição de estresse. Só em status e conhecimento. E eu decidi que eu posso viver muito bem sem status e podia adquirir conhecimento de outras formas menos doloridas. 

Não se pode ter tudo. Sei tudo que deixei de ganhar. E tudo que deixei de perder. Escolher é renunciar. E eu escolhi viver. Viver agora. 

Não existe empresa boa. Existe a empresa que é boa para você. Estava numa empresa ótima. Só que não estava mais sendo boa pra mim.

Já não estava gostando de quem eu era. Estava me tornando uma pessoa amarga (vocês podem comprovar pelos posts do último ano. Até parei de escrever um pouco por causa disso), adiando os meus planos indeterminadamente, vivendo em função do trabalho. A gente tem que trabalhar pra viver. E eu estava vivendo pra trabalhar.

Não sei se a velocidade dos posts vai voltar ao que era antes. Porque, querendo ou não, a verdade é que eu mudei. Mudei muito. 

Já não sou mais aquela menina de jeans e camiseta que começou o blog e o usava como forma de terapia. Porque a menina cresceu, os problemas também, e uma página de Word já não estava mais sendo suficiente. Agora eu alugo o ouvido das pessoas, que é mais rápido, rs!

E também passei a dar muito mais valor ao tempo efetivamente VIVIDO, fazendo coisas legais, e não apenas relatando, comentando, debatendo, como fazia antes. Não que isso também não seja legal, só que...o mundo é tão grande! E eu quero aproveitar muito mais. Viver muito mais. Estar mais perto das pessoas que eu gosto. Fazer mais coisas diferentes.

Mudei tanto que já não tenho mais aquele medo de mudança de quando esse blog começou. Porque uma das coisas que eu aprendi nesses anos foi a conviver com a mudança constante. E mudei tanto que a vontade de mudar partiu de mim. E a cada dia que passa eu fico mais feliz de ter mudado. 

No final das contas, foi uma experiência incrível (de verdade, no próximo post eu explico melhor). Mas eu estou curtindo essa nova fase, que eu também espero que seja tão legal quanto. Obrigada!
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