domingo, 21 de agosto de 2011

Samantha Sweet e as mil profissões de Sophie Kinsella

Pergunte a Samantha Sweet qual foi a última vez que ela teve um fim de semana livre. Comemorou seu aniversário. Saiu com os amigos. A resposta para qualquer dessas perguntas muito possivelmente seria “há um pouco mais de 10 anos”. Seduzida pela promessa de ascensão na carreira, Samantha vende a alma (e eu tive que rir quando esse termo apareceu no livro mesmo) e trabalha feito uma condenada tendo em vista a tão sonhada promoção à sócia da firma de advocacia Carter Spink (De onde é que eu conheço essa história mesmo? Ah, sim, lá de onde eu trabalho!). Mas, se como advogada ela é um sucesso, na cozinha, é um completo desastre. Parte de uma geração cujas mães já trabalhavam fora, Samantha consegue ser pior do que a Angélica, ao não fazer a mínima idéia de como se liga o próprio fogão.


Às vésperas de galgar a tal sociedade, Samantha descobre que cometeu um erro. Um erro ridículo que vai custar 50 milhões de libras e toda a sua carreira. Num acesso de loucura (a la personagens de Kinsella), ela sai desembestada pela rua, pega qualquer trem e desembarca num lugarzinho no meio do nada, com sabor de chocolate e cheiro de terra molhada (quase uma espécie de Santa Rita inglesa), onde a advogada acaba ABSURDAMENTE conseguindo um trabalho de doméstica (sério, não sei como ela durou tanto no emprego. Se fosse na casa da Emily Gilmore, não ficava lá nem 5 minutos) e vai aprender não só a quebrar um ovo, como também que a vida não pode ser medida em intervalos de 6 minutos.

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Samantha Sweet é o livro mais legal (com trocadinho, por favor) de Sophie Kinsella depois da Becky Bloom. Tanto é que estou escrevendo essa resenha (na verdade o meu critério pra comentar os livros é muito mais baseado na quantidade de bobagens que eu posso acrescentar. E o montante de baboseiras que passaram pela minha cabeça ao final da leitura atingiu o meu nível de “Pode resenhar”).

Eu já achava que, se Sophie Kinsella não fosse escritora, podia ser pedreira ou costureira, pela maneira com constrói e amarra suas histórias (além do fato de seus livros serem verdadeiros tijolinhos). Depois de ler esse livro, devo acrescentar que tia Sophie seria um sucesso como ilusionista. Porque por mais que suas obras sejam o feijão com arroz da chick lit (um feijão com arroz muito gostoso por sinal. E aí pode colocar Cozinheira na listinha de “Profissões a seguir” no dia em que escrever não estiver mais dando dinheiro), sempre tem uma reviravolta no final da qual o leitor não fazia idéia da existência. E a razão pela qual a gente nem desconfia de seus coelhos na cartola é porque Kinsella, tal qual David Copperfield, arma um cenário com aparente excesso de informações e não dá tempo de o púlico raciocinar em virtude do monte de situações constrangedoras que desvia o foco de quem lê do truque que ela ainda tem escondido na manga.

Além das cenas constrangedoras, e hilárias, e absurdas, outra característica da escritora é o exagero. Kinsella não se preocupa com meio termo ou verossimilhança. Seus personagens são caricaturas de pessoas e situações que a gente encontra na vida real, realçando traços a serviço do humor (taí outra profissão em que ela ia se dar bem). Se a personagem for viciada em compras, vai se meter em inúmeras confusões com cartões de crédito. Se for pão dura, vai reciclar até casca de batata. Se for metódica, vai ter manual até pro casamento. Se for workaholic, vai medir o tempo em unidades de 6 minutos. Se for jardineiro super sexy, que seja másculo, hábil, legal, que tira a camisa e parece se mover em câmera lenta a la Marcos Pasquim em... qualquer novela do Marcos Pasquim. E se o povoado for calmo, por que não acrescentar umas galinhas passeando pela casa?

E, pra completar, não seria um livro de titia Kinsella, se não tivesse no meio algum problema relacionado aos desafios da mulher na carreira (coisa da qual ela entende bem, uma vez que trabalhou na área financeira). Acontece que dessa vez Sophie foi um pouco mais longe do que o usual, porque o tema não é um simples anexo à trama, mas o assunto principal a ser discutido. E acontece também que dessa vez a mulher se enfiou numa discussão polêmica PRA CARAMBA. Ao colocar sua protagonista como ex-advogada que trabalhava feito Isaura e que vai encontrar paz num trabalho de doméstica, ela arranja dois problemas:

1) Primeiro com as domésticas. Porque qualquer classe que se veja retratada na ficção vai ficar ofendida de um jeito ou de outro. É o mesmo problema de adicionar personagens multi-étinicos ou lugares “turísticos” na trama. Sempre vai ter alguém reclamando. E ao mesmo tempo em que enaltece a profissão de executiva do lar, meio que também dá a entender que doméstica “tem vida boa”.
2) E depois com as feministas, por que como assim uma mulher tem a AUDÁCIA de escrever um livro incentivando as outras a voltarem serem Amélias?

Só que, como boa ilusionista que é, Kinsella, em seu grand finale (e põe GRANDE nisso), sambou na cara da sociedade (mais uma profissão: passista! Meu Deus! Daqui a pouco ela vai estar com mais profissões que o Luizão do Cefet!) ao responder às possíveis críticas através de sua própria personagem, lá mesmo, dentro da história, dizendo que sua intenção não é ser panfletária de nada (apesar de estar fazendo campanha, sim: Pela qualidade de vida em detrimento do trabalho). E foi nesse momento em que eu quase fiquei de pé e aplaudi, porque ali ela provou que tinha noção que, sim, sua história é polêmica. Mas, ei, é só uma história, pelo amor de Deus!

E já que estamos falando do final, só achei que foi um pouco apressado (uma ironia para um livro que prega levar a vida de um jeito menos frenético) e ficaram faltando aquelas letrinhas do que aconteceu com cada personagem depois de um tempo, tal qual Legalmente Loira (outra advogada bacana, viu Felipe?). No mais, a grande lição que fica é que realmente lugar de mulher é no tanque. No tanquinho do Nataniel, né? Ui!

3 comentários:

  1. As mil profissões da Sophie me lembrou do Kirk. Aí você falou da Emily, e eu o vi como empregada dela. Eu nem li o livro e já comecei a pensar baboseiras, haha.

    Este livro será o próximo da Kinsella que lerei (sem contar o mini Becky Bloom, que vai furar a fila descaradamente) por sua culpa. Fiquei com vontade desde aquele dia que conversamos por MSN.

    Bjs

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  2. Samatha Sweet consegue ser tão bom quanto Becky Bloom.
    Seus comentários sobre o livro melhor ainda.
    Foi um dos primeiros livros que li da Sophie e adorei.

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  3. Eu tenho vontade de ler esse livro... um dia, quem sabe! ;)

    Bjs

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