segunda-feira, 26 de junho de 2017

Becky Bloom #8, uma fanfic oficial

Becky Bloom é uma personagem incrível. Cercada por amigos ainda mais legais. Conhecemos nossa querida viciada em compras quando ela ainda trabalhava como jornalista de economia (mesmo não sabendo nada de economia, nem aplicando qualquer coisa na sua própria vida), rimos horrores quando ela foi à NY, acompanhamos a loucura que foi seu casamento, descobrimos que ela tinha uma irmã há muito perdida (apesar de ser um dos clichês mais safados de séries, adoro o livro da irmã com todas as forças!!!), e nos acabamos quando ela ficou grávida.

Conforme o passar dos livros, ficava cada vez mais claro que Becky era muito mais do que uma compradora compulsiva. Sua habilidade em se meter em confusão, mesmo com a melhor das intenções, e criatividade para sair delas é o que move a série. Não é sobre comprar ou não comprar. Os livros da Becky valem só pelo prazer de vê-la entrando em confusão, metendo os pés pelas mãos e acertando tudo no final. E costumava dizer que só isso garantiria a longevidade eterna para a série. Costumava, porque acho que, infelizmente, chegamos a um ponto em que não dá mais. É chegada a famigerada hora de parar.

Desde Mini Becky Bloom, em que a personagem encara os percalços da crise financeira de 2008 (bela sacada de Kinsella!), Becky já não compra enlouquecidamente como outrora. E isso não fez a menor falta. Becky #6 é ótimo, e foi bacana ver a personagem amadurecendo um pouco. Seu comportamento compulsivo já estava sendo espelhado pela filha, que, apesar de fofa, estava ficando mimada que só. O livro termina com um gancho para um Becky #7 que parecia óbvio: Becky em Hollywood ia colocar Los Angeles de cabeça pra baixo! Como a gente ainda não tinha visto isso antes?

No quesito comédia Becky #7 é nota 10. Não tem do que reclamar. Muitas situações constrangedoras que fazem o leitor passar vergonha no transporte público, ou rindo enlouquecidamente, ou gritando e arregalando os olhos, sem acreditar que no que a nossa personagem favorita estava realmente aprontando. No quesito desenvolvimento do personagem, infelizmente, ficou devendo. Becky sempre teve um pé na futilidade, mas passou do limite. Foi egoísta ao extremo e por pouco não perdeu a família e os amigos por causa de uma teimosia infantil de se tornar uma celebridade. Esse tipo de comportamento da Becky há 10 anos seria OK. Com quase 40 anos na cara, e com uma filha pra criar, não muito. Ao final, felizmente ela recobra a consciência, mas uma das pontas ainda fica solta para um inesperado oitavo livro. Agora Becky e toda a sua turma entram numa missão rumo a Las Vegas. E a partir daí tudo vira uma fanfic oficial que não tinha necessidade nenhuma de um livro de 400 páginas.

Acho que Sophie Kinsella, praticamente uma engenheira de histórias pela habilidade de encaixar arcos e surpreender o leitor, teve um erro no planejamento. Os livros da Becky, sempre tão episódicos e redondinhos, nessa última trilogia de revisita terminaram com assuntos inacabados que foram se acumulando até esse último aí, que basicamente só serviu para dar fim nos dramas introduzidos nos volumes anteriores, pois a história que devia mover o episódio em si não funciona. Não por acaso esse é um dos livros mais curtos da série. Porque realmente não há muito o que se contar aqui. 

É tudo muito forçado, desde todo mundo (todo mundo mesmo!) num trailer no meio do deserto pra procurar o pai da Becky, até o motivo pelo que o cara sumiu, passando por uma crise no casamento de Suze e um abalo na amizade dessa última com Becky. É fácil perceber Kinsella tentando justificar a falta de sentido do desenrolar da trama o tempo todo. E é preciso uma dose de descrença da realidade muito maior do que o normal aqui, muito embora o que mais faz mais falta sejam justamente as cenas absolutamente irreais protagonizadas pela nossa mocinha favorita.

Era de se esperar que Becky em Las Vegas renderia algumas delas, mas, Sra. Bloom está irreconhecível. Triste e com remorso, ela sabe que passou do limite em Los Angeles, e.... choque, nem sente vontade de comprar nada!!!!! E se por um lado foi bom vê-la agindo como uma pessoa responsável de vez em quando, pelo outro, um livro de Becky Bloom em que ela não mete os pés pelas mãos não tem a menor razão de existir.

Temos então, pela primeira vez, uma mudança na dinâmica da série. Ao invés de ser um livro movido a constrangimento, este é um volume inspirado nos road movies. Apesar de ainda ser uma comédia, Becky #8 baseia-se na resolução de um mistério, com toques de emoção e muitas cenas contemplativas do deserto dos EUA. O problema é que o mistério não tem a menor graça, e, quando revelado, o leitor fica esperando o tempo todo uma reviravolta kinsellística que nunca acontece.

O final com a turma toda unida em prol da resolução de um plano infalível de Becky é bonitinho e quase justifica o livro. Mas, ao invés de um volume completo, podia ser um de 50 páginas só com essa parte que eu ia ficar feliz da vida. Afinal, é sempre bom ver Becky e seus amigos interagindo.

Mas, ao final desse livro, me pergunto se isso é o suficiente para manter o fôlego para possíveis continuações. Os personagens continuam extremamente carismáticos, mas, fica a sensação de que todas as histórias já foram contadas e continuar pode comprometer seu o desenvolvimento ou a verossimilhança da jornada. Talvez a partir daqui só as fanfics deem conta. Talvez realmente tenha chegado a hora de parar. E se a saudade for tão grande que Sophie Kinsella sinta a necessidade de voltar, talvez esse formato de fanfics oficiais curtinhas possa ser uma solução que faça todo mundo feliz. A gente pode até não ser shopaholic, mas é claro que a gente não vai deixar de comprar.
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terça-feira, 20 de junho de 2017

Pior do que pagar boletos

Não sei vocês, mas eu sou do tempo em que a internet era sinônimo de liberdade e gratuidade. Quando banda larga era um serviço que só a população mais abastada podia consumir, e streaming era sinônimo de ficar “armazenando buffer” eternamente, a gente demorava séculos baixando as músicas no Napster, AudioGalaxy e mais tarde nos agora ultrapassados KaZaa e eMule.

O tempo passou, e, ao contrário do que a gente imaginou lá atrás, assim como Pokemon, a internet evoluiu, e descobriu que se fosse cobrado um preço justo, as pessoas estariam dispostas a pagar sim para consumir conteúdo audiovisual online.

E aí, juntamente com a vida adulta, chegaram o Netfix, o Spotify, e, claro, um monte de boletos (o boleto nesses dois casos em específico ainda se faz presente ainda que ambas as instituições operem principalmente com pagamento via cartão de crédito, já que, no final do mês, se transforma no boleto para pagamento do cartão).

Pagar boletos é uma importante parte da vida adulta que só quem passa a incorporar essa atividade em sua rotina consegue descrever. Você abre a caixa dos correios, e, na época da correspondência online, eles são os únicos que ainda chegam por ali (além dos spams de serviços locais). Você paga o boleto. Abre a caixa de correio de novo. Mais boleto. Paga o boleto. Faz uma compra online no boleto porque tem desconto. Paga boleto. Abre a caixa de correio. Sem boleto. Os Correios estão em greve. Corre pra pagar a conta de algum jeito, porque não ter chegado não é desculpa para não pagar. Chega um momento em que enfim você se dá conta que pagou todos os boletos do mês, aí abre a caixa de correio de novo, só por desencargo, não era pra ter mais nada lá, e... já tem os boletos do próximo mês!!!!!

Você se sente derrotado e aceita que isso vai se repetir para todo o sempre.


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Pois então, quando você está conformado que a vida adulta se resumirá a pagar boletos, eis que você descobre algo muito pior do que os famigerados papéis com código de barras: as multas!

Você acompanhou aqui mesmo, no ano passado minha saga para alugar um apartamento, na qual tomei um toco na hora de assinar o contrato. Acabou que foi a melhor coisa que me aconteceu, pois consegui um outro muito melhor depois.

Só que, nem um ano depois, a desgraçada da proprietária resolveu VENDER o imóvel. Pois é, definitivamente estamos com muito azar nesse negócio de apartamento. Talvez seja um sinal divino me mandando voltar pra NiloCity, ou pra eu comprar uma casa própria logo, ainda não consegui decifrar.

Apareceu aqui na minha casa contando uma história super-triste de como o cara da imobiliária estava enrolando ela e ainda não havia me comunicado nada, e ela tinha pressa pra vender porque, coitada, torrou toda a grana que tinha num intercâmbio com a filha, e numa iniciativa de reflorestamento no sul, e agora estava enrolada num processo com o ex-marido, no qual teve que pegar um empréstimo com o cunhado para quitar a dívida do fulano. Deu vontade de responder: “Minha senhora, existem dois tipos de problemas: o meu e o seu! O que a senhora está me contando faz parte do segundo tipo”. Mas sou educada, e fui pega de surpresa.

Ela me deu a preferência de compra, e ficou com um pouco de raiva quando demorei a responder a sua proposta, que, por sinal, era um valor um pouco acima do mercado. (E ela ainda queria muito mais, alguém que colocou um pouco de juízo naquela cabeça e ela abaixou o preço). A lei me dá 30 dias, e eu usei os 30 dias, ué!

Nesse meio tempo comecei a caçar outro lugar para morar (de novo!) porque a legislação me obrigar a receber as visitas dos possíveis compradores que irão me expulsar do meu temporário lar, e eu não estava a fim de fazer sala para corretor, mexer na minha agenda, receber estranhos na minha casa, etc. Enfim, queria pular essa parte.

Acontece que encontrei um outro lugar. Entrei em contato então solicitando que pudesse desocupar o imóvel só com o depósito caução, porque, APESAR DE TUDO ISSO, quando o proprietário avisa que quer vender, e o inquilino quer sair, o inquilino ainda tem que pagar a multa contratual, que por acaso, é bem alta (o contrato tem 30 meses, estamos completando um ano agora, faça as contas). A desgraçada me mandou um email meio desaforado, recitando toda a lei do inquilinato, que já sei de cor a essa altura do campeonato, e já descobri que não me serve de nada, e que não ia abrir mão de multa nenhuma.

(Vale ressaltar também que, quando perguntei ao dono da imobiliária se eu pagaria algo caso quisesse sair, ele garantiu que não pagaria nada, pois estava com raiva da mulher, e pensou que eu fosse alugar o próximo com ele. Foi só eu dizer que ia sair e que ia alugar outro canto, a coisa toda mudou de figura. Teria me poupado um pouco de tempo se tivesse sido honesto, mas, enfim.)

Resumo da história: perdi o apartamento que tinha em vista, e enquanto ninguém comprar essa bagaça, sou obrigada a ficar nesse contrato oneroso, inclusive tendo que receber estranhos na minha casa. E quando ele finalmente for vendido, NÃO RECEBO NADA DA MULTA CONTRATUAL!!!! Joinha pra quem escreveu essa lei aí, hein! Tá de parabéns!

Como eu me sinto toda a vez que vou pagar o aluguel agora

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Mas já que estamos falando de boletos, seria injusto terminar esse post sem nem ao menos mencionar aquela que se tornou rainha desse símbolo da vida adulta: Taylor Swift.

A melhor fantasia do carnaval 2017

Há um tempo atrás Taylor Swift retirou todo o seu acervo do Spotify, por achar que os boletos que eles estavam pagando pra ela não eram suficientes e ela deveria receber muito mais do que aquela mixaria que eles chamam de direito autoral. 

Não vou entrar no mérito de Taylor ser mercenária ou não, pois, apesar de, como consumidora preferir consumir as coisas de graça, é claro que os músicos também têm os seus boletos para pagar, e, se o que eles ganharem não for justo, ou for muito inferior ao arrecadado pelos canais de distribuição, você tem uma relação muito desigual que não beneficia ninguém, na verdade.

Mas, aparentemente, Taylor está disposta a abrir mão desses boletos, pois, foi só sua rival Katy Perry anunciar o novo álbum totalmente no Spotify, cujo carro-chefe é nada-mais-nada-menos do que uma música sobre a maior rivalidade da música atual, que Tay-Tay liberou toda sua discografia na mesma plataforma digital. Difícil escolher qual das duas é a mais infantil nessa história toda. Dizem que tudo não passa de um plano maligno em que nenhuma delas se odeia e estão apenas fingindo essa patacoada para ganhar espaço na mídia.

E se isso for verdade mesmo, ainda bem que eu não dei meu suado dinheirinho para nenhuma das duas, e as músicas agora tão tudo no Spotify, porque não tô podendo pagar pra ser trouxa. Já me bastam as multas...

P.S. Depois você fica vendo esses comentários de analistas financeiros dizendo pra não comprar casa, porque, financeiramente não vale a pena... Na ponta do lápis não vale mesmo não. Mas ficar nessa insegurança de onde vai morar, de a qualquer momento o cara poder romper com o contrato, ou ser obrigado a fazer sala pra corretor... Cara, isso aí não tem preço não!
PS2. Pra você que for alugar um imóvel, então, fique atento à cláusula da multa contratual. Se possível, peça para restringi-la ao primeiro ano de aluguel, ou inclua alguma no contrato de que, se o proprietário queria vender, ele deverá pagá-la no caso de o inquilino resolver sair.
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