quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Nostalgia Pura 2

Tenho saudade de quando eu ainda tinha tamanho pra entrar nos parquinhos sem as pessoas ficarem me olhando torto. Saudades de deixar as outras pessoas de castigo na gangorra (mas nenhuma saudade de ficar presa lá em cima). Tenho saudades de empurrar as outras crianças bem forte no balanço e de ir bem alto quando os outros empurravam também.

Tenho saudade de pular no pula-pula, me jogar na piscina de bolinhas e de todos aqueles brinquedos infláveis de festa e shopping. Tenho saudade de ir no Buena Park e entrar naquela cadeia de faroeste. E saudades de sentar naquele cadeirão dos restaurantes também.

Tenho saudade de jogar jogo do mico e fazer sombra de bichinho na parede com o retroprojetor (e com a lanterna quando faltava luz em casa também). Saudades de ouvir meu pai contando histórias da Vaca Vitória e repetindo as frases mais escatológicas de outros filmes infantis. Tenho saudades de correr pra abraçá-lo quando voltava do trabalho e brincar de cavalinho e subir pelos vãos das portas como se fosse homem-aranha.

Tenho saudades de fazer golzinho com a bola rosa com um guiso dentro apelidada carinhosamente de Bola de Kimberly (porque ela era a Power Ranger Rosa) tudo isso de cima da cama (por isso que ela quebrou depois). Tenho saudades de quando qualquer par de chinelos era trave e de quando Power Rangers era novidade e daquele bonequinho que girava a cabeça e a alternava entre o Power Ranger e a identidade secreta deles também. Tenho saudades de quando só tinham 100 Pokémons.

Tenho saudades do Passaraio, Passa-anel e do Passa-negão, passa loirinha, quero ver você passar por debaixo da cordinha. Mentira, disso eu não tenho saudade, não. Era o momento mais baixaria de todas as festas infantis.

Tenho saudades sim da Dança da Cadeira, do Morto Vivo, da Corrida do Saco, do Cabo de Guerra, de equilibrar ovo na colher, de encher bola até estourar e de se matar pra conseguir doce embaixo do bolão no final da festa. E tenho saudades de roubar brigadeiro, bomba de chocolate e de enfiar o dedo no bolo antes do final também.

Tenho saudades de brincar de Galinha-choca (galinha-choca, chocou um ovo, saiu minhoca, da perna choca...) e de Meus pintinhos venham cá (tenho medo da raposa...) e de sair correndo quando a raposa perguntava se a gente queria milho. Saudades do Pique-alto, pique-parede, pique-bandeira, pique-cola, pique-cola-americano e dos piques de parabéns porque nessa época pique era sinônimo de brincadeira e não de hora extra e noites sem dormir. Tenho saudades da época em que não tinha ficava a noite em claro por causa da quantidade de preocupações na cabeça também.

Tenho saudade do Nós somos 4, do Coca-cola-Pepsi-Cola-Quantos-anos-Você-tem e do Trem maluco que quando saía de Pernambuco ia fazendo chique-chique até chegar no Ceará. Saudades de quando o Pararará virou febre (Pararará-Parati-Parará...), de brincar de adedonha, adoleta e de quando a combinação baygon, barata e sabão era bom.

Tenho saudades da época em que nossos destinos eram decididos pela quantidade de dedos que saíssem na brincadeira do “Com Quem a Fulaninha vai se Ca-sar?”. Da época em que nossos maridos só podiam ser louros, morenos, carecas, cabeludos, reis, ladrões, “polícias” ou capitães; em que nossos lares seriam tirados igualmente na sorte podendo nos fazer morar em casas, apartamentos, chiqueiros, galinheiros e até mansões! E ainda mais saudade de quando o local do casório tinha que ser decidido entre capela, igreja, galinheiro ou, MURO (acho que era isso).

Tenho saudade de zoar as pessoas que iam casar com um ladrão, no galinheiro e morar no chiqueiro. E de fazer bullying com os carecas e com quem casava no muro (sempre me perguntei como a pessoa ia casa no muro, mas tudo bem) também. Mas, principalmente, tenho saudade da época em que a palavra bullying não existia.

Tenho saudades de tentar derrotar o Robotinic no jogo embutido do MasterSystem, de jogar e zoar as partidas de Tênis da fita que ainda tinha Vôlei e Futebol e de todas as outras fitas do Atari. Saudades de quando o Dynavison era o videogame de prêmio dos programas de TV, do programa do Hugo e de quando UPA era o bebê do Gugu.

Tenho saudades do Zuzubalândia, dos Bananas de Pijamas, de acordar cedo pra assistir ao Daniel Azulay, de entrar no site do Iguinho com Intenet Discada (tá legal, da Internet Discada eu não tenho saudade nenhuma. Talvez só do barulhinho do modem ligando...) e de quando todo mundo da sala tinha uma mochila de carrinho da Turma do Arrepio. 

Saudades de sair às 16h da tarde porque não tinha ficado de recuperação, de comprar Stickers e colar no caderno e de enfeitá-lo com canetas de várias cores (e com vários aromas!) na hora de copiar a matéria. Tenho saudades da época em que eu tinha caderno, aliás. Mas, principalmente, tenho saudades de quando os alunos perguntavam: “Professor, é pra copiar?” e o professor (ou melhor, a tia!) podia ironizar respondendo: “Não, é pra tirar foto!”. (Hoje em dia, os alunos tiram a foto mesmo!).

Saudade da Piada do não nem eu, do Grapete-Repete e do Tem gente no banheiro. De brincar de detetive (aquele do papelzinho com as piscadelas), de tentar pegar (e às vezes jogar também) bala avanço na kombi ou na sala de aula e de quando o melhor relógio era aquele com o compartimento pra guardar chichete também.

Tenho saudade de biscoiteira da Eliana (que transformava biscoito em biscoito), do PenseBem (que a gente tinha que comprar os livros pra conseguir jogar), do meu mini-teclado e de montar a minha casinha da Mônica (e achar que ela era muito grande) ou fazer casinha com os lençóis e edredons da cama mesmo. Tenho saudades do bate-begue e de como todo mundo começou a ficar com os pulsos roxos de tanto bater com aquele negócio super-rápido. Saudades daquele chapéu do Chaves que dava pra beber refrigerante, de quando o MilkBar era Lolla, do pirocóptero e daquele outro pirulito que a gente assoprava e subia uma bolinha.

Tenho saudades de perguntar por presentes toda vez que alguém ia na rua e me levava junto e de perguntar “Quer Bolo?” só pra responder “Vai comprar na Sobel!” depois. Saudades de fazer estoque de picolé (da Sobel) em época de verão, de tomar Cremogema e de pegar mel com o Ursinho Puff no desfile de 7 de Setembro também.

Tenho saudade de fazer “piscina” se jogando no chão quando a gente lavava o quintal e de ficar fazendo nada na piscina 3000 litros no calor. Saudades de jogar PepsiGol e de mergulhar na piscina (de verdade) bradando aquela frase indígena de Free Willy.

Tenho saudade da época em que fazer compras era muito mais divertido. De ficar dentro do carrinho grande e de quando tinha aquele carrinho de criança e eu fazia as minhas próprias compras (só biscoito recheado, obviamente) quando ia no mercado com meu avô também. Mas, principalmente, tenho saudades da ala infantil do Paes Mendonça (Paes Mendonça!!!!) e da minha carteira de sócia do clubinho.

Tenho saudades de andar de velocípede e de poder andar naqueles mini-carrinhos elétricos que sempre tinham nas festas de Dia da Criança da empresa do meu pai. Tenho saudades dessas festas mega-bombantes, aliás. E das menorzinhas da escola em que tinha aquele trenzinho dos lanches também. Tenho saudades das festas de fim de ano em que os meninos do DDD eram atração principal e de quando tinha show da Angélica e eu nem ligava, pois preferia a Eliana.

Tenho saudade de esperar Papai Noel trazer minha bicicleta e me deparar com ela na manhã seguinte no meio da minha sala. E tenho saudades de andar de bicicleta no estacionamento das Sendas  nos domingos e descer aquela rampa à toda velocidade também. Tenho saudade de quando as Sendas não eram Assaí, aliás.

Nossa, eu tenho mais saudades do que eu pensava! Pra terminar, faço a mesma pergunta do ano passado: E você, do que tem saudades?
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sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Vitória e outras vacas

Muito me espantou que tanta gente não conhecesse a Vaca Vitória. Talvez ela seja a vaca mais famosa do universo. E mesmo com uma historinha tão curta, sim, Vaca Vitória é um clássico. Um personagem inesquecível que permeia a cultura popular tanto quanto Chapeuzinho Vermelho!!!!





E agora, Vitória?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou...






De fato, eu ouvi a história da Vaca Vitória pela 1ª vez, no jardim, no alto dos meus 4 anos. A Tia... (Putz, que mancada, esqueci o nome da Tia. Mas é que no meu jardim, as Tias mudavam toda hora, não sei por quê...) tinha acabado de contar a história da Chapeuzinho e aí a turma pediu outra e daí ela veio com essa pérola dos contos infantis.

Era uma vez uma Vaca Vitória, soltou um pum e acabou a história.

É claro que no dia a turma não gostou nada daquilo. A gente queria outra história com princesas, e príncipes e bruxas más.

(Ou será que não foi a Chapeuzinho e sim a Bela Adormecida? Não, acho que foi a Chapeuzinho mesmo).

Cheguei em casa e contei a história da Vaca Vitória pro meu pai, que nem gosta de piadas escatológicas, né? Desde então, Vaca Vitória virou protagonista de um seriado particular aqui em casa, estrelando diversos episódios dos mais variados, mas que sempre acabavam quando a Vaca soltava aquele Pum.

Mas, então, depois da revelação bombástica lá nos comentários blog do Felipe de que não existe Vaca Vitória em Minas Gerais, resolvi realizar o Censo Vitória aqui no blog. O Censo Vitória é uma pesquisa altamente científica e de extrema importância para a sociedade brasileira que visa a aprofundar nossos conhecimentos sobre essa vaca que toma conta do imaginário infantil, pelo menos do Rio de Janeiro.

Olha que vaca mais linda, mais cheia de graça
É ela, malhada, que vem e que passa

Para participar, basta responder aqui (olha que chique, uma enquete externa aqui pro blog! Não sei direito como vou ver o resultado, mas espero que dê tudo certo... Vocês sabem que eu não sou de ficar com essas inventividades aqui no Inútil então, por favor, participem! Créditos ao @danilo_sanches, que indicou o site*)
* Detalhe que a pesquisa é sobre vacas, num site de macacos, mas tudo bem....

Eu divulgo o resultado daqui a mais ou menos um mês, ok?

No meio do caminho tinha uma vaca
Tinha uma vaca no meio do caminho

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Mas, ao ler o post do Felipe, lembrei de uma outra história de uma prima da Vitória, que eu tinha achado um absurdo assim que li na apostila de espanhol da 7ª série, e que eu já vinha querendo postá-la aqui há um tempão.

A história vem na íntegra, em espanhol mesmo, porque se eu traduzir de uma vez, vai perder toda a graça. Mas é tranqüilo de ler, olha:
Érase uma vez uma família formada por el papá Pedro, la mamá Consuelo, el hijo Julio y la vaquita Cachita. Eran muy pobres. Cachita queria ayudarlos pues solo la leche no daba para alimentarlos. ¿Qué hacer? Fue a consultar la sabiduría de la lechuza [coruja].

- Tengo una solución mágica que sacará a tus dueños de sus dificuldades y tú, de poquito a poquito, combiarás una vida física y limitada por otra espiritual y completa, sin dolores, sin agustias.
-  ¿Cómo? Explicame, pues quiero hacerlo. Aunque sufra, lo haré.
- Es así: vendes pequeñas partes de tu cuerpo por un buen precio. La magia consiste en que, al seccionar, por ejemplo, tu cola
[rabo] o una pata, será sustituida por otra, invisible a los ojos de todos, menos de tus dueños y de ti. Los demás sólo verán la parte física y se creerán estar teniendo alucionaciones. Los tuyos no sabrán lo que haces y seguirás llevando una vida normal, dejándolos pensar que el dinero que reciben  es una bendición de Dios. Al final, te volverás sólo espíritu y serás un fantasma de la vaquita de ahora. ¿Qué te parece?
- Pues me parece bárbaro. Quiero empezarlo ahorita.
- Beuno, tomate uma de esas pastillas
[pílulas] cada manãna durante siete días y todo se arreglará.

Cachita salió muy feliz. Y al otro día empezó su nueva vida. Sería una VIDA MÁGICA.
La vaquita tomó su premera pastilla y su cola se volvió muy bella. Un vaquero la quiso comprar para transplantar en sua vaca campeona cuya cola se la perdió accidenalmente. Los cuernos
[chifres], comprados por un artesano, se transformarían en objetos de adorno muy valiosos. Las patas fueron vendidas a una fábrica de botones de huesos, y las personas no comentaban otra cosa: “Hay una vaca sin cola, hay una vaca sin patas y que camina como si estuviera entera. Me estoy volviendo loco”.

Después de unos diás vendió el cuero que será transformado en pelotas, sapatos, bolsos, cintorones y alfombras. El pueblo acabó acostumbrándose em sus visiones y la apodaron de Fastasvaca. De la carne se harían embutidos, y charqui. La leche, para hacerse queso, mantequilla, crema y yogur, seguiría siendo propriedad de la familia. La cabeza, sin los ojos y la boca, y esqueleto irían a adornar un mueo. Ahora Cachita ya er sólo ojos y boca. Ésta fue vendida para una empresa cinematográfica que la queí para atraer a los bueyes
[bois] que se huían. Un ojo lo compró un buey ciego. La vaquita era sólo un ojito para ver el mundo y a sua dueños. Y recebió un nuevo apodo [apelido]: Vacaluz. Su ojito, punito de luz, era una estrella, guía y compañera de los solitarios y perdidos en la ciudad. Ellos se decían: “¡Vacaluz! Estoy perdido. ¡Ayúdame!” Y ella nos atendía siempre.

Com justicia, la pequena ciudad pasó a llamarse VACALUZ.

No final das contas, acabei por concluir que Cachita era a vaca do Quico

Aí agora você está pensando: “O que é que tem de mais nessa historinha tão inocente, Elisa?”. Pois é, meu pequeno gafanhoto, ela só parece inocente, porque basta eu dizer o significado de uma palavra para que tudo mude.

Lechuza em espanhol, além de significar Coruja, aquele bicho que é símbolo de sabedoria, também pode ser entendido como a profissão mais antiga do mundo, aquela que fez Bruna Surfistinha ficar famosa.

Analisemos a história com outros olhos agora.

Uma vaca (VA-CA!) pede conselhos para uma lechuza para ganhar dinheiro rápido e fácil. A lechuza, como não poderia deixar de ser, fala: “VENDE O CORPO!!!!!”

Vê se isso é história de criança? Me diz! Errado, simplesmente errado.

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Já essa outra vaca aqui embaixo lembra uma outra história, também com uma vaca no meio, e também na 7ª série, mas desta vez sendo contada pela minha irmã.


O livro de Geografia pedia para os alunos se utilizassem de sua criatividade para dar um nome para a Vaca com malhas de Mapa Mundi. Os estudantes deram nomes como Vaca Geográfica, etc. Até que chegou a vez a minha irmã:

- Vaca Muuuuuuundi

GENIAL!!!!!!!! A turma e a professora se estragaram de rir. E ela ficou tipo, “Meu Deus, nem foi tão engraçado assim!” Mas quando ela chegou em casa e me contou a história eu também ri alto durante um tempão. É claro que foi o melhor nome (tinha que ser minha irmã, né?)! Genial, simplesmente genial.

Por hoje é só. Não esqueçam de responder o Censo Vitória (é bem rapidinho, eu prometo!). Mais imagens da Cowparade no Brasil, você encontra aqui. E aqui. É uma mais legal que a outra.

Abs,
Lisa
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sábado, 1 de outubro de 2011

Todo mundo tem um lado devassa

Todo mundo que leu O Diário da Princesa sabe que o sonho de Mia Thermopolis  era escrever um livro e ser publicada pelos próprios méritos antes dos 21 anos. E no final de DP10, Princesa para Sempre, todo mundo que leu se emocionou ao ver esse sonho virar realidade com a publicação de Liberte meu Coração, esse livro com título e conteúdo de romance de banca (bem daqueles que a Tina adoooora) e que daria um ótimo nome de novela mexicana. A tradução mais sensata, inclusive, seria Resgate meu coração, tendo em vista o que acontece na história. Mas vamos deixar o título assim mesmo porque o nome escolhido pela editora brasileira está longe de estar errado e consegue ser até um pouco menos vergonha alheia.

Lançado na mesma data em que DP10 nos EUA, Ransom my heart fez uma grande brincadeira com os leitores ao se apresentar como a oportunidade de ler na vida real o livro que Mia Thermopolis fez na ficção.

Mas, não custa nada acrescentar que, embora Mia assine o livro, não foi ela que escreveu DE VERDADE. Isso porque, desculpe lhe informar, ela não existe. Eu sei que parece idiota, mas esse tipo de colocação se faz necessária na medida em que uma vez já vi uma menina afirmando categoricamente que tinha visto o Michael (o personagem, não o ator) na webcam. E tudo bem, eu mesma passei anos procurando Genovia no mapa (desculpa se você achava que Genovia existia até hoje, eu sei, eu também levei um choque quando descobri que não, mas a verdade é sempre o melhor caminho).

E o que quase ninguém sabe é da história por trás da história do lançamento de Liberte meu Coração. Pra começar, quem o escreveu também não foi Meg Cabot e sim, seu lado devassa, sua personalidade do mal, Patrícia, que é quem geralmente é responsável por esses romances históricos apimentados. Como já expliquei, os primeiros livros de Meg eram todos nesse nível minissérie de época que só pode passar depois das 23h e eram assinados por Patrícia, tendo em vista não chocar a avozinha com o conteúdo... hmmm... adulto dos livros. Liberte meu Coração é dessa época.

Ele estava lá engavetado, cheio de poeira, quando a Meg foi escrever o DP10 e pensou: “Poxa, ia ser tão legal se o livro que a Mia escreve realmente existisse, né? Os fãs bem que merecem terminar a série com um presente desses e eu tenho essa outra história aqui dando sopa que nunca ninguém leu. Por que usar, por que não usar, por que usar? Usei!”. Meg pegou novamente o Liberte meu Coração, deu uma recauchutada, acrescentando umas brincadeirinhas pra parecer que a Mia que tinha escrito, e mandou ver no irretocável final da série da princesa, incluindo o livro dentro da história mesmo (literalmente falando até).

Até então esse negócio de publicar o livro pros fãs era da cabeça dela, e não tinha conversado com ninguém para que ele saísse fisicamente, de verdade. Como o livro era dela mesmo e ela fazia o que quisesse com ele, Meg ia publicá-lo online de graça pra todo mundo (Sério, gente, Meg Cabot é muito amor!). Só que aí, as negociações foram pra frente e a editora, que não é boba nem nada, falou que lançava o livro da Mia com o maior prazer através do seu selo para livros desse tipo, o Devassa Avon Books. Como o treco já era pra ser de graça, Meg foi lá e doou os direitos para o Greenpeace até das edições estrangeiras. (Tô falando que essa mulher é muito amor!)

E se por um lado foi ruim porque perdemos a oportunidade de lê-lo inteiramente "de grátis", pelo outro foi MUITO MAIS LEGAL ver o livro da Mia lançado de verdade pelo mesmo pessoal que liga pra ela dizendo que ia publicá-lo em DP10. E de quebra, a gente ainda pode ajudar o Greenpeace!!!

Lembrei da época que a Jami comprou uma agenda do Greenpeace só pra ajudar a causa na 8ª série! 
Salvem as baleias! Uhuu!

E assim como DP10 dialoga o tempo todo com o resto da série e com o próprio Liberte meu Coração, este último vai despertar sorrisos em quem prestar atenção nas conversas cifradas do mesmo com a série da princesa mais querida do planeta. O feriado judeu com nome de arcanjo e mocinho que todo mundo quer na vida real (Dia de São Miguel* - Michaelmas), o nome do cachorro da Finulla, do cavalo do Hugo (sem trocadilho)... entre outras coisas.
* Então quer dizer que... ? Sim, o casal da novelinha mexicana no fundo tinha o mesmo nome dos protagonistas de Cabot. E isso não significa absolutamente NADA.

Muita gente ficou chocada com o nível de descrição de cenas picantes ser escrito por uma menina que até então não entendia do assunto. E, até eu, que lembrava da contextualização do livro em DP10, que inclusive leva em consideração todo esse estranhamento e chega até a avisar que é para maiores de 18 e já estava esperando algo assim e ainda achava que, apesar de estranho, seria perfeitamente possível a princesa tê-lo feito nessas circunstâncias (só de ler um monte de livros desses já dá pra sacar como é que se faz. Ou melhor, como é que se escreve ;-P ), devo confessar que houve alguns momentos em que achei que a sacanagem passou dos limites. Sou totalmente a favor de pedirem a identidade pra comprar esse livro, ou de uma tarja bem grande escrito "Este produto destina-se a adultos" na contra-capa.

Fica até difícil escolher quem é mais devassa(o) no livro. Se é Finulla, que usa calças de couro em pleno século XIII, seqüestra um homem e o mantém em cativeiro (sim, pode maldar com o que acontece no cativeiro). Ou se é Hugo, que não pode ver um rabo de saias (ou de calças mesmo), que não consegue se controlar.

Mas, se realmente tem alguém que merece o título de Devassa do livro, esse alguém é Melanna. Apareceu grávida antes de casar também em pleno séc. XIII, gastou todo o dote em quinquilharias, mandou a irmã caçar homem e, principalmente, tem uma fábrica de cervejas no quintal de casa (DP7 mandou lembranças na parte da cerveja e no nome da irmã gastadeira e devassa também).

Não tem pra ninguém. Devassa de verdade é a Melanna

Sim, as cenas picantes são picantes (taí o que vocês queriam, meninas que reclamaram do final de DP10!). Mas são bem escritas. O negócio é que elas são DEMAIS. Mia/Meg/Patrícia capricha na tensão sexual e não faz você só torcer para que o casal protagonista fique junto. Ela praticamente faz você IMPLORAR para que eles se rendam de uma vez à paixão, calem a boca e beijem logo! Só que depois do (f)ato consumado, o fator novidade se acaba, a pimenta ardente do início já não se faz necessária e as tais cenas ficam despropositadas.

O grande problema de Liberte meu Coração é que ele não tem só nome de novela. Liberte meu coração É UM NOVELÃO! Daqueles com muito romance, humor, sacanagem e mistério. As tramóias dos vilões e inúmeras reviravoltas ganhariam capas irônicas no Meia Hora, teriam matérias no Vídeo Show e seriam discutidas à exaustão pelos bares e elevadores de todo o país. E como toda novela, ele não sabe a hora de parar. Não sabe a hora de parar de se apoiar na atração dos protagonistas, não sabe a hora de deixar as coisas mais subentendidas, e não sabe a hora de terminar com a história também.

Gosto de pensar que, como esse é o primeiro livro da princesa, ela ainda não adquiriu a manha dos livros em série. Porque Liberte meu Coração é o tipo de história que TINHA que ser dividida em dois volumes (vale lembrar que Liberte não tem e nem terá continuação). A trama é do tipo 2 em 1 e troca absurdamente de tom entre suas duas metades. A primeira explora toda a sensualidade dos personagens e é basicamente aquela comédia-romântica-casal-que-briga-mas-se-apaixona. Já a segunda vem com as revelações bombásticas, o romance-quase-policial e as situações pós-felizes-para-sempre. E por conta do frescor dos acontecimentos da primeira delas, quando adentramos a segunda, em alguns momentos fica difícil reconhecer os personagens do início. Um problema muito fácil de se resolver dando tempo de seus personagens (e leitores) respirarem um pouco.

Como disse, se a Mia tivesse a manha, tinha feito dois volumes. E de quebra a gente ainda descolava mais uns trocados pro Greenpeace e salvava mais uns bebês-focas!

Confesso a você que gostaria que o livro da Mia fosse algo mais pessoal e com mais piadas internas* com a série que narra a vida da princesa (coisa que não acontece porque, como já expliquei, Liberte é fruto do lado devassa de Cabot). Mas, já estamos no lucro se levarmos em conta que houve um tempo em que a Meg chegou a negar que fosse escrever de verdade um livro “feito” pela Mia, dizendo que ia ser muito estranho e tal. Ironicamente, o que ela fala não se escreve e aí está Liberte meu Coração nas lojas. Se bem que ela falou que nunca ESCREVERIA um livro assim. Não mencionou nada sobre reciclar histórias nessas circunstâncias. :)
* Fiquei com vontade, inclusive, foi de ler aquele guia de sobrevivência ao ensino médio que a Lilly disse que ia fazer. Ou Chega de Milho!. (Se bem que esse daí não vai rolar mesmo, já que sua publicação iria deixar o JP muito chateado. Vide toda a confusão do DP7.)

Entretanto, o que me deixou boba mesmo foi COMO ASSIM A MIA DEIXOU O MICHAEL LER UM NEGÓCIO DESSES? E COMO ASSIM ELE CONSEGUIU LER TUDO EM UM DIA TENDO TANTA COISA PRA FAZER??? (O livro é legal, só que não faz muito a linha do Michael). Não me admira que ela quisesse publicar com pseudônimo e quem leu DP10 também sabe que ela só assina Mia Thermopolis para poder doar os direitos pro Greenpeace (a edição americana, inclusive, é feita com folhas de papel reciclado) e, vou te contar, é muito amor pelos bebês-focas, porque COMO ASSIM ELA VAI ENCARAR A FAMÍLIA DEPOIS DE UM LIVRO DESSES? Tá legal que a Grandmere faz parte do Trio Devassa da Terceira Idade, junto com Copélia e a velhinha da Havainas, mas, mesmo assim, ela deve ter falado à beça... Ou não, né? Sabe como é Grandmere, sempre nos surpreendendo... E, tudo bem, nunca se sabe o que passa na cabeça da Grandmere, mas com certeza, a Mia NÃO PODE deixar esse livro cair nas mãos do pai. Sério, não dá pra dar um livro desses pro SEU PAI ler. Se a Sra. Martinez for boazinha, vai ajudar e não deixar o príncipe de Genovia chegar NEM PERTO de qualquer exemplar.

Liberte meu Coração tem qualidades e defeitos e vale mais pela brincadeira em sua proposta do que pela história em si. Só sei é que fiquei com uma saudade danada das loucuras da Mia e vontade de reencontrar logos meus personagens favoritos de algum jeito. E mesmo tendo medo de seqüências que estragam os finais felizes, em se tratando de Meg Cabot, tenho fé de que tudo vai dar certo e torço desde já para um livro do Casamento Real.

Quero mais Mia, comofaz?
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