quarta-feira, 28 de março de 2012

Diários de Motocicleta

Confesso que a explicação de que a história estava sendo contada por meio de uma declaração da protagonista para a polícia me irritou um pouquinho. “Sério, Meg? Sério que você vai cair nessa bobagem de ficar explicando porque a narrativa é em primeira pessoa ao invés de começar o livro de uma vez?” Só que acontece que é de Meg Cabot que estamos falando, então, eu resolvi relevar. Não deram 10 páginas e lá estava eu, já completamente imersa na história e apaixonada pelos personagens. (Ah, sim, e no final a tal declaração faz TODO o sentido!)

Quando Cai o Raio é o primeiro volume da série que conta a história de Jessica Mastriani, a menina apaixonada por motos, velocidade e flautas (adorei a parte da flauta!) que é atingida por um raio (dã!) e começa a ter sonhos com pessoas desaparecidas que vê na caixa de leite. E não demora muito para ela atrair os olhos do pessoal do FBI e perceber que “com grandes poderes vem grandes responsabilidades” e que sua nova habilidade pode ir facilmente de “dádiva” à “maldição”. (Não, ela não é o Homem-Aranha, mas o início de Quando Cai o Raio, com Jess adquirindo os poderes, realmente lembra um pouco a introdução dos filmes de super-herói.)

Lançada originalmente no início de 2001 sob a alcunha “1-800-WHERE-R-U” (uma espécie de “0800-KD-VC”), a série só chegou ao Brasil no ano passado já com o nome reformulado, tendo em vista que esta foi relançada recentemente nos EUA sob o título daquele alvejante “Vanished” (Desaparecidos). Só para constar, acho o nome da série antigo mais legal, muito embora o novo seja mais comercial e mais prático de falar.

Eu sei o que você está pensando. Se a série é antiga, a Jess consegue encontrar pessoas desaparecidas só de ver a foto delas e o FBI está na sua cola: POR QUE RAIOS OS EUA DEMORARAM 10 ANOS PARA ENCONTRAR O OSAMA????

Eu explico. Ao contrário da maioria das séries, que tem um volume lançado a cada ano, essa daqui começou num ritmo frenético de lançar um a cada 6 meses! O que significa que já devia estar tudo bem encaminhado, com alguns livros de vantagem já escritos. Além disso, os acontecimentos dos livros são todos em menos de um ano, o que não daria muita margem para o surgimento de Osama Bin Laden nos comentários dos personagens.

Só que nessa época Meg Cabot não era ninguém. Ela ainda tinha que ralar pra conseguir publicar suas coisas, DP ainda não tinha virado filme e ela não conseguia emplacar os livros entre os mais vendidos simplesmente por ter seu nome na capa. Até porque essa série não tinha o nome dela na capa mesmo. 1-800-WHERE-R-U era de outra editora e Meg tinha que assinar Jenny Carrol (relaxa, essa outra personalidade dela é do bem, rs) para não dar conflito nos contratos.

O resultado foi que a série que era para durar 8 livros foi CANCELADA por causa das vendas baixas com somente 4 deles publicados!!!!!!!!

Se essa história de uma série sobre encontrar gente desaparecida e que foi cancelada no meio te faz lembrar coisa de seriado, bom, é porque teve um seriado mesmo.

Apesar do cancelamento, 1-800-WHERE-R-U serviu de base para uma série do Lifetime que durou 3 temporadas (de 2003 a 2006) chamada Missing. Curiosamente, uma das produtoras executivas da série também produziu DP - o filme. E pra variar, diz que o seriado tinha muito pouco a ver com os livros.
* E antes que você coloque toda a culpa na mulher, ela também estava por trás da produção do filme da Irmandade das Calças Viajantes, que, ao menos eu acho, é bastante fiel ao material original.

Felizmente, em 2006, a editora da Meg que publicava DP, com ela já bombando geral, resolveu relançar (pela primeira vez, ainda com o nome antigo) a série sob a assinatura de Meg Cabot (que a essa altura já vendia feito água) e deu-lhe permissão para que esta ganhasse um final digno. Assim, foi lançado seu quinto e último livro, com direito a uma baita passagem de tempo para que a gente não ficasse se perguntando por que a Jess não encontrava logo o Osama.

Dito tudo isso, agora você já sabe que essa série é praticamente uma integrante do selo Meg Cabot Vintage, tendo em vista toda a batalha de publicação e o tamanho de seu “por trás das páginas”. Mas, mesmo que não soubesse, dava pra perceber sozinho, já que os sonhos de consumo de um personagem viciado em tecnologia (mais sobre ele depois) são nada mais, nada menos do que um Mac e um Zip Drive.

E eu tive que rir quando eu vi essas coisas porque, no início dos anos 2000, um Mac* REALMENTE era sonho de consumo de 9 entre 10 pessoas que sabiam o que era computador. Porque Mac era sinônimo de um computador LINDO DE MORRER!
* Se você associou o Macintosh a esse filme clássico do Cinema em Casa, parabéns, você foi uma criança dos anos 90.

Se fosse hoje, é certeza que o negócio ia ser um iPad. Ou uma torradeira que faz previsões do tempo.

Mas eu ri muito mais do ZipDrive, porque, se o Mac, de um jeito ou de outro, ainda existe, o ZipDrive há muito já virou um artigo de museu no mundo informático. E o mais legal de tudo: EU TIVE UM ZIPDRIVE!!!!!! Cara, é nessas horas que eu vejo como eu estou ficando velha! Aposto que você, que nasceu depois de 1995, está se perguntando agora o que ser um ZipDrive. Vou te poupar o trabalho de procurar no Google (uma coisa que também não tinha nessa época).

Esse era um tempo em que os HDs tinham só 4GB, não existia pendrive e pouca gente possuía gravador de CD. Ah, sim, a internet também era lenta pra caramba e fazia aquele barulho bem irritante na hora de conectar. Isso quando conectava! Logo, praticamente a única forma de compartilhar os dados era via disquete de 3 ½ , que é tão rápido como uma tartaruga e só cabe um pouquinho mais que 1MB.

Para acabar com esse sofrimento a Iomega (essa eu tive que pesquisar, não lembrava mais o nome da empresa) criou o ZipDrive.

O ZipDrive era um super dispositivo para ler um DISQUETÃO chamado ZipDisk, cuja a capacidade chegava a uns 250MB (coisa pra caramba naquela época). Durante muito tempo as pessoas olhavam o ZipDrive pela vitrine e babavam, imaginando como seria um mundo em que elas pudessem fazer backup de seus dados sem ficar na dependência daquele disquetinho xexelento.

Só que quase ninguém tinha essa bagaça. As memórias eram menores, e por maior que fosse a velocidade de transmissão do Zip, o negócio ainda era bem lento, e o sistema operacional era aquela PORCARIA do Windows Millenium e quase sempre travava o computador. A portabilidade também não era das melhores e se você quisesse ler o ZipDisk na casa do seu amigo (coisa bem rara de acontecer, já que eram poucas as pessoas que tinham computador mesmo), tinha que levar o ZipDrive junto e instalar o drive via CD na porta serial da impressora e aí dava problema de compatibilidade e se você quisesse imprimir um arquivo do Zip, tinha que copiar pro HD ou utilizar um dispositivo com chaveamento... Um saco!

 Saca só o kit completo do negócio!

Deus abençoe a internet banda larga, as memórias de 1GB, os HDs de 1 Tera, os gravadores de CD, as entradas USB e os pendrives. Amém!

Mas, apesar do ZipDrive (rs!), Quando Cai o Raio não é uma história datada e funciona muito bem nos dias de hoje! Isso porque o livro tem aquilo que todo livro de Meg Cabot tem: coração! E quando eu digo isso, nem estou me referindo ao mocinho misterioso e bad boy que atende pelo nome de Rob Wilkins e que lá para o meio do livro me fez lembrar uma música da Britney (não posso contar qual, a não ser que você já tenha lido o livro, rs) e faria Lorelai Gilmore ter toda a razão em alertar: “Ela não vai subir na sua motocicleta!”, porque, adivinha só, ele tem uma motocicleta mesmo!

Born to be wiiiiiillllld!

Quando eu mencionei que essa é uma história que tem coração, estava me referindo principalmente a Douglas, o irmão mais velho esquizofrênico de Jess que largou a faculdade e passa o dia no quarto lendo quadrinhos. É preciso uma boa dose de sensibilidade para escrever um personagem desses e as discussões da família por causa do problema de Douglas são de cortar o coração, especialmente pra quem já escutou algumas delas na própria família.

Mas, o resto dos personagens também não fica atrás no nível de apaixonabilidade. O diretor da escola, a telefonista Rosemary, Sam, Ruth, Michael...

Peraí, você disse Michael? Ha-ha! Disse sim, espera que tem mais!

Tem gente que reclama que Meg Cabot é às vezes é um pouco repetitiva com suas histórias. Não acho. A mulher já publicou mais de 50 livros. Esse tipo de coisa é inevitável. Além do mais, já incorporei as semelhanças entre as obras. Não é defeito, é estilo. Para mim, grande parte da graça em ler seus livros já está em estabelecer conexões intertextuais, e tentar adivinhar o que dali é vida real e o que não (afinal, quando o negócio se repete muito, é porque não deve ser tão ficção assim). E é por isso que de vez em quando eu me pego rindo nas partes do livro que não são para rir, já que me sinto compartilhando uma pequena piada interna com Dona Meg. Sendo assim, voltemos ao Michael.

E se eu disser pra você que o Michael desse livro é o personagem superinteligente fissurado em computadores? E se eu te disser que a melhor amiga da irmã mais nova dele é apaixonada pelo tal Michael? Parece familiar, certo?

Tá legal, agora você troca o Michael de família e coloca ele como irmão da protagonista, ao invés de irmão da melhor amiga da protagonista, e faz ele ter uma paixão platônica pela menina mais popular da escola e voila, estamos diante de um outro Michael: o Mastriani.
* E me desculpe você que não aguenta mais as minhas interconexões de todos os livros dela com DP. É outra coisa que também é meio inevitável. O Diário é minha série preferida, a maior série da Meg, aquela em que ela imputou mais de seu esforço, e, dá pra perceber só de virar as páginas, a mais auto-biográfica e a que ela mais se divertia ao escrever. Todo o resto da obra vai convergir para DP mesmo. Viva com isso!

(Tem outras semelhanças bobildas com outros livros de Cabot, mas essa é a mais gritante e a mais legal também.)

Mas, já que estamos falando do Diário... A Mia bem fala da Jess numa passagem no livro 8 (corre lá, pág 70). Na mesma passagem, ela chega a citar a Sam também do Garota Americana. (GENIAL, eu sei!) O que ratifica a minha teoria de que as mocinhas da Meg vivem todas no mesmo universo ficcional e me faz imaginar quão divertido seria um encontro de todas elas juntas. (A Mia e a Jess provavelmente conversariam por horas a fio sobre as semelhanças entre os seus Michaels, rs!)

Havia muito tempo que eu não me empolgava com uma série juvenil da Meg, como eu me apaixonei por essa daqui. Com personagens que fogem da caricatura, têm dramas familiares de verdade (e ainda são capazes de rir de si mesmos), um ritmo impecável, uma história com a dose certa de romance, ação, mistério, anacronismos e até nerdismos cabotianos, Desaparecidos é Meg Cabot em sua melhor forma: sem preocupar com o politicamente correto e sem dar a mínima se o seu público alvo vai sacar as referências pop dos anos 80. Mal posso esperar pelo segundo volume.
Continue lendo...

sexta-feira, 9 de março de 2012

Com quem fica o cachorro?

Em outros tempos, o fim de um relacionamento era sinônimo de montar aquela caixa com os pertences do ex, trocar as chaves de casa e decidir com quem ficava o cachorro. Em tempos de internet, a “separação de bens” se estende também ao mundo virtual em que a vida compartilhada (até demais) exige um pouco mais do que apagar as fotos do Orkut Facebook e atualizar o status para “Solteiro” novamente.

Com o surgimento dos perfis conjuntos e senhas compartilhadas, no momento da partilha, além de trocar as fechaduras, agora também é preciso trocar a senha do email (entre outras contas) e decidir com quem fica o perfil. E aí tem-se de reconstruir toda uma cadeia de amigos, porque, estes, coitados, é que fazem o papel do cão sem dono nessa história toda.

No caso da Anne, ela é que ficou com o bicho, até porque não dava pro ex levar o au-au pra cadeia

Edit (23/07/2012): Depois de ter saído da cadeia, uma das declarações do ex foi justamente: "Eu não vou brigar pela custódia do cachorro. Comprei o cachorro pra Anne, e ele fica com ela, ponto final". HAHAHAHA! Me acabei de rir, na moral.

Já deu pra perceber que eu não sou muito fã do perfis conjuntos e da não-privacidade de senhas no casal, certo?

Pois é, porque eu acho que se o casal tem um problema, ele tem resolver entre si, não ficar envolvendo todas as outras pessoas com as quais eles mantêm contato porque não conseguem viver sem saber com quem e o que a outra parte do relacionamento anda conversando.

Eu sei que para alguns esse tipo de coisa é um sinal de confiança, mas, na realidade, É JUSTAMENTE O CONTRÁRIO!

E se o relacionamento precisa apelar para esse tipo de coisa, é porque alguma coisa está muito errada aí.

É muito fácil confiar no que se vê. Difícil é acreditar naquilo que não se tem evidências, quando tudo o que você possui é a palavra do outro dizendo que “não tem outra pessoa, eu só tenho olhos pra você”.

E não dá pra estar com o seu parceiro o tempo todo para evitar que aquela piriguete puxe papo com ele no trabalho, por exemplo. E não dá pra exigir que ela te conte tudo o que ela conversa com as amigas também.

Não é porque vocês estão juntos que necessariamente precisam ser um só. Sempre achei que, na verdade, deveriam ser um, mas ainda feito de dois.

Uma das coisas que mais me irritam no perfil conjunto é essa supressão de identidade dos dois em detrimento de uma nova personalidade compartilhada. Como se a partir do momento em se começa um relacionamento a dois, a individualidade de cada um desaparecesse também.

Até Sandy& Junior apareceram separados na capa do CD! Vivam com isso!

Pode não parecer, mas mesmo que vocês agora sejam Eduardo&Mônica, não quer dizer que o Eduardo não exista longe da Mônica. E que não haja os gostos e amigos do Eduardo e os desgostos e desafetos da Mônica. Até porque um perfil conjunto de Eduardo&Mônica não ia dar nada certo mesmo. Ela gostava do Bandeira e do Bauhaus, Van Gogh e dos Mutantes, de Caetano e de Rimbaud, E o Eduardo gostava de novela, E jogava futebol-de-botão com seu avô... Como condensar isso numa única página?

Por mais que vocês não tenham nada para esconder um do outro, ainda tem uma terceira pessoa nessa história que também está tendo sua privacidade invadida e que não foi consultada se ela queria que a conversa fosse lida.

Existe uma razão para as senhas aparecerem na forma de ******. É porque elas são feitas para serem SECRETAS!!!!!

E se vocês não confiam um no outro o suficiente para “esconder” essa pequena parte da vida chamada email, Twitter, Orkut, Facebook, ou, o que quer que seja, isso é problema de vocês!!!!!

Vou contar uma história:

Tenho uma amiga que uma vez fez um desses perfis conjuntos. Ela contava tudo pro namorado, ele era ciumento à beça (sério, o cara tinha ciúme até de personagem literário), e aí eu queria falar uma coisa com ela (coisas inocentes, tipo personagens literários, mas que só diziam respeito a mim e a ela) e ficava sempre me perguntando se ele estava lendo, e o que ele ia achar daquilo. Era como se eu fosse algum tipo de procurada pelo governo que tem de ficar se preocupando se a linha está grampeada.

Eu não falei nada com ela na época, porque: 1) sei lá se ela ia contar pra ele e 2) é uma situação muito constrangedora você ficar opinando no namoro dos outros.

Agora eu pergunto: Será que é justo que por causa dessa política “Casal Sem Segredos”, todas as outras pessoas sejam obrigadas a ficar se perguntando se existe alguém na linha, se tem alguém no ar? Sério mesmo que eu tenho que me perguntar se eu estou falando com Ela ou com Ele, se estiver numa conversa via texto?

Algum tempo depois, os dois até terminaram, e fiquei imaginando a conversa deles pra ver quem ia ficar com o tal perfil, afinal, era nele que estavam os amigos (em comum ou não) dos dois. Isso porque um dos dois (ou mesmo os dois) já havia sacrificado o próprio em nome do “amor”.

Esse é do tempo em que você nem sonhava em "entrar no computador"...
...que dirá ter banda larga em casa!

No caso deles, tudo acabou até bem, eles trocaram todas as senhas (como quem troca a fechadura de casa) e voltaram a ser felizes. Mas existem outros ex não tão legais assim que se aproveitam da posse da tal senha pra transformar a vida do outro num inferno (nunca se esqueça de que ele pode trocar a senha antes de você, fazer o que quiser com a conta e aí depois você vai ter que ficar implorando pra ele devolver o seu chip).

E no meio de tanta cachorrada, quem faz o papel do cachorro são os amigos que não tem nada a ver com a história. Porque no final das contas, tudo se resume àquela velha máxima de que “o que os olhos não vêem o coração não sente”, então se você quiser mesmo ver o que o seu parceiro tanto faz na internet, pelo menos não deixe que eu saiba disso.
Continue lendo...

sábado, 3 de março de 2012

Manhê, acabei! (2)

After years of a expensive education, a car full of books, and anticipation…

O grande momento da formatura chegou. E você sabe como eu tenho uma queda por formaturas.

Como comentei aqui, terminei a faculdade no fim do ano, mas ainda faltava fazer o juramento, receber o canudo e jogar o capello pro alto. E tudo isso aconteceu nessa última semana.

Quero ver me achar

Mas, antes de compartilhar um pouquinho desses dias especiais aqui no blog, queria dizer que hoje re-visitei o meu post de Guia para novos universitários feito no quarto período, que acabei auto-censurando depois com vistas a evitar dores de cabeças.

Queria ver se tinha algum conselho que gostaria de trocar e dizer que mudei de idéia durante a outra metade do curso. Me surpreendi com a qualidade dos conselhos que dei como Se o professor não chegou em meia hora é porque ele não vem. Arrume suas trouxinhas e vá para casa e Falte a primeira semana de aula de todos os semestres, e não mudaria nenhum deles. Estou pensando até em republicar o post agora que já estou formada.

A única coisa que acrescentaria é: Aproveite a faculdade. E isso vale tanto para passar o máximo de tempo com as pessoas que você gosta, quanto para as aulas. Preste atenção, tire dúvidas, estude bastante. Cobre de seus professores um ensino de qualidade. Eu sei que enquanto a gente está lá dentro, tudo o que a gente quer é passar de qualquer jeito e sair o mais rápido possível. Mas tente aprender o máximo que você puder.

Ah, mas tem um monte de matérias que você vai achar que não vão servir pra nada no futuro!. É verdade. Tem muitas delas. Mas chega lá na frente, é certeza que o seu chefe vai te perguntar uma dessas coisas. Ou vai cair em alguma prova que você for fazer.

Outra coisa que eu queria dizer é que também passei pela insegurança de achar que não estava aprendendo nada. E isso é absolutamente normal. No meio do curso, não me sentia contadora. Pensava que grande parte do que era ensinado na sala tinha objetivos meramente acadêmicos. E que o que era ensinado ali não era o suficiente.

Foto oficial
 
Durante essas crises, um amigo meu me dizia que realmente a faculdade não vai te deixar especialista em nada. É um simples índice que vai te mostrar as diversas áreas em que você pode atuar. Ela dá a base. Mostra o caminho. Cabe a você escolher a diretriz a ser seguida.

Agora, recém-formada, e depois de ter começado trabalhar, vejo que o que ele me dizia era tudo verdade. E digo de coração para você que está passando por uma crise dessas de “meio curso”: ao final ela passa e antes mesmo de completá-lo você já se sente um profissional, só faltando o diploma. Ainda bem.

Você se arrepende de matado aula e tem vontade de matar aquele professor que só te enrolou, porque percebe que não aprendeu nada de determinado assunto muito importante. Mas você também percebe que sim, você sabe um monte de coisas! Certamente mais do que você sabia no início do curso. E até bem mais do que muitos colegas de profissão seus.

Chega a ser engraçado pensar que agora estamos formados, e podemos encher a boca para dizer que, sim, já somos contadores. E podemos discutir “de igual para igual” com outro colega de profissão. Coisa que lá no quarto período parecia distante e impossível.

Pensar que já não somos mais aqueles calouros tímidos, assustados, encurvados lá do primeiro período. Sim, ao final do curso, até a postura do formando é diferente da do calouro. Você ganha mais conhecimento, amigos, e auto-confiança e isso se reflete até no seu jeito de andar. Quase como aquela figura da evolução do homem. E sim, ao fim da faculdade, nos sentimos mais adultos do que nunca.

Na segunda-feira, dia da colação oficial em que recebemos a declaração de conclusão, e fazemos o juramento, só que sem toda a pomba e glamour da cerimônia, senti uma coisa diferente, já no momento em que pisei na Uerj. Era o Grande Dia. O dia de cortar o cordão umbilical da faculdade e se despedir oficialmente do terceiro grau.

Me veio um deja vu do dia da matrícula, em que me perdi na hora de achar a secretaria. Agora já sabia todos os atalhos da universidade. Peguei o elevador do 9º (que é mais rápido e pára menos) e desci pro oitavo. Coisa de gente que já está na faculdade há 4 anos.

(Ah, sim. Hoje, 3 de março, é exatamente o aniversário da primeira matrícula em disciplinas. Há 4 anos. Sei a data porque era véspera do meu aniversário, rs!)

E achei isso muito esquisito também. Afinal, estava a poucas horas de me tornar “ex-aluna”. Pegar o elevador e zanzar pela UERJ não é coisa de ex-aluno. O lugar já parecia não me pertencer mais. Tudo o que eu tinha para fazer já estava feito. Agora ela era das outras turmas mais novas. Dos calouros que estavam prestes a chegar.

Conversei com uma amiga durante muito tempo no hall, depois na varanda, perto da FAF. Uma funcionária confessou também estar tendo esse deja vu do dia da matrícula. Ela dizia que também se sente meio esquisita nessas horas. Como se o tempo passasse na sua frente.

Descobri uma nova sala, moderna e reformada, onde fizemos nosso juramento e recebemos a declaração. A sala levava o nome da chefe da secretaria, que correu atrás para que ficasse pronta. Ela estava toda boba da sala levar o nome dela (e ela merece muito a homenagem). Fiquei triste porque aquela sala bonitona só surgiu a poucas horas de nos despedirmos da Uerj. Mas fiquei feliz porque a faculdade está tentando melhorar.

Rimos de todos os nossos percalços da faculdade. Relembramos histórias esquecidas. E discutimos a falta que sentiríamos dali. E do que não sentiríamos falta alguma.

Adiei o momento de ir embora. Conversei durante horas sentada no “queijo”, até ser uma das últimas a deixar a faculdade. Estava acabando. Mesmo.

Dois dias depois, na quarta-feira, aconteceu a cerimônia simbólica de entrega dos diplomas.

Houve colegas que choraram durante a cerimônia. Eu não. Estava tão feliz por aquele momento que não conseguia fazer mais nada a não ser sorrir o tempo todo e aproveitá-lo o máximo possível. Tirei muitas fotos. Juntei amigos e familiares. Esse era o meu dia!!! Me esbaldei. Estava tão agitada que só consegui dormir às 4h da manhã do dia seguinte (e é claro que eu levantei às 7h, o trabalho me chamava).
 

Foi bem emocionante ver meu melhor amigo na faculdade, que fez vestibular duas vezes, ser o orador da turma. E o nosso primeiro professor, que deu nossa primeiríssima aula lá Uerj, lá na bancada dos homenageados. Aliás, o mais legal de tudo é que nós fomos a ÚLTIMA turma dele, já que logo depois ele se aposentou.

O momento catártico da noite veio quando levantamos plaquinhas escrito “NOTA ZERO” para colegas de que não gostavámos (mas não muito alto, afinal de contas, o mundo ainda dá voltas, e ninguém garante que nunca mais vou olhar na cara daquele pessoal).

Na hora em que chamavam o nome da cada formando, aparecia uma foto nossa criancinha e outra agora “grande”, adulto, enquanto tocava uma música escolhida por nós.

Achei muito esquisito tocar Time of your Life para um menino que levantava logo antes de mim. Coisa mais gay. Mas, sei lá, né...

Minha turminha do barulho

Claro que a música que tocou pra mim foi Pés Cansados de Sandoca, com aquele refrão mais do que icônico (eu falei que ia colocar na minha formatura). Quer dizer, quase não tocou. Fizeram uma besteira e recebi o canudo ao som de uma outra música tecno qualquer (por isso que tocou Time of Your Life antes e diz que a foto que apareceu pro garoto foi de uma outra menina). Minha irmã ficou revoltada e gritou: “ESSA NÃO É A MÚSICA DELA!!!!”.

E é claro ela, junto com minha família e minhas amigas fizeram uma baguncinha pra mim.

Quando eu estava voltando já é que ressoou a voz de Sandy. Ameacei voltar para pegar o canudo de novo. E fiz sinal pra todo mundo de que essa sim era minha música. Mas pelo menos a foto foi a minha mesmo.

Diz que levantaram “Passou colando” pra mim. Engraçadinhos. Mas gostei da brincadeira. Podia ser pior. Até que foi divertido.

Também tinha outras plaquinhas bem legais tipo: “Que isso, novinha?”, “Delícia, assim você me mata”, “Turista” e “Vice de novo” (essa foi especial para uma vascaína doente).

Jogar o capello pro alto ao final da cerimônia é simplesmente emocionante. E um pouco dolorido, já que ele voltou direto na minha cabeça.

Minha outra turminha do barulho

E o mais legal de tudo foi ver os colegas que achavam que não iam conseguir e que eu tinha medo de que não estivessem lá junto pra compartilhar esse momento, entrando junto comigo, zoando horrores todo mundo, transbordando alegria. Faltou gente ali ainda, mas fiquei feliz de ter parte deles ao meu lado.

A tristeza veio depois, quando eu percebi que a gente não ia ter mais desculpa para se ver. Bateu uma baita saudade de ficar conversando no hall, enquanto esperávamos a próxima aula.

E ao deixar a Uerj pra comemorar com as amigas de colégio na pizzaria mais próxima (engraçado pessoas que participaram de diferentes partes da sua vida acadêmica num mesmo lugar, rs!), lembrei dos primeiros dias de caloura e pensei:

Continue lendo...