Todo mundo que leu O Diário da Princesa sabe que o sonho de Mia Thermopolis era escrever um livro e ser publicada pelos próprios méritos antes dos 21 anos. E no final de DP10, Princesa para Sempre, todo mundo que leu se emocionou ao ver esse sonho virar realidade com a publicação de Liberte meu Coração, esse livro com título e conteúdo de romance de banca (bem daqueles que a Tina adoooora) e que daria um ótimo nome de novela mexicana. A tradução mais sensata, inclusive, seria Resgate meu coração, tendo em vista o que acontece na história. Mas vamos deixar o título assim mesmo porque o nome escolhido pela editora brasileira está longe de estar errado e consegue ser até um pouco menos vergonha alheia.
Lançado na mesma data em que DP10 nos EUA, Ransom my heart fez uma grande brincadeira com os leitores ao se apresentar como a oportunidade de ler na vida real o livro que Mia Thermopolis fez na ficção.
Mas, não custa nada acrescentar que, embora Mia assine o livro, não foi ela que escreveu DE VERDADE. Isso porque, desculpe lhe informar, ela não existe. Eu sei que parece idiota, mas esse tipo de colocação se faz necessária na medida em que uma vez já vi uma menina afirmando categoricamente que tinha visto o Michael (o personagem, não o ator) na webcam. E tudo bem, eu mesma passei anos procurando Genovia no mapa (desculpa se você achava que Genovia existia até hoje, eu sei, eu também levei um choque quando descobri que não, mas a verdade é sempre o melhor caminho).
E o que quase ninguém sabe é da história por trás da história do lançamento de Liberte meu Coração. Pra começar, quem o escreveu também não foi Meg Cabot e sim, seu lado devassa, sua personalidade do mal, Patrícia, que é quem geralmente é responsável por esses romances históricos apimentados. Como já expliquei, os primeiros livros de Meg eram todos nesse nível minissérie de época que só pode passar depois das 23h e eram assinados por Patrícia, tendo em vista não chocar a avozinha com o conteúdo... hmmm... adulto dos livros. Liberte meu Coração é dessa época.
Ele estava lá engavetado, cheio de poeira, quando a Meg foi escrever o DP10 e pensou: “Poxa, ia ser tão legal se o livro que a Mia escreve realmente existisse, né? Os fãs bem que merecem terminar a série com um presente desses e eu tenho essa outra história aqui dando sopa que nunca ninguém leu. Por que usar, por que não usar, por que usar? Usei!”. Meg pegou novamente o Liberte meu Coração, deu uma recauchutada, acrescentando umas brincadeirinhas pra parecer que a Mia que tinha escrito, e mandou ver no irretocável final da série da princesa, incluindo o livro dentro da história mesmo (literalmente falando até).
Até então esse negócio de publicar o livro pros fãs era da cabeça dela, e não tinha conversado com ninguém para que ele saísse fisicamente, de verdade. Como o livro era dela mesmo e ela fazia o que quisesse com ele, Meg ia publicá-lo online de graça pra todo mundo (Sério, gente, Meg Cabot é muito amor!). Só que aí, as negociações foram pra frente e a editora, que não é boba nem nada, falou que lançava o livro da Mia com o maior prazer através do seu selo para livros desse tipo, o Devassa Avon Books. Como o treco já era pra ser de graça, Meg foi lá e doou os direitos para o Greenpeace até das edições estrangeiras. (Tô falando que essa mulher é muito amor!)
E se por um lado foi ruim porque perdemos a oportunidade de lê-lo inteiramente "de grátis", pelo outro foi MUITO MAIS LEGAL ver o livro da Mia lançado de verdade pelo mesmo pessoal que liga pra ela dizendo que ia publicá-lo em DP10. E de quebra, a gente ainda pode ajudar o Greenpeace!!!
Lembrei da época que a Jami comprou uma agenda do Greenpeace só pra ajudar a causa na 8ª série!
Salvem as baleias! Uhuu!
E assim como DP10 dialoga o tempo todo com o resto da série e com o próprio Liberte meu Coração, este último vai despertar sorrisos em quem prestar atenção nas conversas cifradas do mesmo com a série da princesa mais querida do planeta. O feriado judeu com nome de arcanjo e mocinho que todo mundo quer na vida real (Dia de São Miguel* - Michaelmas), o nome do cachorro da Finulla, do cavalo do Hugo (sem trocadilho)... entre outras coisas.
* Então quer dizer que... ? Sim, o casal da novelinha mexicana no fundo tinha o mesmo nome dos protagonistas de Cabot. E isso não significa absolutamente NADA.
Muita gente ficou chocada com o nível de descrição de cenas picantes ser escrito por uma menina que até então não entendia do assunto. E, até eu, que lembrava da contextualização do livro em DP10, que inclusive leva em consideração todo esse estranhamento e chega até a avisar que é para maiores de 18 e já estava esperando algo assim e ainda achava que, apesar de estranho, seria perfeitamente possível a princesa tê-lo feito nessas circunstâncias (só de ler um monte de livros desses já dá pra sacar como é que se faz. Ou melhor, como é que se escreve ;-P ), devo confessar que houve alguns momentos em que achei que a sacanagem passou dos limites. Sou totalmente a favor de pedirem a identidade pra comprar esse livro, ou de uma tarja bem grande escrito "Este produto destina-se a adultos" na contra-capa.
Fica até difícil escolher quem é mais devassa(o) no livro. Se é Finulla, que usa calças de couro em pleno século XIII, seqüestra um homem e o mantém em cativeiro (sim, pode maldar com o que acontece no cativeiro). Ou se é Hugo, que não pode ver um rabo de saias (ou de calças mesmo), que não consegue se controlar.
Mas, se realmente tem alguém que merece o título de Devassa do livro, esse alguém é Melanna. Apareceu grávida antes de casar também em pleno séc. XIII, gastou todo o dote em quinquilharias, mandou a irmã caçar homem e, principalmente, tem uma fábrica de cervejas no quintal de casa (DP7 mandou lembranças na parte da cerveja e no nome da irmã gastadeira e devassa também).
Não tem pra ninguém. Devassa de verdade é a Melanna
Sim, as cenas picantes são picantes (taí o que vocês queriam, meninas que reclamaram do final de DP10!). Mas são bem escritas. O negócio é que elas são DEMAIS. Mia/Meg/Patrícia capricha na tensão sexual e não faz você só torcer para que o casal protagonista fique junto. Ela praticamente faz você IMPLORAR para que eles se rendam de uma vez à paixão, calem a boca e beijem logo! Só que depois do (f)ato consumado, o fator novidade se acaba, a pimenta ardente do início já não se faz necessária e as tais cenas ficam despropositadas.
O grande problema de Liberte meu Coração é que ele não tem só nome de novela. Liberte meu coração É UM NOVELÃO! Daqueles com muito romance, humor, sacanagem e mistério. As tramóias dos vilões e inúmeras reviravoltas ganhariam capas irônicas no Meia Hora, teriam matérias no Vídeo Show e seriam discutidas à exaustão pelos bares e elevadores de todo o país. E como toda novela, ele não sabe a hora de parar. Não sabe a hora de parar de se apoiar na atração dos protagonistas, não sabe a hora de deixar as coisas mais subentendidas, e não sabe a hora de terminar com a história também.
Gosto de pensar que, como esse é o primeiro livro da princesa, ela ainda não adquiriu a manha dos livros em série. Porque Liberte meu Coração é o tipo de história que TINHA que ser dividida em dois volumes (vale lembrar que Liberte não tem e nem terá continuação). A trama é do tipo 2 em 1 e troca absurdamente de tom entre suas duas metades. A primeira explora toda a sensualidade dos personagens e é basicamente aquela comédia-romântica-casal-que-briga-mas-se-apaixona. Já a segunda vem com as revelações bombásticas, o romance-quase-policial e as situações pós-felizes-para-sempre. E por conta do frescor dos acontecimentos da primeira delas, quando adentramos a segunda, em alguns momentos fica difícil reconhecer os personagens do início. Um problema muito fácil de se resolver dando tempo de seus personagens (e leitores) respirarem um pouco.
Como disse, se a Mia tivesse a manha, tinha feito dois volumes. E de quebra a gente ainda descolava mais uns trocados pro Greenpeace e salvava mais uns bebês-focas!
Confesso a você que gostaria que o livro da Mia fosse algo mais pessoal e com mais piadas internas* com a série que narra a vida da princesa (coisa que não acontece porque, como já expliquei, Liberte é fruto do lado devassa de Cabot). Mas, já estamos no lucro se levarmos em conta que houve um tempo em que a Meg chegou a negar que fosse escrever de verdade um livro “feito” pela Mia, dizendo que ia ser muito estranho e tal. Ironicamente, o que ela fala não se escreve e aí está Liberte meu Coração nas lojas. Se bem que ela falou que nunca ESCREVERIA um livro assim. Não mencionou nada sobre reciclar histórias nessas circunstâncias. :)
* Fiquei com vontade, inclusive, foi de ler aquele guia de sobrevivência ao ensino médio que a Lilly disse que ia fazer. Ou Chega de Milho!. (Se bem que esse daí não vai rolar mesmo, já que sua publicação iria deixar o JP muito chateado. Vide toda a confusão do DP7.)
Entretanto, o que me deixou boba mesmo foi COMO ASSIM A MIA DEIXOU O MICHAEL LER UM NEGÓCIO DESSES? E COMO ASSIM ELE CONSEGUIU LER TUDO EM UM DIA TENDO TANTA COISA PRA FAZER??? (O livro é legal, só que não faz muito a linha do Michael). Não me admira que ela quisesse publicar com pseudônimo e quem leu DP10 também sabe que ela só assina Mia Thermopolis para poder doar os direitos pro Greenpeace (a edição americana, inclusive, é feita com folhas de papel reciclado) e, vou te contar, é muito amor pelos bebês-focas, porque COMO ASSIM ELA VAI ENCARAR A FAMÍLIA DEPOIS DE UM LIVRO DESSES? Tá legal que a Grandmere faz parte do Trio Devassa da Terceira Idade, junto com Copélia e a velhinha da Havainas, mas, mesmo assim, ela deve ter falado à beça... Ou não, né? Sabe como é Grandmere, sempre nos surpreendendo... E, tudo bem, nunca se sabe o que passa na cabeça da Grandmere, mas com certeza, a Mia NÃO PODE deixar esse livro cair nas mãos do pai. Sério, não dá pra dar um livro desses pro SEU PAI ler. Se a Sra. Martinez for boazinha, vai ajudar e não deixar o príncipe de Genovia chegar NEM PERTO de qualquer exemplar.
Liberte meu Coração tem qualidades e defeitos e vale mais pela brincadeira em sua proposta do que pela história em si. Só sei é que fiquei com uma saudade danada das loucuras da Mia e vontade de reencontrar logos meus personagens favoritos de algum jeito. E mesmo tendo medo de seqüências que estragam os finais felizes, em se tratando de Meg Cabot, tenho fé de que tudo vai dar certo e torço desde já para um livro do Casamento Real.
Quero mais Mia, comofaz?
Quem diria que a Mia fosse uma devassa!
ResponderExcluirLisa, seus textos trazem tantas curiosidades legais que até eu que não tenho nada com esse livro adorei saber dessas coisas. A Meg é terrível!
Achei legal eles terem lançado os dois livros juntos lá fora e mais ainda ajudarem os bebês-foca!
Sobre as cenas de vergonha alheia, deve ser meio estranho imaginar a princesa escrevendo isso. Não gosto dessas cenas mas acho que na medida certa são válidas. Tem umas que eu até gosto #tarado kkkkkkk
Eu não sabia disso! Do livro quero dizer... Vou ter que caçar agora, quer dizer, um dia.
ResponderExcluirHahahaha por isso que se algum dia eu lançar algum livro que escrevi/pensei há alguns anos atrás vai ter que ser com pseudônimo. Não que as cenas sejam tão picantes/calientes etc, mas tem coisa que realmente dá vergonha de deixar a família ler...
Hahaha, ótima resenha!
ResponderExcluirEu não tenho vontade de conhecer o lado devassa da Meg. Se você dissesse que Liberte Meu Coração é excelente e todo fã de DP é obrigado a ler, eu poderia até pensar no caso. Mas, como não é, eu passo.
Bjos
Hahahaha Me convenceu! Vou comprar agora!!!!
ResponderExcluirAcho que eu gostei mais do livro do que vc, rs. Eu realmente amei! Achei super bem humorado, divertido, romântico, e ao contrario de vc, eu não acho que perdeu o ritmo, ou que tinha de ser dividido... a leitura me prendeu do começo ao fim. Como escrevi na minha resenha, até me surpreendeu, porque os romances da "Patrícia" Meg não estão entre os meus favoritos, rs.
ResponderExcluirSobre as cenas hots, eu concordo que elas estão ali... mas olha, não tá muito diferente do que os romances de banca casuais costumam ser. Inclusive, tá até light comprarado com alguns, rs... eu já tô meio acostumada com isso, pq leio livrinhos de banca faz tempo. Mas concordo ctg que, nossa, dar para o namorado, o pai, a vó, a mãe e etc lerem umas cenas daquelas é TENSOOOO! :P
Eu só acho assim: tem gente que classifica o livro todo baseado nas cenas hots, decide se vai ler ou não por causa delas, se a história é boa ou não por causa delas, etc. Eu não. Eu gostei do livro pelo livro em si: a história, os personagens, o humor. As cenas hots são só uma parte do conjunto, e, pelo menos pra mim, não a parte principal e mais importante...
As piadinhas internas também foram ótimas, mesmo! E bem subjetivas. Foram mto bem colocadas.
Ah, enfim, eu curti a beça o livro! Como apreciadora de romances que sou, dou uma nota alta! :)
Bjs