terça-feira, 28 de agosto de 2012

Take a sad song and make it better

Tem histórias que são tão boas que se melhorar, estragam. Tem outras que são tão ruins que nada consegue salvá-las. Enquanto lia Lonely Hearts Club, a sensação que tive não foi nem uma, nem outra.

Depois de ter encarado um livro extremamente melodramático e incrivelmente pretensioso, resolvi que precisava de uma leitura bem light para elevar o espírito e, após ler inúmeras recomendações desse que fazia alusão aos Beatles (muitas delas o comparavam a minha ídola-mor Meg Cabot), comprei-o numa promoção da internet.

Mas, para qual não foi a minha surpresa quando abri o pacote da Siciliano (na verdade o pacote era da Saraiva, apesar de eu ter comprado na Siciliano. E tudo bem que elas são do mesmo grupo, mas, pelo visto, o princípio da entidade por lá é zero! Medo da contabilidade desses caras!) e verifiquei que Lonely Hearts Club possui em sua capa uma citação-propaganda de ninguém menos do que Stephenie Meyer, a autora do livro que eu mais odiei na vida!!!! Aquilo não podia ser bom sinal, pensei eu. No entanto, comecei a leitura de peito aberto, certa de que o nome da mulher que cometeu Crepúsculo na capa era apenas uma estratégia de marketing barata e que ela nada tinha a ver com esse livro (mais tarde fui descobrir nos agradecimentos que ela é amiga pessoal da autora mesmo, o que certamente deve tê-la ajudado no processo de publicação).

Elizabeth Eulberg ainda tem que comer muito feijão com arroz pra ser Meg Cabot. Mas, felizmente, também precisa se empaturrar de jiló com quiabo para ser Stephenie Meyer. Ele pode não ter me feito rir como um autêntico cabotiano, mas nem de longe fiquei com vontade de jogar o livro na parede como a criadora dos vampiros brilhantes conseguiu. Para falar a verdade, o livro não me irritou nem um pouco, e eu me diverti bastante. A pena é que foi pelos motivos errados, rs!

Lonely Hearts Club sem dúvidas tem o apelo adolescente de Cabot - com todo o universo high school de líderes de torcida, atletas e olhares afetados no refeitório – assim como a mensagem de amizade, auto-estima e feminismo. Mas, infelizmente, o livro também comete os mesmos pecados de Meyer ao apresentar descrições fracas, personagens vazios e não possuir um conflito verdadeiramente empolgante. Este último, aliás, é um dos aspectos mais decepcionantes da história, que tinha um enorme potencial, mas que fica prejudicada por uma série de escolhas por caminhos de fácil resolução. A falta de inventividade da autora e o desperdício de tramas e piadas prontas chegam a ser antiecológicos e incompatíveis com a filosofia sustentável em voga.

Para começo de conversa, a Beatlemania foi muito pouco aproveitada. As referências aos garotos de Liverpool se limitam a trechos de canções no início de cada grupo de capítulos (quando poderiam facilmente iniciar todos eles) e pequenos momentos em que as músicas são jogadas em cena de maneira pouco orgânica (quando poderia ser criada uma história que traçasse um bom paralelo com a carreira do grupo que, dizem os fãs, se desmantelou por culpa da vida amorosa de um de seus integrantes), só pra dar um exemplo.

Os roqueiros se divertem

Por outro lado, a própria escolha por homenagear logo os Beatles, dentre todas as outras bandas, já dificulta a criação de alguma dinâmica interessante. Os Beatles, ao contrário dos Stones, eram os certinhos do rock, todo mundo gostava (e gosta) deles, as mina pirava quando via os garotos. E até hoje são meio unanimidade. Não tem nem graça, nem motivo pra implicar com eles. E por mais clássicas que sejam suas canções, em certos momentos, eles parecem deslocados ali, no meio de adolescentes dos anos 2000 que agora gritam é por Justin Bieber e afins.

Fica difícil até de saber se o livro faria mais sucesso entre meninas de até 15 anos, já que Beatles não é algo que geralmente freqüente o player desse público. Isso não quer dizer que elas sejam descerebradas, nem nada. É só que com 12 anos a gente tende a preferir outro tipo de música que não discos lançados há mais tempo do que a nossa idade, nosso conhecimento de mundo ainda é muito restrito e dependendo do grau de alienação da pessoa, pode ser que ela nunca tenha ouvido falar em Beatles.

Mesmo assim, a autora podia brincar com isso, fazendo a garota ser a única pessoa do mundo que odeia os Beatles por ter nome de uma música deles. E até a escolha da alcunha da protagonista foi equivocada, já que Penny Lane não é nem de longe tão conhecida (e tão legal) quanto Hey Jude. Nem ao menos uma das irmãs dela se chama Judy também, aliás! Sério, gente, até o Doug tem uma irmã chamada Judy por causa dos Fab Four!

Aos desavisados, Jude era homem
E esta aí mais um motivo para a menina odiar o próprio nome e incluir uma ou duas linhas sobre a história dos Beatles!

Só para pra concluir o festival de piadas prontas jogadas no lixo, também acho que dava pra desenvolver melhor os personagens dos pais, que podiam ser muito mais excêntricos. A campainha tocando Love Me Do, a família que tira várias fotos na Abbey Road e a parte em que eles completam um dos diálogos com Yesterday foram ótimas sacadas, mas dava pra fazer mais! 

O consultório de dentista do cara podia ser todo decorado com Beatles, ou dar de brinde para a irmãzinha do Ryan um Yellow Submarine (aliás, completamente dispensável a cena da irmã do Ryan se machucando!). A autora podia ter transformado esses diálogos-que-viram-música em piada recorrente e acrescentado alguma cena de choro de Penny Lane (que mais do que nunca devia se chamar Judy!!!!!) seguida de um consolo e conselhos de sabedoria tirados dos Beatles dados pelos progenitores sem noção (essa cena, claro, seria ao som dos versos “Hey Jude”)... E eu nem me esforcei muito pra pensar nisso!

Aliás, Doug tinha uma banda chamada The Beets e seu hit, Killer Tofu!

Ao invés de aproveitar o trunfo que tinha nas mãos, ela preferiu focar em dramas bobos e infantis que não duravam nem 30 páginas. A ideia de um clube anti-garotos parece muito mais legal e coerente em Os Batutinhas (no caso era um clube anti-garotas, mas enfim), que de quebra tem um time de crianças fofas, o cabelo do Alfafa-que-em-algumas-dublagens-é-Espeto, a cena do festival de talentos e o final super emocionante com aquela corrida. Mas o pior de tudo é que ela logo é desmanchada, acabando com qualquer chance de conflito. Alguns “mimimis” acontecem, mas se resolvem fácil demais, e o maior obstáculo da história é de uma incoerência sem tamanho. O diretor da escola se incomodar com um clube de meninas a ponto de chamar os pais e suspender uma aluna? SÉRIO???? Em que ano nós estamos, 1950?

Ah, sim, claro, esqueci de mencionar que o colégio em que se passa todo o “drama” é o McKinley. O mesmo de Glee. (E aí cabia ainda mais uma piada da professora das líderes de torcida, essa sim, tentar acabar com o Hearts Club!)

Não é Beatles, mas o negócio é que eu adoro essa música! E a letra encaixa direitinho com a história do livro.
(Eu também prefiro a versão da Kelly Clarkson, aliás! Sério, gente! Essa música dá muita vontade de ser feliz!)

Lonely Hearts Club é “stand alone” e, ainda bem, não tem continuações em vista. Mas apesar disso tudo, ainda acho que dava um bom seriado. Ou um filme estilo Sessão da Tarde. E é claro que já compraram os direitos para produzi-lo. Não sei a quantas anda o projeto, mas os Beatles são cheios de frescura com direitos autorais de suas músicas, então, pode ser que o negócio fique caro demais e não saia do papel. Vamos acompanhar.

Só pra terminar, a tradução é estilo Ana Banana, com homens que respondem “obrigada” e personagens que parecem falar português. Se é pra abrasileirar, podia ter traduzido logo o nome da garota pra Ana Júlia de uma vez (aliás, essa ia ser uma versão brasileira dessa história seria ótima ideia!).

A impressão que fica é que Lonely Heart Club não é ruim. Mas podia ser muito melhor. Fazer o quê, se quem estava por trás de tudo era Stephenie Meyer? Com uma mentora dessas, era melhor não ter ajuda de ninguém.

Mas qualquer dia desses eu vou dar um jeito nessa história com o Bloco do Eu Sozinho. Me aguardem.

Também não é Beatles, mas pelo menos a música é deles agora.
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segunda-feira, 20 de agosto de 2012

UPP: Maroon bombom

O Maroon 5 é um dos poucos artistas que freqüentam o meu player que, se alguém perguntar “O que você está ouvindo?”, eu não preciso ficar explicando quem é ou as pessoas não acham o meu gosto musical duvidoso. Ao contrário, eu ainda pareço muito descolada!


Com músicas para cantar de olho fechado, músicas para cantar mexendo os ombrinhos e principalmente músicas para cantar junto o dia todo, obviamente, os rapazes dispensam apresentações, mas ainda assim acho que vale um UPP com alguns fatos curiosos.

Em 1995, Adam, Jesse, Mick e Ryan, ainda cheios de espinhas, formaram a Kara’s Flower. (E sim, eram só 4 integrantes!). Os moleques gravaram um CD, apareceram um episódio de Dawson’s Creek e tudo (eu queria colocar o link, mas tiraram o vídeo do YouTube, enfim) mas... as vendas fracassaram e o Kara’s Flower se despedaçou e resolveu ir pra faculdade.


Pelas paredes dos corredores do alojamento, Adam e Jesse começaram a ouvir um som diferente, com um pouco mais de swingue (no sentido de gingado, não daquele negócio de troca de casais) e o Adam disse “Eu quero fazer isso! Eu quero ser Stevie Wonder (com exceção da parte da cegueira)!”. O Jesse começou a tocar teclado, os outros dois caras voltaram, a gravadora apresentou a eles James Valentine, o quinto elemento que ficaria responsável pelas guitarras, deixando o Adam livre para sensualizar bastante com o microfone (interprete como quiser, mas, por favor, deixe “microfone” no sentido literal), e pum, agora eles eram o Maroon 5.

Apesar de geralmente fazerem mistério para explicar o porquê do nome da banda, algumas vezes eles dão mole e deixam escapar que na verdade o nome é uma homenagem à diva brasileira Alcione, a Marrom. 

Simplesmente Marrom

Brincadeira, claro que não é isso. Mas eu tenho pra mim que deve ser alguma coisa relacionada com a cor mesmo.

O novo nome viria para ratificar também o surgimento de uma nova banda, já que agora eles não eram mais os adolescentes espinhentos e revoltados do Kara’s Flower, mas sim um grupo que fazia uma mistura do som branco do pop-rock com o negro do soul, funk e R&B. O resultado dessa aquarela é Maroon, essa cor-de-burro-quando-foge aí da capa do SAJ.

Marron bombom, Marron bombom! Nossa cor marron!

Songs About Jane
A Jane do título é a mina que deu “goodbye” pro Adam em praticamente todas as faixas do álbum. Em algumas delas, ainda é possível encontrar momentos de felicidade do ex-casal, mas, ao todo, 6 das 12 músicas contém “goodbye” na letra. 

Apesar de seu lançamento em 2002, o álbum só veio a estourar mesmo 2 anos depois, com Harder to Breathe e o sucesso absoluto de This Love, que lhes renderia o Grammy de Melhor Revelação em 2005.

Songs About Jane é a combinação perfeita de um monte de coisas que resulta num pop grudento sem deixar de ser autêntico, diferente e original. Quando ouvi This Love pela primeira vez, ainda sem saber que era o Maroon 5 ou Adam Levine* (pra falar a verdade eu nem acho o Adam essa Coca Cola toda), pensei: “Que delícia de música! Diferente! Boa demais!”.
* Mas acho o máximo como eles têm fãs femininas que gritam e choram quando perante o Adam, como também possuem fãs homens que gostam dos caras por causa do som e nem ligam para histeria.

Em um cenário musical dominado por um sem fim de hip hop, This Love era mais do que uma boa música. Era a esperança de que o pop-rock ainda vivia! (Daí também o grande desapontamento de muitos com a parceria “rapzada” em Payphone)

E o resto do álbum não fica atrás com canções que estão na boca do povo até hoje, porque tanto suas letras quanto melodias conseguem cativar, seduzir e traduzir os sentimentos de seus ouvintes de um jeito que vence as barreiras do tempo.

Harder to Breathe, uma das últimas a serem compostas, nasceu da raiva do grupo para com a gravadora, a qual pressionava para que fizessem mais músicas (daí se explicam os versos furiosos de “You'll understand what I mean when I say/There's no way we're gonna give up”), e é a primeira do CD, seguida pelo megahit This Love, com seu refrão chiclete e a guitarra deliciosa de James Valentine.

(O clipe de This Love, aliás, na época foi censurado. Coisa que iria se repetir ao longo de toda a trajetória da banda, com canções e clipes com teor sexual e Adam, claro, seminu, sempre pegando geral. Geralmente são censurados porque eles são “muito bad boys” e não conseguem fazer as coisas com classificação livre.)

Shiver e Tangled são mornas e Secret demora a começar, embora conquiste no pré-refrão. She Will Be Loved é clássica balada pra cantar agarradinho e não pode faltar no repertório de qualquer show. Já Must Get Out tem a historinha mais completa do CD, com refrão bem grudento e é uma das melhores do disco. Uma pena ter sido mal-aproveitada na divulgação.

Os primeiros versos de Sunday Morning sugerem uma manhã de domingo chuvosa, mas a canção em si é tão ensolarada que dá vontade de ser feliz e pegar a estrada no domingo só pra encontrar com ela. Casamento perfeito entre letra e melodia, é a minha preferida do disco.


The Sun é lado B de respeito com versos emblemáticos como “And sometimes it's a sad song” e “Hate to love and love to hate her/Like a broken record player/Back and forth and here and gone/And on and on and on and on”(minha parte preferida), sem contar o próprio refrão “And mama I've been cryin'/Cause things ain't how they used to be/She said the battle is almost won/And we're only several miles from the sun”, que servem como trilha sonora perfeita para embalar uma tarde deprê.

Through With you e Not Coming Home têm introduções parecidas, guitarras potentes e a mesma revolta de quem tomou um pé na bunda, mas agora quer mostrar que está por cima. A última inclusive tira onda em versos como “And does it make you mad/To find that I have grown/I'll bet it hurts so bad/To see the strength that I have shown”.

O álbum se despede como quem não quisesse se dizer adeus com Sweetest Goodbye, que prolonga o solo de guitarra e parece brincar com o romantismo exacerbado em “Outstretched arms open hearts/And if it never ends then when do we start?” (minha parte preferida).

Diferente, mas com algo que faz parecer que já se conhecia há muito tempo, Songs About Jane tem a sensualidade à flor da pele e chororô na medida certa com canções que se completam e se auto-referenciam o tempo todo* (o fim de This Love traz versos de She Will Be Loved em fade out, Sweetest GoodBye evoca o avião tomado pela ex em This Love). Ouvindo o disco atentamente é possível montar um story board com toda a história daquele relacionamento que não deu certo. 
* O clipe de Sunday Morning começa com This Love num karaokê, aliás.

A Jane pode até ter dado adeus ao Adam, mas felizmente, graças a ela, o Maroon 5 deu Olá para o mundo.

Quem ri por último ri melhor

Curiosidade Inútil
Aí outro dia eu estava lendo uma resenha sobre o Songs About Jane Edição de Aniversário de 10 anos e descobri que os backing vocals de Tangled, Secret e Not Coming Home contam com a participação de Rashida Jones muito antes de sonhar entrar pro elenco de Parks and Recreation (se você não assiste Parks – eu também não vejo, relaxa -, ela é a diretora da TV que dá uma chance aos Muppets no último filme dos fantoches). Anos depois, a cantriz ainda voltaria a dar o ar de sua graça nos bastidores do Maroon 5, em Kiwi do disco subseqüente dos garotos.

Faixas bônus
Rapando o tacho, e espalhadas pela internet, ainda tem uma meia dúzia de músicas sobre a tal Jane que não entraram no disco (Deus, o Adam realmente demorou muito pra superar isso!). Take What You Want tenta entender o que aconteceu com os dois (“Is it me? Is it you? Is it something I forgot to do?” - Eu tenho pra mim que o Adam esquecia a toalha molhada em cima da cama.) e Rag Doll, que dá o papo reto e expulsa a menina de casa sem dó quando ela tenta voltar (“I think you should just go away cause/There's no necessity for you to stay (...)A heart made for a lot of sorrow/No you can't come back tomorrow/Shut my windows, lock my doors'/Cause my heart won't be your rag doll anymore”). No mais tem Woman, que entrou pra trilha do Homem Aranha 2, Wasted Years na versão verdadeira e ao vivo, a fofolky Good at Being Gone e mais um sem fim de músicas não lançadas que você encontra na internet se começar a procurar mesmo.


Aí eles rodaram o mundo, ganharam Grammy, o Adam fez um monte de tatuagens, o Ryan não agüentou o ritmo e pediu pra sair porque estava ficando doente, o Matt o substituiu e 5 anos (!!!!) depois de SAJ, em 2007, lançaram seu segundo álbum It Won’t Be Soon Before Long (o nome provavelmente fazendo alusão ao tempo em que ficaram sem gravar).

It Won’t Be Soon Before Long
Em seu segundo álbum, a banda traz letras ainda mais explícitas e um som mais uniforme e coeso do que no disco de estreia. Algumas músicas trazem a sensualidade para pista de dança de um jeito vintage com a ajuda de sintetizadores e em alguns momentos a banda faz homenagem a The Police, e emula o melhor do pop de Prince e Michael Jackson.

If I Never See Your Face Again abre o disco com Adam, supersexy, assumindo de vez o lado cafajeste. Mais tarde a faixa ganharia a “colaboração” da testuda Rihanna, que também apareceu no videoclipe, para ver se ajudava os meninos nas paradas (o arranjo da versão da Rihanna é horroroso! Deus me livre!). 

Na mesma linha da cafajestagem, o disco continua com Makes me Wonder, que foi o primeiro single e possui mensagem para George Bush por trás dos versos “Give me something to believe in/Causa I don’t believe in you anymore”. A música garantiu o 3º Grammy dos garotos e levou-os à posição #1 da Billboard pela primeira vez. Na época, foi a canção com o maior salto da história da parada.

Completando a trinca inicial, Little of your Time é dançante e cool, com vibe Outkast e merecia mais destaque na divulgação do disco.

Wake Up Call é literalmente um caso de amor bandido. A canção traz o relato de um cara que pega o Ricardão em flagrante e não pensa duas vezes antes de acabar com a vida do sujeito. É a música com a letra mais legal da banda até hoje com versos que alternam entre a frustração (Don't you care about me anymore?/Don't care about me?/I don't think so!), a raiva (And it's not my fault/Cause you both deserve) e a ironia (I'm so sorry darling/Did I do the wrong thing?/Oh, what was I thinking?/Is his heart still beating?) sem demonstrar nenhum arrependimento (Six foot tall/Came without a warning/So I had to shoot him dead!/He won't come around here anymore/Come around here?/ I don't feel so bad).

Won’t Go Home Without You é a baladinha dor-de-cotovelo mais chiclete do disco e homenageia acordes de Every Breath You Take do The Police.

A boa Nothing Lasts Forever é resultado da reciclagem de um refrão tirado de uma parceria de Adam com Kanye West, e Goodnight Goodnight tem melodia gostosa com letra que também fica na cabeça sem fazer esforço.

Not Falling Apart e Better That We Break completam o time das músicas lentas do lado B, enquanto Can’t Stop ataca de rock revoltadinho com letra digna de “homi safado”. Já Kiwi tem som potente e coeso, com solos encorpados de guitarra, e de longe a letra mais sexual de todas.

Back at you Door fecha o disco com chave de ouro com a banda em sua melhor forma e é uma das melhores do disco. Alguns fãs conspiram que a música é uma continuação de She Will Be Loved justamente pelo verso “Every time I wind up back at your door” lembrar o “I drove for miles and miles/And wound up at your door” do hit de Songs About Jane. Difícil dizer se gosto mais da melodia deliciosa ou da letra que atravessa a alma em versos como “Why do you do this to me?/You penetrate right through me” e “You're my reason for living/And there's no way I'm giving up, oh”. Se Adam queria ser Stevie Wonder, na minha opinião, é nessa faixa em que ele chega mais próximo disso.

A gente não corta o cabelo, mas usa terno de veludo

Faixas Bônus
Não satisfeitos em fazer um CD bacanudo e descolado desses, os garotos ainda soltaram faixas-bônus de presente pelas diferentes versões que o álbum ganhou pelo mundo. Ao todo são 7 músicas pra completar o seu CD “made in home” de 80 minutos (atire a primeira pedra quem nunca completou o resto do CD com outras músicas nada a ver, só pra não desperdiçar os minutos ainda disponíveis para gravação).

Infatuation consegue ser ainda mais cativante que Back at your Door. Infatuation é dessas músicas que nascem perfeitas e que “se melhorar, estraga”. Difícil dizer o que é melhor na canção. Seu gingado inerente, o jeito como os instrumentos soam complementares, o falsete do Adam, o teclado do Jesse, ou a sofisticação da guitarra do James. Letra e música se unem de forma quase mágica numa combinação que é impossível não se apaixonar de tanto amor que é essa canção. E é claro que quem ama quer ficar junto o tempo todo e dá vontade de colocar no repeat do seu player ad-sem-causar-nauseaum. 

Figure It Out, Until You're Over Me e Miss You Love You também mostram o lado cafa de Adam e têm toda a pinta de faixas bônus. Já Losing My Mind, Story e The Way I Was trazem consigo a aflição de um coração partido, com letras bacanas, e poderiam facilmente integrar o time das canções titulares do disco. Essa última então tem versos mais do que inspirados como “But I have no concept of consequence/And I'm a master of self defence/Days get longer/Life gets shorter”, que atacam de aliteração e antítese na mesma estrofe, mostrando que eles não brincam em serviço e sabem fazer mais do que o feijão com o arroz quando querem.


Aí eles rodaram o mundo mais uma vez, vieram no Brasil, eu fui ver, apareceram em CSI (e você aí achando que o Justin Bieber estava na vanguarda!), o Adam fez mais tatuagens, o Mick cortou o cabelo, eles chamaram o produtor do AD/CD e lançaram Hands All Over.

Hands All Over
Hands All Over é o disco mais burocrático do grupo, com canções que em muito lembram antigos sucessos da banda. Mas nem por isso deixa de ser um bom álbum.

Misery é prima-pobre de This Love (tão pobre que em seu refrão entoa: “Eu estou na miséria”, rs!) e traz a historinha do ex-namorado chato que não larga do pé. Já Never Gonna Leave This Bed é parente Won’t Go Home Without You, com Adam pagando de romântico no meio da noite (seu clipe, aliás, é "inspirado na casa de vidro do BBB"). Hands All Over dá nome ao álbum e entoa a já esperada cafajestagem disfarçada de dor-de-corno de Adam Levine em versos como “Love is a game, you say/Play me and put me away” acompanhados das guitarras afiadas que lembram Songs About Jane.

How ocupa o lugar da balada melosa de dor de cotovelo que já foi de Goodnight, Goodnight e Runaway o da música lenta do lado B que tem bom refrão mas não força suficiente para encarar as rádios.

Talvez elas não tenham o mesmo frescor que suas antecessoras, mas inegavelmente é o Marron 5 fazendo seu pop de alto nível, até no piloto automático.

Give a Little More é boa, mas nunca devia ter sido escolhida como single. Embora exale a sensualidade típica do Maroon 5, a música também tem um tom “soturno” que não combina com o pop alegre e dominante das FMs e infelizmente lhe falta um refrão que dê vontade de ouvir de novo.

O resto do disco é mais despretensioso e traz boas surpresas mesmo sem inovar de fato.

Stutter tem alto teor adolescente com Adam gaguejando quando perto do amor platônico e nasceu para ser cantada ao vivo, com direito ao recurso da auto-completagem pelo público na hora do “Stutter”. A música é ótima, com bom refrão, permanece na cabeça desde o seu início (I really, I really, I really need to know) e essa, sim, podia ser mais aproveitada nas rádios.

Don’t Know Nothing e Get Back in My Life também são divertidas e coesas com a marca mezzo-dançante-mezzo-karaokê da banda e backing vocals que fazem “uuuh” na hora certa.

Já I Can’t Lie e Just a Feeling são Maroon 5 em sua melhor forma, abusando do pop-com-R&B. A primeira tem letra e melodia deliciosas que lá no fundo carregam influências de Sunday Morning a Jackson 5. Já a segunda é a melhor do disco disparada com letra bonita, boa produção e uma interpretação inspirada de Levine que deixa a música na cabeça o dia todo.

Na mesma linha de tentar aproveitar o sucesso dos outros como fizeram com a Ri-Ri, Out of Goodbyes traz o Lady Antebelum a tira-colo com seu capipop, e mantém a tradição de encerrar o disco com alguma música com “goodbye” no nome. A canção é meio meh, e tem mais Lady Antebellum do que Maroon 5, mas pelo menos não foi outra parceria com a Rihanna.

Faixa-bônus
Hands All Over só traz de presente mais 2 novas canções em sua versão Deluxe. No Curtain Call, que com um pouco mais de guitarra poderia soar como qualquer banda de garagem genérica, e Last Chance, que é bem bacaninha. Mas legal mesmo foi encontrar uma versão de If I Ain't Got You da Alicia Keys (lembranças da original tocando nos meus tempos de estagiária) e Crazy Little Thing Called Love (embora eu ainda prefira o cover do Bublé).

Aí eles lançaram o Tea Will Be Loved, o Adam entrou no The Voice, lançaram Moves Like Jagger, o Jesse pediu “um tempo” e o resultado você já sabe.

O pior é que é sério.


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segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Overexposed (ou Songs About Nothing)

Em 2002, chegava às lojas o aclamado álbum de estréia dos californianos do Maroon 5, Songs about Jane. A tal Jane era uma ex-namorada que disse "goodbye” pro Adam e inspirou todas as 12 canções do CD, o qual levou a banda ao estrelato com hits como This Love, She Will Be Loved, Sunday Morning e Harder to Breathe.

O curioso dessa história toda é que, embora Jane (como é chamado pelos fãs) seja sucesso absoluto de público e crítica, o CD demorou para estourar. This Love só arrebentou mesmo em 2004, dois anos depois do lançamento do álbum! No Brasil, o hit chegou ao topo das paradas com a ajuda da trilha de Senhora do Destino e lá ficou por muito tempo. Antes disso, a banda até já tinha dado uma passada por aqui, mas, na época, nem eu e nem ninguém sabia quem eram aqueles magrelos bonitinhos liderados por um vocalista de voz fina.

Em 2012, Jane volta às lojas em uma edição especial de seu 10º aniversário (com direito a versões demo de todas as 12 Canções sobre Jane - gamei na demo de Sunday Morning que tem um solo de sax de enlouquecer! -, outras músicas que já haviam sido lançadas com o Jane original em outros países, e, se não me engano, uma inédita) quase ao mesmo tempo em que a banda lança seu mais novo trabalho, Overexposed.


10 anos depois Songs About Jane não envelheceu nada e suas canções ainda soam ótimas! Mesmo os sucessos mais grudentos não parecem anacrônicos depois de tanto tempo! É um dos álbuns mais importantes da década passada e me arrisco a dizer que se torne um clássico do pop-rock! Coisa que com certeza não vai acontecer com esse novo CD.

De Jane para cá, a banda azeitou o som com o também ótimo It Won’t Be Soon Before Long e aguou um bocadinho com Hands All Over (ainda mantendo seu padrão M5 qualidade). Mas o sucesso experimentado com This Love nunca mais foi o mesmo. Isso até o Adam entrar no The Voice, aparecer na TV toda semana, fazer uma parceria com Christina Aguilera (também jurada do programa), e lançar a dançante Moves Like Jagger. O Maroon 5 estava sob todos os holofotes novamente. (E o Adam adorou!)

Na fome de conseguir alimentar o novo público atingido com Moves Like Jagger, o M5 abriu mão do sabor, da qualidade e da consistência que havia conquistado há 10 anos e tacou água no feijão.

Manhê, bota água no feijão que vem mais gente pra almoçar!

E o mais irônico disso tudo é que por incrível que pareça, a nova fase da banda vem calcada em uma boa dose de nostalgia. A chicletuda canção que os trouxe de volta ao topo faz homenagem ao maior pé frio de todas as Copas e dinossauro do rock, Mick Jagger, e a grudenta Payphone (que sem o rapzinho maldito fica bem melhor) seria apenas uma canção comum na época do lançamento de Jane, mas, agora, 10 anos depois, num mundo onde todos têm celular, se você está no telefone público, tentando voltar pra casa, e gastou todo troco naquela ligação, é porque tem alguma coisa muito errada e provavelmente você está preso*!!!!!!
* Daí vem o conceito do clipe com todas aquelas explosões gratuitas que lembram Wake Up Call. E ao escrever isso, percebo como eles perderam uma ótima oportunidade de ter feito o clipe com o Adam telefonando da cadeia mesmo, depois de ter matado o amante da mulher, como se fosse uma continuação do hit do IWBSBL!

Achei uma paródia bem legal da música em que o iPhone mais atrapalha do que ajuda. 
Repare no status do sinal do telefone no topo da tela. (Aposto que o celular era da TIM...) Sensacional!

Ao escutar Overexposed pela primeira vez me surpreendi positivamente. Mas só porque, depois de ouvir as prévias de 30 segundos e sabendo do processo de criação mais safado de todos, eu esperava algo bem pior. Por trás de todos os efeitos eletrônicos, o disco ainda tem um pouco do Maroon 5 de IWBSBL e HAO, em Daylight, LuckyStrike e The Man Who Never Lied, e alguma coisa de SAJ em One More Night e Beautiful Goodbye. Com exceção de Tickets (que é intragável), o CD é até agradável aos ouvidos.

As melhores músicas parecem versões pioradas de canções que não eram as melhores de outros álbuns ou só eram lançadas como faixas-bônus. E é preciso uma boa dose de paciência com a segunda metade do álbum. Mas ainda assim não era algo tão ruim quanto eu esperava.
* Aliás, é nas faixas-bônus que se escondeu uma despretensiosa jam session de Kiss, a melhor música do CD, e olha que ela é um cover! Também estão lá Wipe Your Eyes (a introdução é meio esquisita, mas a música é bem boa!), uma versão versão reciclada - eles sempre foram uma banda "verde" - de Wasted Years (ainda estou decidindo se gosto dela) e Moves Like Jagger (adoro a música, mas lançar DE NOVO???? Sério, vocês deviam ter vergonha, sabiam?).

E aí eu ouvi uma segunda vez. E percebi que o problema não era nem a sonoridade, que parece estar sempre de olho em alguma pista de dança falida. Mesmo com aquela batida de balada que irrita um pouco, fazendo algum esforço, na maior parte das músicas ainda dá pra reconhecer o velho Maroon 5 de algumas outras canções antigas. O negócio é que as letras que são SOFRÍVEIS!

Elas são sem alma, sem história e sem sentido. Chega a dar vergonha de cantar. Os refrões não têm força e as melodias não grudam no ouvido como deveriam, mesmo com versos vazios e repletos de repetição, como se fosse um gravador quebrado (Saudades de quando o gravador quebrado deles era aquele de The Sun). Em alguns momentos as músicas parecem saídas de um CD da Selena Gómez. Tickets tem até LALALALA no meio!!!!!!! Os “ooooohs” do Adam, que antes davam charme às canções, agora funcionam como tapa-buraco para falta de criatividade e de esmero na hora de produzir letras decentes. A impressão que dá é a de que fizeram o disco "nas coxas". O sentimento das canções parece ter ido para o ralo assim como a identidade e dignidade da banda.

O Maroon 5 subestimou a inteligência de seu público, tal como diversos programas que investem na "nova classe C"! E na ânsia de ficar na boca do povo, eles falharam justamente por não conseguir fazer músicas que grudem na cabeça e não dão vontade de escutar de novo. Com exceção de Payphone, todo o resto do disco tem cara de lado B de um CD qualquer. Talvez ele faça muito sucesso porque o resto da mídia parece gostar desse novo M5 e vai tocá-los à exaustão nem que seja por jabá até que o resto do povo simplesmente sofra lavagem cerebral e ache que essas músicas são boas.

Overexposed na Supervia

Antes de partir para a 3ª audição, coloquei pra escutar algumas músicas antigas como Infatuation, Back at your Door (essas dizem alguns, é uma continuação de She Will Be Loved), The Sun e Must Get Out e aí eu fiquei ainda mais decepcionada! Fiquei foi com raiva, na verdade!

Se antes até as canções mais bobas do grupo eram regadas à ironia e sensualidade, agora tudo parece arrogante, estúpido e pré-fabricado, como aquele nerd que tenta parecer descolado, se finge de burro para chegar na menina mais bonita da festa e passa uma cantada de mal-gosto.

VOLTA JESSEEEEE!

Não me sentia tão ultrajada assim desde Sandy e Junior (cada um tem o seu guilty pleasure, o meu é SeJ, me julguem), com aquele CD dos bonequinhos, às vésperas do anúncio da separação. Eu ainda via ali a dupla de outros tempos, mas ao mesmo tempo também não via (ou ouvia). Por melhores que fossem as canções (e analisando friamente, elas realmente não são ruins!), esse era um CD triste em que tudo parecia premeditado demais, sempre com alguma mensagem subliminar de que algo estava por vir por trás dos versos (e estava mesmo!), e que implorava pelo reconhecimento da crítica e de sei-lá-quem-mais, ao invés de simplesmente tocar sua música e se divertir com isso.

A diferença é que ao contrário da ex-dupla, que na época buscava mostrar amadurecimento, independência e até uma sonoridade menos comercial, os californianos fizeram o caminho inverso. Começaram com som maduro e depois de ficarem independentes (Overexposed é o primeiro disco com o selo próprio 222 Records) é que apelaram para o pop farofa. Apelaram porque gostaram de ficar “superexpostos”. E nem precisava porque eles são bons!
*E a gente sempre soube que eles sempre eram vendidos, mas mantinham um mínimo de dignidade!
** Eu ainda tenho uma teoria de que a banda está com os dias contados e que Beautiful Goodbye tem mensagem subliminar de profecia para seu fim. Mas duvido que se o disco mantiver a banda na crista da onda isso aconteça. O triste é ter que torcer para que ele não atenda às expectativas, porque parece que só assim eles vão entender estão indo na direção errada.


Mesmo depois de 10 anos, Jane é tão especial porque tem músicas que marcaram a vida das pessoas. Dá vontade de ouvir de novo para lembrar de uma época ou de uma versão alternativa e menos acabada de você mesmo.

Ironicamente, Overexposed será lembrado porque tem músicas esquecíveis. E não dará vontade de ouvir de novo porque ele implicará numa lembrança amarga de uma banda que não sabia que ser você mesmo é o suficiente.
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