sábado, 27 de junho de 2009

A gente não quer só comida

Conforme o prometido, hoje darei a receita de como foi feita a Pizza de Crepúsculo, mas, por favor, não tente fazê-la em casa. O resultado é desastroso. Mesmo assim, preste atenção para aprender como NÃO fazer uma pizza e principalmente, não comer uma dessas quando você encontrar por aí.

a) Massa
Pizza que é pizza não pode deixar de ter pelo menos a massa. E, para ficar boa mesmo, o pizzaiolo deve amassar e amassar e bater até ela ficar no ponto.

Digamos que a massa do livro-pizza seja o enredo. Aquele arco elementar que rege o livro. O basicão de qualquer história. O famoso “início, meio e fim”.

Pois bem, a pizza Crepúsculo tem uma massa mal amassada e falta fermento (conflito). A autora simplesmente pegou a farinha, jogou o ovo com casca e tudo, bateu um pouquinho e achou que isso bastava. Ela teve aquele sonho, mas não o desenvolveu. Limitou-se a repeti-lo por 400 páginas. E depois, não satisfeita, o repetiu por mais outras mais de mil páginas, se você considerar as continuações. Mas, como eu só li o primeiro, vou manter os comentários só nele.

Demora-se muito para engatar o romance de fato e este só começa porque o cara fica vidrado no cheiro de sangue da menina e não consegue ler a sua mente (hã?) e a garota o adora por causa do bafo de hortelã hipnotizador dele. Antes mesmo de eles saberem qualquer coisa um do outro, já estão completamente apaixonados. (Mas que droga de romance é esse? O que aconteceu com os personagens que se aproximavam por afinidade ou coisa parecida?). Antes disso, o mocinho salva a mocinha inúmeras vezes sem razão aparente, e, mais à frente, quando a menina vai conhecer a família do cara, aparece um vampirão do mal DO NADA que quer porque quer matar a mocinha (sério. Até esse momento, não havia sido feita nenhuma menção ao vilão. No filme, pelo menos, o cara aparecia no meio). E a partir daí, só o que há é uma correria para salvar a garota. Ah, o mistério e a sensualidade que a sinopse sugere também não existem.

Eu diria que a massa da pizza Crepúsculo parece um queijo suíço (ou as estradas brasileiras) de tanto buraco. Muita coisa fica sem explicação e elas são do jeito que são simplesmente porque sim. “Por que o Edward brilha? Por que a Bella é tão desajeitada em Forks se ela se virava tão bem na outra cidade, que era bem maior? Como é que os vampiros fazem com relação a seus documentos datados de séculos atrás? A Bella não menstrua, não?” são só algumas das questões que ficam sem resposta.

b) Molho de tomate
 Todo romance que se preze tem que ter bons personagens. E toda pizza que se preze tem que ter molho de tomate. Eu sei, há casos de pizzas doces, sem molho de tomate, mas você entendeu o meu ponto.

O molho de tomate da pizza Crepúsculo é um molho raliiiinho e ainda vem com uns pedaços de tomate picados que não foram devidamente liquidificados. Como o livro não foi planejado, a autora não se preocupou em desenvolver seus personagens. Eles são rasos, e por muitas vezes inúteis ou pouco verossímeis. É até difícil se identificar com qualquer um deles, uma vez que são tão insípidos.

Passei quase o livro todo tentando descobrir quem era a protagonista. Do que ela gostava e não gostava, o que ela fazia, qual era a dela, afinal de contas. Ao final da obra, concluí que ela era mesmo uma personagem autista e muito mala. Supostamente ela é inteligente e esperta, já que percebe algo errado com os Cullen logo no primeiro dia. Mas na verdade ela faz mesmo o gênero mocinha indefesa, e é tão completamente dependente do vampiro pelo qual se apaixona à primeira vista que quer logo que ele morda o seu pescoço para que ela se transforme numa vampira também (eu já falei, e vou repetir. Não sei para que ela quer viver para sempre. Tá legal, ela vai ficar com o Edward PRA SEMPRE. Mas pra que viver PRA SEMPRE se não se pode ter os dois maiores prazeres da vida: comer e dormir? E não vou nem entrar na discussão que acusa a série de machismo, porque ia render pano pra manga). Além de não ter amor à própria vida e ser muito sem noção, - ela pra morrer e preocupada se o Edward, QUE NÃO MORRE NUNCA, estava bem foi imperdoável – Bella não tem nenhum hobby, nenhuma habilidade especial, não interage com o resto do mundo, nem tem opinião sobre nada relevante e nem nenhuma história interessante para contar.

O mesmo se pode dizer dos personagens coadjuvantes absolutamente dispensáveis para obra. Na verdade, eles estão lá fazendo uma mera figuração. Sua relevância para a história é nula. Os meninos da escola só fazem convidar a Bella pra sair (não entendi a razão de tanta sensação. Só porque “o nome dela quer dizer beleza e não há melhor nome pra ela”? Acho que se fosse esse o motivo, aos 17 anos ela já teria sido convidada para inúmeros bailes na sua cidade natal) e as meninas só fazem ficar com inveja porque os meninos não as convidam, entretanto, também não representam qualquer tipo de ameaça ou rivalidade à protagonista.

A família do Edward, que por um momento eu achei que ia render uns personagens interessantes, só aparece quase no final, e antes que a gente se acostume com eles, já estão todos correndo atrás do vampirão do mal.
Agora sobre o Edward. A autora é apaixonadérrima pelo Edward. Dá pra ver a baba dela escorrendo no teclado ao escrever. Só faltou ela criar um personagem com o próprio nome e agarrar ele no livro. A história, assim como a mocinha, é absolutamente dependente dele. Sem o Edward, não há Bella, bons diálogos e nem Crepúsculo. Sem dúvidas, ele é o personagem-chave da série. Edward é o tomate do molho. Mas ainda assim, não é um tomate que eu escolheria na feira.

Todo mundo dizia que ele era lindo, maravilhoso, romântico, tudo de bom. Não consegui ver nada disso. Edward ficou longe da tal perfeição que autora tentou convencer a todos no grito. E ele padece do mesmo mal da falta de opinião dos outros personagens que o cercam. Para ser um herói legal, ele deveria FAZER coisas interessantes, ao invés de só usar seus poderes e salvar a garota 400 vezes. Ele deveria fazer coisas... humanas, por mais vampiro que fosse. Mas tudo o que ele é e faz deriva de sua natureza vampiresca. O hálito, a pele, a supervelocidade, o dom de ler mentes... Ok, ele gosta da garota. Mas ele só fala que ama a menina, enquanto suas atitudes, por mais justificáveis e bem intencionadas que sejam, cansam. Num momento ele não quer nada com ela, no outro desiste de tentar se afastar, no outro não quer intimidade, no outro invade o quarto da garota e jura amor eterno... E é tudo sem a menor explicação para ele mudar de opinião tão repentinamente. E eu ainda nem falei daquele negócio de ficar espionando a menina dormir durantes meses. Para uns é romântico. Para mim isso tem outro nome: Perseguição doentia.

Abro um parêntese para elogiar um personagem. O pai. Ele devia ter mais espaço no livro. É o mais legal de todos porque age exatamente como um pai normal agiria. Sem noção, não faz a mínima idéia de como conversar com a filha, mas tenta se aproximar todo sem jeito... Cara, quem não tem um pai assim? Todos os momentos do pai são bons. Sacanagem a Bella não gostar de chamá-lo de pai. No início tudo bem que eles não tinham intimidade, agora depois de tanto tempo... Sinto pena do Charlie, tadinho. Ninguém merece uma filha assim.

c) Queijo, catupiry, banana e canela
Mesmo que a massa não seja a melhor do mundo e o molho não seja aquele de lamber os beiços, a pizza às vezes ainda é boa por conta do recheio que recebe. Infelizmente, o recheio da pizza Crepúsculo é enjoativo e faz a gente comer fazendo careta.

Em inglês, a palavra para “brega, cafona” é “cheesy”. Não sei se tem a ver, mas vou tentar fazer uma análise etimológica da palavra. Cheesy talvez venha de cheese (queijo), logo cheesy seria “cheio de queijo”, o que no final das contas seria uma coisa muito melada, brega, mesmo.

Pois bem, o recheio da pizza Crepúsculo é cheesy. Tem queijo demais e dificulta a deglutição... E pra completar, o catupiry, depois de um ou dois pedaços, começa a revirar o estômago. Fora a banana e a canela que são muito doces.

O recheio a que eu estou me referindo aqui são as descrições precárias, a narrativa capenga e os trechos de querer fazer vomitar. Eu geralmente não presto atenção nesse tipo de coisa, mas a situação nesse livro estava tão suplicante, que eu até lembrei daqueles trabalhos que a gente fazia no Ensino Médio para a tia Talita e cheguei à conclusão que nem essa parte que era a mais chata e inútil de explicar era bem feita.

Começando pelas descrições altamente repetitivas ou ausentes... Cansa a vista ter que ler as palavras “perfeito” e “lindo” e “sorriso torto” e “perfeito” de novo toda a vez que o Edward, ou algum outro membro da sua família aparece. Tudo bem, ele podia até ser perfeito mesmo. Mas custava explicar por quê? Variar os adjetivos e as características que o fazem atraente também seria bom – colocando características psicológicas de preferência. E aquela história da “pele branca e suave”? Ah, vai te catar, vai! Parece até propaganda de sabão em pó. Eu já li FANFIC com descrições melhores!
Quando não são repetitivas, são descrições inúteis ou não há descrição. A escritora fala muito que a floresta é verde, e que é verde e que é úmida e que é molhada e blábláblá. E isso também pode ser explicado pela falta de pesquisa. Se ela tivesse ido a Forks pelo menos uma vez, teria argumentos melhores para encher o livro do que dizer que a floresta é verde. Perceba que quando a história passa para Phoenix, um lugar que ela de fato conhece, a riqueza de detalhes do ambiente é muito maior. Ela descreve com exatidão o aeroporto, a saída do banheiro, a porta... Fica fácil escrever sobre algo que você conhece (regrinha número 2 bombando)... Agora, digamos que Forks simplesmente não existisse, e fosse uma cidade inventada por Meyer. Aí o problema não seria nem falta de pesquisa. Mas falta de talento e imaginação mesmo.

Li muitos comentários de gente falando que a narrativa é fraca porque é em primeira pessoa e fica tudo muito restrito e que (sic) “escrever em primeira pessoa até eu”. Eu, pessoalmente, prefiro os romances em que o narrador também é personagem. Acho que ele e o leitor ficam muito mais íntimos. É verdade que a narrativa em primeira pessoa restringe os fatos sim, mas o escritor deve tirar vantagem dessa restrição e lançar dúvida ao leitor que só tem acesso àquele ponto de vista. Mas em Crepúsculo nada disso ocorre. Não há espaço para o leitor criar qualquer teoria, uma vez que os personagens em volta da protagonista são tão vazios quanto a narradora e não há conflito algum. Só a menina repetindo incansavelmente quão “perfeito” o Edward é e ele respondendo com aquelas cantadas baratas.
Eddie Bravo
Tem uma outra teoria, essa bem mais consistente, que diz que se o livro fosse do ponto de vista do Edward seria melhor. Talvez. Realmente ele é O cara do livro. Todas as decisões e dilemas estão em suas mãos. Faria mais sentido ele narrar mesmo. Assim, talvez a gente até odiasse menos a mocinha (ou não). Talvez se a autora seguisse a regrinha número 3, ela tivesse percebido isso antes. Eu passei o olho no tal do Midnight Sun e realmente a teoria se comprova. A narrativa dele é bem melhor. Mas sem um enredo decente, não sei se seria tão melhor assim. E outra: esse livro meio que se apóia no primeiro volume. Também não sei se ele lançado de primeira funcionasse tanto.

Mas isso são só suposições, porque se fosse o Edward o narrador, mas se mantivessem diálogos como:
"Se eu pudesse sonhar, eu sonharia com você. E eu não me envergonho disso".
"Eu deixo você tonta?" "Com muita freqüência."
"Me deixa... angustiado... ficar longe de você. ""Você é minha vida agora."
"E então o leão se apaixona pelo cordeiro" "Que cordeiro idiota" "Que leão masoquista e doentio”
a sensação de náusea seria a mesma. Cara, ninguém fala esse tipo de coisa! Cadê a verossimelhança?

Saideira

Mas o que mais me deixa boba é como essa mulher conseguiu ganhar tanto dinheiro com um negócio tão ruim. Não é questão de gosto. É porque é mal feito. Nem as descrições foram boas. Na boa, qual o sentido de ficar adjetivando mato? E, gente, é sério, eu não estou de implicância. Eu juro que tentei gostar, mas simplesmente não deu.

E não é alguma coisa do tipo: “Ah, mas nos outros livros melhora”. Não! Na verdade, nos outros livros as coisas desandam ainda mais. Eu sei porque, ao contrário de Stephenie Meyer, eu segui as três regrinhas básicas para escrever seu texto e não só pesquisei (li milhares de resenhas e fóruns de discussão sobre todos os volumes da série, mais site da autora e entrevistas com a mesma. Se bobear tô sabendo mais de Crepúsculo do que muita gente que gosta e leu todos os livros), como dei tempo para amadurecer e planejei o meu texto (eu li o livro em março, mas só agora estou fazendo a crítica, depois de muito discuti-lo e, inclusive, assistir o filme de novo) para não sair escrevendo bobagem.(se esse texto fosse de março era provável que tivesse um nível mais baixo rs).

É até uma afronta a imprensa comparar isso com Harry Potter. Eu que nem li Harry Potter me senti ofendida. Harry Potter tem “início, meio e fim”, gente!

Para ampliar é só clicar

Showdown: HP vs. Twilight by =EmpressFunk on deviantART

Às vezes eu fico com pena das pessoas que não conseguem ver isso. Às vezes eu fico com raiva da escritora por estar ganhando dinheiro às custas dessa cegueira. E às vezes eu fico com raiva das pessoas que são muito cegas.

É uma pena que tenham tantos autores tentando serem publicados, talvez alguns até bons, e esse negócio nas prateleiras. Ai, ai! A vida é mesmo muito injusta! Edit: Eu sempre me perguntei como é que uma editora colocou isso no mercado. E em tão pouco tempo - entre o sonho e aceitação do livro foram só 6 meses! Até outro dia em que eu resolvi descobrir que editora era essa. A Wiki respondeu. Tinha que ser uma editora ruim, eu sabia. Era a mesma que publicou um livro repleto de trechos plagiados de outros livros há alguns anos. Se ela tinha deixado um livro com plágio chegar às prateleiras, publicar Crepúsculo era o de menos.

E o pior: a literatura adolescente, que vinha até ficando divertida ultimamente, está andando quilômetros para trás de novo. Agora com o melodrama em alta, haja saco pra agüentar livro de meninas em coma, meninas que cometem suicídio, meninas grávidas, meninas com AIDS, meninas órfãs... Affe! Já não bastavam os emos, não? Cadê a Buffy quando a gente precisa dela, hein?

Bom, o conselho está dado. Se você não acredita em mim ou é masoquista igual ao leão ali da frase, leia Crepúsculo. Se eu fosse você não arriscava. Depois demora um tempão pro anti-ácido fazer efeito no organismo...
Depois de pronta.
Vai encarar?

PS. Antes que as fãs cegas me ataquem (caso alguma ache esse blog), essa é só a minha opinião, e não, não vou tentar fazer melhor. Já disse: não sou escritora, não sou formada em letras e sei que meus textos estão longe de serem perfeitos. Por isso sou blogueira e não autora de livros. Mas também sou leitora, e acho que isso já me qualifica para dar opinião. Ou você não se considera qualificado para avaliar a pizza que você encomendou?

4 comentários:

  1. Normalmente essas séries de livros que viram filmes são sempre alvos daquela frase "o livro é bem melhor". A saga de Crepúsculo foi a primeira que eu comprovei o contrário, deve ser porque em filmes não dá pra ser tão parado, já que vc tem mais ou menos duas horas pra contar a história de 500 páginas em média. Gastei dinheiro à toa comprando Crepúsculo. Última coisa: deu vontade de comer pizza, vou ligar pra pizzaria agora pra pedir uma.

    P.S. Não vou pedir sabor Crepúsculo. Credo!

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  2. Meuu... a sua opnião do livro representou exatamente o que eu senti ao ler o livro. Tipo ahhhh.. que lixo!!! Eu demorei qse 1 ano pra ler o livro td... chegou uma hora q simplesmente não dava mais!

    E ao contrario de vc eu fiz pior... eu li tds os livros... mais pq minha amiga q é fã me convenceu do q pelo fato de eu qrer. E te digo o livro só piora.. continua a falta de enredo e a pura enrolação... o 4 livro é insuportavel e o conflito é ridiculo.

    E qndo eu falei pras minhas amigas q o livro menos ruim era o Lua Nova pq o Edward finalmente tinha ido embora (eu não suporto ele)elas qse me mataram.

    Realmente o nivel de livros pra adolescentes caiu consideravelmente e dpois da onda crepusculo vieram outros tantos com o msm nivel de qualidade na msm onda.

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  3. Nossa!! Ficou ótima sua resenha! Suas comparações, tudo!
    Eu, quando li pela primeira vez, gostei de crepusculo. Mas depois quando virou moda, e várias opiniões foram surgindo e acabei ficando mais crítica em relação a obra de Stephenie Meyer. É realmente é isso que você disse:pizza fail...
    Gostei tanto que estou te seguindo!
    bjs!

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  4. Eu simplesmente A-D-O-R-E-I. Sério. Sua resenha está muito, mas muito bem feita (sem puxar saco). Gostei muito do jeito que você escreve, apenas o texto é muuuuito grande. Eu não li nenhum livro, mas vi os filmes e me arrependi um pouco. Eu também acho a Bella muito sem sal, e o Edward não é nem um pouco sexy ou desejável, na minha humilde opinião. E brilhar no sol, definitivamente isso é bem estranho. Parabéns pelo blog. Bjs

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