domingo, 21 de junho de 2009

Como não escrever seu texto

Lembram que eu tinha dito aqui que tinha achado o filme do Crepúsculo legal e até tinha ficado com vontade de ler o livro? Pois é. Eu ainda relutei um pouco, mas quando acabaram os outros livros que eu tinha para ler, peguei o Crepúsculo. Posso dizer uma coisa? Foi a maior decepção que eu tive em anos. A maior da vida, até. Achei o livro muito, muito, muito ruim. Fiquei traumatizada. Foram meses até eu superar e enfim escrever uma crítica. Eu tenho até que concordar com a reportagem da Época que dizia que o livro era emo. Quando chegaram as 50 últimas páginas, eu queria jogar o livro na parede de tanto ódio. E olha que eu não sou desse tipo de gente. Minha irmã é que odeia tudo. Eu sou aquela que acha alguma virtude naquelas coisas que não têm qualidade alguma.

E não estou dizendo que não gostei porque não é o meu estilo de leitura. É porque é mal-feito de dar dó mesmo. Já li quase uma centena de livros ou mais, porém, só outros 3 livros despertaram o meu ódio profundo como Crepúsculo despertou. Segue a listinha em ordem cronológica de leitura:

  1. Um livro em que um garoto ia para uma caverna que o prof da 5ª série mandou ler
O livro é tão bom que eu não lembro nem o nome. A história era a seguinte: tinha um garoto que queria visitar uma caverna. Aí, depois, não lembro mais como, ele, os primos e um responsável (tinha responsável mesmo?) vão passar o sábado na caverna. Aí ele fica mais da metade do livro nesse lenga-lenga quero-ir-para-a-caverna, depois uhu-vou-para-a-caverna e depois caraca-tô-indo-pra-caverna. Chegando na tal da caverna, eu pensei que eles iam viver um monte de aventuras, achar um tesouro, sei lá. Só que não acontece nada disso! A única coisa que acontece é que a lanterna cai e o garoto fica morrendo de medo de ficar preso para sempre na caverna, aí logo depois alguém pega a lanterna e fica tudo bem! Que droga de livro! Se ao menos tivesse um monstro na caverna que fosse sumindo com todo mundo igual àquele episódio sinistro que a Punky se perde na caverna, ainda valia a pena. Mas o menino só deixou a lanterna cair. Vai ser pouco criativo assim lá longe! Anotação mental: coisas com cavernas no meio são sempre um saco. Não é só por causa do livro não, ou vocês não lembram quão mala era a Lara da Favorita? A Flora é que tinha razão! Ô menina chata!

  1. A hora da luta
Esse pelo menos eu lembro o nome. Tive que ler na 7ª série. A história era a de um jovem de Americana, interior de São Paulo, que ia morar na capital durante os tempos de ditadura nos anos 60. Eu pensei que o cara ia se envolver nos protestos, mudar o Brasil, subir de vida, virar o herói da revolução... Nada disso! O cara era o maior mané. Ele só levava esporro do chefe, bronca da namorada do interior, bebia para esquecer os problemas e ficava bêbado porque não sabia beber. Ele até entrou em umas reuniões dos revoltosos e participou de umas passeatas. Mas foi tudo meio por engano, alguém chamou ele para entrar e ele nem sabia o que estava fazendo ali. Eu pensei que ele fosse aprender, pelo menos, né! Necas de pitibiriba! Acaba o livro... como é que acaba mesmo? Ah, nem sei. Acho que ele voltou para Americana, ficou com a namorada e esqueceu dos protestos. Ou seja, a presença dele lá na bagunça não fez a menor diferença. Nem para o movimento, nem para ele mesmo. Affão pro livro! Lembro-me que tinha que fazer um trabalho sobre ele e eu discorri umas 6 páginas, só falando mal do livro. Pra você ver como eu odiei.

  1. Amar, verbo intransitivo
Também para a escola. Dessa vez pro 3º ano. Não consegui terminar o livro e tive que apelar para os resumos na Internet. Acho que por isso é o que eu tenho menos ódio. Sinopse: Uma família de classe média paulistana no início do século XX contrata uma “professora de amor” para iniciar o filho no assunto e os dois se apaixonam. Aqui o problema não era neeeeem a história, que era meio vazia, mas às vezes a gente releva, mas a pretensão da bagaça. A linguagem era muito rebuscada, do nada vinham umas citações em alemão, o escritor invadia sem avisar os pensamentos da tal professora alemã disfarçada de governanta que viajavam de volta a sua terra natal... A maior maluquice. O autor queria se auto-afirmar como escritor modernista escrevendo difícil, retratando a classe média, blablabla. Nos resumos na Internet também dizia que o garoto crescendo era uma metáfora da cidade de São Paulo que também estava crescendo... Hã? Acho que eu sou muito burra, porque não consegui compreender metáfora nenhuma, uma vez que ele quase não fala da cidade no livro. Mas não sou a única porque conversei com uma professora de português e ela também odeia esse autor e não viu droga de metáfora nenhuma nesse livro. Para os desavisados: não, não é um livro de romance e quando a mulher começa a perceber que o garoto gosta dela e que ela já está começando a ficar balançada, ela faz o favor de se mandar e deixar a família em paz. Fim.

Pois bem. Crepúsculo conseguiu ser pior que todos os três juntos. Ele conseguiu combinar a falta de enredo do livro que o garoto ia para a caverna, os personagens desisteressantes/inúteis do A hora da luta, a pretensão do Amar, verbo intransitivo e ainda acrescentou momentos que dão vergonha alheia no leitor. E eu estou falando SÓ do primeiro livro. Não tenho estômago para ler os outros, que pelo que eu ouço por aí, são ainda piores dos que o primeiro.

Tem gente que diz que não se deve levar o Crepúsculo a sério, porque é literatura adolescente, do tipo fast-food e não foi feito para ser deliciado mesmo. Acontece que eu adoro literatura despretensiosa. Principalmente adolescente. Já li um monte de livros do gênero que são muito bons. Os meus preferidos, aliás. Não tem nada a ver o fato de ser fast-food. Fast-food é legal. Vai dizer que você não gosta de pizza? (Se você não gosta de pizza, tente trocar por hambúrger, cachorro-quente, salgadinho, batata frita, ou afins).

Só que Crepúsculo não quer ser literatura para ser esquecida. Um livro em que sua capa e primeira página fazem citação a nenhum outro livro senão a Bíblia e ainda carrega frases como “E o leão se apaixonou pelo cordeiro” QUER ser levado a sério. Ele está implorando para que você o ache cult. Crepúsculo não quer ser pizza. Crepúsculo quer ser caviar. A autora é tão louca que acha que o seu casal é o melhor de todos os tempos. Olha aqui e vê a resposta dela para a penúltima pergunta, que aliás, não precisa desse tipo de resposta. Alguém faz o favor de internar essa doida, por favor!

Acontece que, apesar de muito desejar, Crepúsculo não é caviar. E mesmo que você tente engolir como pizza, vai ter uma baita de uma indigestão porque o livro não cumpre o básico do básico do que se espera na literatura.

Peço a você um pouco de paciência agora, porque, para entender como a massa e todo o resto ficaram tão ruins, é preciso antes analisar o pizzaiolo e o processo de fabricação da pizza.

Obs. A biografia abaixo foi baseada no próprio site da autora e em entrevistas dadas pela mesma. É claro que eu coloquei um pouco de ironia, mas a essência é essa mesmo. 

Sandra Bullock (a Miss Simpatia) + Bonnie Hunt (a mãe de Doze é Demais) =
Stephenie Meyer, a culpada

Shephenie Meyer é casada, tem filhos, é religiosa, cresceu em Phoenix, Arizona e não gosta de sangue. Nunca leu e nem assistiu a nada com vampiros e nunca tinha escrito nenhum livro antes de Crepúsculo.

Numa certa noite, Stephenie Meyer teve um sonho. Ela sonhou que havia uma menina normal agarrada a um vampiro lindo e brilhante no meio de uma floresta chuvosa. Stephenie acordou no meio da madrugada, pegou o laptop e começou a digitar freneticamente a história de amor daquela menina e do vampiro.


Depois ela percebeu que não sabia nada sobre vampiros e deu uma pesquisada no Google só para não dizer que não procurou nada sobre o assunto. Mais tarde, também percebeu que precisava ambientar sua história num lugar chuvoso e com pouco sol. Então, ela deu mais uma googlada e descobriu a pequena e pacata Forks na Internet.
Mais uns meses na frente do PC e o livro estava pronto.

Na hora de escrever o epílogo, Stephenie ficou com saudade do seu vampiro amado e pensou: “Por que eu tenho que terminar? Ah, não! Não vou deixar ele ir embora”. Aí ela continuou escrevendo freneticamente o resto da série e no fim deu quatro livros muito grandes de pura enrolação.

Percebeu que dona Stephenie desrespeitou as 3 regras que eu citei lá no outro post?

Pois é. Ela escreveu uma história de vampiros, sem gostar de vampiros, nem saber nada deles. Depois, não procurou ler nenhuma obra relacionada, pelo menos para ter uma noção do que se tratava. E não teve nem a DECÊNCIA de visitar a cidade escolhida para ambientar sua trama para dar um pouco mais de realismo em suas descrições. (Por que raios ela simplesmente não inventou uma cidade fictícia?) Ao invés disso, ela se limitou a procurar no Google. E por fim, a idéia do livro foi tida num sonho. Anotação mental: coisas originárias de sonhos geralmente não dão certo. Viu só o caso da banda do Junior? Mas é normal, gente, os sonhos geralmente não fazem sentido mesmo. Por isso não se pode levá-los tão a sério. Eu tenho uma teoria de que se a idéia tivesse sido no banho, o resultado ia ser bem melhor. É sério. O banho é um momento mágico de epifania no qual a gente tem idéias brilhantes. Com o filósofo Arquimedes, a surpresa foi tão grande que ele saiu até pelado pela rua gritando: “Eureka! Eureka!”.
Anotação mental: Idéias no meio do banho são as melhores.

Só que, ao invés de amadurecer e pensar se a sua idéia era boa mesmo, e planejar a história e de que maneira ela seria melhor aproveitada, a mulher simplesmente saiu escrevendo e atropelando tudo. Sabe como é, né... Já dizia aquele velho ditado: “Apressado come cru”.

E já que estávamos falando de pizza e agora o assunto comida surgiu de novo, no próximo post eu dou a receita completa da Pizza de Crepúsculo, porque eu ainda tenho muiiiito o que falar.
A pergunta que não quer calar
Por que você odiou tanto o livro se tinha gostado do filme?

O pior é que nesse caso não é nem aquele caso do tipo “os dois são completamente diferentes”. O filme é até bem fiel. Como eu sou pouco sintética, vou começar com uma citação da Época que resume o porquê de o filme ser um pouco melhor que o livro.
O roteiro do filme dá substância à prosa anêmica e prolixa de Stephenie Meyer. Salpica aventura e suspense(...)

Se você não sabe o significado da palavra ‘prolixa’, pode deixar que eu explico. Uma vez, numa aula de redação, a professora dizia que um texto prolixo é aquele repetitivo, que fica dando voltas e não chega a lugar nenhum. Mas aí, um aluno engraçadinho acabou que resumiu muito melhor o significado da palavra. Um texto prolixo é aquele que está pronto ‘pro-lixo’ de tão ruim. A escrita da autora é assim “pro-lixo”. É sem gosto e não possui nem um pingo do suspense prometido na sinopse.

Isso fora que em filmes geralmente tem toda aquela excitação de ver no cinema, o povo zoando, o burburinho rolando e isso já ajuda a não perceber falhas que ele possa ter. E também nos filmes, geralmente, está tudo bem se aparece um monte de personagens irrelevantes e a história é meio superficial mesmo. São só duas horinhas. Não dá nem tempo de sentir falta deles. Agora no livro a gente fica raciocinando, quebrando a cabeça para tentar adivinhar o que vem depois durante dias.

E o principal: o filme é assumidamente pipoca. Bem no estilo, como colocou muito bem a minha amiga, “aqueles seriados chulé que passam de tarde”. Os efeitos são ruins, a movimentação da câmera balançando também, aquele veadinho correndo no início... Parece até filme feito pra televisão. (Se um dia você estiver assistindo a Sessão da Tarde e o filme for ruim, muito ruim de dar dó, desconfie. Deve ser feito pra TV. O baixo orçamento não permite que saia coisa muito melhor do que aquilo.) Ao contrário do livro que quer ser cult, o filme tem uma placa com luzes em neon piscando e dizendo: "Quero ser o próximo blockbuster e ganhar muito dinheiro". Ele se coloca exatamente onde deveria estar: o de hit da temporada. E desse jeito fica muito mais fácil de engolir, mesmo sendo ruim.

Por hoje chega, na próxima eu comento com mais detalhes.

5 comentários:

  1. kkkkkkkkkk
    Adorei a sua "biografia da autora"! Ela parece mesmo Sandra Bullock + Bonnie Hunt ashuahsuahsu
    Q mulher mais doida! Como vc mesmo disse, era melhor ter inventado uma cidade fictícia!

    E achei um tanto espantoso vc odiar tanto um livro assim :0
    Assisti ao trailer e o filme parecia ser legal mas se vc diz q o livro é um tanto "pro-lixo" eu vou ficar longe dele!

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  2. Não imaginei que vc tivesse odiado tanto assim o livro o.o
    Bom, realmente a "Sandra Bullock + Bonnie Hunt" deu uma sorte do caramba fazendo tanto sucesso com um livro que ela não teve trabalho nenhum de escrever...
    eu ainda continuo tentando terminar de ler a série rsrs

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  3. Ao contrário da citação do The Wall Street Journal na contra-capa do livro que diz "Essa história de amor com vampiros é impossível de largar antes do fim.", eu digo que é sim. Comecei a ler e o livro tá aqui marcado na página 219 há mais de 4 meses. Achei a autora mto prolixa mesmo, quase um Zé de Alencar em versão feminina e americanizada(Aliás, o cabelo da Stephenie me lembra o da Iracema). E, sim, os efeitos do filme são horríveis (Vide o lobo do trailer de New Moon.)

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  4. Os efeitos do filme são mesmo ruins e eu prefiro o livro...o primeiro eu até gostei...li bem rápido, aí li na empolgação o segundo, q é beeeem chato...mas o terceiro eu to enrolando desde o começo do ano eu acho :D

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  5. Hahaha, foi engraçado... eu não li Crepusculo, e nem tenho vontade, principalmente depois desse post! Acho que não ia gostar mesmo...

    Bjs

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