segunda-feira, 20 de agosto de 2012

UPP: Maroon bombom

O Maroon 5 é um dos poucos artistas que freqüentam o meu player que, se alguém perguntar “O que você está ouvindo?”, eu não preciso ficar explicando quem é ou as pessoas não acham o meu gosto musical duvidoso. Ao contrário, eu ainda pareço muito descolada!


Com músicas para cantar de olho fechado, músicas para cantar mexendo os ombrinhos e principalmente músicas para cantar junto o dia todo, obviamente, os rapazes dispensam apresentações, mas ainda assim acho que vale um UPP com alguns fatos curiosos.

Em 1995, Adam, Jesse, Mick e Ryan, ainda cheios de espinhas, formaram a Kara’s Flower. (E sim, eram só 4 integrantes!). Os moleques gravaram um CD, apareceram um episódio de Dawson’s Creek e tudo (eu queria colocar o link, mas tiraram o vídeo do YouTube, enfim) mas... as vendas fracassaram e o Kara’s Flower se despedaçou e resolveu ir pra faculdade.


Pelas paredes dos corredores do alojamento, Adam e Jesse começaram a ouvir um som diferente, com um pouco mais de swingue (no sentido de gingado, não daquele negócio de troca de casais) e o Adam disse “Eu quero fazer isso! Eu quero ser Stevie Wonder (com exceção da parte da cegueira)!”. O Jesse começou a tocar teclado, os outros dois caras voltaram, a gravadora apresentou a eles James Valentine, o quinto elemento que ficaria responsável pelas guitarras, deixando o Adam livre para sensualizar bastante com o microfone (interprete como quiser, mas, por favor, deixe “microfone” no sentido literal), e pum, agora eles eram o Maroon 5.

Apesar de geralmente fazerem mistério para explicar o porquê do nome da banda, algumas vezes eles dão mole e deixam escapar que na verdade o nome é uma homenagem à diva brasileira Alcione, a Marrom. 

Simplesmente Marrom

Brincadeira, claro que não é isso. Mas eu tenho pra mim que deve ser alguma coisa relacionada com a cor mesmo.

O novo nome viria para ratificar também o surgimento de uma nova banda, já que agora eles não eram mais os adolescentes espinhentos e revoltados do Kara’s Flower, mas sim um grupo que fazia uma mistura do som branco do pop-rock com o negro do soul, funk e R&B. O resultado dessa aquarela é Maroon, essa cor-de-burro-quando-foge aí da capa do SAJ.

Marron bombom, Marron bombom! Nossa cor marron!

Songs About Jane
A Jane do título é a mina que deu “goodbye” pro Adam em praticamente todas as faixas do álbum. Em algumas delas, ainda é possível encontrar momentos de felicidade do ex-casal, mas, ao todo, 6 das 12 músicas contém “goodbye” na letra. 

Apesar de seu lançamento em 2002, o álbum só veio a estourar mesmo 2 anos depois, com Harder to Breathe e o sucesso absoluto de This Love, que lhes renderia o Grammy de Melhor Revelação em 2005.

Songs About Jane é a combinação perfeita de um monte de coisas que resulta num pop grudento sem deixar de ser autêntico, diferente e original. Quando ouvi This Love pela primeira vez, ainda sem saber que era o Maroon 5 ou Adam Levine* (pra falar a verdade eu nem acho o Adam essa Coca Cola toda), pensei: “Que delícia de música! Diferente! Boa demais!”.
* Mas acho o máximo como eles têm fãs femininas que gritam e choram quando perante o Adam, como também possuem fãs homens que gostam dos caras por causa do som e nem ligam para histeria.

Em um cenário musical dominado por um sem fim de hip hop, This Love era mais do que uma boa música. Era a esperança de que o pop-rock ainda vivia! (Daí também o grande desapontamento de muitos com a parceria “rapzada” em Payphone)

E o resto do álbum não fica atrás com canções que estão na boca do povo até hoje, porque tanto suas letras quanto melodias conseguem cativar, seduzir e traduzir os sentimentos de seus ouvintes de um jeito que vence as barreiras do tempo.

Harder to Breathe, uma das últimas a serem compostas, nasceu da raiva do grupo para com a gravadora, a qual pressionava para que fizessem mais músicas (daí se explicam os versos furiosos de “You'll understand what I mean when I say/There's no way we're gonna give up”), e é a primeira do CD, seguida pelo megahit This Love, com seu refrão chiclete e a guitarra deliciosa de James Valentine.

(O clipe de This Love, aliás, na época foi censurado. Coisa que iria se repetir ao longo de toda a trajetória da banda, com canções e clipes com teor sexual e Adam, claro, seminu, sempre pegando geral. Geralmente são censurados porque eles são “muito bad boys” e não conseguem fazer as coisas com classificação livre.)

Shiver e Tangled são mornas e Secret demora a começar, embora conquiste no pré-refrão. She Will Be Loved é clássica balada pra cantar agarradinho e não pode faltar no repertório de qualquer show. Já Must Get Out tem a historinha mais completa do CD, com refrão bem grudento e é uma das melhores do disco. Uma pena ter sido mal-aproveitada na divulgação.

Os primeiros versos de Sunday Morning sugerem uma manhã de domingo chuvosa, mas a canção em si é tão ensolarada que dá vontade de ser feliz e pegar a estrada no domingo só pra encontrar com ela. Casamento perfeito entre letra e melodia, é a minha preferida do disco.


The Sun é lado B de respeito com versos emblemáticos como “And sometimes it's a sad song” e “Hate to love and love to hate her/Like a broken record player/Back and forth and here and gone/And on and on and on and on”(minha parte preferida), sem contar o próprio refrão “And mama I've been cryin'/Cause things ain't how they used to be/She said the battle is almost won/And we're only several miles from the sun”, que servem como trilha sonora perfeita para embalar uma tarde deprê.

Through With you e Not Coming Home têm introduções parecidas, guitarras potentes e a mesma revolta de quem tomou um pé na bunda, mas agora quer mostrar que está por cima. A última inclusive tira onda em versos como “And does it make you mad/To find that I have grown/I'll bet it hurts so bad/To see the strength that I have shown”.

O álbum se despede como quem não quisesse se dizer adeus com Sweetest Goodbye, que prolonga o solo de guitarra e parece brincar com o romantismo exacerbado em “Outstretched arms open hearts/And if it never ends then when do we start?” (minha parte preferida).

Diferente, mas com algo que faz parecer que já se conhecia há muito tempo, Songs About Jane tem a sensualidade à flor da pele e chororô na medida certa com canções que se completam e se auto-referenciam o tempo todo* (o fim de This Love traz versos de She Will Be Loved em fade out, Sweetest GoodBye evoca o avião tomado pela ex em This Love). Ouvindo o disco atentamente é possível montar um story board com toda a história daquele relacionamento que não deu certo. 
* O clipe de Sunday Morning começa com This Love num karaokê, aliás.

A Jane pode até ter dado adeus ao Adam, mas felizmente, graças a ela, o Maroon 5 deu Olá para o mundo.

Quem ri por último ri melhor

Curiosidade Inútil
Aí outro dia eu estava lendo uma resenha sobre o Songs About Jane Edição de Aniversário de 10 anos e descobri que os backing vocals de Tangled, Secret e Not Coming Home contam com a participação de Rashida Jones muito antes de sonhar entrar pro elenco de Parks and Recreation (se você não assiste Parks – eu também não vejo, relaxa -, ela é a diretora da TV que dá uma chance aos Muppets no último filme dos fantoches). Anos depois, a cantriz ainda voltaria a dar o ar de sua graça nos bastidores do Maroon 5, em Kiwi do disco subseqüente dos garotos.

Faixas bônus
Rapando o tacho, e espalhadas pela internet, ainda tem uma meia dúzia de músicas sobre a tal Jane que não entraram no disco (Deus, o Adam realmente demorou muito pra superar isso!). Take What You Want tenta entender o que aconteceu com os dois (“Is it me? Is it you? Is it something I forgot to do?” - Eu tenho pra mim que o Adam esquecia a toalha molhada em cima da cama.) e Rag Doll, que dá o papo reto e expulsa a menina de casa sem dó quando ela tenta voltar (“I think you should just go away cause/There's no necessity for you to stay (...)A heart made for a lot of sorrow/No you can't come back tomorrow/Shut my windows, lock my doors'/Cause my heart won't be your rag doll anymore”). No mais tem Woman, que entrou pra trilha do Homem Aranha 2, Wasted Years na versão verdadeira e ao vivo, a fofolky Good at Being Gone e mais um sem fim de músicas não lançadas que você encontra na internet se começar a procurar mesmo.


Aí eles rodaram o mundo, ganharam Grammy, o Adam fez um monte de tatuagens, o Ryan não agüentou o ritmo e pediu pra sair porque estava ficando doente, o Matt o substituiu e 5 anos (!!!!) depois de SAJ, em 2007, lançaram seu segundo álbum It Won’t Be Soon Before Long (o nome provavelmente fazendo alusão ao tempo em que ficaram sem gravar).

It Won’t Be Soon Before Long
Em seu segundo álbum, a banda traz letras ainda mais explícitas e um som mais uniforme e coeso do que no disco de estreia. Algumas músicas trazem a sensualidade para pista de dança de um jeito vintage com a ajuda de sintetizadores e em alguns momentos a banda faz homenagem a The Police, e emula o melhor do pop de Prince e Michael Jackson.

If I Never See Your Face Again abre o disco com Adam, supersexy, assumindo de vez o lado cafajeste. Mais tarde a faixa ganharia a “colaboração” da testuda Rihanna, que também apareceu no videoclipe, para ver se ajudava os meninos nas paradas (o arranjo da versão da Rihanna é horroroso! Deus me livre!). 

Na mesma linha da cafajestagem, o disco continua com Makes me Wonder, que foi o primeiro single e possui mensagem para George Bush por trás dos versos “Give me something to believe in/Causa I don’t believe in you anymore”. A música garantiu o 3º Grammy dos garotos e levou-os à posição #1 da Billboard pela primeira vez. Na época, foi a canção com o maior salto da história da parada.

Completando a trinca inicial, Little of your Time é dançante e cool, com vibe Outkast e merecia mais destaque na divulgação do disco.

Wake Up Call é literalmente um caso de amor bandido. A canção traz o relato de um cara que pega o Ricardão em flagrante e não pensa duas vezes antes de acabar com a vida do sujeito. É a música com a letra mais legal da banda até hoje com versos que alternam entre a frustração (Don't you care about me anymore?/Don't care about me?/I don't think so!), a raiva (And it's not my fault/Cause you both deserve) e a ironia (I'm so sorry darling/Did I do the wrong thing?/Oh, what was I thinking?/Is his heart still beating?) sem demonstrar nenhum arrependimento (Six foot tall/Came without a warning/So I had to shoot him dead!/He won't come around here anymore/Come around here?/ I don't feel so bad).

Won’t Go Home Without You é a baladinha dor-de-cotovelo mais chiclete do disco e homenageia acordes de Every Breath You Take do The Police.

A boa Nothing Lasts Forever é resultado da reciclagem de um refrão tirado de uma parceria de Adam com Kanye West, e Goodnight Goodnight tem melodia gostosa com letra que também fica na cabeça sem fazer esforço.

Not Falling Apart e Better That We Break completam o time das músicas lentas do lado B, enquanto Can’t Stop ataca de rock revoltadinho com letra digna de “homi safado”. Já Kiwi tem som potente e coeso, com solos encorpados de guitarra, e de longe a letra mais sexual de todas.

Back at you Door fecha o disco com chave de ouro com a banda em sua melhor forma e é uma das melhores do disco. Alguns fãs conspiram que a música é uma continuação de She Will Be Loved justamente pelo verso “Every time I wind up back at your door” lembrar o “I drove for miles and miles/And wound up at your door” do hit de Songs About Jane. Difícil dizer se gosto mais da melodia deliciosa ou da letra que atravessa a alma em versos como “Why do you do this to me?/You penetrate right through me” e “You're my reason for living/And there's no way I'm giving up, oh”. Se Adam queria ser Stevie Wonder, na minha opinião, é nessa faixa em que ele chega mais próximo disso.

A gente não corta o cabelo, mas usa terno de veludo

Faixas Bônus
Não satisfeitos em fazer um CD bacanudo e descolado desses, os garotos ainda soltaram faixas-bônus de presente pelas diferentes versões que o álbum ganhou pelo mundo. Ao todo são 7 músicas pra completar o seu CD “made in home” de 80 minutos (atire a primeira pedra quem nunca completou o resto do CD com outras músicas nada a ver, só pra não desperdiçar os minutos ainda disponíveis para gravação).

Infatuation consegue ser ainda mais cativante que Back at your Door. Infatuation é dessas músicas que nascem perfeitas e que “se melhorar, estraga”. Difícil dizer o que é melhor na canção. Seu gingado inerente, o jeito como os instrumentos soam complementares, o falsete do Adam, o teclado do Jesse, ou a sofisticação da guitarra do James. Letra e música se unem de forma quase mágica numa combinação que é impossível não se apaixonar de tanto amor que é essa canção. E é claro que quem ama quer ficar junto o tempo todo e dá vontade de colocar no repeat do seu player ad-sem-causar-nauseaum. 

Figure It Out, Until You're Over Me e Miss You Love You também mostram o lado cafa de Adam e têm toda a pinta de faixas bônus. Já Losing My Mind, Story e The Way I Was trazem consigo a aflição de um coração partido, com letras bacanas, e poderiam facilmente integrar o time das canções titulares do disco. Essa última então tem versos mais do que inspirados como “But I have no concept of consequence/And I'm a master of self defence/Days get longer/Life gets shorter”, que atacam de aliteração e antítese na mesma estrofe, mostrando que eles não brincam em serviço e sabem fazer mais do que o feijão com o arroz quando querem.


Aí eles rodaram o mundo mais uma vez, vieram no Brasil, eu fui ver, apareceram em CSI (e você aí achando que o Justin Bieber estava na vanguarda!), o Adam fez mais tatuagens, o Mick cortou o cabelo, eles chamaram o produtor do AD/CD e lançaram Hands All Over.

Hands All Over
Hands All Over é o disco mais burocrático do grupo, com canções que em muito lembram antigos sucessos da banda. Mas nem por isso deixa de ser um bom álbum.

Misery é prima-pobre de This Love (tão pobre que em seu refrão entoa: “Eu estou na miséria”, rs!) e traz a historinha do ex-namorado chato que não larga do pé. Já Never Gonna Leave This Bed é parente Won’t Go Home Without You, com Adam pagando de romântico no meio da noite (seu clipe, aliás, é "inspirado na casa de vidro do BBB"). Hands All Over dá nome ao álbum e entoa a já esperada cafajestagem disfarçada de dor-de-corno de Adam Levine em versos como “Love is a game, you say/Play me and put me away” acompanhados das guitarras afiadas que lembram Songs About Jane.

How ocupa o lugar da balada melosa de dor de cotovelo que já foi de Goodnight, Goodnight e Runaway o da música lenta do lado B que tem bom refrão mas não força suficiente para encarar as rádios.

Talvez elas não tenham o mesmo frescor que suas antecessoras, mas inegavelmente é o Marron 5 fazendo seu pop de alto nível, até no piloto automático.

Give a Little More é boa, mas nunca devia ter sido escolhida como single. Embora exale a sensualidade típica do Maroon 5, a música também tem um tom “soturno” que não combina com o pop alegre e dominante das FMs e infelizmente lhe falta um refrão que dê vontade de ouvir de novo.

O resto do disco é mais despretensioso e traz boas surpresas mesmo sem inovar de fato.

Stutter tem alto teor adolescente com Adam gaguejando quando perto do amor platônico e nasceu para ser cantada ao vivo, com direito ao recurso da auto-completagem pelo público na hora do “Stutter”. A música é ótima, com bom refrão, permanece na cabeça desde o seu início (I really, I really, I really need to know) e essa, sim, podia ser mais aproveitada nas rádios.

Don’t Know Nothing e Get Back in My Life também são divertidas e coesas com a marca mezzo-dançante-mezzo-karaokê da banda e backing vocals que fazem “uuuh” na hora certa.

Já I Can’t Lie e Just a Feeling são Maroon 5 em sua melhor forma, abusando do pop-com-R&B. A primeira tem letra e melodia deliciosas que lá no fundo carregam influências de Sunday Morning a Jackson 5. Já a segunda é a melhor do disco disparada com letra bonita, boa produção e uma interpretação inspirada de Levine que deixa a música na cabeça o dia todo.

Na mesma linha de tentar aproveitar o sucesso dos outros como fizeram com a Ri-Ri, Out of Goodbyes traz o Lady Antebelum a tira-colo com seu capipop, e mantém a tradição de encerrar o disco com alguma música com “goodbye” no nome. A canção é meio meh, e tem mais Lady Antebellum do que Maroon 5, mas pelo menos não foi outra parceria com a Rihanna.

Faixa-bônus
Hands All Over só traz de presente mais 2 novas canções em sua versão Deluxe. No Curtain Call, que com um pouco mais de guitarra poderia soar como qualquer banda de garagem genérica, e Last Chance, que é bem bacaninha. Mas legal mesmo foi encontrar uma versão de If I Ain't Got You da Alicia Keys (lembranças da original tocando nos meus tempos de estagiária) e Crazy Little Thing Called Love (embora eu ainda prefira o cover do Bublé).

Aí eles lançaram o Tea Will Be Loved, o Adam entrou no The Voice, lançaram Moves Like Jagger, o Jesse pediu “um tempo” e o resultado você já sabe.

O pior é que é sério.


1 comentário:

  1. Você escreve as melhores críticas! Parabéns e continue com o bom trabalho =D Dou boas risadas, e me identifico muito!

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