Que Sophie Kinsella é uma das minhas autoras favoritas todo mundo já sabe, e não é segredo pra ninguém.
Compro seus livros às vezes sem nem ler a sinopse, pois já sei o que vou encontrar. Mocinhas atrapalhadas, personagens hilários, cenas de vergonha alheia, um romance bem gostosinho e uma representação razoavelmente fidedigna do ambiente corporativo.
Por isso, quando vi esse livro, com esse título, sabendo que era dela, tive certeza de que precisava ler. Porque ninguém melhor que Kinsella para escrever uma romcom sobre burnout.
Pois bem. Nossa mocinha da vez é Sascha, que trabalha numa start up de serviço de viagens, o Zooze. E como toda empresa modernosa, ela é muito preocupada com o bem estar dos funcionários, oferecendo diversas iniciativas para mantê-los felizes. Exceto contratar mais gente para que eles não fiquem sobrecarregados. A rotatividade dos funcionários é absurda e quando alguém reclama de estafa, o RH dá bronca e manda escrever os sentimentos num mural. O resultado num cenário desses é só um: burn out, o mal dos nossos tempos. Depois de um surto que envolve uma cena maravilhosa incluindo perseguição e freiras (essa cena é sensacional!), Sascha recebe uns dias de folga para cuidar do seu bem estar e resolve passar um tempo numa região onde geralmente passava os verões na infância. Seu plano de cura envolve sucos de noni e um aplicativo cuja fotografia tem uma Garota perfeita usando Neoprene e que promete transformar sua vida em 20 passos (ou 30, não lembro). Lá, ela conhece Finn, um grosso rabugento (ou será que não?) que também está afastado do emprego por ter batido a caneca na mesa e gritado com outros colegas.
Só por essa sinopse, já dá pra ver que Sophie Kinsella tinha acertado em cheio na representação do tema. Além da empresa supostamente preocupada, estão no livro também todos os sentimentos de quem já passou por isso: o óbvio cansaço, má alimentação, a sensação de que não há mais espaço na sua vida para qualquer coisa além do trabalho e até o desânimo de procurar outro emprego (porque mudanças consomem muito da nossa energia, e quem está com burn out já não tem disposição pra encarar nenhuma mudança! Eu sei, já estive lá, infelizmente). Mas não bastasse isso tudo, ela ainda aborda a pressão que a gente se coloca para ser saudável e serena.
Isso tudo em meio a personagens secundários totalmente apaixonantes (impossível não se afeiçoar pelos funcionários do Rilston), um enemies-to-lovers muito bem construído e até dois mini mistérios sobre o passado do casal.
Ou seja, uma romcom divertida, deliciosa, amarradinha, tipicamente Kinselesca. O que já é muita coisa.
Nos últimos tempos, no entanto, Kinsella tem me pegado de jeito por outro motivo: emoção. Não sei se tem a ver com o diagnóstico recente de tumor no cérebro que ela recebeu, mas já é a segunda vez que Dona Sophie aperta o meu coração todinho, enchendo meus olhos de lágrimas. E mais uma vez num livro mais curtinho, de menos de 400 páginas.
Tanto esse quanto o último que li dela, de alguma forma, falam sobre a dor da perda de pessoas queridas (mesmo que elas ainda estejam aqui). Sobre saudade da infância. Falam sobre memória e de legado. Toda as cenas envolvendo o Terry são lindas, lindas, lindas, lindas... E o final então, nem se fala.
Legal também pontuar como esse plot do Terry se conecta com o processo de cura que Sascha e Finn precisam passar. O mar como agente de reconexão da própria alma, mas não simplesmente por ser como é (muito embora o mar opere esse tipo de milagre mesmo), mas por representar as pessoas que eles eram no passado. E como os conselhos de sabedoria do Terry SEMPRE foram os melhores.
Quem já teve burn out sabe que não é uma questão somente de estar sobrecarregado. É sobre equilíbrio e estabelecer limites. Sobre se reconectar com a sua própria essência (e isso não tem nada a ver com sentir a terra debaixo dos seus pés ou meditar todos os dias). Sophie Kinsella não romantiza o processo. Não existe trabalho perfeito. Nem rotina perfeita. Sim, às vezes você vai ter que fazer hora extra. E alguns dias vão ser eletrizantes. E tudo bem. Mas não dá pra ser assim sempre. Senão as coisas perdem o sentido. A gente tem que trabalhar pra viver, e não o contrário.
O Burn Out, sem dúvida, é um dos meus livros preferidos da escritora. Se tivesse que dar uma nota, seria a mesma do Rilston. Cinco, Dez, TODAS AS ESTRELAS.
PS. Eu não sei o que Hollywood está esperando pra fazer um filme disso aqui, porque o roteiro tá prontinho.