quarta-feira, 10 de novembro de 2010

O nome da rosa

Conforme prometido, vamos continuar com a discussão do post anterior com um tema bombástico: Nomes/Títulos.

Você fica revoltado quando vê aqueles títulos que não tem nada a ver com o original, não fica? Tem vontade de voar no pescoço do tradutor que troca o nome de todos os personagens do seu livro favorito, não tem?

Bom, então, é bem capaz de você querer me matar pelo que eu vou falar daqui a pouco.

E como já vi que vou ser apedrejada e não sou boba, eu trouxe reforços. E não qualquer reforço, mas um Da Pesada (desculpa, gente, eu não resisti, rs). Porque, para William Shakeaspeare, o nome era um mero detalhe. Fala aí, Will (aquelas íntimas, haha!):

O que é que há, pois, num nome?  
Aquilo a que chamamos rosa, mesmo com outro nome, teria ainda o mesmo perfume

Pois é, como nosso amigo Shakeaspere já poetizou, trocar/traduzir um nome não é assim esse caso de polícia todo. Mas também não quer dizer que não deva ser investigado. O que eu dizendo é que, concordo com sir William, mas também temos que concordar que “há casos e casos”, e dentro desses casos ainda há outros casos até. É um negócio extremamente subjetivo. Tem mais a ver com hábito e cultura do que com regras propriamente ditas. (E a ver com dinheiro também - ele sempre está no meio, não tem como fugir- , como veremos mais a frente.)

Criança Feliz
Por exemplo, se for um desenho, uma coisa destinada ao público infantil, acho as traduções/adaptações muito válidas.

Já que é pra criança, a intenção deve ser aproximar os personagens da realidade da criança e até facilitar a pronúncia dos pequenos. E o universo de fantasia dá uma certa liberdade em relação a nomes. Não está ligado a questões culturais fortíssimas, por exemplo. Coisas para crianças geralmente tendem a ser universais – acho que os autores fazem isso até meio que de propósito. Elas se passam na Rua do Limoeiro ou na Vila do Chaves, mas podiam muito bem passar na frente da sua casa. Nesse casos, a rosa do Romeu (que aliás era Romeo) podia ganhar o nome que fosse, porque ela cresce em qualquer lugar.

Pois é, não acho nada de absurdo Ginny virar Gina, e Ron virar Rony, entre outros (por mais sem critério que possa parecer) e menos absurdo ainda James virar Tiago, nem Bill virar Gui (porque tem uma explicação quase etimológica para tal).

 Monica, Jimmy Five, Smudge and Maggy
Adorei o nome do Cebolinha, uma homenagem aos seus eternos 5 fios de cabelo.

Mal acostumado você me deixou
Porque, como disse, muitas vezes o problema está mais relacionado a se acostumar com os nomes adaptados/não-adaptados do que propriamente a uma tradução bem feita, seguindo uma lógica.

Pega qualquer desenho da Disney aí que tá tudo mudado. E não faz a menor diferença. Ficou até melhor. Os Incríveis mesmo. Nossa! Assisti outro dia (dublado claro) e vi que trocaram Helen por Helena... Bob por Beto...Jack por Zezé. E ficou legal! Muito legal! Não ia ter nem graça se não tivessem mudado.

Ainda sobre a Disney, eles “nacionalizaram” muitos (Patinhas, Pardal, Huguinho, Zezinho e Luizinho, Pateta), traduziram outros (Margarida, Pato Donald) e mantiveram alguns no original (Mickey, Minnie).

E você já imaginou chamar o Frajola de Sylvester? Seu Madruga de Don Ramon? São coisas que já fazem parte do nosso dia-a-dia.

Assim como não conseguimos imaginar que um dia o Peter Parker já foi chamado de Pedro Prado e que em algum lugar do passado Bedrock já foi Rolapedra e Daphne, Welma e Salsicha (que no original seria Shaggy - “Cabeleira/Cabeludo”) já foram Diana, Vilma e Barbicha!

E é por isso que eu fico com a maior raiva quando trocaram Sininho pra Tinkerbell! (Viu, eu também fico revoltada, só que sempre ao contrário, rs!) Tinkerbell é o caramba! Sininho é o que há! Tinkerbell é grande e não tem nada a ver na hora de falar. Principalmente quando se trata de crianças!

CAMPANHA VOLTA SININHOOOOOO!

Curiosidade: Para evitar a cacofonia, em Star Wars, Conde Dooku virou Conde Dookan. Jedi Sypho Dias virou Sypho Vias. Taí um exemplo de tradução de nomes que foi extremamente necessária!

Títulos: Não culpe o tradutor
Eu sei que você fica xingando os tradutores quando vê os títulos das séries do SBT, e terrivelmente irritado quando vê que Dying Young virou Tudo Por Amor. Mas a culpa dos nomes dos filmes/livros/um monte de outras coisas não é deles.

Quem escolhe essas coisas é o departamento de marketing (ou o Silvio Santos). Eles fazem pesquisas para verem quais títulos atrairiam mais espectadores (no caso do Silvio, acho que nem pesquisa tem), e com base nisso os escolhem. Vocês estão xingando as pessoas erradas.

É por isso que quase nunca os títulos originais são mantidos. Porque não é só traduzir. Tem que fazer alguma piada, não deixá-lo com uma fonética pouco atraente... É todo um trabalho de aperfeiçoamento da função conativa da coisa...

E tudo bem, desde que façam um título nacional igualmente bacana. De vez em quando aparece um até mais legal que o original. Esqueceram de Mim, por exemplo, livrou a sequência do mico que pagamos quando adaptamos Meu Primeiro Amor*, porque o menino não está Sozinho em Casa no 2º filme.
* Quem ia adivinhar também que iam fazer uma seqüência desse filme? Deus, o garoto MORRE!

E mesmo que não seja tãããão legal, que seja alguma coisa que tenha o mínimo de criatividade, que fale mais ou menos do que é o filme, enfim... Você assistiria um filme que se chamasse Serrote? Agora Jogos Mortais você viu, né! Percebeu como as mudanças muitas das vezes são altamente necessárias? É o tipo de caso em que “o nome da rosa” (isso é nome de filme e de livro* também) faz toda a diferença, pelo menos na hora de comprá-la.
*Agora deram pra começar a deixar os títulos dos livros sem tradução/adaptação também. Baita sacanagem. Ninguém é obrigado a saber inglês não, viu, editoras! Mas, enfim, isso já foi discutido no post passado. Continuemos.

O que não pode é não dar nenhuma pista do que o filme se trata – ou passar a mensagem errada, deixar no “gerador de títulos aleatórios” (comédia romântica tem que ter “amor” no nome sempre, e os famosos “da pesada”, “do barulho” pra qualquer coisa, etc), enganar o espectador - Teen Wolf virou O Garoto do Futuro (tem o Michael J. Fox e ele estava em De Volta Para o Futuro, logo...), Bandslam (Batalha das Bandas – virou High School Band. Mesmo raciocínio. Tem a Vanessa Hudgens, e ela canta...), etc.

Mais casos bizonhos aqui. E uma tabelinha muito interessante aqui.

Obs.: Momento relaxa porque redondo é rir da vida: Outro dia na locadora, eu e Esther vimos como ficou o título nacional de Grace is Gone, em que o John Cusack tenta superar a morte da mulher: Minha Vida Sem Grace. Bacaninha o título, mas aí a gente começou a se perguntar se tivessem traduzido o nome dela: Minha Vida Sem Graça (haha!). Ou podia ser um título ainda mais esculachado, tipo, já que a vida está sem Graça, podia virar logo Minha Vida Desgraçada, Que Desgraça de Vida, enfim. Só uma brincadeirinha pra descontrair.

Que bonita a sua roupa!*
Ainda vale lembrar que quando “I can't take my eyes of you” vira “Não sei paraaaaaar de te olhar” na voz de Ana Carolina e o Seu Jorge é porque música também é o tipo de coisa que não se traduz assim ao pé da letra. Faz-se uma versão.

Só que existem as versões direitas** (hello, olha a Disney dando aula aí de novo em todos os filmes que marcaram nossa infância) e as avacalhadas, tipo “Eu sou Stephany no meu Crossfox” – um crássico do pop piauiense.

E ok, na maioria das vezes, as versões SÃO avacalhadas, mas a culpa é toda nossa que fica na Internet o dia todo e agora conhece as originais. Num passado não muito distante, a gente cantava essas coisas avacalhadas (não nesse nível ‘Stephany Absoluta’ porque também já é demais) feliz da vida e nem ligava.
*A música do Festival da Boa Vizinhança em Chaves na verdade era alguma coisa tipo "Que bonita vecindad, Es la vecindad del Chavo", mas não sei por que razão virou "Que bonita a sua roupa, Que roupinha mucho louca". Mas eu já disse, né? Em Chaves, essas coisas não são defeitos, são virtudes! Hehe! Viu como a Internet tira a nossa inocência?
**Geralmente as versões que os próprios artistas fazem pra tocar em mercado estrangeiro ficam legais. Eles não são bobos de SE esculacharem assim. Ah, sim, louvores também são ótimos exemplos de versões bem feitas.

Money, money, money, money

Só pra fechar o caixão e concluir de uma vez esse assunto, antigamente a tendência era a de traduzir o máximo possível. Personagens Históricos, e a própria Bíblia, tiveram todos os seus nomes traduzidos. E no caso da Bíblia, não só do inglês para o português, como lá no Aramaico, em primeiro lugar. É questão de costume.

Hoje em dia, o pessoal do marketing pensa que o ideal é padronizar os nomes para diminuir os custos (lembra que eu falei dos nomes das séries da TV paga?) e valorizar a marca. Tem vezes que eles se metem até nos nomes dos personagens também. Aí a gente tem casos como o da Sininho que virou Tinkerbell, Super-Homem só pode ser Superman, Star Wars que não pode ser grafado Guerra nas Estrelas, etc.

É o dinheiro falando mais alto de novo, fazer o quê? É, minha gente, há muito mais coisas entre os nomes, os títulos e as traduções em geral do que supõe a nossa vã filosofia...

Mas, sério, vamos ajudar na campanha da Sininho. A bichinha deve estar com crise de identidade a uma hora dessas. Anos e anos sendo chamada de um jeito, aí agora trocam o nome da coitada? Eu não sei você, mas eu ia ficar muito confusa.

 
Ser ou não ser? Eis a questão...

Putz, acabei de descobrir que antes de Sininho, ela era chamada de "Tilim-Tim" – nome horrível de pronúncia igualmente difícil, por sinal - na primeira dublagem de Peter Pan. E agora é que eu fiquei com ainda mais pena da Sininho. Finalmente tinha conseguido um apelido simpático, e trocaram DE NOVO! Ela deve estar muito traumatizada, sério! Fica assim não, Sininho, apesar de terem trocado o seu nome, a gente ainda acredita em você!

10 comentários:

  1. Sobre tradução de nomes e afins eu até concordo, principalmente quando o público é infantil, com as adaptações (tirando Harry Potter, que não aceito que tenham mudado).
    Tipo, eu estou há meses tentando fazer minha priminha entender que Sininho e Tinkerbell são A MESMA COISA! -q
    Tradução de título eu tenho mais implicância quando é comédia romântica e TUDO tem que ter amor no meio. A maioria fica super brega e dá desânimo de assistir. Agora, o fato de as editoras estarem deixando de traduzir muita coisa com correspondentes na nossa língua me irrita também. :s

    :*

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  2. Eu não vou te matar, mas vou ter que discordar em alguns pontos. No momento, a tradução de um nome pode não ter muita importância, mas como saber se não vai ter impacto depois?

    Exemplo: Seth que virou Sam. O mesmo personagem aparece em outro livro e o nome dele - que veio de Sete, filho de Adão e Eva - tem toda uma importância na história. E agora, José? Como é que vai ficar isso se traduzirem o outro livro?

    James que vira Tiago: nem te conto a loucura que foi pra eu encontrar um versículo porque não sabia disso. Apareceu lá James 1:7 e eu fui procurar em todos os livros da Bíblia que começam com "J". Nem pesquisar o versículo traduzido resolveu, porque era uma versão americana da Bíblia com linguagem bem diferente das que são comuns por aqui.

    Como sempre, o negócio é ter bom senso. Traduzir "Head over heels" como "5 Evas e 1 Adão" é estranho demais pro meu gosto.

    Eu nunca engoli "Meu primeiro amor 2", kkkk. (Mesmo sendo "My girl 2" eu acho estranho, porque a "girl" é a mesma. E também porque o filme não passa nem perto do encanto do primeiro.)

    Nem vou comentar das músicas porque, ao contrário da maioria das pessoas, eu até gosto de versões. Algumas. PG acabou com "Praise you in this storm" quando gravou "Louvarei na Tempestade". Mas "Quem sou eu" é boa.

    Concordo com você sobre a Sininho. Se já traduziu, deixa!!! Eu nunca vou conseguir chamar o ursinho Puff de Pooh!

    Bjos

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  3. Cíntia, concordo com você nesse e no comentário anterior. É preciso ter bom senso porque cada caso é um caso. Essa é a chave. Não é: "QUE SAFADEZA, TRADUZIRAM OS NOMES, QUE RIDÍCULO!", como muita gente diz. Foi uma das coisas que eu falei no início do post tb.

    O motivo pelo qual não deviam trocar Seth para Sam é a mesma razão de terem mudado James para Tiago. A tradutora do Harry Potter, por precaução, achou prudente traduzir de uma vez pra caso a referência bíblica fosse utilizada.

    No orkut tem uma comunidade chamada Traduções Tenebrosas em que um cara comenta sobre um livro em que um serial killer matava pessoas com nomes dos apóstolos. Quer dizer, TEM QUE TRADUZIR!

    E se não tiver nenhum motivo especial assim, entra em jogo a questão do marketing e de se acostumar a chamar o personagem de um jeito. Por isso a gente acha um absurdo quando trocaram Puff pra Pooh e não liga de chamar James de Tiago. E por isso todo mundo acha um absurdo também quando fazem versões das músicas (eu nem acho, aliás, desde que seja bem feita). Costume.

    PS. Estudei no Maternal e Jardim Ursinho Puff, então pra mim ele será Puff pra sempre e pronto!

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  4. Ai ai li, tava morrendo de rir com o seu post ^^
    Com a parte da "desgraçada" então, parei de ler e começei a rir mto!! Huahuahua só vc e a esther msm.
    Lembrei que uma vez eu fiquei revoltada pq o sbt colocou um palmo a mais no nome da série (era seis palmos em inglês, no port foi pra sete palmos). Na época fiquei me indagando pq eles colocariam um palmo a mais no nome, hehehe.
    Mas enfim, traduções do sbt são coisas a parte msm. Acho que eles não pesquisam (devem pesquisar, falei que acho que eles não pesquisam no sentido de exagerar msm), eles devem ver o que o Silvio Santos quer. Que nem aquela história de Acapulco ser Guarujá, huahuahua, vai entender o Silvio.
    Ah falei com o Renan sobre a história da chiquinha falar pastel e jogar o bolo, aí ele falou que quando ele era pequeno, ele achava que a chiquinha segurava um pastel mesmo, mas era um pastel diferente! huahuahuahua
    Ai ai
    Bem é isso
    Vc ainda tem que fazer um post dos chaves :P
    E a esther, não escreve mais não??
    =/
    Fala pra ela que os fãs dela estão com saudades :P
    Bjs

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  5. Ah outra coisa, tem uma coisa que eu sempre observo quando o sbt resolve passar "Um maluco no pedaço" (Fresh prince) mais uma vez. São as atualizações de traduções que eles fazem.
    Por exemplo, na parte que o Carlton liga para o presidente, na época da série (pelo menos quando eu via na íntegra sabe, estréia), o Carlton pedia para chamarem o Clinton.
    Aí depois de um tempo, quando o Bush tava no poder, o carlon chamava o Bush.
    Hoje em dia, se a série voltar a passar é bem capaz de ele chamar o Obama!
    Como se o pessoal não soubesse que a época dele NÃO É a nossa época!! Até porque hoje em dia ninguém se veste mais desse jeito (algumas pessoas se vestem... TENSO).

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  6. Ahh mais um comentário, esqueci de falar da SININHO!!!
    Eu achei isso um absurdo também!!! Quando eu vi a Disney fazendo propaganda dos filmes da Tinckerbell (quem é essa??? o.õ), não reconheci que era a sininho, achei que era outra fada, uma amiguinha da sininho (pq era parecidas). Mas depois, EU PERCEBI!!! Aí eu me toquei que eles mudaram o nome dela. Fiquei mto revoltada! Prefiro mil vezes sininho. Se nem eu consegui reconhece-lá, quem dirá ela mesma!!

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  7. Fe, creio que "A Sete Palmos" esteja certo. Porque em inglês é Six Feet Under e aí seriam "A Seis Pés". É outra medida, e ao mesmo tempo uma expressão deles, que foi muito bem traduzida para a nossa.

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  8. Ah, sei lá. As vezes eu me sinto meio ultrajado quando vejo algo que tinha um nome super maneiro lá fora e quando chega aqui passa pela mão do Sílvio Santos e fica quase irreconhecível.

    No caso dos nomes das personagens de Star Wars, a tradução foi realmente necessária!
    Será que os tradutores mantiveram as trocas de letra do Cebolinha? Fiquei curioso para saber.

    Agora, sobre a Sininho, eu gosto de TinkerBell e pra mim não faz diferença ela perder o nome antigo. Essas novas histórias da TinkerBell/Sininho não tem ligação com a saga do Peter Pan, são quase personagens diferentes. Eu vi um filme dela um dia desses e o nome combinou, até chamam ela por um apelido, Tink. Se fosse Sininho como ficaria o apelido? Sino?

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  9. Não ia precisar de apelido nenhum se Tinkerbell fosse bonitinho e fácil de falar igual a Sininho.

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  10. Pra quem perguntou sobre o cebolinha: sim, ele tb troca as letras na versão em inglês, só que não é o R pelo L pq não faria sentido essa confusão em inglês. Se não me engano ele troca o R pelo W (ou vice-versa, não lembro =P)

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