domingo, 31 de julho de 2011

CEO #05: Sem-conceito

Assim como em todas as colunas do CEO já postadas, vou iniciar esta com uma breve explicação do porquê da escolha do tema que será aqui explanado. Não acredito que fará uma grande diferença, mas alguns hábitos e tradições tornam-se interessantes pelo simples prazer da repetição. O mesmo pode ser confirmado pelas pancadas que leva o Sr.Barriga cada vez que chega à famigerada vila ou pelos golpes da Dona Florinda no pobre Seu Madruga.
  
O momento de epifania surgiu em uma noite na qual deveria estar dormindo e em seu lugar decidi passear pelos canais da televisão, procurando qualquer coisa que atraísse minha atenção, levando então um susto (um bom susto) quando me deparei com a Sandy, apesar de não concordar com seus corte e cor de cabelo. Ela falava e eu escutava, como qualquer entrevista televisiva deve acontecer, até que um alerta ressoou quando a mais nova devassa do Brasil disse não ter gostar de drogas - o que, como já explicado na última coluna, é uma ótima resolução para a vida de qualquer indivíduo vivente (vampiros provavelmente não apresentam tal problema) – mas que tampouco tinha preconceito para com os usuários destas.
  
Obviamente Sandoca só buscava que não a considerassem algum tipo de nazista puritana contra narcóticos. Entretanto, não seria de forma alguma “preconceito” o que se encontra nesta situação, mas sim um conceito formado e cientificamente comprovado. Não preciso nem mesmo dizer os males que os tais entorpecentes provocam e a ausência de quaisquer conseqüências benéficas para os próprios os consumidores e aqueles que os cercam. Então, por que diabos preconceito?
Tudo isso se resume a um pavor gigantesco de ser contra, de odiar e até de adorar até que suas forças se acabem. Não se pode detestar drogas ou até mesmo um estilo de música que não lhe diz nada por medo de ser rechaçado por aqueles que pensam diferente. Sutilmente, enxergamos uma censura renovada e mais bonita, agora pintada de tolerância.
  
Certamente exageros e demonstrações violentas de fervor, as quais acarretam feridas externas ou não a outros, não podem ser permitidas, contudo, negar o direito de se pensar como se deseja é um destino inviável e letal.
  
Parece-me ainda patético esse caminho de pedras de mentira em que acobertamos desgostar e detestar em lençóis límpidos de aceitação. O ridículo é ainda mais fomentado por esse novo ideal de sociedade que fala, esperando sempre ser ouvida, sem nem mesmo pensar a respeito. Calar-se não é mais uma opção, porém todos são silenciados indiretamente ao amenizarem e enganarem-se em discursos cheios de ‘sem preconceito’.

As conseqüências dessa belíssima onda de tolerância é uma avalanche de estupidez e de estúpidos que alegam revoltar-se contra esse novo politicamente correto. Eles riem de tragédias e machucam quem já não encontra forças para respirar, justificando seu péssimo comportamento com o colorido desejo de fazer uma humanidade mais irônica, a qual é capaz de gargalhar de si mesma. Declaração tão infundada quanto sua sede de piadas sem-graça.

Apenas acredito que a intensidade deve existir, que os opostos, odiando ou amando, podem conviver sem que haja feridos. Para isso, é preciso permitir que esta seja contida não por meios termos falsificados de pseudoaceitação, e sim pelas barreiras de uma reflexão pacífica semipermeável a mudanças de ideias. Assim essa proposta tola de uniformização de pensamentos pode ser facilmente esquecida. Sendo então calados aqueles que urravam em prol da liberdade para unicamente vomitar asneiras.
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sábado, 23 de julho de 2011

Papai Didi e a modelo Lili

- Esther, Esther, deixa eu te contar as novidades bombásticas que eu vi na internet hoje.

- Ai, lá vem você! Duvido que seja alguma coisa interessante.

- Já sentou?

- Ai, Elisa, por favor! Para com a palhaçada!

- Tá bom. Sabe a filha do Didi?

- Sei, aquela garota feia...

- Ai, Esther, coitada! Ela não tem culpa de ter nascido assim. Além do mais, a beleza interior é o que importa e... vai que ela fica bonita um dia!

- Bom, por enquanto ela ainda está feia. E não sou só eu que acho. Se você começar a digitar no Google “Livian Aragão”, ele completa “Feia”.

- Tá brincando?

- Não, sério. Até o Google acha que a menina é feia. Dá pra prestar atenção no que eu falo? Odeio quando você começa a rir sozinha.

- Mas eu estou prestando atenção. Só que pensei numa piada maléfica aqui, hahaha.

- Fala então.

- Há boatos de que a Record quase colocou ela na capa do livro do Scott Westerfeld.
 
- Caraca, depois eu é que sou a malvada! Mas você não contou ainda. O que é que tem a filha do Didi?

- Pois então. Li hoje que ela vai virar modelo.

- Isso é sério?

- É. Também pensei que fosse coisa do Sensacionalista, mas já tem contrato com agência e tudo! Ela quer ser igual a Gisele Bunchen e tem um altarzinho pra ela em casa, igual a Leandra Borges. Essa parte do altarzinho é mentira.

- Que absurdo! Como ela ousa pronunciar o nome da Santa Gisele Bunchen assim em vão?

- Pelo menos não estava chamando de Gi, igual a Leandra Borges, também.

- MAS QUEM FOI QUE FALOU PRA ESSA MENINA QUE ELA É BONITA?

- Ah, o pai, provavelmente. Sabe aquele papo de “Você é a menina mais linda do mundo”? Pois então, ela acreditou.

- Affe! Esses pais também não colaboram! Ao invés de falar a verdade pros filhos, ficam colocando minhoca na cabeça das crianças.

- Mas como é que um pai fala pra uma filha que ela não tem beleza suficiente pra ser modelo?

- Ia ser mais ou menos assim...
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Filha do Didi, na varanda do jardim, lixando a unha. Didi chega de mansinho e dá um susto na menina:

Didi: Ô, PSITI!

Filha do Didi: Ai, pai! Que susto! Eu já falei pra você que não gosto dessas coisas. Principalmente a parte em que você me chama de Psiti. Mas aproveitando que você está aqui, queria conversar um assunto sério com você.

Didi: Arranjou namoradinho, não foi? Quem é o safado? Cadê o cabra da peste pra eu acabar com a raça dele? Brincadeira, filhinha. Vou receber muito bem o menino, pode trazer aqui em casa sem medo. Quer dizer, desde que não seja ninguém do Zorra Total. É impressionante como aquele pessoal acha que é engraçado.

Filha do Didi: Não, pai. Não é nada disso! O que eu queria falar é que decidi o que quero fazer da vida.

Didi: Que legal, filha! O que vai ser? Vai ser comediante igual ao papai, né? Já que você tocou no assunto, tive uma ideia pro nosso próximo filme...

Filha do Didi: Não, pai! Eu quero ser modelo. Desfilar, tirar foto, essas coisas...

Didi: Lili, minha filha...

Filha do Didi: Ah, sim. Também queria pedir para o Sr. parar de me chamar de Lili. Eu já estou ficando grande. Prefiro que você me chame pelo meu nome: Livian.

Didi: Entendi. Quer desfilar com as próprias pernas, não é? Percebeu a piada? Modelo, desfilar?

Filha do Didi (revirando os olhos): Entendi, pai.

Didi: Mas, sério, Lili...

Filha do Didi: É, Livian, pai!

Didi: Tá certo. Livian, você não acha melhor estudar, fazer uma faculdade, não? Olha só a Debby, está fazendo veterinária na Estácio.

Filha do Didi: Não nasci pra cuidar de vaca, pai. Se for fazer isso um dia, só se for dentro da Fazenda. Meu lugar é nas passarelas.

Didi: Mas é que, filha, as pessoas nesse meio de agência, TV, são altas, e magras e bonitas...

Filha do Didi: Você está me chamando de feia, pai?

Didi: Não, gracinha. Só estou tentando dizer que... talvez as pessoas não consigam enxergar quão bonita você é!

Filha do Didi: Mas pai, o senhor também não é bonito, nem estudou, e está na TV até hoje!

Didi: Ah, filhinha, é que é diferente! Eu sou humorista. Não preciso ser bonito, porque sou engraçado, entendeu?

Filha do Didi: Há controvérsias, né, papai?

(Grilo: Cri-cri, cri-cri...)

Didi: ESCUTA AQUI, SUA MONSTRENGA! VOCÊ NÃO VAI VIRAR MODELO COISA NENHUMA! VAI JÁ PRO SEU QUARTO ESTUDAR PRO VESTIBULAR!

Filha do Didi: Mas, pai, eu só vou prestar vestibular daqui a 5 anos!

Didi: NÃO INTERESSA, VAI ESTUDAR!

Filha do Didi sai chorando pro quarto.

Didi (gritando): E TEM MAIS. NO PRÓXIMO VERÃO, VOU MANDAR VOCÊ PASSAR UMAS FÉRIAS COM O TIO DEDÉ PRA VER O QUE É UM HUMORISTA FRACASSADO!

Didi sai do recinto, reclamando:

Didi: Eu, hein! A gente coloca os filhos no mundo, dá tudo de bom e do melhor e depois ainda tem que aturar esse tipo de desaforo! Queria ver só se ela fosse filha do Mussum, que tem que ficar indo na Sônia Abrão pra pedir pensão! Vou avisar a mãe dela pra cortar ligações com a Sasha. Ela é que deve ser a causa dessa rebeldia toda. Enfim, deixa eu gravar umas chamadas pro Criança Esperança, que elas sim dão valor.

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PS. Depois de fazer o post todinho achei essa entrevista em que ela diz que tudo foi um mal entendido e que na verdade não vai virar modelo. Mas a tal entrevista data de antes do outro link da Caras. Então, sabe-se lá o que se passa na cabeça dela de verdade. Repare que a repórter da Veja é cretina e pergunta se a garota se considera bonita mesmo. Ah, sim, além de Gisele Bunchen, ela gosta da Anne (subiu no meu conceito, haha!).
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sexta-feira, 15 de julho de 2011

What a Difference a Day Made

Vinte anos.
Duas Pessoas.
Um Dia.

Não vou mentir pra você. Meu interesse por Um Dia começou quando saiu o trailer do filme, estrelado por, vamos ver se você adivinha, Anne Hathaway. E sim, é claro que ela estar no elenco foi o estopim para eu ir lá e assistir o trailer e tudo, mas não é todo filme de Anne que eu acho bom (tem alguns que eu acho que devem ser tão ruins, que eu nem vejo, aliás). Acontece que o tal trailer me deixou LOUCA DE VONTADE de ver logo o filme (essa musiquinha é de arrepiar!). Fora as credenciais do negócio, que eram de salivar (Anne Hathaway, baseado em BestSeller, diretora de Educação, produção caprichada...), a própria premissa de Um Dia já despertou o meu interesse porque aquela história do casal que ia se encontrar todo dia 15 de julho nos próximos 20 anos até descobrir que... bom, eles tinham sido feitos um outro prometia romance, drama, um bocadinho de comédia, uma bela reflexão sobre o poder do tempo sobre as pessoas e uma grande possibilidade de ver os últimos 20 anos da história sendo retratados através da literatura.... Sério, eu PRECISAVA saber como isso tudo ia se desenrolar.

Se já tivesse ingresso vendendo, com certeza ele estaria comprado. Mas já que ainda estamos sem previsão de estréia aqui no Brasil (droga!), o jeito foi se “contentar” com o livro pra saber o que aconteceria com Dex e Em, Em e Dex.

Eu e Jamille fizemos contagem regressiva pro lançamento do livro, pesquisamos os melhores preços e mesmo eu comprando antes (no dia 28/05), foi ela quem terminou primeiro (no dia 17/06)* e aí ficou se roendo lá na casa dela até poder comentar comigo, como a gente sempre faz. Não tiro a razão da Jami. Um Dia é um livro que dá essa vontade de comentar MESMO. E quanto mais se comenta, mais se percebe o quão rico ele é.
* E eu terminei no dia 27/06 e levei exatos 15 dias pra acabar a leitura. Demorei a começar por causa de outro livro empacado e como nem sempre dá pra ir sentado no trem (é, foi-se o tempo em que dava pra voltar pra casa sentada na hora do almoço), 15 dias tá bem bom.

A capa*, a contra-capa, e as primeiras páginas de Um Dia trazem dezenas de citações (uma delas do competente Nick Hornby até) que fazem o favor de colocar a sua expectativa nas alturas ao rasgar elogios para a obra de David Nicholls. E acontece que as tais críticas não são exagero. Um Dia é simplesmente EXCELENTE! Me arrisco a dizer que é o melhor livro do ano (mesmo ainda faltando metade dele para acabar) e de fato, um dos melhores livros que eu já li NA VIDA. Uma mistura de Harry e Sally com A Hora da Estrela que me fez rir, chorar e torcer pelo casal. Me deixou inquieta e pensativa. E me fez queimar a língua porque podia jurar que algo não ia acontecer, mas aprovar completamente o que aconteceu ao invés disso, quando eu geralmente não o faço.
*Achamos que a capa ia sair com o pôster LINDO do filme, mas saiu com a capa MANEIRÍSSIMA (sem ironias) da Inglaterra mesmo.

Uma sinopse, só pra dizer que eu não coloquei
Emma e Dexter se conhecem em 1988, no dia da formatura da faculdade, cheios de expectativas, sonhos e dúvidas de uma nova vida que ali começava (porque até a faculdade a vida de estudante já mais ou menos pré-roteirizada, né?).

Mas o que eles não poderiam imaginar é que por mais diferentes que fossem as vidas que levam daquelas que sonhavam ter, a amizade surgida naquele 15 de julho de 1988 continuaria viva nos 20 anos seguintes.

Ao contrário do que o trailer dá a entender, não são eles que se encontram uma vez por ano, todo dia 15 de julho. Na verdade, NÓS é que encontramos Em & Dex, Dex & Em na data em que eles se conheceram, percebendo nitidamente as mudanças nos personagens assim como aquela tia que a gente só vê no Natal e sempre diz: “Olha, como você cresceu!”.

E eu achei isso GENIAL!

Você já tentou pegar um dia qualquer e fazer uma retrospectiva de onde você estava, como você estava e como chegou até ali? Já se pegou imaginando onde e como estará daqui a muito tempo? É mais ou menos isso o que Um Dia faz. No início foi difícil me acostumar com a idéia de que o próximo dia narrado só seria dali a um ano. O dia 16 muitas vezes parecia muito mais interessante do que o dia 15. Mas conforme a leitura fluía, percebia-se que a narrativa do dia seguinte não fazia assim tanta falta e dava para acompanhar a trajetória dos personagens perfeitamente sem ele.

Porque nem sempre OS DIAS são assim tão interessantes. Alguns são uma droga, outros são muito bons e na maioria das vezes, eles são basicamente a mesma coisa. Acontece que quando você começa a colocar os dias espaçados, dentro dos meses e dos anos, aí sim a coisa muda de figura, porque, por mais que um dia seja muito parecido com o outro, quando colocados em perspectiva é que percebemos as mudanças que o tempo faz com a gente (e com tudo, aliás).

Sem uma mão! Sem as duas! Sem os dentes!

No decorrer desses 20 anos, não só são retratadas as transformações que acontecem (ou não) com o casal principal, mas de vez em quando somos colocados para dentro da história quando pitadas de nostalgia do nosso passado recente como Nelson Mandela, walkmans, celulares, pré-estreia de Jurassic Park, decadência das locadoras e Guerra no Iraque são sutilmente pincelados na trama. As referências não são muitas e fazem apenas pano de fundo para os dramas dos personagens. De fato, são bem menos do que eu esperava encontrar.

E é exatamente por isso que não é exagero nenhum chamar Um Dia de “clássico moderno”, como fez um dos críticos citados na capa. (Já até imagino professores daqui a 20 anos passando trabalhos sobre Um Dia. Eu ia adorar fazer um, aliás). Ao concentrar-se nos personagens e deixar de lado as referências históricas, Um Dia torna-se um romance atemporal, apesar das datas. Porque sem dúvida existiu e ainda existirá muita gente compartilhando os dramas de Emma e Dexter, independente do ano em que estejam, ou da tecnologia dominante.

E se a premissa já era boa demais, pra completar, devo acrescentar que ela é muito bem desenvolvida e que David Nicholls é um ótimo escritor. Com diálogos espirituosos, Um Dia equilibra perfeitamente o drama e a comédia (afinal de contas, a própria vida também é feita de dias felizes e de outros não tão felizes assim) e personagens que embora imperfeitos são impossíveis de odiar. Em alguns momentos, Nicholls chega a lembrar o outro autor também inglês Nick Hornby pela maneira despretensiosamente profunda de escrever.

Acontece que David Nicholls é muito mais corajoso do que Nick Hornby. Duvido que Hornby optasse pelo mesmo destino escolhido pelo outro autor. E apesar de me levar às lágrimas em diversos momentos, aprovei a escolha. Não achei despropositado, nem clichê, nem lição de moral. Em Um Dia tudo pode acontecer. Simplesmente.

Podia ter tido outro final? Sim. Mas dificilmente provocaria as mesmas reações e sensações, porque é exatamente nesse momento que o livro, que vinha discutindo o que o tempo faz com a gente, traz à tona a questão do que a gente faz com o tempo. Gostei até da solução que ele arranjou pra armadilha que tinha preparado para si mesmo. Ficou LINDO!

Como muito bem colocou a crítica da Marta Barbosa do UOL: "Um Dia não é um livro sobre o amor. É um livro sobre o tempo. (...) David Nicholls, além de escrever bem, é um cronista do nosso tempo". E a blogueira aqui é absolutamente fascinada por qualquer trama que envolva presente, passado e futuro. Embora eu tenha apenas 21 anos, já dá pra sentir como a própria vida nos conduz a determinados caminhos e embora a gente às vezes queira voltar, sente que não dá mais. Porque o tempo só anda pra frente. Nunca pra trás.

Ah, sim. E o filme parece que vai ser ótimo. Não vai (e nem precisava) ter muitas mudanças e além disso, o próprio escritor, que também é roteirista, foi quem adaptou o texto e garantiu que o espírito é o mesmo. Anne parece que vai arrebentar, o ator que faz o Dexter também. Pena que nem dá pra contar os dias porque ainda estamos sem data de estréia no Brasil. Affe!!!
E já que estamos falando de filmes e estréias, hoje é a estréia mundial do último Harry Potter. Aposto que uma hora dessas, o Dexter está lá na fila com o ingresso comprado pra ver o filme com a filhinha :P

A propósto, esse cabelo é peruca.

Mas enquanto ele não chega, o que VOCÊ está esperando? Sai deste blog e vai ler Um Dia! Vai! Logo! Sério, é MUITO BOM!

Peraí, calma! Deixa um comentário antes, né?

PS. Achei sem querer uma compilação de músicas feitas pelo autor que incluem as mixtapes gravadas pela Emma para o Dexter no livro mais algumas músicas que têm tudo a ver com a história. Dá pra ouvir quase todas (com exceção das músicas dos Beatles. É óbvio que In My Life tinha que estar na lista, né?) na playlist montada pelo pessoal da Intrínseca no GrooveShark. De cara já chamam atenção a presença brasileira de Baby dos Mutantes (no site de Nicholls, ele diz: " Se você nunca ouviu falar de Baby dos Mutantes [...], essa é a hora!") e Lover, You Should Have Come Over do Jeff Buckley. Engraçado que eu já conhecia essa última na voz do meu ídolo Jamie Cullum, mas nunca tinha associado à história! E talvez seja uma das canções que mais se encaixe no contexto do livro! Ora a música parece traduzir os sentimentos de um Dexter arrependido, ora de uma Emma com amor contido. Deixo aqui o link para você conferir sua versão cullumiana. Too young to hold on and too old to just break free and run. GENTE DO CÉU, que letra mais perfeita!!!
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sexta-feira, 8 de julho de 2011

Harry Potter e o Feitiço do Tempo

Acho que eu já comentei aqui algumas vezes que nunca li Harry Potter. Assisto aos filmes, me divirto e saio do cinema sempre satisfeita (não li o livro mesmo, rs) e só. Tenho uma Pottermaníaca em casa com todos os livros e cinco álbuns de figurinhas completos, mas minha aversão a histórias de fantasia ainda não me permitiu encarar a série. No entanto, é impossível não tecer uma opinião sobre a série ou mesmo não desenvolver um certo afeto pelos personagens.

Já houve um tempo em que eu impliquei com a série por causa do gênero, por causa do tema ou por pura implicância mesmo só pra perturbar minha irmã (principalmente esse último, hehe). Faltava maturidade para entender qual era a dessa história infanto-juvenil tão cultuada  e que só agora realmente eu “grande” (ó ironia) fui sacar porque tanta gente (grande, inclusive) acha tão legal.

Ao contrário de outras histórias de fantasia que inundaram as prateleiras e as salas de cinema, o mais legal de Potter não é a saga do escolhido, a luta do bem contra o mal, a batalha épica, blablablá. Essa chatice aí todas elas têm. O diferencial da história de JK Rowling é justamente a paródia do mundo real, as lições de amizade e o amadurecimento dos personagens. Porque no final das contas, Harry Potter é uma série sobre pessoas, haha.

E a referência a Lost não é mera piada. Harry Potter carrega consigo algumas semelhanças com o seriado da ilha perdida (vale lembrar que o Lindelof* é fã assumido do bruxinho) tanto em relação ao alcance do fenômeno, quanto em criação de suspense e em alguns outros truques narrativos. Mas não vou me estender nisso, até porque Harry Potter pode ser uma série sobre pessoas, mas tenho certeza (mesmo não tendo lido, somente de acordo com minha fonte aqui de casa) que o final derradeiro não foi todo mundo indo para luz.
* E ainda bem que não foi o Lindelof que escreveu o final mesmo, porque olha só o que ele DISSE ia fazer. Mas pensando bem, se o final de Lost fosse mais parecido com o ultimo parágrafo, ia ser bem bom.

Mas como eu ia dizendo, o divertido da saga é como ela vai brincando com a realidade em forma de fantasia. E talvez seja isso o que tenha conquistado tantos fãs na última década. Na verdade, é isso o que me faz acompanhar os filmes até hoje e considerar a hipótese de um dia-talvez-quem-sabe-quando-eu-estiver-de-bom-humor começar a ler os livros. Já até comentei aqui que aquilo que eu gostei de verdade em Harry Potter e a Pedra Filosofal foi o fato do Harry ser o caçulinha do time de quadribol, quando eu assumia mais ou menos o mesmo posto no time de handebol na escola. Ah, sim, também sou meio Hermione – a aluna que sabe tudo e só tira nota boa – só que menos cri-cri.

Eu já contei que eu fazia o pomo de ouro com saco de supermercado?

E, olhando mais ou menos de fora, percebo que é esse tipo de identificação que a saga do bruxinho exerce sobre as pessoas. Harry Potter no fundo é a história de todos nós, só que com feitiços em latim e coisas falantes e voadoras. Quem nunca teve um professor que abusa do poder mas não ensina nada, igual a Umbridge? (Eu já! Muitos, aliás! Já criamos até uma espécie de Ordem da Fênix para tentar combatê-los, não é, galera da Info?). Quem nunca dormiu naquela aula chata que todo mundo acha inútil pra caramba, tipo aquela de adivinhação? Quem nunca sofreu com um Draco no seu pé?

Esse professor aí, inclusive, é A CARA de um ex-prefeito aqui de Nilópolis. 
Aqui em casa a gente só chama ele de Neca.

Estão lá também a prova de avaliação geral (os NIEM’s), os bailes, os namoros, os campeonatos intersalas (competição entre as casas) e intercolegiais (torneio tri-bruxo)... O mundo bruxo também tem o seu tablóide sensacionalista estilo Meia Hora com O Profeta Diário (talvez influência da origem britânica da autora), seu Leão Lobo (Rita Skeeter) e até uma espécie de Rua da Alfândega (Beco Diagonal). (Tem Copa do Mundo de Quadribol também, né? Ingleses... Adoram Copa!)

(Pausa para Nostalgia: Cara, eu não estava lá, mas nunca vou esquecer da história da Carol saindo com o cabelo cheio de chocolate e pipoca de dentro da sessão de algum Harry Potter com a Cris e o Felipe e sem saber como isso tinha acontecido! COMO ASSIM???? Coisas de Carol, né, gente!)

Interessante notar que o último capítulo da saga já não carrega a responsabilidade de retratar os eventos de passagem próprios da juventude (repara que agora os atores nem dão mais aquelas entrevistas para a Atrevida respondendo como estão as notas na escola ou como eles são com as garotas). É menos “Olha lá, o Harry vai dar o primeiro beijo” e mais “AI MEU DEUS, VAI TODO MUNDO MORRER”. E esse desespero no fã não é algo infundado e passageiro, porque a doida da escritora realmente ameaçou MATAR o seu protagonista! Só com o filme (e mesmo sabendo o final), eu consegui sentir essa tensão. Imagine só a sensação de quem estava lendo “ao vivo” na época. Quase devem ter morrido do coração!

 Saudades daquele tempo em que a gente respondia perguntas sobre o nosso corte de cabelo, viu?
Mas pelo menos agora ninguém pergunta se a gente acha que o Harry devia morrer ou não.

Também é engraçado ver como aquela história inocente, que ninguém dava nada por ela, realmente virou saga, tomou proporções gigantescas e ganhou até tom político! (Boas séries são assim! Se apresentam de um jeito meio descompromissado - mas interessante - e quando a gente vai ver, estava cheia de cartas na manga e se reinventa váááárias vezes!). Como aqueles personagens não são mais crianças, estão longe da inexperiência dos primeiros capítulos e realmente ficaram amigos durante todo esse tempo (aquela cena da dancinha no HP 7.1 é MATADORA!)...

E olhar as fotos dos atores pequetiticos no primeiro filme e como eles ficaram (o Dan Radcliffe tá bonitinho nesse filme! Nos últimos ele estava sombrancelhudo, mas nesse ele está com um ar inteligente, meio James MacAvoy. Só continua meio vesguinho, haha! – piada interna), ver como eles puderam inclusive amadurecer seu trabalho por conta do crescimento da trama e dos personagens - sem a necessidade de ter de buscar outras produções para provarem seu talento (apesar de tê-lo feito) - é de arrepiar.

E é de arrepiar porque é um processo que não aconteceu só com eles. Ao mesmo tempo em que vimos tudo isso ocorrer do lado de lá das telas, nos lembramos que, ei, não são só os atores e os personagens e as histórias que ficaram mais adultos! Se você tem espelho em casa, vai reparar que VOCÊ também era uma pessoa quando tudo isso começou e outra bem diferente agora, 10 anos depois!

Emma: Meu Deus, olha só o meu cabelo como é que era! Bendito seja o feitiço da escova progressiva!
Daniel: Não acredito que tu tinha coragem de fazer essas caretas, Rupert.
Rupert: Bora tirar outra foto de totem, assim?

É nessa hora você faz um balanço de como era a SUA vida também, dos prazeres (e intrigas) que a série te proporcionou e, principalmente, o que será de você agora que seus personagens preferidos estão prestes a te abandonar. E aí você sente aquela lágrima escorrer pela bochecha. É como se, mesmo que você não tivesse percebido ainda, a tela funcionasse como aquele espelho (não necessariamente mágico) que você esqueceu de olhar antes de sair de casa para te lembrar de tudo isso.

E aí, já se olhou no espelho hoje?

Uma das coisas que eu gosto em finais, aliás, é essa nostalgia de voltar às origens em que você revisita toda a série, todo mundo volta, coisas lá do início são retomadas, tem aquela sensação de que valeu a pena o caminho até ali... Essas coisas que os escritores fazem para deixar os fãs emocionados/felizes (e que eu adoro, diga-se de passagem. O cara que não se esforça para dar esse bônus final não merece o meu respeito).

Só que em Harry Potter, isso não é o bônus do final. Isso aí É o final*. E se Hogwarts é uma metáfora para qualquer colégio “trouxa”, As Relíquias da Morte é como se fosse um verdadeiro vestibular contendo toda a “matéria” que você aprendeu. E o vestibular não só seu, mas dos personagens também.

É isso aí, galera, agora é tudo ou nada. Na dúvida, marca C.

É mais ou menos a mesma fórmula de cada “parte” da história, só que de um jeito macro. Em cada volume apresentavam-se as ferramentas e no final a gente ficava tudo boquiaberto ao descobrir que aquilo que pensávamos não servir pra nada era o pulo da Ms. Norris para gabaritar a prova (prática) de final de ano. Agora, me atrevo a dizer, já não há ferramentas novas a serem conhecidas (cada Horcruxe é mais ou menos um elemento de cada volume anterior!), só a cansativa prova que pode durar alguns dias (um bom motivo poético para a divisão em duas partes). Trocando em miúdos, estava tudo lá  desde o começo, você é que não conseguia ver. E agora fica a com a maior cara de bobo lembrando: “Aahhh, que legal! Isso era da vez que...”.  
* A mulher pensou nisso desde o início. De verdade. Quer dizer, ela diz que sim, mas depois do final bizarro de Lost (que fez mais ou menos a mesma coisa, só que não executou direito) e do George Lucas assumindo que enganou os fãs em Star Wars, não acredito em mais ninguém. Escritor é bicho mentiroso. Mas, afinal, esse é o trabalho deles: inventar histórias para nos divertir. Eles sempre vão dizer que já sabiam onde a série ia parar. Pega mal assumir que você começou uma história que não sabia onde ia descambar.

Pois é, amigo, eu posso até não saber detalhes da trama, mas entendo o que você está sentindo com a proximidade do final da série nos cinemas. Eu mesma que nem tenho essa ligação toda com os personagens fico meio emocionada ao escutar o tema musical composto pelo mestre John Williams* ao surgir símbolo da Warner.
*Não sabe quem é John Williams? É claro que sabe! Os temas dele estão espalhados por todas as chamadas da Sessão da Tarde, até. Pensa aí em qualquer tema instrumental clássico do cinema. Superman? John Williams que fez! Star Wars? Ele de novo! Indiana Jones? Tubarão? Jurssic Park? ET? Esqueceram de Mim? Pois é, tudo John Williams. Pode falar, o cara é muito gênio, né não?

Se Potter vai sobreviver aos feitiços do tempo, só o próprio tempo é que pode responder. Eu acho que vai. Porque algo que causa esse tipo de tumulto por mais de 10 anos, sucesso de público e de crítica, e que tem uma relação mais que passional entre apreciador e obra, para ser derrotado, teria que enfrentar um outro feitiço muito mais poderoso. Contudo, mais do que magia, isso vai depender muito mais das ações reais de quem faz o tempo do que do tempo em si.

 E eu nem estava falando de usar o vira-tempo aqui, mas...

Agora, uma coisa é certa: se o tempo tem a sua própria mágica de tornar eterno ou não aquilo que um dia foi fenômeno, o cinema e a literatura possuem uma magia ainda mais forte porque, daqui pra frente, estaremos todos à mercê dos poderes do mesmo, mas nossos personagens favoritos estarão lá, jovens e intactos, pregando uma bela peça no senhor da razão.

Numa boa, ter um desses ia facilitar MUITO a minha vida. #prontofalei
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