sexta-feira, 25 de maio de 2012

In

Lembro que numa das primeiras cenas de A História Sem Fim 3, aquele menino que antes fazia Free Willy aparecia colocando gel no cabelo para que ele ficasse espetado, tipo o do Caju do Cruj. A intenção era não fazer feio no primeiro dia de aula. Sua irmã mais velha, ao ver tal cena, não perde a chance de zoar o maninho. Ele retruca dizendo que o “visual Sonic” é muito in. A irmã completa: “Só se for in de indecente, imbecil e indiscutivelmente idiota”.

(Eu posso ter preenchido algumas lacunas com imaginação nessa cena. Não me lembro tão bem assim desse filme. Na verdade, só lembro dessa parte. E pelo visto, nem dela eu lembro direito)

Nunca me considerei uma pessoa in. Nos dois sentidos. Não sou aquela que está antenada com todas as tendências, conhece os lugares mais badalados, já trocou pelo menos uma palavrinha com todo mundo em uma festa... E também não fico fazendo esculturas no cabelo ou arriscando tudo no visual para merecer os "elogios" feitos ao garoto da História Sem Fim.

Sempre fui a garota cdf da turma. A inteligente. Aquela que só tira 10.

No entanto, tampouco me considero a garota introspectiva, incomum e inexpressiva como algumas pessoas podem pensar no primeiro momento em que me conhecem. Internamente, acho que sou mais tímida e mais extrovertida, mais rebelde e mais careta do que a maioria imagina (por mais paradoxal que isso possa parecer).

É bem verdade que na primeira série eu já fui considerada “a menina mais quieta da turma”. Mas isso é só porque eu estava em um colégio novo, não conhecia ninguém e não conversava durante as explicações. O rótulo não resistiu à segunda série.

Já estou mais ou menos acostumada com esse tipo de reação. Primeiro o povo acha que eu sou tímida, não tenho emoções e nem vida. Dali a pouco descobrem que eu falo, rio alto e adoro uma bagunça. E quando isso acontece, elas ficam impressionadas. Acham que eu mudei. E querem levar o crédito por isso! Haha!

O lance é que tudo depende muito do ambiente. E acho isso muito natural.

A Elisa do colégio tem comportamento diferente da Elisa da faculdade, que é diferente Elisa do trabalho, que é diferente da Elisa que chega à casa, que é diferente da Elisa da internet...

No fim, é claro que eu não tenho distúrbio de personalidade, e sou a mesma Elisa, apesar de tudo. Só que existe uma espécie de filtro nas conversas (e no comportamento em geral) que varia de acordo com a situação. Acredito que seja assim com todo mundo.

Tem vezes em que sou o centro das atenções nas conversas. Tem vezes que só balanço a cabeça e concordo (ou finjo que concordo) com tudo. Posso contar várias histórias engraçadas e fazer todo mundo rir o tempo todo. Ou posso ficar na minha, observando tudo e só rindo das histórias dos outros.

Geralmente sou mais calada com gente que não conheço (o que contribui para a primeira impressão inexata que comentei). Mas não vou sair contando minha vida toda no primeiro momento. Preciso confiar no interlocutor. Saber que ele não vai me julgar. Que não vai sair explanando tudo para qualquer pessoa, assim inadvertidamente. Ter uma certa intimidade. Será que isso é tão errado?

Com o tempo vou me soltando. Agindo sem tanto pensar. Falando abobrinhas inimagináveis. E surpreendendo àqueles que achavam que já me conheciam o suficiente.

Mas, pode ser que o ambiente não mude tanto assim e aí eu continue sendo a quietinha, certinha, antissocial pra sempre. Quando eu percebo que tudo o que eu disser pode ser usado contra mim, prefiro falar o mínimo possível.

Mas isso é porque o conceito de simpática, doidinha e sociável geralmente inclui bebidas, festa de pegação e discussão de assuntos polêmicos. Aí realmente a minha vida se torna muito chata. Não tenho que, não quero e não vou competir com isso. Se quiserem continuar com i(n)gnorância da primeira impressão lá do começo, é uma pena, porque eles é que vão perder a oportunidade de ver a pessoa legal e interessante que eu sou. Deixe que digam que pensem que falem que eu sou ingênua, insossa e insalubre.

Tem gente que não entende que não é preciso ser igual para ser normal. Tem gente que é inflexível, intransigente. Tem gente que não entende que certos assuntos não freqüentam certos ambientes e depois acha errado que os outros em volta fiquem insatisfeitos.

E por mais que eu tente ser indiferente e pense que eles é que são indignos de partilhar da minha sabedoria, às vezes isso é muito incômodo. Um saco, pra falar a verdade!

Saber que você não pode ser você mesmo, por completo, porque é considerado um outsider. Um estranho no ninho. Um peixe fora d’água. Um patinho feio. A ovelha negra. Uma Sandy.

Sim, Sandy. Usei seu nome de propósito porque a cantora é o exemplo perfeito (ou discutivelmente perfeito) do poder da imagem sobre uma pessoa.

Desde que eu me entendo por gente, vejo Sandy dizer-se incompreendida, e se defender das declarações que a acusam de princesa “mimada, Rapunzel aprisionada”, sem graça, chata, feia e boba.

De certo modo, me i(n)dentifico com Dona Sandy. Realmente é bastante indigesto você ter que aguentar todo mundo te olhando torto e te julgando e ter que explicar que você é uma pessoa normal, não é um ET, e gosta de se divertir, só não partilha das mesmas ideias da maioria.

Mas, hoje em dia, acho inclusive que Sandoca já se aproveite um pouco disso para atiçar o imaginário popular e criar um burburinho com o próprio nome, sim. A menina já está nisso há mais de 20 anos e sabe que tudo o que fala vira noticia. (Aliás, menina, não! Já tem mais de 10 anos que ela cresceu agora e é mulher!) Seria muita ingenuidade nossa colocar TODA a culpa na mídia.

A diferença é que não vou fazer nada insensato ou indecente como subir na mesa dançando Conga Conga e começar a falar palavrão para mudar a imagem até porque não estou ganhando nada pra isso tenho que ficar me explicando, dando satisfação da minha vida pra ninguém.

Quanto mais intrometida, indelicada e insensível for a pessoa, mais introspectiva eu fico. Deixo ela pensar que está abafando, já que muitas vezes a argumentação é impossível. Se tiver muita gente falando muito, eu me calo. Acho que minha voz não se faz necessária. Elas já estão se divertindo o suficiente, independem da minha contribuição. A não ser que eu tenha extrema certeza de que o que está sendo dito é uma completa asneira. Aí eu tenho que me meter e corrigir, às vezes correndo o risco de passar por estraga-prazer. (E às vezes eu faço isso só de vingança, pra esfregar na cara delas como elas são idiotas também).

Mas, quando acontece o contrário, no meio de muita gente tímida, é engraçado porque eu falo à beça. Parece que quanto mais introvertidos os interlocutores, maior a necessidade de preencher o espaço com palavras, maior a responsabilidade de não deixar ninguém ficar de fora. E aí aparece uma Elisa extrovertida, eloquente, e bobilda além da conta, soltando mil piadas por minuto a fim de quebrar o gelo, e tentando a todo custo fazer o pessoal se entrosar. Talvez por saber como é insuportável estar nessa situação, me recuso a deixar que os outros se sintam outsiders. Estranhos nos ninho. Peixes fora d’água, etc...

Ser considerado in ou out, estar por dentro ou por fora, na verdade é uma questão de ponto de vista. Experimente observar o passarinho, o peixe e os cisnes em seu habitat natural. Garanto que você é que vai se sentir o estranho e esquisito. Nesse contexto, você pode ser considerado in também. Mas só se for de indesejado.
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sexta-feira, 18 de maio de 2012

Sobre Shakespeare e Chaves

Eu confesso. Não sou muito chegada nos clássicos. Não tenho muita paciência para aquele vocabulário rebuscado, para aquelas histórias em que nada acontece durante páginas, para ter que ficar dizendo para mim mesma que eram outros tempos e que na época as pessoas tinham outra cabeça... Às vezes eu até tento encarar uma leitura dessas, mas sempre acabo dormindo, ficando com raiva de alguma coisa no mundo, me cansando e largando o livro.

No entanto, nada disso acontece com Shakespeare. Por que, apesar de ser do período renascentista (que antecede praticamente toda essa galera que a gente estuda na escola: romantismo, realismo, parnasianismo, modernismo...), ele é mais atual do que todos eles juntos.

Will.I.am Shakespeare

Ao pegar uma peça de Shakepeare, não se tem a impressão de que são histórias datadas, ou paradas, ou inacessíveis aos reles mortais. Ao pegar uma peça de Shakepeare, a sensação que se tem é justamente a oposta. A de que elas poderiam estar (e ESTÃO!) na tela dos cinemas, da TV, no meio desse povo, e com certeza a gente vê na Globo (ou no SBT). As histórias que Shakespeare escreveu há uns 500 nos atrás continuam a se repetir e a inspirar praticamente tudo o que é dramaturgia hoje em dia. E são absolutamente populares! Tanto é que permeiam os sucessos mais inusitados (alguns deles eu tenho quase certeza que o fazem revirar-se no túmulo).

William (Shakepeare é muito difícil de escrever, foi mal) escreveu 38 peças entre comédias e tragédias, além dos inúmeros poemas. Mas, nada disso teria valido a pena, se ele não tivesse encontrado o amor nos braços da linda, simpática e talentosa Anne Hathaway.

Sacanagem, é claro que não é essa. 
Mas a foto é de uma cena de Noite de Reis*.

Tenho absoluta certeza que se fosse hoje, ele ia fazer o maior sucesso. Isso porque suas obras por mais complexas que sejam, ao mesmo tempo são muito simples. E populares! Cheias de reviravoltas e cenas marcantes, o trabalho de tio William era apresentado para as massas e sem dúvida, hoje em dia, seria um ótimo trunfo para atrair a “nova classe C”! Não à toa, dizem, Ricardo III já frequentou o horário nobre através de Flora em  Favorita e A megera domada já deu às caras umas 2 vezes no Vale a Pena Ver de Novo através de O cravo e a Rosa. E se você parar para pensar, muitos dos truques novelísticos usados à exaustão já estavam lá, nas obras bardo, há meio milênio de história, iluminando o caminho de qualquer dramaturgo até os dias de hoje! O que quer dizer que talvez o mundo não tenha mudado tanto assim nos últimos 500 anos, afinal na de contas.
* Lembra quando o Homem de Ferro ironiza o Thor, perguntando se aquilo tudo era "Shakespeare in Park"? Então era isso aí que a Anne fez. É um projeto de encenar peças do bardo em pleno Central Park, inteiramente de grátis.

Shakespeare conduz o público (ou o leitor) através da história pela mão e nos momentos cruciais o larga exatamente onde quer, deixando o espectador inquieto, mordendo as unhas, com o coração apertado.

Uma das coisas de que mais gosto é como ele sempre adiciona referências metalinguísticas ao gênero do teatro, como se ao mesmo tempo prestasse uma homenagem a seus atores e desse uma piscadela para o espectador logo à frente. Um exemplo disso é incluir (mais de uma vez) cenas em que personagens femininos fingem-se de homens, sendo que esses personagens já eram interpretados por homens mesmo! E apesar do linguajar sofisticado (pra falar a verdade, a leitura de um Shakespeare não chega a ser tão fluída, dependendo da tradução, mas também não chega a ser nenhum martírio), e do romantismo exacerbado e das grandes declarações de amor, e dos monólogos intermináveis, pode reparar só, sempre rola uma piadinha suja, estilo 2 Broke Girls!

Eu não estou participando do Desafio 6MS, mas acabou que o projeto reacendeu minha vontade de cozinhar esse post (acredite, ele já estava de molho há muito tempo) e de ler alguns outros exemplares de tio William que já estavam aqui em casa. Então, se vocês não se importam, comentarei brevemente algumas de suas obras logo abaixo daquele jeito herege do Inútil.

A Comédia dos Erros: A história é a seguinte: dois pares de gêmeos (2x Antífolo e Drômio) são separados “na maternidade”. (Atenção: Não são quadrigêmeos! São 2 gêmeos + 2 gêmeos, sacou?) Um dos pares vai para Siracusa, com o pai (Egeu). O outro vai para Éfeso. 25 anos depois, o pai é condenado à morte em Éfeso por ter violado a fronteira das duas cidades. Com todo mundo na mesma cidade, é óbvio que vão rolar muitas confusões na sua Sessão da Tarde. A Comédia dos Erros é praticamente um episódio de Chaves inteiro. É pastelão até dizer chega, com direito a muitos cascudos a la Seu Madruga na cabeça dos escravos Drômios. E o que dizer dos ciúmes das mulheres? Adriana ficou doidinha, e a irmã dela também! Não era pra menos! Com dois pares de gêmeos, os dois com os mesmos nomes, e nenhum deles possuindo alguma personalidade do mal, fica difícil diferenciar mesmo!


O Mercador de Veneza: Na cidade de Veneza, no século XVI, Bassanio pede a Antonio o empréstimo de três mil ducados para que possa cortejar Portia. Antonio é rico, mas todo seu dinheiro está comprometido em empreendimentos no exterior. Assim ele recorre ao judeu Shylock, que vinha esperando uma oportunidade para se vingar de Antonio. O agiota impõe uma condição absurda: se o empréstimo não for pago em três meses, Antonio dará um pedaço de sua própria carne a Shylock. No finalzinho é uma aula de Direito! Mas também no finalzinho tem mais aquela cena do anel uma cena que podia estar em qualquer comédia romântica, numa boa. Fiquei aqui pensando que se o Seu Barriga e o Shylock se encontram, vou te contar, seria o fim do Seu Madruga, que nunca paga o aluguel!


Hamlet é um novelão! Folhetinesco, dramático, emocionante! A peça, passada na Dinamarca, reconta a história de como o Príncipe Hamlet, tenta vingar a morte de seu pai Hamlet, o rei, executando seu tio Cláudio, que o envenenou e em seguida tomou o trono casando-se com a mãe de Hamlet. Rei Leão respira Hamlet. O integrante dos vingadores Thor também! (Não à toa o diretor do Thor é Kenneth Branagh - um cara conhecido por sua familiaridade com o texto shakespeariano, uma vez que já adaptou 5 de suas peças para os cinemas, mas que você deve conhecê-lo mesmo por causa do professor sósia do Neca Gilderoy Lockhart de Harry Potter ;P) O mais engraçado é que as duas frases mais famosas da peça “Ser ou não ser, eis a questão”, "Existe algo de estranho no reino da Dinamarca", “Há mais mistérios entre o céu e a terra do que supõe a nossa vã filosofia” são quase imperceptíveis! Gostei muito mais das reflexões acerca dos corpos que viram comida de minhoca, que adubam a terra, de onde são tirados os alimentos (nojentão!). E eu esse tempo todo achando que a Profª Deborah tinha sido original lá na 8ª série quando citou “self-service de verme” como eufemismo para morte! Que nada! Era Shakespeare puro! No fim das contas, a grande lição de Hamlet também pode ser encontrada nas palavras do maior filósofo de nossa geração: Seu Madruga.

Seu Madruga sobre Hamlet

Sonhos de uma Noite de Verão: Lisandro ama Hérmia que ama Lisandro e é amada por Demétrio, que é amado por Helena, que não é amada por ninguém. Se perdeu? Melhor desenhar.

Triângulo amoroso é coisa do passado...

Só que aí Oberon (uma fada macho, ou seja, um fado) faz um feitiço que era pra consertar essa história, mas acaba por confundir tudo de novo! E ficamos assim: Demétrio ama Helena, que ama Demétrio e é amada por Lisandro, que é amado por Hérmia. 

...agora a moda é.. desfazer o feitiço e ajeitar tudo de novo! #nãoseirimar

Imagina só como a Hérmia, acostumada a ter dois arrastando asa pra ela, ficou quando percebeu que agora a amiga fura-olho é que tinha virado o centro das atenções dos dois rapazes? Uma palhaça, né? E a melhor parte é que ela fala isso mesmo! Com essas palavras!

No meio disso tudo ainda tem um casamento, um grupo de teatro que ensaia uma peça (ruim pra caramba – mas fiquei com a maior do dó da pecinha dos caras, apesar de tudo, era de coração) para ser apresentada nesse casamento, um duende, um cara com cara de burro e uma (sa)fada que cai de amores pelo burro.

Sou fã desse filme só porque fizeram uma versão musical de Sonhos. E tiveram a heresia de mudar o final! Pra fazer tio William se revirar no túmulo, diz aí?

Obs.: Tem um infográfico direito aqui no link.

Romeu e Julieta: No baile de máscaras, Romeu se apaixona por Julieta. Isso não seria problema algum se ele não fosse um Montecchio e ela não fosse uma Capuleto. Duas famílias absolutamente inimigas! E agora? Quem poderá lhes defender? (Como Roberto Bolaños tem claramente inspiração na obra do bardo, é óbvio que não podia faltar um especial do Chapolin com Romeu e Julieta, não é?) A história de amor mais famosa do mundo é acima de tudo envolvente. Mesmo não concordando com metade das atitudes dos dois, e já sabendo o final, me peguei gritando pro livro: “NÃO BEBE O CÁLICE, SEU IDIOTA! ELA TÁ VIVA!”. Romeu e Julieta está presente em qualquer história de amor proibido e já ganhou releituras das mais diversas que vão desde Gnomos, rivalidade de times e até uma com a Hebe. Tem um filme do Baz Luhrman (aquele de Moulin Rouge) com Leo Dicaprio e Claire Daines em que todos os cenários e figurinos são contemporâneos, mas o texto é o original, com todos aqueles floreios de linguagem. O mais legal de Romeu e Julieta é que se você parar pra pensar, mal entendidos como o não envio da carta acontecem até hoje, mesmo com quase ninguém indo até os correios! Ou nunca aconteceu de você se desencontrar de alguém porque o celular estava sem créditos ou sem bateria? Rola um boato de que está sendo produzido um “Romeu e Julieta pra geração Crepúsculo”. MEDO!

Onde tem mais facadas? Shakespeare ou Pânico?

Próxima parada: MacBeth – a peça maldita!
Se bem que depois desse post eu já devo estar mesmo amaldiçoada até a 5ª geração!
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sexta-feira, 11 de maio de 2012

A volta dos que não foram

Você percebe que está ficando velho quando começa a notar que assistiu às versões originais na época de sua estréia de atuais reboots ou remakes que hoje fazem reboliço na mídia. E do jeito que as coisas andam ultimamente, não é preciso ter mais do que 15 anos para ter esse tipo de sensação. É o que aconteceu com o Homem-Aranha, que volta às telas completamente renovado nessas férias, somente 10 anos após sua primeira estréia, em 2002. Também esse ano chega às telas o aguardado final da trilogia do Batman sob a batuta do diretor Chris Nolan. Trilogia essa que já nasceu readaptada e que, corre à boca miúda, pode ganhar mais uma releitura em seqüência tal qual aconteceu com o Aranha.

Na onda do ecologicamente correto, um conceito que faz muito sucesso é o da reciclagem. Reaproveitar aquilo que já não é mais útil e evitar o desperdício são as ordens em um tempo em que a população mundial atinge a marca dos 8 bilhões e o meio ambiente dá sinais de derrota na guerra contra o consumismo. Mas, enquanto a reciclagem de papel, plástico, alumínio, etc, ainda parece engatinhar, em Hollywood, a reciclagem de ideias funciona de vento em pompa.

A cada ano que passa, a proporção de seqüências, remakes, reinícios, adaptações, releituras, etc aumenta consideravelmente em detrimento do espaço oferecido a novas histórias, roteiros originais, propostas diferentes na telona. Em 2011, foram nada menos do que 27 sequências estreando (um recorde que pertencia ao ano de 2003, com 23 delas). Isso porque, principalmente, ao contrário do reaproveitamento ecológico, a reciclagem de ideias dá dinheiro e faz muito bem aos cofres dos executivos, que, em tempos de crise, não querem saber de trocar o certo pelo duvidoso. Mas será que ela traz algum benefício para o ambiente e para a sociedade num geral? Será que chegará o dia em que só teremos ideias repetidas e conversões para 3D sendo vendidas como novidade?

Eu pessoalmente não tenho nada contra seqüências, prelúdios (prequência é sua MÃE, tradutor preguiçoso!), remakes, etc. Entendo que é um modelo lucrativo para a indústria e me deixo levar pela promoção exagerada da mídia mesmo. O que me incomoda de verdade é a sensação de que elas só estão sendo feitas por causa da ganância de algum produtor picareta que não sabe a hora de parar! Quando esses desgraçados querem ressuscitar alguma franquia há muito adormecida e que vive muito bem em nossa memória afetiva desse jeito! Quando está claro que nada que seja feito com aqueles personagens vá acrescentar mais alguma coisa pra ninguém!

Por isso, sempre que vejo o anúncio de uma dessas seqüências inusitadas, penso comigo mesma:
“PRA QUÊ???? POR QUE VOCÊS TÊM QUE ESTRAGAR TUDO? POR QUÊ???? POR QUÊ? POR QUÊ????”

Afinal, se o filme é bom, para que refazer? E se é ruim, não está claro que trazê-lo de volta das tumbas é um erro? No caso das seqüências, se a série terminou tão bem, pra que exumar o corpo?

Pode ser difícil de acreditar, mas, às vezes existem motivos além dos óbvios (leia-se $$$) que fazem esse tipo de projeto andar pra frente.

1. Falta de Criatividade
Será que todas as histórias do mundo já foram contadas? Onde foram parar as boas ideias? Se o mundo muda o tempo todo, por que as histórias continuam a se repetir tanto na tela? – o que nos leva ao motivo nº 2.

2. Atualizar a franquia e apresentá-la aos mais jovens
Pois é, o mundo gira, e muda, e se transforma e, ao mesmo tempo...não muda NADA! Fora os aparatos tecnológicos, alguns motes continuam intactos e absurdamente atuais! Daí importância talvez de apresentar aquelas histórias icônicas aos mais jovens, para que elas permaneçam contemporâneas e eles tenham oportunidade de também poder chamar aquela franquia de sua. – o que nos leva ao motivo nº3.

3. Prestar uma homenagem ao original
Se o item anterior mira as atenções nas novas gerações, este aqui foca no pessoal que já tem um certo envolvimento afetivo com a saga. Afinal de contas quando uma franquia tem personagens muito queridos, é inevitável a saudade que se sente daqueles caras que você aprendeu a amar por tanto tempo. Assim, um remake, reboot, seqüência, especial de fim de ano, ou o que quer que seja, não deixa de ser uma oportunidade de promover o reencontro de grandes amigos (ou grandes cenas) com o público, nostálgico, também. 

Pois bem. Quando eu vi a notícia de que iam fazer um Pânico 4, eu pensei exatamente aquilo que eu penso sempre:
 
PRA QUÊ???? POR QUE VOCÊS TÊM QUE ESTRAGAR TUDO? POR QUÊ???? VOCÊS NÃO TINHAM PROMETIDO QUE TINHA ACABADO?

E à medida em que surgiam as imagens promocionais, os reforços no elenco, os trailers, e as críticas, eu sentia que minha língua começar a arder. Eu bem que quis assistir ao filme no ano passado, quando saiu, mas, cadê que eu consegui arrastar alguém pra ir comigo? (Você vai dizer que eu podia baixar o filme, mas tenho muita preguiça pra esse tipo de coisa) Então, a experiência de ver Pânico 4 foi adiada para TV, um ano depois. E, como eu já previa, QUEIMEI MINHA LÍNGUA, e com prazer. Roteiro genial, metalinguagem elevada à quarta potência, divertido, inteligente e muito relevante dentro do contexto em que se encontra.

Pânico surgiu em 1996, deu novo gás ao gênero do terror adolescente e virou figurinha carimbada na geral dos estádios brasileiros. O filme fez sucesso ao brincar com as tais regras dos filmes de terror e se diferencia de seus similares por apostar na metalinguagem. A paródia ao gênero é tanta que Pânico não chega nem a ser terror e sim, terrir. 

Galvão: Olha lá a alegria do torcedor! Aquele ali está fantasiado de uma espécie de fantasma...(Produção entra em contato). É o Pânico! 

(Aos desavisados, eu ainda estou falando de Pânico, a franquia original. E não daquele lixo que é Todo Mundo em Pânico! Tenho ódio profundo dessa praga dessas paródias primeiro porque elas não têm a mínima graça, e depois porque até fazer as pessoas entenderem que Pânico em si já era uma paródia – essa sim, inteligente e engraçada - é um custo!)

Como esquecer da cabeça que continua falando mesmo decapitada em Pânico 2? Ou do melhor diálogo da série, entre Courtney Cox e David Arquette*?

C. Cox: Você guardou o telefone na memória?
D. Arquette faz careta, como se tentasse lembrar o número.
C. Cox: Na memória do celular, seu idiota!
(Viu só, gente! Terrir!)

* Interessante como a série está sempre presente em momentos importantes do relacionamento dos dois. Eles se conheceram em Pânico 1, namoravam em Pânico 2, casaram na época de Pânico 3 e divorciaram em Pânico 4! Será que com um Pânico 5, eles se reconciliam?

Palma, Palma, Palma, Não priemos cânico!

Pânico não se leva a sério. E é por isso que eu gosto.

O que não quer dizer que ele não tenha consciência de seu papel na mídia ou na cultura pop. A cada filme que se passa, praticamente tudo o que é falado dos anteriores acaba por virar auto-referência, como se os roteiristas compartilhassem uma piada particular com o público.

E é exatamente desse jeito que voltamos à Woodsboro, 11 anos após o fim do terceiro filme (e teoricamente o fim da trilogia).

Logo na seqüência inicial o filme diz a que veio com o filme dentro do filme dentro do filme (quase uma Origem dos filmes de terror) e me ganhou sem fazer esforço. Se ainda havia alguma revolta em mim por conta da existência desse 4º episódio, ela foi embora já nos 10 minutos iniciais. Porque Pânico brinca com o fato de ser uma continuação inesperada e com todos esses filmes de terror sem graça que têm milhões de seqüências que em nada acrescentam (sim, Jogos Mortais, é de você que eu estou falando)!

Não bastasse isso, o roteiro ainda dá um jeito de reinventar a franquia (lembra do item nº 2?) sem esquecer de seus personagens principais de outrora, o que traz até um ar de nostalgia para o antigo fã (cumprindo com louvor a tarefa do item nº3!).

Sidney escreveu um livro de auto-ajuda (Ha!) e resolve encerrar sua turnê de divulgação na sua cidade natal, onde sobreviveu a uma série de terríveis assassinatos. E ela chega em péssima hora, pois, durante as festividades do aniversário das mortes (sim, os adolescentes da cidade comemoram isso assistindo a todos os 7 filmes – Ha! De novo! - da saga baseada nos massacres motivados pelo ódio a Sidney), o Ghostface volta a atacar novamente. Também reencontramos Gale (Cox) e Dewey (Arquette), que, enfrentando uma crise no casamento (ó, ironia!), vão ajudar a desvendar a identidade de mais um assassino, no meio de toda a garotada nova.


E ao retomar a franquia 11 anos depois, Pânico acerta justamente por incorporar tudo aquilo o que mudou durante esse tempo (desde os celulares e conexão via streaming, passando pelo elenco jovem e renovado, com pontas de praticamente toda uma galera que faz/fazia sucesso nas séries teen da TV), mas também retomar tudo aquilo que fez o público gostar da série como as piadas, a metalinguagem, os sustos, aquela groselha descarada e principalmente o elenco original (ou o que sobrou dele), ao contrário do que fazem algumas seqüências inesperadas*.
* Essa é uma das manias mais picaretas de Hollywood. Ressuscitar franquias com outros atores nos papéis principais que não tem a metade do carisma dos antigos e fazem os outros filmes com um terço da qualidade. Muitas vezes a história é exatamente a mesma, só mudam os rostos mesmo. Existem muitos exemplos desse tipo de picaretagem, mas um dos casos mais curiosos é Um Príncipe em Minha Vida. No segundo filme, o elenco já não conta com a Julie Stiles, só sobrando o tal príncipe do casal. E no terceiro, nem ele dá as caras! Ou seja, zero conexão com o público. 

Com o argumento de que o novo Ghostface está produzindo um remake, o filme se enriquece com as tradicionais regras (dessa vez das refilmagens) e ainda deixa implícita a crítica à moda de produzir remakes (principalmente do gênero do terror) surgida no hiato da série que, muitas vezes, só fazem f*** com o original. E, mesmo apresentando uma proposta assim, Pânico não deixa de prestar sua homenagem a outros filmes do gênero (aqui representada, veja só, pela nova turma que acabou de chegar à franquia!) ou de oferecer um final de cair o queixo, como sempre! Um mega de um meta-filme!

Ao fim da película, fiquei com duas certezas:

1) Mesmo preferindo ver coisas novas no cinema, se for pra fazer seqüências, remakes, reboots, releituras, ou o que quer que seja, desse jeito, quem sou pra não concordar com a ideia?; e

2) Se me perguntarem, eu não sei você, mas Pânico é de longe o meu filme de terror favorito.

A propósito, essa cena NÃO está no filme!

Aproveitando o tema, deixo no ar algumas perguntas: Qual o seu filme de terror favorito? 
1) O que você acha de cada vez mais termos cada vez menos ideias originais circulando? (E eu dei ênfase ao cinema, mas na verdade serve pra tudo: TV, literatura...)
2) Qual a seqüência/reboot/remake que faz você ter vontade de esfaquear os produtores do projeto?
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quinta-feira, 3 de maio de 2012

Contemporâneo

Há um pouco mais de 3 anos, eu comecei com esse blog que, entre outras coisas, tinha como missão relembrar histórias, revisitar o passado e tirar a poeira da memória. De lá pra cá, sinto que objetivo vem sendo cumprido e posso perceber minha nostalgia sendo reconhecida e refletida nos comentários dos leitores de forma bastante acolhedora e amigável. Quando alguém fala em Nostalgia, e principalmente em Inútil Nostalgia, muitas vezes a associação feita vem diretamente ao meu encontro.

Pois bem, o que eu queria dizer hoje para você é que eu sou uma farsa.

Não consigo assistir a filmes em preto e branco. Não tenho vontade de escutar os vinis antigos do meu avô. Não partilho do ideal que diz que “tudo o que é antigo é que é bom” e dificilmente acho mesmo os clássicos (inclusive os mais recentes) essa genialidade toda.

Não que haja necessariamente algo de errado com eles. Mas geralmente parece que... falta alguma coisa. O ritmo era diferente. Mais lento, mais simples, sem tantas reviravoltas ou inventividades. (E no meu mundo, as coisas acontecem rápido, muito rápido.) De alguma forma, sinto que eles não dizem respeito a mim. Não me pertencem.

Falta-me o contexto da época em que foram lançados para entender a razão de tanto frenesi. Falta-me a cabeça de outros tempos para não ficar esperando as explosões ou músicas na trilha sonora. Falta um empurrãozinho da mídia para transformar aquilo que é antigo em contemporâneo. Porque o texto mesmo (e por texto eu não me refiro só a palavras, mas a tudo que pode ser interpretado) não é nada sem o contexto que lhe rodeie.

O processo de identificação funciona na medida em que é possível enxergar o próprio reflexo em outra “superfície”. Mas como conseguir me identificar se o espelho parece já tão embaçado? Querendo ou não, somos todos produtos do nosso tempo. Assim como o tempo não deixa de ser produto de nossos hábitos.

Não sou apaixonada pelo passado, nem o acho nada glamouroso, como o Gil de Meia Noite em Paris.

Tenho algum encanto pela década de 80, talvez o berço da cultura pop como conhecemos hoje (com direito a muita coisa trash inclusive, porém, aparentemente, mais divertido, mais homogêneo e sem tantas dissidências ou rótulos), mas não sinto vontade nenhuma de viver naquele tempo. Houve uma época em que até passava pela minha cabeça essa história de “ter nascido tarde demais”, mas só de pensar que teria de viver em um tempo em quase ninguém tinha telefone, ninguém sabia o que era internet e todo mundo usava ombreiras, eu já descartava logo a ideia. Sou fruto da década de 90, habitante dos anos 2000 e tenho muito orgulho disso.

Para quem não assistiu ao filme de Woody Allen, Gil (Owen Wilson encarnando praticamente um alter-ego de Allen - repare como a cadência de sua fala é idêntica a do diretor, quando este estava ante as câmeras) é um roteirista de sucesso e aspirante a escritor apaixonado por Paris. Não essa Paris do século XXI, mas, principalmente, a Paris dos anos 20. Uma nostalgia cega, uma vez que ele nunca sequer vivenciou aquele tempo. E eis que durante a viagem à cidade-luz com sua noiva, ele pega um carro, à meia-noite, e vai parar na Paris de seus sonhos. Lá ele passa a conviver diariamente com todos seus ídolos da arte, música e literatura.

O filme é uma delícia. Engraçado e fantasioso, a película usa a cidade mais romântica do mundo como cenário para discutir a visão romântica que temos do passado (mais que perfeito). Ele ainda dá margem a muitos outros debates, mas aquele em que se aprofunda mesmo é esse sobre o tempo, a nostalgia, o fascínio que se tem pelo pretérito (na verdade imperfeito) em detrimento do presente. (Nota: A trilha sonora já nos créditos de apresentação é apaixonante)

(Lembrei-me agora da explicação das diferenças entres os três tipos de pretérito do indicativo feita por um professor do ginásio.

Para ele, o “pretérito imperfeito” era aquele que, no momento da fala, provoca a lembrança da ação acontecendo em tempo real na memória do falante. O “perfeito” evoca da memória somente o momento imediato após o fim da ação, quando esta já estava encerrada. E o “mais que perfeito” é aquele em que, no momento da fala, já não se lembra mais de nada, de tão remoto que é esse passado.

Eu não sei de onde ele tirou isso, já que nunca vi em nenhum livro de português. De um certo modo até faz algum sentido, mas, agora, ao escrever esse texto, tenho de discordar. 

Segundo a visão gramatical desse meu professor que a gente chamava escondido de Superman por causa do ar certinho e do cabelo que só faltava aquela vírgula na testa para ficar igual ao Super mesmo, o pretérito preferido do nostálgico seria o “imperfeito”, uma vez que traz de volta a lembrança viva de outros tempos dentro da memória (como bem aconteceu agora quando fui descrever o antigo mestre). Mas todo nostálgico que se preze acha que o passado era “perfeito”! Mais do que isso! Para um nostálgico como o Gil, o passado de que se lembra é “mais que perfeito”!).

Mas, como ia dizendo, eu sou muito egoísta e o passado de que gosto tem de me pertencer de alguma forma. Deve ser contemporâneo a mim, mesmo que não esteja em concordância com tempo presente. Tem que ser velho com cara de novo. Ou de alguma forma, novo com pinta de velho (tipo esse último Superman que ninguém gostou*). Caso contrário, tenho a sensação de estar me apropriando de algo que não é meu. E sempre me disseram quando criança que roubar era errado. O passado de que gosto é aquele em que consigo me ver inserida de alguma forma. Porque esse sim, eu posso chamar de meu.

Talvez essa seja a razão pela qual eu goste tanto de lembrar histórias recentes do meu próprio passado. Para manter suas lembranças vivas, contemporâneas, dentro do presente. Como forma de não deixá-las morrer, como outras morreram e eu, egoísta, não dou valor. Sei que daqui a um tempo o meu passado será assim. Embaçado e esquisito para aqueles que nos sucederem. De certa forma já o é, se você for pensar.

Ao mesmo tempo, sei, assim como o Gil do Meia Noite em Paris percebe em determinada passagem do filme (será que falei demais?), que o presente é tudo o que temos. Viver de nostalgia nada mais é do que viver em negação do presente. Esse presente que um dia será passado e, se vivido dessa forma, não terá nada para ser lembrado – o que vai de encontro a todo o princípio da nostalgia!

Logo, por mais paradoxal que seja, para que a nostalgia seja alimentada, é necessário que se viva o HOJE, AGORA, JÁ! Porque só assim é que se pode ter algo verdadeiramente seu para se lembrar.

E agora, ao final desse texto, percebo que, tudo bem, talvez eu não seja tão farsante assim.

E eu particularmente adorei. E acho uma sacanagem ninguém dar papéis decentes para esse ator que, tá na cara (não só na cara), é muito talentoso.
** Lembrei agora de um outro professor, dessa vez do Ensino Médio, que cismou que o Marlon Brando era vivo quando esse filme saiu, só porque sua voz aparece em determinado momento. Só que a voz foi inserida digitalmente, uma vez que o Marlon Brando já tinha morrido há uns 3 anos! Isso é que é negação!
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