sábado, 26 de outubro de 2013

Carta a um blog abandonado

Oi, tudo bom?

Fico até meio sem graça de chegar assim como quem nunca esteve ausente, mas acho que não existe nenhuma maneira de tornar o reencontro menos constrangedor, não é?

Não falo com vocês tem quase dois meses e as razões são as mais diversas. Falta de tempo, excesso de problemas, cabeça cheia demais, e, até me dói admitir isso, mas pela primeira vez em quatro anos, acho que um dos motivos foi falta de vontade.

Pra quebrar o gelo, acho justo contar pra vocês um pouco do que aconteceu comigo nos últimos tempos. Minha vida mudou muito e mudanças por si só são coisas que mexem comigo. Não sei não saber o que virá no dia de amanhã. Fico tensa por antecipação. Passo mal. Até deixo de comer. Teve um cliente meu (na verdade, 3 pessoas desse cliente) que até comentou que estava bem mais magra desde a última visita.

Mas a vida esteve perto de mudar ainda mais. E eu falo com muito orgulho que só não mudou porque eu não quis. E é nessas horas que eu percebo como o nosso destino é a gente que faz. E isso é muito bom, na verdade.

Bom, deixa de conversa fiada. Vamos aos fatos. Primeiro de tudo, acho que tenho que contar que vai fazer dois meses que estou aprendendo a ser filha única. Minha irmã embarcou pra Espanha em meados de setembro, e desde então meu tempo livre tem se resumido a conversar com ela pela internet.

Queria ter escrito um post bonito de despedida, cheio de sentimento, falando sobre a lágrima que eu fui incapaz de conter na entrada do portão de embarque, e como passar a vida viajando deve ser bem esquisito, porque aeroportos são exatamente o oposto do que se chama de lar, e como quando eu já na volta pra casa, bem vi o avião de maninha decolando, indo para além mar, e como demorou até eu me acostumar com a ideia de que eu não tinha ninguém pra mandar dormir, tomar banho ou acordar.

Mas os perrengues que ela encontrou por lá não deram descanso para nenhum de nós. Logo no primeiro dia, já me ligou chorando porque não conseguia acesso à internet, pois o chip que tinha comprado lá não estava configurado direito (até ela descobrir isso demorou tipo umas duas semanas, e aí ela tinha que ficar igual àquela propaganda em que os clientes de uma pizzaria perguntam se a pizza é redonda).

E pra completar, deu um azar desgraçado com o quarto que alugou antecipadamente. A dona era simplesmente maluca e ficava invadindo o quarto dela, se metendo na arrumação, e chegou até a ameaçar expulsá-la. Pois é, a vida dela não estava fácil. Num belo dia, foi pedir pra safada assinar o contrato de aluguel (que ela já devia ter assinado), pois precisava pegar um documento na polícia federal de lá, e a VAGABUNDA não só falou que não ia assinar, como ainda tentou extorqui-la. Falou que só assinava se ela pagasse o dobro do preço!!!!!

Me deu vontade de largar tudo aqui e dar um soco nessa velha nojenta! FILHA DA P*TA! Querendo se aproveitar da minha irmã porque era estrangeira e novinha! Se tem uma coisa que me tira do sério é injustiça e desonestidade. Se fosse aqui no Brasil essa vaca já estaria na justiça faz tempo, mas estar no país dos outros é uma droga e tudo o que a gente menos procura é aborrecimento.

No fim da história, minha irmã saiu da casa da mulher (depois de alguma briga e intervenção do corretor), e foi morar com uma amiga do Brasil que conheceu na faculdade (num lugar que tem Wifi e TV, graças a Deus!) e agora está muito feliz, aproveitando à vera. Já foi no show de um cantor espanhol que ela adora, foi nesse jogo do Real que teve essa semana e já comprou ingresso pra ver o Jamie no fim de novembro (ô, inveja!), entre outras coisas.

Mas toda vez que ela ligava chorando era de arrancar o coração. Descobri que sou muito mais super-protetora do que imaginava. E ela descobriu que é muito mais independente do que imaginava. Acho que no fim das contas valeu a experiência e fica o aprendizado pra gente parar de reclamar do nosso país. Gente safada tem em todo lugar do mundo. Não é privilégio tupiniquim, não.

Enquanto isso tudo acontecia do outro lado do Atlântico, comecei minhas aulas de direção (finalmente!) e enfrentei uma maratona de entrevistas que quase me colocaram em outra direção. Disse quase porque depois de várias etapas de um processo seletivo que tinha prova e até apresentação em Power Point sobre um assunto técnico, a empresa até queria me contratar, mas eu decidi que não queria ir. Porque a gente tinha combinado um salário, e depois de tudo isso, a empresa veio com uma proposta bem abaixo do esperado. E eu nem tinha pedido nada astronômico, não! Foi só o valor mínimo do mercado (eu faço teste de folha de pagamento, então estou bem por dentro da média).

Essas empresas têm que entender que se elas fazem questão de um bom profissional (e se preocupam tanto com isso ao ponto de testá-lo incansavelmente) têm que pagar o que eles merecem, senão não vão conseguir atrair, nem reter os melhores. Simples assim. Esse papinho de gestor de RH de que falta mão-de-obra qualificada é a maior furada. Gente qualificada tem! É só oferecer um bom salário que elas aparecem.

Foi um pouco decepcionante para eles, mas também foi um pouco pra mim, que já tinha alimentado algumas esperanças e já estava até ensaiando a entrevista de desligamento.

No fim das contas, acho que, assim como o problema que minha irmã enfrentou, foi pro bem. Uma vez li num livro que emprego/profissão é igual casamento e as duas partes têm que estar alinhadas para que as coisas deem certo. Achei que se fosse pra começar decepcionada, com desconfiança, era melhor nem começar.

Ainda estou à procura de oportunidade perfeita, mas bem mais descrente de que ela exista. Mas se você souber de uma jeitosinha, legal, e bem humorada, pode me apresentar (o mesmo vale para relacionamentos).

Pronto, acho que contei tudo (pelo menos o que interessava e era novidade) nesses últimos meses e agora já podemos continuar de onde paramos.

Espero não demorar tanto,

Abs
Lisa
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