segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Expresso Jabuti


Sexta-feira, 21 de Setembro de 2012

Você já me viu falando por aqui pelo blog das peripécias de se usar transporte público. Meu meio de transporte favorito é o trem porque não tem engarrafamento, é mais rápido e tem umas coisas absurdas que nos divertem.

Mas essa semana a SuperVia me deixou na mão 4 vezes!

Terça: Não passou o trem de 8:15, com saída de Mesquita, e por isso mais vazio.
Quarta: O trem estacionado na linha 8H às 19h não deu sua partida.
Quinta: De manhã, um outro trem quebra, deixou passageiros no meio do caminho. O meu, que vinha atrás, ficou parado durante meia hora em São Francisco Xavier. Isso porque um passageiro comentava com o outro como o serviço tinha melhorado! A gente não pode elogiar!
Sexta: Novo período de longa espera em São Francisco Xavier no período da manhã. 

Aí, na sexta, eu saí uma hora mais cedo do trabalho - todos dizem :O – e chegando na Central, já quase 18h, escuto anunciar no alto-falante a partida de um novo trem Expresso para Japeri que só realizaria a primeira parada em Ricardo de Albuquerque saindo da plataforma 10-I (O trem é novo no sentido de horário e itinerário só. Nada garante que tenham de ser novos “carros” mesmo) que começou ainda nessa semana, no máximo semana passada e quando eu escutei a notícia e olhei para plataforma 8, que é a oficial do Japera, com sua versão particular e diária de Jogos Vorazes por “um lugar ao trem”, pensei: “Já é! É nesse trem novo aí que eu vou!”.

Porque, fazendo as contas, se parando nas estações normais, no trem Direto, eu faço o trajeto em mais ou menos 50 minutos, nesse novo trem Expresso, parando somente a partir de Ricardo de Albuquerque, eu ia chegar em casa em, tipo, uma meia-hora! Olha só que delícia! Eu já tinha saído cedo do trabalho e ia chegar em casa MAIS CEDO AINDA!

Era só felicidade. Já estava fazendo a dancinha da vitória. Até que enfim alguma bola dentro da Supervia nessa semana!

Eu moro em Nilópolis, olha quantas estações eu pulei!

Eram 17h45, eu fui e entrei no trem. Estava semi-vazio (tem gente que pode dizer que estava semi-cheio, mas quem anda de trem no horário de pico aprende a ser otimista na marra), ou seja, dava para se mover com bastante facilidade. E sem contar que: eu estaria em casa em MEIA HORA! Em pleno horário de pico, quando os empata-portas fazem tudo ficar mais lento! Era um sonho virando realidade.

A civilidade tomava conta do vagão. As pessoas, em sua maioria fazendo sua primeira viagem no tal trem Expresso, conversavam e comemoravam a vitória da rapidez na volta pra casa. Tudo bem que o trem estava cheio (agora estava cheio mesmo, mas nada de anormal, nem de gente para fora da porta), mas isso não importava. Sabe por quê? Por que todo mundo ia chegar em casa cedo. A gente ia em pé, mas ia ser tão rapidinho que nem ia sentir. Quando a gente visse, já estava na hora de descer.

Só uma coisa afligia os passageiros: o trem Expresso não fazia utilizava a linha comum do ramal Japeri, que passa por Engenho de Dentro, Cascadura e Madureira, e sim a linha auxiliar, do ramal Belford Roxo, que simplesmente por lugares tipo Jacarezinho. Só a região onde fica a Cracolândia e em que os cracudos de vez em quando jogam pedras no trem e de vez em quando também rolam uns tiroteios assim. Coisa light.

Tinha gente dentro do trem colocando o terror, amedrontando as outras pessoas: “Os cracudos jogam pedras no trem!”, “Eu sei que as pedras não passam, mas será que a bala consegue atravessar a parede do vagão?” e “Imagina só se o trem quebra justamente nessa estação!”.

Se eu nunca estivesse estado lá, eu diria que é um pouco de exagero das pessoas. Mas acontece que, certa vez, há alguns anos, eu já estive por essas bandas - tem até relato aqui no blog, vale a pena conferir - e bom, como dizer, saí de lá com a o sentimento de “NÃO QUERO VOLTAR AQUI NUNCA MAIS”.

Então, lembra daquela música do Jorge Ben em que ele canta: "Jacarezinho! Avião!"? O "avião" aí são os aviõezinhos do tráfico. E o disco voador é a polícia.

Realmente o perigo por ali não é algo fictício. Mas é ruim que eu ia descer desse trem que ia me deixar em casa na metade do tempo! Quer dizer, eu nunca mais vou pegar ele mesmo, porque para pegá-lo às 18h seria necessário sair 17h do trabalho, e quando eu saio cedo, eu saio às 18h! E hoje eu ia chegar em casa antes das 19h e ponto final. Não queria nem saber.

E aí, 18h, o maquinista anunciou: “Senhoras e Senhores, esse é o trem Expresso que tem como destino a estação terminal Japeri. A próxima parada é na estação Ricardo de Albuquerque. A SuperVia agradece a preferência, tenham todos uma boa viagem!”

O trem começou a andar vagarosamente, como é de seu costume assim que ele sai da Central. E passou por São Cristóvão e não parou (Yes! Porque agora a partir das 15h, ele pára em São Cristóvão também. Affão pra vocês, SuperVia!). E entrou numa linha diferente da normal (aquela do ramal B. Roxo) e continuou andando. E começou a chegar perto de um lugar esquisito e continuou andando. Só que muito lento.

Segundo uma passageira mais experiente em trem Expressso, ele passa mais devagar lá pelo Jacarezinho para não atropelar os cracudos, porque se matar alguém dá muito problema (óbvio!).

E lentamente passamos pela Cracolândia, onde pessoas se drogavam no meio da linha do trem mesmo. Não dava para ver muito bem porque estava escuro, ainda bem, mas estava escuro porque simplesmente também não tinha iluminação direito. E QUE LUGAR MAIS FEIOOOOOOO!!!!!! Mesmo estando escuro, dava para ver que era o tipo de lugar que não tinha a menor condição de desenvolvimento. E não tinha nenhuma perspectiva de melhora.

A estação e a linha de trem ficavam espremidas entre casas e pessoas (não só os drogados), que também andavam no meio dos trilhos. E eu bem sei disso, porque, me lembro de ter atravessado essa linha, simplesmente porque não tem uma passarela para o outro lado!!!!!! E os moradores dividiam aquele espaço com os cracudos, numa cena em que se misturavam pobreza, pena e medo. Mas a pena e o medo eram apenas nossos. Porque a população que ali estava parecia indiferente à rotina do local.

O pessoal do Japeri, acostumado a ver monumentos como o Engenhão em seu caminho tradicional, parecia turista observando a miséria alheia. E de repente o povo do Japera se sentiu privilegiado por morar longe, mas morar com dignidade. E tirou a maior onda: “E depois o pessoal fala que o Japeri é o pior ramal, que só anda gente pobre, feia e fedorenta, hein!”

(O que é uma mentira! Tem muita gente de roupa social que desce de trem para o Centro da cidade porque é o meio de transporte mais rápido, mas mora aqui na Baixada porque prefere viver com paz, do que morar nesses buracos em que as balas atravessam as janelas de casa. Aliás, se você não tiver mais nada para fazer e resolver realmente passear de trem, tire um dia para ir à Paracambi, que ainda é depois de Japeri - em caso de dúvidas, voltar ao mapa do início do post. Gente, Paracambi é uma cidadezinha linda de morrer! E só tem casarão com piscina.)

Graças a Deus não fomos atingidos por nenhuma pedra, nem estava rolando nenhum tiroteio lá por perto. E então passamos por Del Castilho, Mercadão de Madureira e Rocha Miranda sem parar por lá também. Só que o trem ainda estava MUITO LENTO!!!!! Ele não parava. Mas também não corria!!!!

Já haviam se passado 40 minutos e a gente ainda estava em Deodoro!!!!! No trem normal, semi-direto, com 40 minutos a gente já até passado de Ricardo! Esse trem Expresso era mais devagar do que o outro.

Todo mundo no vagão ficou revoltado. Se é para ser assim é melhor encarar os Jogos Vorazes lá na plataforma 8! Pelo menos lá a briga é só na Central. Depois o caminho é mais seguro, a gente não fica com medo de o trem parar no meio da favela. Uma moça falou: “Valeu a experiência, mas semana que vem eu não venho mais nesse, não”. Uma outra, a experiente, disse: “Da outra vez que eu tinha vindo, o percurso foi rápido, mas hoje deve ter sido mais devagar por causa da chuva”, ao passo que uma outra retrucou em tom de brincadeira: “Ah, para de mentira! Quanto é que a SuperVia está pagando para a senhora defendê-la, hein?”

Quando chegou Ricardo, a galera fez: “Uhuuullll”. E às 19:00 eu desci em Nilópolis. Ou seja, não fez a menor diferença eu pegar esse trem.

Notas para o novo serviço REVOLUCIONÁRIO da SuperVia:
Eu sei que outro dia eu falei que achava uma bobagem esse negócio de ficar dando notas, mas hoje vou abrir uma exceção à regra e dar notas para esse novo serviço REVOLUCIONÁRIO da SuperVia. (Antes que você comece a chiar, vai ver que as notas dadas também são a maior bobagem.)

Emoção: 8
Cada nova estação era sempre uma surpresa. Nunca se sabia onde a gente estava. Novas Paisagens para observar. Um caminho totalmente novo. Sem contar a estação Jacarezinho.
Comércio: 0
Não passou nenhum vendedor. Interprete como quiser.
Conforto: 7
O trem tinha ar condicionado, o que também garante as janelas blindadas contra as pedras. Mas não tinha bagageiro. Muita gente precisou contar com a bom vontade dos outros pra colocar as mochilas perto da janela de maneira improvisada.
Socialização: 9
Os passageiros estavam animados, batendo papo, conversando sobre várias coisas. Todo mundo querendo saber detalhes do novo trajeto, muito bem-humorados e criativos. Alguns ofereceram para colocar a bolsa perto da janela. Sem empurra-empurra e sem funk no celular.
Medo: 10
Cracudos no trilho. Possibilidade de pedras atiradas/balas perdidas. Estação Jacarezinho praticamente no breu. E o medo do trem ficar parado ali pra sempre?
Agilidade: 0
O trem anda mais devagar que uma lesma.

Conclusão: Não vale a pena. #NãoRecomendo 2 estrelinhas só.

Como bem apelidou uma mulher dentro do vagão, esse é o novo trem Expresso. O Expresso Jabuti.

(Pensando agora, o trem podia ter um outro nome também: Trem Bala. Bala Perdida.)

"A SuperVia leva você com rapidez e segurança."
Sei....



PS1. Esqueci de contar ainda que nessa semana eu peguei um ônibus com Zé Pequeno. Quando ele entrou falou assim: “Senhoras e Senhores, desculpe incomodar o silêncio da sua viagem, eu podia estar matando, eu podia estar roubando, mas tô aqui pedindo a sua ajuda”. Brincadeira, ele só entrou e sentou no seu lugar.
PS2. Antes de entrar no Expresso Jabuti, ainda peguei um metrô, no horário de pico, com o candidato a vereador Rocco. Você, como a minha irmã, obviamente não sabe que é o cara, mas é que sempre tem um boneco gigante na Central fazendo propaganda do cara. Minha irmã não achou nada demais no cara pegar o metrô lotado às 17h. Ela disse que ficaria surpresa mesmo se o boneco tivesse entrado também.
PS3. Hoje, segunda-feira, mais um trem quebrou no meio do caminho pela manhã e o Japera operou "com atrasos". Vocês tão de sacanagem, né?

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terça-feira, 18 de setembro de 2012

Happy Go Lucky |:)

Happy-Go-Lucky: Uma pessoa incrivelmente otimista, pra ela não tem tempo ruim. Despreocupado, alegre, numa boa, feliz da vida.

Além de ser nome de um filme nomeado ao Oscar em 2009 (e eu nem sei se foi justo ou não porque não assisti. Pra falar a verdade já até tentei, mas os 15 minutos que vi estavam mais para Happy Go Zzzz, e aí eu larguei), Happy Go Lucky também dá nome de uma canção de um ex-falecido grupo pop do mágico período do final dos anos 90/início dos anos 2000 chamado Steps. Eu tenho certeza quase absoluta que você nunca ouviu falar deles, mas, sabendo que a canção foi tirada da trilha de um filme de grande sucesso na década passada, fica fácil adivinhar de que buraco eu tirei essa pérola da música pop (é tão óbvio que não vou nem oferecer uma bala Juquinha pra quem completar o desafio).
* Ex-falecido porque acabei de descobrir que eles se reuniram novamente no ano passado. E como o Wikipedia é uma dádiva da internet, com um passar de olhos, descobri também que o tal grupo também cantava essa outra canção que você com certeza conhece, porém na voz de uma figurinha fácil do ClipeMania

É claro que o arranjo e a produção são altamente datados e causam uma mistura de nostalgia com vergonha (porém, observando o atual mercado musical, eu me arrisco a dizer que está quase contemporânea, uma vez que parecem ressurgir elementos como boys band e músicas pop por pop, sem falar de alguns nomes que parecem ser conservados no formol ou renascem das cinzas depois de anos), mas, a verdade é que, apesar disso tudo, a música, assim como o filme e o resto da trilha sonora, é Pura Sabedoria e vem traduzindo um pouco do meu sentimento nos últimos tempos.

Com certeza você já passou por uma situação parecida em as pessoas perguntam:
- E aí, como vão as coisas? 
E após um 1 segundo e meio de avaliação, você responde:
-Ah, sim, tudo bem! 
Quando na verdade as coisas não vão bem, nada vem, e o mundo parece estar desmoronando.

Problemas, problemas, problemas. E eles se multiplicam. E eles se acumulam. E eles ficam cada vez mais pesados.

Porém, ainda mais pesados que eles é o orgulho. Orgulho esse que não suporta a ideia de receber um olhar condescendente principalmente quando nem verdadeiro ele é. A vergonha de chorar na frente de quem não deve, de não deixar que os outros vejam que às vezes nem tudo está perfeito e que se é mais frágil do que aparenta ser.

E a preguiça de contar a história desde o início. Porque tem coisas não dizem respeito a mais ninguém. E explicar o problema todo só significa tomar o tempo e a paciência do interlocutor que, coitado, só perguntou por educação e também tem suas próprias chateações e não tem a mínima obrigação de aguentar mais as dos outros nas costas. Responder: “Está tudo bem!”, quando está tudo mal é poupá-lo de ficar sem graça, e de não saber o que dizer, até porque o problema é meu e ele não poderá fazer nada para ajudar.

Tem gente que adora um dramalhão. Adora se fazer de vítima. Prefere ficar meia hora enchendo os ouvidos dos outros ao invés de tomar uma atitude. Quer terceirizar aquilo que só ela pode resolver. Como se mais ninguém no mundo tivesse problemas também!!!! Gente que reclama de tudo e repetidas vezes. Gente que depois da 3ª ou 4ª ladainha fica bem claro que inventa os problemas ou coloca a culpa deles sobre os outros e não consegue assumir a responsabilidade sobre os seus atos. Gente que acha que o mundo tem que se adaptar a elas e não o contrário. Gente que não consegue enxergar que a solução é simples e está bem na frente do espelho.

Não suporto esse tipo de gente. Sabe por quê? Por que eu também tenho os meus problemas! E eles também são complicados! Muito complicados! E não fico alugando ninguém, nem me fazendo de coitada!

(Antes que você me chame de insensível, eu sou bastante capaz de sentir compaixão pelas outras pessoas. Desde que elas não sintam pena de si mesmas e estejam dispostas a buscar a felicidade. E principalmente por aquelas que assim como eu, fazem o máximo de esforço para não transparecer que alguma coisa está errada. Porque embora eu não goste de despejar as minhas lamúrias nos outros, sei que às vezes é bom saber que existe um ombro amigo com o qual se pode contar)

Visto meu disfarce sorridente para me proteger dos olhares de pena, mas também para proteger as pessoas de quem gosto. Porque às vezes não dá para jogar o telefone fora e se esconder do mundo e nem eu estou me suportando de tanta amargura. E porque acho o CÚMULO gente que desconta a raiva de problemas particulares nas outras pessoas que não tem nada a ver.

"A máscara não é para você. É para proteger as pessoas que você ama."

Por isso eu coloco um sorriso na cara e respondo na maior cara dura: "Tudo certo", e as pessoas ficam despreocupadas com a minha pseudo-despreocupação. Melhor esconder a dor debaixo do travesseiro no fim do dia.

Vestir o disfarce do "happy go lucky" é mais do que enganar aos outros. Mais do que esconder a dor, o sorriso forçado engana a nós mesmos e distrai um pouco. Faz bem, caso contrário, logo se está acreditando que nada daquilo tem solução e que não existem outras coisas boas acontecendo. 

E quando nem o sorriso amarelo está dando conta, o melhor a se fazer é inventar truques para enganar a dor e perseguir o lema de Timão e Pumba (aliás, O Rei Leão é outro desses filmes cheios de lição de sabedoria). Não demora muito para um sorriso de verdade tomar o lugar daquele outro forçado numa feição cheia de preocupação. E é fácil desse jeito porque se você para pensar um sorriso não passa de uma carranca de cabeça para baixo |:)

Hakuna Matata é Happy Go Lucky em suali :D
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sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Independência ou...onde é que D. Pedro estava com a cabeça?


Atingir a maioridade é um marco na vida de todo adolescente sedento por Independência. Completar 18 anos (ou 21, não sei exatamente qual a diferença das duas maioridades, quem souber, por favor, não seja egoísta e compartilhe o seu conhecimento com este humilde blog) é daquelas datas aguardadas e comemoradas, já que te tornam livre do domínio dos pais e mudam completamente a sua vida. Só que não.

Há exatos 190 anos, o Brasil também entrava para o rol dos países de “de maior”. O grito do Ipiranga declarou a independência do domínio de nossos colonos portugueses e anunciava que agora o Brasil já era gente grande e mandava no seu próprio nariz. Só que a gente também aprende na escola que o negócio não foi beeeeem...assim. Um brado retumbante e puft! Agora éramos independentes! A tal Independência do Brasil foi sendo construída aos poucos. Vinda da Família Real, liberdade no comércio, diminuição de impostos, condição de Reino Unido a Portugal e Algarves... O Brasil já estava ficando “mocinho”, cheio de marra, com toda a pinta de gente grande. E quando Papai Portugal quis trancar o filhote dentro de casa de novo, aí o moleque já estava todo prosa e não ia agüentar muito tempo dentro do quarto.

A mesma coisa acontece quando a gente faz 18 anos (ou 21. Como disse, não faço a mínima ideia da diferença das duas idades). A data do aniversário pode ser o marco histórico em que a gente faz aquelas piadinhas de que se pode beber, dirigir e ser preso. Mas o nosso processo de independência também acontece do mesmo jeito que o da nossa “mãe gentil”. É aos poucos. Diluído. A gente vai fazendo as coisas sozinho e quando vê já passou.

Primeiro vai comprar o pão na padaria da esquina. Depois pegar o ônibus para ir pro colégio. Dali a pouco começa a perambular por outros cantos da cidade e não sente tanto medo de andar na rua quando o sol já se foi. Então começa a contestar a máxima de que os seus pais sabem o que é melhor para você. Passa a escolher as próprias amizades, não contar tudo o que acontece na sua vida para eles e a filtrar seus conselhos porque têm coisas que, por favor(!), eles simplesmente não entendem (!!!!!!). 

E mesmo assim, quando vem o aniversário de 18 anos, a gente não se sente adulto coisa nenhuma. Ainda moramos com nossos pais e pedimos dinheiro para comprar as coisas que a gente quer e precisamos deles para nos trazer de volta pra casa tarde enquanto não sai a carteira de motorista. (Vendo por um certo ângulo, talvez a carteira de motorista sim seja um documento que autentique alguma coisa próxima da maioridade, mas enfim, divago...)

Segundo a propaganda, ter seu próprio blog é ter Independência. Tá bom, né!

Isso também como o próprio Brasil, que podia ter se declarado Independente, mas por muito tempo teve de pedir dinheiro emprestado para outros países para pagar a merenda, a passagem e os ingressos do cinema no fim de semana. O primeiro débito da famosa dívida externa veio logo assim em o país declarou-se “de maior”, quando o Brasil tomou 3,7 milhões de libras para pagar as contas da época em que ainda era colônia.

Confesso a você que realmente nunca tive problemas com relação a esse negócio de “maioridade”. Sempre tive tudo o que quis e nunca tive esses problemas quanto a horário porque não sou de sair à noite mesmo. Nunca fiz questão de entrar nas matinês das boates. Nem no horário de gente grande também. A responsabilidade da escola sempre esteve presente, mas sem a necessidade de cobrança sem parar porque sempre fiz a minha parte e não dei motivos para preocupação. A relação que a gente tem aqui é em casa é de muita confiança. Meus pais sabem que não vou fazer nada de errado e pronto. Não tem estresse. É até meio sem graça quando eu vou conversar sobre esse assunto com as outras pessoas porque perto delas parece que eu não tenho nada interessante para contar. O que não quer dizer que não tivesse meus próprios contra-tempos com a dependência oficial ou não-oficial porque não liguei para dizer onde estava ou avisei para onde ia sair ou quando ia voltar. Ou que não discutisse por causa de minhas convicções sobre o que eu achava que era melhor para mim.

Lembro de a idade de 14 anos (a mesma de Pedrinho quando virou imperador) ter sido especialmente simbólica, mais até do que a de 18. A gente brigava horrores por causa dessas coisas (por causa de qualquer coisa, pra falar a verdade), e eu comecei a tomar as rédeas da minha própria vida. Também foi a época em que eu de fato comecei a me preocupar com o meu futuro de um jeito mais sério e comecei a tomar as minhas próprias (grandes) decisões. Ironicamente, também foi a época em que, mesmo andando na linha, me senti muito mais livre e me diverti como nunca!!!!

Mas aí o tempo vai passando e esse tipo de coisa vai ficando para trás porque a gente vai assumindo responsabilidades cada vez maiores (porque, como já diria Tio Ben, elas logo aparecem quando ganhamos grandes poderes) para conquistar verdadeiramente a tal independência e começar a traçar própria vida e, quando vê, tem diploma, trabalho, problemas no trabalho, conta no banco, um monte de contas para pagar e operadores de telemarketing te caçando e oferecendo serviços que você não quer.

E aí a gente percebe que ser independente dá muito mais trabalho do que parecia! E quando a gente vê, mesmo assim, não somos independentes coisa nenhuma! Estamos dependentes dos nossos empregos, que nos consideram como plenamente adultos, e sugam nosso tempo, nossa saúde, juventude e noites de sono por causa de um salário no final do mês. E descobre também que realmente a gente não faz a mínima ideia do que é melhor para nós! E na primeira crise de insegurança, veja só, corre pros braços daqueles que um dia a gente tanto desprezou.

Onde é que D. Pedro estava com a cabeça quando veio com esse papo de Independência ou Morte? De que adianta ter Independência se não tem dinheiro, casa, comida e roupa lavada? Como assim “ou Morte”, se na primeira crise, a primeira coisa que Seu Pedro fez foi fugir para o colo do próprio pai também? Ele não teve pena do filho dele, não? Largar o moleque aqui pra governar um país inteiro com 14 anos depois do período de regência? Sério, Pedrinho estava na época de colocar tachinha na cadeira do professor, brincar de queimado, jogar bola de gude, sei lá!

D. Pedro II era tipo Riquinho só que mandava num país inteiro
E não tinha Mc Donald’s em casa.

Para quê essa gente insiste tanto em diminuir a maioridade nesse país? Será que só porque Pedrinho assumiu a responsabilidade de comandar um país inteiro faz sentido declarar a independência de jovens, obviamente dependentes, cada vez mais cedo? Será que realmente vai fazer alguma diferença?

É claro que ser independente tem suas vantagens. Mas, sinceramente, é tanta preocupação que às vezes que dá a maior vontade de ser colônia de novo.


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segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Tarde no Centro

Dia 26 de Agosto de 2012

Tem gente que não gosta do Centro da cidade (no meu caso, o Centro do Rio). Acha que é muita bagunça, muita gente aglomerada, uma correria geral. Eu não. Gosto do Centro exatamente por causa disso tudo aí.

Ele é muito democrático, e tem gente de tudo quanto é jeito. Gente rica, gente pobre, gente alta, baixa, gorda, magra, preta, branca... Todo mundo se encontra no Centro. É uma área essencialmente comercial que não “pertence a ninguém”, mas que durante o dia é compartilhada por todos, sem frescuragem.

O Centro está sempre fervilhando, com gente andando de um lado para o outro e eu gosto disso. Gosto de poder resolver tudo o que eu quiser andando apenas alguns quarteirões. De encontrar praticamente tudo (TUDO mesmo!) que eu quiser e a um preço mais barato. Gosto dos vendedores fazendo graça na Uruguaiana. Dos protestos da Cinelândia. Da diversidade da Carioca. Da largura da Presidente Vargas. Gosto de ter a sensação de estar no meio de onde tudo acontece, no centro de tudo. No Centro.

Ao contrário de muita gente, e, como praticamente todo carioca, eu adoro sol. Confesso que tem anos que não vou à praia, mas sou dessas que se deixa influenciar pelo humor do astro-rei. Quando o dia está nublado, assim também fica o meu espírito. Mas se estiver ensolarado, por mais raiva que eu queira ter do resto do mundo, não consigo e um tipo de alegria sem sentido invade o meu coração. Por isso, do mesmo jeito que não consigo me imaginar morando numa cidadezinha do interior, acho que não seria feliz vivendo em um lugar em que não fizesse sol o ano todo. Além de ficar resfriada com muita facilidade, o psicológico também não iria se adaptar a grandes quantidades de frio e chuva durante muito tempo.

Antes que você me chame de maluca, existem estudos que dizem que os países em que faz mais frio lideram os índices de suicídio. (Só por curiosidade, eles também lideram os quadros de educação, e acredite, isso também está relacionado com a ausência de sol do lado de fora. Aliás, essa foi a ideia principal para o desenvolvimento de Hora do Recreio – O Filme, a versão longa-metragem, mas ainda em animação, desse desenho bacanudo que marcou a minha infância. Aliás, fica a dica, o filme é MUITO LEGAL!)

Gosto especialmente do Centro e do Sol quando eles se combinam à tarde, no horário das 15h-16h. É nesse horário que o Sol já dá uma trégua e começa a se encaminhar para seu leito à oeste (ou seria a leste?). As próprias pessoas dão uma pausa para o café ou começam a contar o tempo para as 18h.

E depois de ontem, posso dizer que gosto especialmente do Centro e do Sol quando eles se combinam à tarde, no horário das 15h-16h de um sábado.

A tarde estava linda. O sol brilhando. Eu ia ter que ficar esperando até às 16h pela próxima aula do cursinho e achei um desperdício ficar trancafiada numa sala estudando, ou tendo que aturar gente me neurotizando sobre o quanto eu devo estudar mais. Na maioria dos dias, quando esse tempo da tarde fica livre, eu até fico lá estudando mesmo. Mas não ontem. Havia trabalhado demais no último mês. Não sabia mais o que era um fim de semana livre há um tempo razoável...

Por isso resolvi curtir o dia. Tirar a tarde para mim. Não fazer absolutamente nada pro mundo. Como há muito tempo eu não fazia.

Tomei um picolé depois do almoço e bati perna a tarde inteira. A cidade não estava morta, vazia. O movimento até que era razoável. São Paulo pode ser a cidade que nunca dorme. Mas o Rio faz questão de relaxar. E foi isso que eu vi. Ao invés dos funcionários de roupa social, estavam lá turistas tirando foto, gente exótica, esquisita, de chinelo, que ao contrário do resto das outras pessoas, parece só visitar o Centro no fim de semana por conta de alguma atividade especial. (Experimente observar o metrô no fim de semana. Nem parece a mesma cidade. Difícil encontrar alguém normal por ali). Um Rio relaxado, sem correria. As pessoas sem pressa. A cidade meio preguiçosa. Andando sim, mas a passos de formiga e quase sem vontade.

O próprio sol também estava meio preguiçoso. Brilhava sim. Lindamente. Como uma bela tarde de sábado no Rio deve ser. Mas até ele parecia sem vontade de queimar nossa pele. Só estava lá. Quase que curtindo o fim de semana, tanto quanto nós. E os prédios, sempre altos, como todo centro urbano, faziam sombra para que eu passeasse sem derramar uma gota de suor. Maravilhas da cidade grande.

E aí eu turistei a Biblioteca Nacional e, entre outras coisas, descobri que a Capricho nos seus primórdios era para maiores de 18 (ó ironia), e vi todos os Mc Donald’s com bolas na entrada porque era o McDia Feliz (fiquei até emocionada quando vi que na Uruguaiana estavam rolando umas “atrações” e promoções esquisitas que há muito eu não via) e entrei em todas as lojas de departamento, experimentei um monte de roupas e não levei nada, mas descobri que as sapatilhas da Moleca são os calçados mais cristãos desse mundo (essas eu ainda vou comprar).

Precisava de um tempo assim em que as horas não tivessem pressa para passar, e ninguém para me dizer o que fazer, e o resto do mundo parecesse desacelerar tanto quanto eu.

Quando deu a hora, eventualmente, eu voltei pro curso, cheia de sede. Como boa carioca que sou, acho que para a tarde ficar melhor, só podia ter rolado uma água de coco bem gelada.


Minha irmã já tinha me indicado o vídeo, mas só agora pude conferir. A música é muito boa e acho que combina com o post. [Se você gostou da música mesmo, tem ela inteira aquiOlha, se passa um comercial de cervejas desses aqui no Brasil, eu começo até a beber... ]
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