quinta-feira, 4 de março de 2021

De repente 31

Nunca comemorar aniversário foi tão literal. Mais um ano de vida. Numa pandemia com milhares de mortos todos os dias, completar mais 365 dias vivo realmente é uma conquista.

Agora em março estamos fazendo 1 ano de pandemia. 1 ano de isolamento social. 1 ano de álcool em gel na mão e sair só tomando todos os cuidados. 1 ano de homeoffice, videoconferência e "seu microfone tá no mudo". Temos vacina. Mas não temos. E eu já tô provisionando essa rotina até 2023.

Ironicamente, o último evento antes do "fim do mundo" foi o meu aniversário. E eu fico feliz de ter podido comemorar me divertindo a vera com meus amigos no karaokê. Já sabíamos que o negócio tava ruim e foi por pouco que o evento não foi cancelado, já que em poucos dias as coisas iam mudar pra sempre.

Mas, bom, pelo menos eu comemorei, né. Pior é a menina do De repente 30, que tá LITERALMENTE a vida inteira esperando pra fazer uma festa com esse tema, reunindo todo o elenco agora com 30 anos também, e tirar uma foto com a Jenifer Garner pra mostrar como elas tão iguaizinhas, e nem vai poder fazer a festa dela (ela faz 30 esse ano).

Mas, então, ter 30 anos. Não vou mentir, durante essa pandemia, doeu. Em alguns momentos chorei como poucas vezes chorei na vida. E finalmente tomei coragem (ou seria vergonha na cara?) e comecei a fazer terapia. E, ah, sim, a Sandy estava certíssima. Como as costas doeram, viu? Não ter uma cadeira decente realmente acabou com a coluna. E o sedentarismo acabou com o exame de sangue também. Tenho que literalmente correr atrás desse prejuízo agora. 

Mas não ter mais 20 anos tem suas vantagens. Fora os efeitos desse "momento histórico", e o lance da atenção à saúde, ter 30 anos é bem melhor que ter 20. Aquela pressão* sobre tudo aquilo que esperam de você e que você espera de você mesmo é bem mais diluída, seja pela concretização dos sonhos, seja pela consciência de que não dá pra ter tudo nessa vida. E daí que você ainda não é tudo aquilo que você queria ser? E daí que aquele fulano não concorda com a maneira como você toca sua própria vida? E daí que você não se encaixa no esteriótipo? Ele por acaso paga os meus boletos?

* Eu não vou linkar, mas é só você dar uma passada nos posts de 10 anos atrás pra você ver como elas estavam todas lá.

Aos 20 anos, o jovem, inconscientemente, fica encantado com o ritual que envolve se organizar para pagar os seus boletos. E realmente, ele é um marco da vida adulta. Porque pagar boletos é o sinal de empoderamento que te faz ligar o f*da-se pra toda essa necessidade de aceitação externa.

Mas como ia dizendo, os dias que precederam os aniversários de 30 anos, e agora de 31, foram bem menos ansiosos do que os da última década. E ao invés da sensação de anos anteriores de que o tempo estava passando rápido demais, ou de que o planos não estavam dando certo, entre outras epifanias que começam a aparecer, o sentimento é de...paz.

Paz por entender que não dá pra brigar contra o tempo e que a única saída é viver um dia de cada vez. Paz por perceber que nada é pra sempre e tudo bem. Por ver as novas gerações repetindo os mesmos erros e cometendo os próprios, e perceber que eles VÃO apagar os nossos passos, quer a gente queira ou não. Porque agora que essa nossa galera começa a ocupar os espaços de ação e tomada de decisão, a gente vê como também cometeu os erros de outras gerações e apagou os passos de outras antes antes de nós. E tudo bem. Não existe esse negócio de "deixar a sua marca no mundo", como a gente fica tão preocupado às vezes quando mais novo. Mas existe sim fazer a sua parte e deixar a sua marca em algumas pessoas. E isso é suficiente.

Talvez um pouco dessa paz nesse ano, inclusive, venha da própria sensação de que, durante essa pandemia, não há muito mais o que fazer e que ter chegado vivo até aqui já é coisa à beça.

Ah, sim, apesar de pagar os boletos e liderar uma equipe e tal, ainda assim tem um monte de coisas que eu não sei resolver e preciso pedir ajuda pro meu pai, e meu passatempo favorito ultimamente é reler minha série de livros adolescente favorita pra acompanhar um podcast gringo. No final das contas, nossos pais também eram só pessoas tentando descobrir como resolver as coisas igualzinho a nós agora. E tudo bem. (Tá vendo como é reconfortante ter essa visão de uma geração completa? Isso e fazer terapia. Realmente ajuda, amigos.) 

Eu pensei em terminar o texto com uns versos de The Schyler Sisters de Hamilton, que falam sobre "History is happening" e principalmente "Look around, look around at how/Lucky we are to be alive right now!", mas agora no final percebo que não tem outra música senão essa daqui que toca em De repente 30 (13 Going to 30), que acaba comigo TODA A VEZ.

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E eu sei que eu tô fazendo 31, mas será mesmo que um ano que não se viveu, apenas se sobreviveu deve ser contado como inteiro? Além do mais, mas o que é 31 senão 13 ao contrário? 

PS. Bom, acho que vou deixar vocês com Stop this Train também porque acabei de brincar com os números pra parecer que a vida acabou de começar igualzinho o John Mayer.

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