Eu sempre fui a aluna nota 10. Não que meu boletim fosse nota máxima do início ao fim (ok, no primário isso era bem próximo da verdade), mas sempre fui uma boa aluna. Dá pra contar nos dedos de uma mão a quantidade de vezes que fui pra recuperação ou prova final.
Não sei dizer se era a melhor aluna. Talvez fosse a mais “completa”. Gostava tanto das humanas, quanto das exatas. Tinha o mesmo prazer em fazer uma redação, quanto de resolver uma lista de matemática. E contrariando a imagem criada por todos os filmes, ia bem até na Ed. Física (era do time de handebol do colégio e nunca era escolhida por último pelos capitães dos times).
Também contra todas as expectativas,
nunca liguei muito pra essa história de notas e alto desempenho. Nunca quis ser “a melhor”. Só queria dar o meu melhor. E curtir ao máximo meu período escolar. Os resultados seriam consequência.
Fiz questão de manter a humildade e os pés no chão pra não virar aquela pessoa chata que se acha e não tem amigos. Aliás, minha maior vitória talvez tenha sido
o grupo de amigos mais legal que eu poderia ter. Porque a escola, os boletins, as notas... passam. E a vida lá fora não tem nada a ver com esse experimento pelo qual passamos toda a nossa vida até os 18 anos.
Acontece que eu ando descobrindo que, bom, talvez a vida aqui fora não seja tão diferente assim do colégio. E que esse negócio de ser uma aluna nota 10 talvez não tenha sido a melhor estratégia. Porque a vida não te prepara para certas coisas que já deveriam estar no sangue e aí:
1) Você tem vergonha de pedir ajuda
Você está acostumado a ser a pessoa a quem as pessoas perguntam as coisas. A pessoa que resolve os problemas. Aquele que tem as respostas na ponta da língua. E às vezes você se sente na obrigação de saber tudo. E se sente frustrado por não saber todas as respostas. E tem vergonha de ser aquele que pergunta. E às vezes também não sabe a quem perguntar, já que quem geralmente tem as respostas é você.
2) Você não sabe lidar com o fracasso
Você está acostumado ao sucesso o tempo todo. E quando falha se sente a pior pessoa do mundo. E tem dificuldade de seguir em frente e fica com aquilo martelando na cabeça durante um bom tempo, racionalizando, tentando entender onde você errou, até chegar à conclusão que não é o fim do mundo e que errar não te faz pior, só te faz humano.
3) Você trabalha mais que os outros
Talvez essa seja a principal diferença para os tempos de colégio. Afinal, realizar um bom trabalho durante o ano te garantia mais fins de semanas livres, saídas mais cedo durante os dias de recuperação e férias garantidas em pleno mês de novembro. Mas, ao contrário dos tempos áureos da escola, quando você é bom no que faz, a única coisa que você ganha é... “Mais Trabalho!”. Você faz o seu e refaz o dos outros que fazem errado. Você ganha mais responsabilidade e mais preocupação. E começa a pensar que ser “medíocre” seria um negócio muito mais vantajoso, mas é orgulhoso demais para fazer as coisas de qualquer jeito e acaba “carregando o mundo nas costas” assim mesmo.
4) Você tem que lidar com altas expectativas o tempo todo
As pessoas criam expectativas muito grandes em cima de você. E te dão mais trabalho do que dariam para os outros, confiando na sua capacidade de resolver problemas. E todo mundo acha que você tem que ser o melhor sempre. E você se pega pensando que não pode errar (vide números 1 e 2) e que tem que agradar a toda essa gente e se esquece que você pode ser bom, mas ainda assim é gente, e que quem manda na sua vida, no final das contas é você.
5) Você vive o eterno dilema do herói
Como já diria o tio Ben: “Com grandes poderes, vem grandes responsabilidades”. E logo você sente a pressão das expectativas, do peso do possível fracasso, da dependência das outras pessoas e do mundo que colocou nas costas (o peso sobre os ombros não é psicológico, é físico, eu já senti). E aí começa a se perguntar: “E quem é que vai ‘me’ salvar?”. E se eu não for nada disso? E se eu for, mas não quiser ser? Alguém me perguntou alguma vez a minha opinião?
Acho que meu problema é um pouco o contrário. Aceitar esse fardo do destino, ao mesmo tempo em que tento encontrar o meu lugar no mundo e um jeito de sobreviver.
Nunca me senti especial, de forma alguma. E também rejeitei muitas vezes o título de líder, pois nunca achei que levasse jeito pra coisa. Mas estou começando a aceitar o fato de que talvez seja mesmo diferente, de alguma maneira (porque eu já me formei e continuo sendo uma das melhores no que eu faço – não sou eu que estou dizendo, é o que venho escutando nos últimos meses de várias pessoas, gente inclusive que nem tem tanto contato comigo assim -, mesmo ainda achando que na maioria das vezes não faça nada de mais).
E como já dizia o Mr. Schue: “Às vezes ser especial é um saco”.