Existem histórias de monstros que vivem no armário. Existem histórias de monstros que moram debaixo da cama. Ou atrás da porta. Ou dentro da caixa de brinquedos.
Não importa o lugar, os monstros sempre se escondem naquele cantinho escuro, apertado e bagunçado do quarto.
E nenhuma dessas histórias é tão assustadora quanto a sensação de descobrir que o verdadeiro monstro vive dentro de você.
Eu achei que fosse uma pessoa calma, tranqüila, serena. E que só saía desse estado de paz quando forças “ocultas” vinham me perturbar. Não sou nada disso.
Descobri que sou babaca, vingativa e egoísta. Que falo mais do que devo. E que tenho uma língua ferina e afiada. E que não sei manuseá-la direito. Daí quando quero (e quando não quero também) minhas palavras cortam como navalha. E na pele de quem não devia.
Descobri que afasto as pessoas como mecanismo de auto-defesa. E depois sofro pra mudar essa impressão. Porque infelizmente tem gente que confunde ser legal com ser otário. E otária é uma coisa que eu não sou.
Descobri que sou mais do tipo “bateu-levou” do imaginava. E que a revanche pode demorar, não falha. E quando vem, é com 10 vezes mais força. Também uso do humor, ácido, como forma de vingança. E passo do limite. Por isso ele não é nada engraçado.
Descobri que não sou só idiota com as pessoas que merecem (porque tem gente que merece, sim!). E que muitas vezes machuco gente que só quer o meu bem. Na verdade, tendo a machucar mais justamente as pessoas que gosto de verdade, do fundo do coração.
Descobri que existe um monstro furioso dentro de mim. E que ele não se manifesta só quando está com fome. Mas também quando se sente sufocado, injustiçado, ansioso e amedrontado.
A minha sorte é que essas mesmas pessoas que não merecem são corajosas e não têm um monstro feroz dentro delas também. E elas não têm medo usar todas as armas pra colocar ele no seu devido lugar e o combatem com doses de carinho que eu não estou acostumada (e não mereço) receber. E isso é capaz de derrubar qualquer monstro.
Descobri que no cantinho mais escuro, apertado e bagunçado da minha alma existe um monstro mais aterrorizante do que o bicho-papão. E a sua força me assustou. Mas, por mais que não dê para acabar com ele de vez, existe um jeito de controlá-lo ou escondê-lo. Porque é dentro dos armários, atrás das portas, debaixo das camas que os monstros devem ficar.