Lembra quando eu falei que a chuva tinha acabado com a minha cômoda e eu estava até sem cama no Natal? Pois então, meu pai e meu avô fizeram uma “cirurgia” e conseguiram salvar a cama. Agora a cômoda não teve jeito, foi perda total. Então, a gente teve que encomendar uma nova, que só ficou pronta esses dias, um pouco antes do carnaval.
E como eu não curto carnaval mesmo, aproveitei os dias de folia para dar uma limpa não só na antiga cômoda (a gente tinha que tirar as coisas de lá pra colocar na nova mesmo), como também no quarto, no meu cantinho de estudo e no, por muitos anos intocado, armário.
E como eu não curto carnaval mesmo, aproveitei os dias de folia para dar uma limpa não só na antiga cômoda (a gente tinha que tirar as coisas de lá pra colocar na nova mesmo), como também no quarto, no meu cantinho de estudo e no, por muitos anos intocado, armário.
O Eminem sabe do que eu estou falando
Como a gente não fazia esse tipo de faxina completa há muito tempo, o processo foi bem demorado (quase um dia para cada etapa) e um pouco cansativo. Mas também foi uma verdadeira viagem no tempo.
Você não tem noção do que a gente achou dentro dessas gavetas/ guarda-roupas! Dentro deles tinham coisas que eu já devia ter jogado fora há séculos, coisas que eu nem lembrava mais que existiam e outras que eu nem sabia da existência.
Você não tem noção do que a gente achou dentro dessas gavetas/ guarda-roupas! Dentro deles tinham coisas que eu já devia ter jogado fora há séculos, coisas que eu nem lembrava mais que existiam e outras que eu nem sabia da existência.
Felizmente, não tinha nenhum monstro no armário
Encontrei fotos, rascunhos de um monte de bobagem (estavam lá o princípio do Meg’ame e os convites do aniversário da Anne), presentes personalizados, cabides, revistas velhas (desde Sci Fi de 2004, com capa do Tom Welling, passando por Atrevida da mesma época com o Felipe Dylon zoado em todas as fotos, até gibis e o Almanacão da Mônica e a Revista Recreio), o primeiro e único exemplar da nossa revistinha das Heroínas CPEM – Contra as Patricinhas da Escola e do Mundo (hahaha!) - publicado pela Editora Legal, um pôster do Harry Potter, um jornal com a Vanessa Giácomo na capa assinada pela sua sósia, minha professora de história (hahaha!), remédios(???), um pedaço de pizza (brincadeira, mas teve uma vez que a gente achou um pacote de biscoitos mesmo) e um monte de dinheiro (ah, como é bom achar dinheiro! Toda vez que a gente encontrava mais em qualquer forma, gritava: “DINHEIRO $$$$”, hehe)!
É claro que essas coisas com valor sentimental (e o dinheiro, obviamente), a gente guardou pra sempre que estiver fazendo a faxina, achar de novo e aí ficar lembrando desse tempo que não volta mais. Em parte, é também por isso que ela demora tanto. Porque cada uma dessas coisas tinha uma história por trás que a gente foi recordando a tarde toda com o maior prazer.
É claro que essas coisas com valor sentimental (e o dinheiro, obviamente), a gente guardou pra sempre que estiver fazendo a faxina, achar de novo e aí ficar lembrando desse tempo que não volta mais. Em parte, é também por isso que ela demora tanto. Porque cada uma dessas coisas tinha uma história por trás que a gente foi recordando a tarde toda com o maior prazer.
Infelizmente, não tinha nenhuma passagem pra Narnia também
Mas de nada adianta fazer uma limpeza se for pra deixar tudo lá onde estava. E aquele armário estava implorando por uma havia tempos. Desentulhamos montes de provas e trabalhos acumulados desde o primário (!), fora todos os deveres do curso de inglês.
Quando você digita “A vida é feita de” no Google, ele completa assim:
• Escolhas
• Atitudes
• Momentos
• Encontros
• Ciclos, etc.
Mas é claro que o Google diz isso porque ele é um servidor virtual, porque se fosse uma pessoa arrumando o armário, com certeza ia dizer que a vida é feita de... papel. Toneladas de papel.
Sabe quando tinham aqueles sorteios de casas no Faustão e aí tinha uma pilha enorme de cartas em que as dançarinas ficavam nadando ali dentro? O meu quarto ficou mais ou menos assim. Eu tive que pegar um saco de lixo daqueles bem grandes pra caber tudo. E quase que não coube.
E não pense que a gente jogou tudo fora sem olhar. Mas observar tudo isso foi até bem divertido. Observamos cada lauda e vimos como a gente mudou de lá pra cá!
As letras, por exemplo! Não sei nem dizer se mudaram pra melhor ou pra pior, mas, com certeza, eram escritas com mais paciência. Tanta paciência que usávamos até canetas coloridas pra enfeitar o caderno. Hoje em dia, SE a gente copiar alguma coisa, já é algo muito raro. Aliás, caderno é outra coisa que eu também já não sei o que é hoje em dia. Só um bando de folhas perdidas e bagunçadas dentro de qualquer pasta.
Pois é, eu era uma pessoa organizada. Eu até fazia esse tipo de faxina com uma certa freqüência! Que vergonha! Quando a gente cresce, devia ficar menos bagunceiro, não o contrário. Minha irmã diz que é porque conforme a gente vai ficando mais velho, a quantidade de papel vai aumentando muito e aí a gente não consegue acompanhar esse crescimento de desperdício de árvores e deixa tudo zoneado mesmo.
Bom, pelo menos foi reconfortante ver como a minha escrita melhorou de lá pra cá. Nossa, peguei uns textos que a profª mandava fazer na 4ª série e deu a maior vergonha. Frases mal-estruturadas, expressões mal-escritas... Até as redações do curso de inglês ficaram melhores com o passar dos períodos. Um monte de preposições erradas, Jesus! Por que os professores não faziam o seu trabalho e corrigiam, né? Não, eles ainda diziam que estava bom! Mas isso é normal. Ruim mesmo seria se eu chegasse à conclusão que os textos de hoje são da mesma qualidade de uma menina de 10 anos.
A gente cresce, deixa o armário bagunçado, depois ele se vinga da gente
No final, foi bem libertador tirar 10 kilos de papel do quarto. Mas até que no meio de toda essa herança egípcia, conseguimos salvar um exercício com uma bobagem histórica aqui, uma redação engraçada ali, um poema escrito na aula acolá...
E também foi um pouco estranho encontrar tanta velharia entulhada. Muitas das coisas parecem que pertenceram a outra pessoa que não eu. De certa forma, foi como um encontro com uma versão distante da pessoa que sou hoje. E um encontro com uma versão muito próxima da que vos escreve também.
E escolher o que ficava e o que ia embora, na verdade, também significava escolher do que queríamos nos lembrar e o que queríamos apagar de vez da nossa memória. De vez em quando, o nosso passado nos dá vergonha e a gente tem que se livrar das provas que comprovem que aquilo foi real. E isso não tem a ver só com o que éramos, mas também com o que somos e principalmente, com o que queremos ser.
Pensando nisso, aliás, até que o Google não estava tão errado em suas divagações sobre a vida. A vida é sim feita de escolhas, momentos, encontros, ciclos... Principalmente para uma pessoa limpando o armário.