sábado, 23 de outubro de 2010

Infância Imprópria

Ok, Dia das Crianças já passou, todo mundo já ficou com saudade desse tempo bom e aproveitou pra cantar aquelas músicas que adorava quando era pequerrucho, mas morre de vergonha agora que está crescido. Aí nessa hora, com certeza, você ficou nostálgico pra caramba, soltou um suspiro e falou: “Ai, no meu tempo é que era bom! As crianças de hoje não tem mais músicas assim, apropriadas para sua idade...”, não foi?

O que você não lembrou foi das músicas totalmente impróprias que a gente cantava e ainda diziam que era de criança. A começar por, obviamente....

Atirei o pau no gato

Atirei o páu no gato tô tô
Mas o gato tô tô
Não morreu reu reu
Dona Chica cá
Admirou-se se
Do berro, do berro que o gato deu
Miau !!!!!!


Um claro caso de violência contra os animais. Perceba que a intenção ao atirar o pau no gato era MATAR o bichano e o espanto de Dona Chica (provavelmente a mandante do crime) quando o gato dá um berro de dor e não morre.

Samba Lelê
Samba Lelê está doente
Está com a cabeça quebrada
Samba Lelê precisava
É de umas boas palmadas


Mas coitada da Samba Lelê! A criança DOENTE, com a cabeça QUEBRADA e o que fazem com ela? Dão amor, carinho e canja de galinha? Não! Descem o sarrafo na bichinha. Cadê o Estatuto da Criança e do Adolescente e o Juizado de Menores que não vêem isso?

Nana neném
Nana neném
que a Cuca vem pegar
Papai foi pra roça
Mamãe foi trabalhar

Desce gatinho
De cima do telhado
Pra ver se a criança
Dorme um sono sossegado


Ih, criança, se ferrou! Papai foi pra roça, a mãe foi trabalhar... Ninguém vai te salvar da Cuca. Confesso que não conhecia a segunda parte da música, mas vale a pena salientar também como a música retrata com exatidão o problema dos pais que trabalham demais e não têm tempo para ficar com os filhos, tendo de pedir ajuda ao gato para que tome conta da criança, uma vez que é difícil achar uma babá de confiança. A única coisa que eu não entendo é como esse povo vai pedir ajuda logo ao gato, que tanto tentaram assassinar lá na primeira música... Se eu fosse esse gato, eu ia querer me vingar...

Mini-saia
(Dane-se a reforma ortográfica!)
Mini, mini, mini, tô de mini-saia
Mini, mini, mini, e de chapéu de praia
Mini, mini, mini, encontrei um garoto
Mini, mini, mini, ele nem me olhou
Mini, mini, mini, eu tirei o maiô :-O
Mini, mini, mini, ele desmaiou


Sério, sempre achei essa um absurdo. Tenho pra mim que essa é a música que a Copélia mais gostava quando pequena. Prefiro nem comentar.

Das adoletas da vida 

Cento e cinquenta
Com muito carinho
Vai ter que me dar
Um pedacinho
De Baygon, Baygon
Barata com sabão
É bom!
1,2,3,4,5,6,7,8,9,10
Puxa o rabo do tatu
Quem saiu foi tu!
Puxa o rabo da cadela
Quem saiu foi ela!
A, E, I, O, U!
A baleia do Sul!


Tirando o fato de ser completamente sem nexo, onde já se viu Baygon, Barata e Sabão ser bom? E mais uma vez a violência contra os animais se manifesta. Depois de atirar o pau no gato, dá-lhe puxar o rabo do tatu, da cadela...

Mamãe na cozinha
Papai no corredor
Vovô de cueca
Dançando Rock’n’roll


Uma família visivelmente desestruturada. A mãe num cômodo, o pai no outro, e o ancião da casa dançando seminu numa clara demonstração de que não está mais em pleno domínio das suas faculdades mentais.

Lá em cima do piano
Tem um copo de veneno
Quem bebeu, morreu
O azar foi seu


Olha isso! VENENO! Ao alcance de qualquer um! E a falta de solidariedade com quem toma o negócio é que é a pior parte.

Professora muito burra
Me ensinou a namorar
Namorei um garotinho
Da Escola Militar
O safado do garoto
Só queria me beijar
Na bo-ca!


Eu não sei nem o que é pior. A falta de respeito com a professora, a atitude da mulher em ensinar uma coisa dessas ou o assédio do menino.

A resposta da Mariquinha 
Abre a porta Mariquinha
Eu não abro não
Você vem da pagodeira
Vai curar sua canseira
Bem longe do meu colchão
(...)

Outra família desestruturada. O marido saiu de casa pro forró SEM a mulher (safado!) e ainda se acha no direito de entrar em casa a hora que quer (machista!). E aí a esposa também se vinga e ameaça agredir o homem com pau-de-macarrão. Alguém duvida de que esse casamento não vai durar?

E pra fechar:

Maria Chiquinha
Que cocê foi fazer no mato, Maria Chiquinha?
Que cocê foi fazer no mato?

Eu precisava cortar lenha, Genaro, meu bem
Eu precisava cortar lenha
(...)


O que é que a Maria Chiquinha realmente foi fazer no mato? E o que o Genaro ia fazer com o resto depois que CORTASSE A CABEÇA da esposa? Alguém chama a polícia, por favor! Tem um assassinato acontecendo! Sério, é bonitinha, mas essa música é muito imprópria!

Alguém me fala como é que nossos pais deixavam a gente cantar isso? É só mau exemplo! Vai ver é por isso que desistiram de fazer música pra criança, porque pra fazer assim, melhor não fazer!*

Obs. É tudo brincadeira, viu! Ninguém vira assassino de gatos ou de mulheres por causa disso. E tinha muita música legal (e apropriada) também. Acho um absurdo não ter mais música direcionada ao público infantil.
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sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Fessores nota 10

Quando se trata de educação, eu sou uma pessoa muito cética. Não acredito nesses milhões métodos inventados pelos educadores da nova geração. Não acredito que tecnologia faz grande diferença no ensino, e nem acredito em colégio que promete aprovar todo mundo no vestibular. Mas se tem uma coisa que eu acredito totalmente e coloco toda a minha fé, essa coisa é o professor.

Não é exagero dizer que, ao passar mais da metade do seu dia em ambiente acadêmico, o professor acaba sendo uma espécie de segundo pai para todos seus alunos. É ele quem muitas vezes ensinará conceitos não só da matéria, mas de cidadania e pensamento crítico, transformando seus estudantes em mais do que simples ‘experts’ em determinado assunto e formando verdadeiros cidadãos.

É bem verdade que existe muito professor salafrário e que, além não ensinar nada, faz questão de infernizar a vida dos alunos, tornando-se responsável muitas vezes pela repulsa (e tempos de faculdade, até desistência) dos estudantes por determinada disciplina. Esse daí não é o professor do tipo ‘pai’, e sim do tipo padrasto mesmo, rs. E é exatamente essa espécie que rende algumas das maiores piadas entre os alunos em seus momentos de ócio. Porque, não sejamos hipócritas, o principal passatempo de aluno é falar mal de professor. Me pergunto se a recíproca é verdadeira, mas divago.

Mas eu não queria falar desse tipo de “professor” hoje. Gostaria de render uma homenagem a alguns dos meus mestres queridos que contribuíram e muito para a pessoa que sou hoje. Alguns deles, quando chegaram à minha vida, transformaram não só a mim, como também fizeram uma verdadeira revolução na instituição em qual começaram a lecionar. E para esses daí, eu não só tiro o chapéu, como tenho um orgulho danado de dizer: “Eu tive aula com ele”. Não vai dar pra escrever sobre todos, mas vou tentar fazer um bom apanhado.

Jardim e Primário
- Tia Márcia do Pré.
Ela ensinava um monte de musiquinhas e coreografias pra gente. A música da caveira era a minha favorita. Tum-ba-la-tum-ba-la-tum-ba-la-uê! Pena que tiraram ela no meio do ano. A tia que entrou não ensinava essas musiquinhas.

- Tia Neide da 3ª série
Ela era velha. Mas gostava de ser chamada de Tiazinha – na época era ela que habitava o imaginário dos homens. A mulher chegava na sala já ditando um monte de exercícios, e é por causa dela que até hoje tenho calo nos dedos, mas cadê que os alunos deixavam de gostar dela? A gente cantava até uma musiquinha em sua homenagem: “Uh, Tiazinha, para de passar devê! Uh, Tiazinha, tô cansada de escrever”. Fiquei triste quando, anos depois, descobri que a Tia Neide tinha morrido. É, gente, o cigarro mata! De verdade! E matou a Tia Neide.

Ginásio...
- André Batalha (aquele que quase nunca falha!) – 4ª/ 5ª série
Deu 6 meses de filosofia na 4ª série e um bimestre de História na 5ª. Ele também ensinava um monte de musiquinhas! Nossa, que aula era aquela! Pena também que ele foi embora logo no início na 5ª série. Até hoje não se sabe porque ele nunca mais deu aula no colégio. Alguns dizem que ele ficou com dengue, outros que passou no concurso do município e eu já ouvi dizer até que ele tinha virado ator. (Ele ensinava praticamente atuando também, por isso a aula era tão boa).

- Ana Helena
Tudo que eu sei de História eu devo a essa moça. Adorava as aulas da Tia Ana Helena. Quando chegou a 8ª série, mudou de professor, mas aí estreou Cabocla na TV. Você deve estar se perguntando o que uma coisa tem a ver com a outra. Calma, eu explico. É que a Ana Helena era A CARA da Vanessa Giácomo. Nossa, aí também, ela “sofreu” com a gente. Eu fui pedir autógrafo pra ela no jornal que saiu (com o pôster da atriz), fizemos uma revista com a capa da Vanessa Giácomo e inventamos uma entrevista com a mesma dizendo do que ela achava da Ana Helena, chamavámos a professora de Zuca no corredor... Hahaha! Era divertido! Mas ela adorava essas bobagens também! Chegou a fazer MSN assim: anahelena_zuca@... Haha! Ai, ai, saudades desse tempo bom.

- Alexandre
Tinha semana que ele estava careca. E tinha semana que ele tinha mais cabelo e barba. Mas a pochete gigante e o barbantinho estavam lá todas as aulas. Eu ficava boba como ele desenhava todos aqueles retângulos e triângulos e, principalmente, círculos perfeitos só com a ajuda daquela cordinha que ele passava no giz. Parecia até mágica. Ótimo professor. Aprender ângulos alternos internos foi fácil com o truque do Z.

- Carine, Renata e Carol (as Smallvillemaníacas)
O que fazer quando você descobre que 3 das suas professoras (de Espanhol, Geografia e Ciências, respectivamente) compartilham do seu mesmo vício (Smallville e seu protagonista, Tom Welling)? Elas eram e, são até hoje, superamigas (com o perdão do trocadilho). Era engraçado. A gente comentava os episódios, babava pelo Tom... Era uma mais maluca que a outra. Não que eu possa falar alguma coisa (já leu o depoimento do que a gente fez com a professora acima?, e você ainda não viu nada!). Quando juntava todas elas então, se segura! Ah, sim! A Renata e a Carine também eram superfãs de novela mexicana/coisas da cultura latina e batiam altos papos com a Esther!

Teve um trabalho de Programa de Saúde da Carol que era pra falar sobre anabolizantes. Aí a gente colocou o Tom na capa e o título era mais ou menos assim: “Anabolizantes: o jeito fácil de se tornar um Super-Homem”. Nem precisa dizer que ganhamos nota máxima. Hahaha! Ai, Jesus, como a gente aprontava! Definitivamente, a 8ª série foi uma série muito criativa...

- Deborah
Está pra nascer uma professora mais legal que a Deborah. Praticamente tudo o que eu sei de Português, é culpa dessa doida. Desculpa, tia Deb, mas você sabe que é meio pancadinha, rs.

A Deborah chegou no colégio quando eu estava na 7ª série junto com uma nova leva de professores (dentre eles Carol e Renata) e não é exagero dizer que a mulher revolucionou aquela escola. Depois de uns dois anos de muita disciplina, seriedade e sermão em Português, eis que chega tia Déb fazendo brincadeiras de arrumar frases e cantando para todos os alunos ‘tomar banho’ igual a Maria da frase que a gente tinha que pontuar. E isso foi só o primeiro dia, porque teve um ainda mais marcante. Vou contar uma história pra vocês:

Prova do 1º bimestre. Só eu e minha amiga Fe na sala. Uma questão sobre Sujeito e Predicado. A Fe, desesperada que só (por isso a Deb chamava ela de Leãozinho. Sim, da música do Caetano Veloso), começa a chorar dizendo que não sabe resolver a questão porque nunca tinham ensinado aquilo pra gente. E o pior é que era verdade. O professor das séries anteriores nunca sequer tinha tocado no assunto. Eu confirmo à Deborah e ela fica abestada. A partir daí, rola o maior barraco na diretoria (não que eu tenha visto, mas com certeza teve), a Deborah teve ensinar tudo o que o cara não tinha ensinado (mais a matéria dela), e acaba que criamos um eterno laço de afinidade para bem depois do fim das aulas.

E vou te contar, que aula BOA! Aprender sintaxe nunca foi tão divertido. Nunca vou esquecer que: “O verbo haver na 3ª pessoa do singular, com sentido de existir, é impessoal, dando origem assim à Oração Sem Sujeito”, de tantas vezes que a gente repetiu isso na sala. Sério, eu nem olhei nada pra escrever isso agora.

Mas foi de um jeito legal, sabe? Ela estava meio que brincando quando mandava a turma repetir. Ela mesma não se esquece desse dia.

E o pacotão 3 em 1? “Verbo de ligação” (sem brincadeira, ela desenhou um telefone no quadro nesse dia. As pessoas não acreditam quando eu conto) + Predicado Nominal + Predicativo do Sujeito. Eles sempre vêm juntos!”.

Isso fora altos projetos que ela ainda fazia com a turma. Projetos de Leitura, de teatro, extra-classes, passava filmes pra gente, comentava Bob Esponja... Sabe aquela professora que faz de TUDO para os alunos se dêem muito bem na vida? Que quer fazer do colégio um lugar melhor? Pois é, é a Deborah.

E além de TUDO, a mulher ainda era super-heroína nas horas vagas!

Ah, sim, a sinceridade é outra característica marcante dela. Ela SE ESTRAGANDO de rir no Festival de Poesia de 2007 foi muito hilário. Nossa, lembrei agora do dia que os alienígenas fazendo contato! E do ‘olhar sexy’, que na verdade era ‘olhar míope’. E o famoso ‘olhar bovino-opaco, boca 15º’ dos alunos que não estão entendendo lhufas. E só a Deborah que pra ensinar eufemismo dá o exemplo de “virar self-service de verme” (ecaaa!)

Não é à toa que com 6 meses de aula só, ela ganhou festa de aniversário, e vários presentes. Muitas, muitas saudades das aulas da Deborah. Tia Déb, você sabe que mora no meu s2!

Galera do Cefet

Putz, agora vai ser difícil falar de todo mundo. É tanto professor bom que vai acabar ficando cansativo. De qualquer forma, vamos listando a maioria deles rapidamente. Desculpe se não der pra falar de todos, vou dar preferência aos que tem bordões, ok?

- Paulo
“Hi, my name is Paulo, eu sou professor de Química”. Assim começou a primeira aula do Paulo e primeira aula da nossa jornada do Cefet também. O Paulo era um professor singular. A prova do cara era (muito) difícil, mas com ele você aprendia Química. Suas músicas sem noção demais, seus gritos nas horas mais inoportunas (Iiiiiiih!), as piadas do tipo que a gente ficava tipo: “Hã???” (Qual é o nome do sal dodói? KI – porque caiu, doeu! ). Ah, sim, tinham os remédios também sempre recomendados na época pós-prova, mas esse é um blog de família, não posso ficar postando coisas de conteúdo chulo.

- Talita
Exemplo de caráter. Aula excepcional. Trabalhos inesquecíveis (tia Tatá, se tiver erro de português no post, você me desculpa, tá? Mas o que importa é a comunicação, né?!). A turma aprendia e crescia horrores nas aulas dela. Não se limita às quatro paredes da sala para ensinar, sempre marcando passeios visitas técnicas e se precisar dá aula até na escadinha do Bloco A, quando falta luz, rs.

- CH Lobo

Quem disse que prof. de ed. Física não serve pra nada? A gente aprendeu muito mais sobre ética e cidadania nas aulas do CH do que em qualquer outra. Amigo dos alunos e, junto com tia Tatá, sempre em constante luta para melhorar a instituição onde trabalha. Muita gente da minha turma, inclusive, deve a ele a aprovação em Programação no 2º ano. Qualquer problema, você pode ir reclamar “direto com ele” (rs). Eu já vi muita gente querendo matar a aula de Ed. Física, mas isso é porque não tiveram aula com o CH. Quem participou dos Grandes Jogos não quer mais outra vida! rs

- Bira
Quando não houver saída
Quando não houver mais solução
Ainda há de haver saída
Nenhuma idéia vale uma vida...

Já era o 4º ano do curso técnico e depois de tanta briga e sofrimento, a única coisa que a turma queria era catar logo aquele diploma e nunca mais ver informática na vida. Só que aí chegou o Bira e mudou tudo. Aqueles alunos já cansados de notas baixas e de ouvir que não queriam estudar e que deviam largar o curso de uma vez descobriram que não só era possível e fácil aprender programação como eram bons nisso! Sabe aquele cara que é apaixonado pelo que faz? Pois é, é o Bira. Ele deu uma injeção de ânimo em todo mundo e aquilo que parecia impossível se tornou palpável. Aqueles alunos que tantas vezes pensaram em desistir começaram a tirar 10 em cima de 10. E em provas difíceis. E que demoravam 2 dias para ficarem prontas. E a gente fazia amarradão!

Além de tudo, ainda era um super-amigo dos alunos e chegou até a trocar o dia das aulas de Java pra mim, por causa da minha faculdade. É graças a ele que muitos de nós conseguimos estágios e trabalhos também. Professor igual ao Bira não existe. E palavras para expressar a minha gratidão e honra de ter sido sua aluna também não.
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É por causa de pessoas assim que eu acredito que não só na educação como forma de ascensão social, como creio que não se precisa de muito para transformar um aluno e até uma escola inteira. Ah, se as instituições de ensino só tivessem professores assim... Aí sim, o Brasil ia pra frente!
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Eu não esqueci de vocês, calma! Faixas bônus!
- Scheila
(“Mateus, Rafael, Cláudio, Fulano, Beltrano – e nome de quem mais estivesse em pé -... Vamos sentando?”. Melhor professora de física que eu já tive. Superfofa, ia passando de mesa em mesa perguntando: “Tudo bem?”)
- Welerson (“Dá um jeito, dá um jeito!” – Saudades da aula desse mineiro que foi parar em Santa Rita...)
- Vivi Marquezine (“Mateeeeus, cê tá impossível hoje!” – fofa demais!)
- Luizão (O Luizão já passou de tudo nessa vida. Sério, o cara tem, sei lá, umas 10 faculdades! Mas o melhor mesmo era quando ele falava: “Brilhouuu, Vândila!”)
- Marcela ("O meu Trianglinho - ou Trianglão - não está torto... É a luz!", "Vocês querem que eu grite e xingue igual ao Paulo, é? Aaaaah, seus feios!" Hahaha! Sabia muito a mulher, vou te contar!)
- Aline Dib (“Pessoaaaaal!” – estalando os dedos. Sempre dizia que não ia deixar assistir aula quem não estivesse com a apostila, mas sempre esquecia disso também, rs)
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terça-feira, 12 de outubro de 2010

Nostalgia pura

Eu tenho saudades da época em que tudo parecia mais simples. Uma época em que a gente não tinha muita responsabilidade e dormia de tarde. Ou melhor, da época em que não dormia de tarde, porque o mais cedo que a gente acordava era às 9h.

Tenho saudades do tempo em que a ida pra escola levava no máximo 20 minutos a pé e a gente contava os dias pra Ed. Física. Tenho saudades do tempo em que a gente fazia “piuí-tic-tac-abacaxi-com-chocolate”, “um-atrás-do-outro-igual-a-um-gafanhoto” na hora da fila e de quando sexta-feira era o dia em que podia levar brinquedo pra escola.

Tenho saudades do tempo em que a gente se vestia de índio no Dia do Índio e de soldado no Dia do Soldado e pintava os desenhos da prova depois que acabava. E saudades da época em que os trabalhos pra casa eram do tipo “Recorte e Cole” e só tinha 4 horas de aula por dia.

Tenho saudades do tempo em que a gente brincava de vaca amarela na Kombi da Tia Sandra e comprava bala fiado na Maria. Saudades de quando biscoito waffer era Mirabel, do doce do Zorro, da bala de caramelo e de quando os desenhos do Passatempo eram letras e as pessoas brigavam por elas nas Lojas Americanas pra poderem escrever seu próprio nome na porta do quarto. Tenho saudades de quando PushPop era sensação, de colecionar as surpresas do KinderOvo e de comer por partes do corpo o chocolate da Tortuguita e do biscoito Fofy.

Tenho saudades de quando sentava todo mundo numa mesa gigantesca e ficava compartilhando/roubando o lanche dos outros e eu levava Toddynho (ou quente ou puro gelo) pra beber. Tenho saudade até das abelhas que ficavam no refeitório atrapalhando, loucas por um restinho de guaraná natural. Tá bom, mentira, das abelhas eu não sinto falta, não. Tenho saudades mesmo era de prender as abelhas com a tampa do refrigerante Minalba (Minalba!) e depois ver alguém correndo cheio de medo quando a gente soltava a bichinha.

Tenho saudades das novelas infantis do SBT, da época em que a Dança da Fadinha era hit e de quando a gente jogava bafo com os tazos de Pokemon. Tenho saudades do tempo em que a gente cantava Chiquititas na Kombi só pra irritar os meninos. E saudades do tempo em que até os meninos gostavam de Chiquititas (ou será que eu estou delirando?) também.

Tenho saudades da época em que todo mundo gostava de Sandy e Junior, via o seriado e comentava na segunda-feira sem medo de ser feliz. E tenho saudades de quando o Prezunic ainda não era Champion, que ainda era Continente e sorteava ingressos pros shows também. Mas principalmente, tenho saudades da época em que a gente cantava Imortal até enjoar e fazia concurso de quem aguentava mais a última nota (putz, isso era muito bom! Quem segurasse mais, a gente achava que sabia cantar muito, haha!).

Tenho saudades de quando a gente achava a capa da fita VHS de Jumanji a coisa mais legal do mundo, porque ela era meio 3D e se mexia quando balançava. E tenho saudades de quando todo mundo comprava a Revista Recreio ou aquela outra que eu esqueci o nome, mas vinha no domingo junto com O Globo e tinha uns quadrinhos do Doug.

Tenho saudades do tempo em que a gente chegava do colégio louco pra ocupar a poltrona no papai e assistir o CRUJ tomando aquele lanche reforçado que deixava a gente sem apetite pra janta. Tenho saudades do tempo em que a gente brincava de “polícia e ladrão” no meio da rua. E do tempo em que brincava de pique-esconde na praça de Tinguá com quase 18 anos na cara.

Tenho saudades de quando tomava vacina de gotinha e da época em que a gente podia ficar doente porque aí ainda matava aula na escola. E tenho saudades do tempo em que as consultas eram mais doces porque o médico dava pirulito no final.

Tenho saudades do pirulito do Doraime (ou era Zoraime?) que aparecia na Angélica, ainda na Manchete, e de quando eu sempre dormia no meio do programa e aí meu pai colocava um do meu lado e eu ficava crente que era o bicho da Tv que tinha trazido.

Tenho saudades do tempo em que meu despertador não era um celular e sim uma galinha (o despertador era em forma de galinha, não que eu tivesse uma Marilu aqui em casa). Tenho saudades de quando o Tamagochi era o terror das professoras e o de todo mundo era um Dinossauro e o meu era uma Tartaruga e vivia mais que o de todo mundo.

Tenho saudades do skate, bicicleta, patins e patinete de dedo e dos concursos que tinham na Eliana, mesmo eu não tendo a mínima coordenação motora pra todas aquelas manobras. Saudades do programa da Eliana, do Chiquinho, do Pitoco, e do Melocoton também. E tenho saudades do Mundo de Beakman, do Lester e daquela apresentadora que chamava Lisa e eu sempre dizia que era eu. Ai, saudades do Agente G de quando a gente pintou um tonel em homenagem ao Refri.

Ba-da-bim, ba-da-bam, ba-da-bum!

Tenho saudades de quando o videogame mais avançado era o Nintendo 64 e os meninos alugavam a fita (fita!) na locadora. Tenho saudades de quando as locadoras alugavam CD também e de quando filmes com mais de 3 horas eram raros porque senão ficava igual a Titanic, que tinha que ser separado em duas fitas. Tenho saudades da minha locadora, aliás.

Tenho saudades da época em que as festas de aniversário tinham que ter tema e eram feitas no quintal da nossa casa. E mais saudades ainda das festas que a gente dava já na época em que não tinha mais tema nenhum, e a gente jogava bola o dia inteiro, e a irmã mais nova da minha amiga roubava no placar, e sempre tinha alguém que se machucava (Adriana, geralmente), mas mesmo assim continuava feliz e contente, e a gente zoava a “Dona Jura”, e uma porção de coisas.

Tenho saudade até de quando o Mc Donald’s tinha acabado de chegar na cidade e aí todas as crianças comemoravam aniversário por lá. E tenho saudades também de quando as mesmas crianças começaram a ficar de saco cheio e passaram a sabotar aquele teatrinho do Ronald. Tenho saudades do Ronald e sua turma, aliás. Mas principalmente tenho saudades do tempo em que a casquinha custava só 1 Real.

Tenho saudades do tempo em que era a maior emoção quando a gente revelava as fotos meses depois que eram tiradas, e a gente colava aqueles adesivos com balõezinhos no plástico do álbum. Tenho saudades de quando a gente se reunia em volta do álbum pra ver as fotos, aliás. E principalmente tenho saudades de quando as pessoas não ficavam tirando fotos de si mesmas de dentro do banheiro pra depois colocar no orkut, até porque ele nem existia.

Saudades do Almanacão da Mônica e daqueles aviões/carrinhos de shopping que não saíam do lugar e só faziam barulho. Dos desenhos 2D da Disney e de quando o NorteShopping fazia aquelas gincanas maneiríssimas na sua praça central. E saudades de quando os personagens da Disney foram no BarraShopping e a gente ia várias vezes e ficou correndo o shopping inteiro pra tirar fotos com todos também.

Tenho saudades de quando a gente se preocupava com o que ia ganhar de Dia das Crianças e de quando as lojas colocavam aquelas mesas enormes cheias de brinquedos fora da caixa pra gente brincar e, lógico, pedir pros pais comprarem pra gente.

Tenho saudades de um monte de coisas e desse tempo que não volta. E é por isso mesmo que ele se torna tão especial. Mas deixa eu parar por aqui, senão esse post não acaba nunca.

E você, do que tem saudades?
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Allie Finkle, a levada da Breca

Livro lido tem mais de um ano, mas, como é dia das crianças, estou publicando a resenha. E mesmo que você não se interesse pelo livro, vale a pena ler até o final, porque ela está numa nostalgia tremenda. Enfim, Feliz Dia das Crianças pra todas as crianças e pra todos aqueles que já não são mais criança tem um tempinho, mas de vez em quando sentem a maior vontade de agir como uma. Agora, a resenha...

Agora é oficial. Meus filhos lerão Meg Cabot. Eu sei que eu já dizia isso de brincadeira, mas dessa vez é sério. Meus filhos lerão Meg Cabot... Da mesma forma que também se deliciarão com as histórias do Ziraldo, da Turma da Mônica e do Castelo Rá-tim-bum (se ainda passar até lá).

Por que eu estou falando isso? Porque a nova série da Tia Meg (e chamá-la desse jeito nunca foi tão apropriado) não fica devendo em nada para os ótimos exemplares destinados ao público infantil, os quais eu lia quando tinha a idade de Allie Finkle, a protagonista da vez.

Allie é uma menina de 9 anos que resolve escrever regras para amizade, a fim de se lembrar como se comportar. No 1º volume, o mote principal fica por conta do anúncio dos pais de que a família vai se mudar em breve.

Com essa sinopse fuleira, nem eu levava fé no livro. Achei que ia ser bobo demais. Mas acabou que lá pra mais da metade do livro, eu já estava tão entretida com a história do gato da vizinha que quase passei da minha estação.

Cabot, que já havia publicado livros tanto para adolescentes quanto para adultos, se aventura pela primeira vez a escrever para crianças e não faz feio. Segundo ela, havia uma certa cobrança das irmãs mais novas das leitoras do Diário da Princesa para que ela fizesse um livro que elas pudessem ler (Não se engane pelo filme. DP é para maiores de 12 anos. Não que tenha alguma coisa censurável como nas novelas, porém não seria interessante entregar a série para uma criancinha). Então, Meg teve a idéia de começar a série da Allie, que tem 9 anos e escreve as regras da amizade, porque, de acordo com Cabot, essa é a idade em que as meninas começam a ficar más.

Uma pequena retrospectiva pela minha infância para checar se o que a escritora disse fazia sentido mesmo e... BANG! Na mosca! 9 anos. Essa foi a época em que as meninas REALMENTE começaram a ficar más. Fiz uma pequena enquete com as minhas amigas e não deu outra. Meg acertou em cheio. A sensibilidade certeira de Tia Meg para perceber e tratar assuntos tão banais e ao mesmo tempo universais ainda me impressiona a cada dia que passa.

Assim como o início do fim da inocência, também estão nos livros outros elementos próprios da infância como a tal da mudança (Você já reparou quantos colegas do jardim/primário saíram da escola porque se mudaram nessa faixa etária? O número é muito maior do que a quantidade de colegas que se desligaram por esse motivo no ginásio, por exemplo. Aliás, EU me mudei aos 6 anos. Só que pra bem perto da minha antiga casa, então não tive que trocar de colégio.) e o desejo de Allie em ter seu próprio bichinho de estimação (Quando eu era pequena, eu cansei de pedir pra minha mãe pra me deixar ter um cachorrinho. Ou uma tartaruga. Ela nunca concordou porque dizia que no fim das contas ela que ia acabar cuidando do bicho, apesar das nossas promessas de limpar todas as sujeiras dele. Hoje eu vejo que não limpar mesmo. Eu sequer arrumo o meu quarto. Que dirá cuidar de um cachorro. Fico feliz pelo bichinho não ter vindo aqui pra casa).

Aliás, acho que de todas as heroínas de Cabot, essa é aquela com a qual eu mais me identifiquei. Não é o meu livro preferido, mas tem a protagonista que mais parecia/parece comigo. E olha que eu já li um monte delas, e essa daí tem só 9 anos. Isso que dá ter mentalidade de criança... hehe!

Mas sabe o que eu mais gostei nesse livro? É que nele as crianças querem ser... CRIANÇAS! Elas não salvam o mundo, nem são metidas adolescentes. Fazem besteiras típicas da idade, ficam de castigo por conta delas e só querem saber é de brincar. E elas de brincam de Barbie, de gritar pelos sistemas de ventilação, de princesas raptadas... E soam absolutamente verdadeiras.

Porque por mais que a mídia queria forçar a barra e dizer que as crianças de hoje são muito mais espertas que as de antigamente por causa do avanço da tecnologia, eu acho que a realidade é que as crianças, no fundo, são as mesmas de sempre. Porque, apesar de tudo, elas sempre vão gostar de correr e desenhar na escola e terão medo de monstro se virem filme de terror.

Isso não quer dizer que elas sejam burras. Elas só têm um jeito próprio de ver a vida. Como toda criança DEVE ter. (Isso é uma regra) E é aí que está o grande trunfo de Cabot (e do Ziraldo, e da Turma da Mônica e do Castelo Rá-tim-bum também). É que eles tratam com simplicidade dos temas da infância, sem a intenção de parecer descolado e ao mesmo tempo, sem subestimar a inteligência de seu público.

Meg já fazia isso quando passou a escrever para adolescentes e agora só estendeu ainda mais o seu público. É claro que há algumas diferenças para com os livros da Tia Meg com que estamos acostumados – não tem romance e deu pra ver que ela se policiou para não soltar algum comentário sobre as últimas das celebridades ou a série do momento. Mas isso tudo isso se justifica, afinal, crianças de 9 anos não namoram (ou não deveriam. Essa é outra regra) nem têm muita noção do que acontece fora do mundo delas - eu, pelo menos, não sabia o nome de ninguém nessa idade. A não ser o nome dos atores de Chiquititas. Ou coisas do gênero.

No mais, é mais um livro com o selo MC de qualidade. Só que dessa vez recomendado para quem tem 9 anos. Ou 19, ou 29, ou 39... Basta você se lembrar o quanto era bom ser criança e se divertir com Allie, a Levada da Breca. E essa daí é mais uma regra.

Obs. A série da Allie vai ter 5 livros. E, sem brincadeira, eu quero mesmo saber o que vai acontecer com ela nos outros volumes.
Obs2. Foi impossível não imaginar o pai da Allie como o pai “mafioso” da Meg. Engraçado que eu isso só aconteceu nesse livro. Nos outros, os pais da minha imaginação não tem aquele bigode horrendo. Ainda bem. Hehe!
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sábado, 2 de outubro de 2010

Filmes vs. Livros

A primeira coisa que eu gostaria de dizer para você, leitor que sai do cinema reclamando que mudaram toda a história dos livros e fizeram tudo diferente na adaptação para as telonas é: Eu te entendo. Nunca cheguei a ficar revoltada como alguns, mas também já tive 15 anos e fiz listinha de diferenças entre livros e filmes. Eu sei como é ficar catando essas coisas pra ficar discutindo depois.

E a segunda coisa que eu gostaria já de antecipar é que, apesar de tudo, eu acabo sempre sendo um pouco condescendente com as versões cinematográficas baseadas em obras literárias. Tendo a defender os filmes (mesmo que não mereçam) porque, no calor do momento, eu tendo a ficar do lado dos fracos e oprimidos que ninguém toma o partido. O que não quer dizer que não me reserve o direito de mudar de idéia mais tarde.

Outra razão para geralmente eu ficar do lado das películas é que meu amor por minha série literária favorita nasceu de um filme. Um que foi 90% diferente do livro. E que eu tinha gostado pra caramba muito antes de descobrir que era livro porque, mesmo assim, o filme era legal. E acontece que esse filme 90% diferente foi o responsável por permitir que a tal série literária fosse até o final. Então, desculpe, você não vai encontrar aqui nesse post uma declaração de revolta contra os produtores de cinema que adaptam até demais um livro quando vai para telona.

Linguagens Diferentes, Coisas Diferentes
Porque, por causa dessa experiência precoce e edificante, eu entendi muito cedo que filmes e livros são coisas diferentes. E são coisas diferentes porque são LINGUAGENS diferentes. E, se tratando de linguagens diferentes, nada mais comum que se façam mudanças também no processo de adaptação.

É impossível transpor tudo aquilo que está no livro para o roteiro. Tem certas coisas que funcionam nas páginas, mas não funcionam nas telas; tem outras que funcionam nas telas, mas não funcionam nas páginas; e ainda aquelas que não funcionam nem nas páginas e os roteiristas têm a presença de espírito de não colocar no filme também.

Sim, eu também concordo que na maioria das vezes os livros são mais legais. Contudo, entendo que a maioria dos comentários sarcásticos e mais interessantes dos livros às vezes pode soar forçados num filme. Vide a resenha do genial Alta Fidelidade.

E não dá pra pôr todo o material literário num filme assim ao pé da letra por causa do tempo*. O diretor só tem umas 2 horas para contar aquela história. E eu concordo com ele quanto a essa restrição, porque quando eu vejo que um filme tem pra lá de 3 horas eu já fico com o pé atrás. Primeiro porque eu penso que vou perder meu dia assistindo a um único filme podendo estar fazendo um milhão de outras coisas e ainda ficarei com a poupança quadrada no final. Ele tem que ser muito bom pra me manter atenta e me fazer esquecer da fome e da eventual vontade de ir ao banheiro no meio durante essas 3 horas. E depois porque, se o filme for ruim, a tortura se arrastará por uma tarde inteira!
*Outra coisa: Filmes mais curtos garantem mais sessões por dia, o que gera mais $$$ pros estúdios.

Foi mal, mas prefiro os filmes mais curtos. E quando eu vejo esses super-longa-metragens, eu quase sempre me pergunto: “Mas será possível que o diretor não podia enxugar um pouquinho esse negócio, não? Não é possível que todas essas cenas sejam assim tão essenciais!”.

No livro é legal ver um monte de tramas paralelas e os detalhes, etc, porque quem dita o ritmo da leitura é você. Agora num filme, sério, gente, as pessoas têm mais o que fazer. Imagina só transpor para um só filme NA ÍNTEGRA a história de um livro de mais de 500 páginas! Haja paciência! E, como eu já tinha dito, nem sempre colocar tudão que o livro tem de melhor garante um filme legal.

 2 livros cheios de referências a filmes...

Muita gente metendo o bedelho
Outra questão importante a ser levantada e que justifica as tais mudanças ou uma diferença de qualidade no conteúdo das obras é que no “processo de fabricação” de um livro você tem envolvidos o escritor, o revisor, um editor e praticamente só isso. É muito mais fácil chegar a um acordo caso haja alguma divergência e para a realização do livro de fato, só o que o escritor precisa é de um pouquinho de inspiração, um monte de transpiração e um computador para digitar todas as ideias.

Quando você fala em cinema, depende de muito mais gente. Tem os atores, os roteiristas, os figurinistas, os cabeleireiros, o cenógrafo, o fotógrafo, o pessoal dos efeitos especiais, o diretor, os produtores e principalmente, o pessoal do estúdio. Isso porque no livro só se tem uma variável envolvida: a palavra, que é concreta. E se ele for ruim ou bom, a responsabilidade é toda do escritor. Agora no filme tem esse monte de outras coisas que separadas formam um bando de categorias para o Oscar e juntas fazem uma obra ser boa ou ruim, e de uma maneira quase subjetiva até.

E quando eu destaquei ali em cima “principalmente o pessoal do estúdio” é porque são eles que liberam o dinheiro. E sem dinheiro, não rola. E como eles é que tem a bufunfa, também são aqueles que têm maior poder de decisão sobre a película. É o estúdio que vai liberar o orçamento, as contratações e vai aprovar ou não tudo o que entrará no filme. Se ele não estiver satisfeito com alguma coisa, manda mudar, coloca na rua, substitui profissionais, corta cenas, enfim.

Isso porque o estúdio está preocupado com o dinheiro e com a sua própria reputação. E não está errado, não! Você daria o seu dinheiro para um projeto e deixaria os caras fazerem o que querem? É o seu nome que vai aparecer lá também! Só que aí cabe a todas as outras partes envolvidas entrarem num acordo, caso discordem de algum ponto. Aí, sei lá, o escritor bate o pé, o diretor diz que não vai aceitar desse jeito, o ator fala que só for pra fazer um projeto assim prefere sair... Aí uma parte cede de um lado, a outra cede de outro... Ou então ninguém cede, o estúdio manda, e cancela a bagaça toda. Ou faz do jeito que ele quiser.

E tem conflito de agendas também, ou o ator que iria ser perfeito não sabe atuar, o diretor quer deixar a sua marca no projeto... Milhões de coisas podem acontecer! Deu pra perceber que o entendimento para fazer um filme envolve muito mais gente (e muito mais dinheiro) e por isso, é muito mais difícil de tornar realidade do que um livro?

Livros em série, Filmes nem tanto
Certo. Pois então, como eu estava dizendo, quem manda no final das contas (literalmente) é a grana e nem sempre adaptar as obras ao pé da letra é viável por questões de linguagem etc. E isso acontece muito no processo de transposição de livros em série para as telonas.

Gente, coloca uma coisa na cabeça de vocês. As séries estão cada vez maiores. Só que nem todas elas são Harry Potter e realmente dão retorno* e nem são possíveis de se fazer mais de 3 filmes.
*E quando eu falo retorno, eu não falo apenas de bilheteria (que geralmente são maiores para filmes com efeitos especiais caríssimos e muitas cenas de ação). É venda de DVDs e milhões de produtos licenciados também (sim, bonequinhos, cadernos, mochilas, lenço de assoar nariz, papel higiênico... Isso tudo faz parte, não seja bobo! Você acha que os caras não pensam nisso tudo antes de decidir adaptar uma franquia?)

Primeiro porque eles não rendem aquilo que é esperado. E pra fazer continuação, pelo menos o primeiro tem que lucrar. E depois porque:
1)    Muitos desses livros sozinhos realmente não dão um filme inteiro assim com um final satisfatório.
2)    Se a série for muito grande, haja briga entre todos os integrantes da produção a cada vez que for fazer uma seqüência tanto por questões financeiras, quanto por razões criativas e...
3)    Os atores envelhecem muito mais rápido do que o ritmo das filmagens.

Pra você ter uma idéia, nem o Homem-Aranha, que é o Homem-Aranha e bateu um monte de recordes de bilheteria, conseguiu emplacar uma 4ª seqüência com a mesma equipe.(O estúdio e o diretor não entraram em acordo. Mandaram o diretor embora e vão reiniciar a franquia agora com o Peter adolescente).

E para não ficar com a série incompleta na telona, muitas vezes se opta por um filme que compacta a série toda em um só. Eu particularmente acho essa uma saída muito interessante. A gente reconhece partes de vários livros e dá até pra ser fiel ao que se propõe a fazer. É claro que vai cortar praticamente tudo. Mas é mais fácil de fazer um filme divertido e não corre o risco de o pessoal que não leu o livro ficar sem final (e eu odeio quando isso acontece).

E eu entendo que em algumas séries os livros (ou pelo menos os primeiros volumes) funcionem sozinhos. Às vezes acho que seria até mais fácil (e mais legal) se adaptassem só o primeiro e deixassem o resto sem filme, se fosse o caso. Mas fazer o quê, né? Não dá pra ganhar todas!

E sabe quando eu comentei lá no início que eu também fazia listinhas de diferenças de filmes vs. livro. Pois é. Depois eu fui descobrir que, ok, eles mudaram coisa à beça, desnecessariamente até, mas seria inviável transpor a série toda para o cinema por causa de todas as razões que eu já citei (volumes demais, incapacidade de fazer todos os filmes com o mesmo elenco, brigas de produção...). Fora que, quando compraram os direitos para o filme, não tinha saído nem o primeiro volume ainda. E pra um filme que não se sabia se ia ter seqüência (essa sim, completamente dispensável) realmente, aquele final foi muito mais interessante.

 E um filme sobre um cara que escreve um livro...

Detalhes tão pequenos de nós dois
Ah, sim, outra coisa: cada pessoa imagina os personagens de um jeito. É impossível agradar a todo mundo. E eu prefiro um ator carismático que capte a alma do personagem do que um que fisicamente é idêntico, mas é de uma inexpressividade dolorida. Cor do cabelo, cor do olho, mancha na orelha... Pra mim é praticamente irrelevante. E às vezes, vamos combinar também, tem umas descrições que ficam praticamente impossíveis de se seguir!

E outras que são até inúteis. Tem autor que prefere deixar o personagem com o mínimo de descrição possível para que o leitor possa se imaginar no lugar dele, sabia? É uma das razões pelas quais eles deixam uma atriz ruiva interpretar uma personagem loira, um cara de olho verde fazer o mocinho que tem olho azul, etc! Porque tem vezes que TANTO FAZ!!! Vamos deixar de sermos tão cri-cris e parar de reclamar dessas coisas minúsculas e bestas tipo: “Ah, mas a unha do dedo mindinho da Fulana estava cortada 1 mm mais curta do que descrevia no livro!”.

Conclusão
Como já disse lá no início do texto, tenho certa condescendência com relação aos filmes porque eles me levaram aos meus livros favoritos (e não só esses lá do início da década) e inclusive deram sinal verde para que muitos deles pudessem ser publicados.

Nessa “guerra” de livros vs. filmes, os dois saem vencedores. Hollywood ganha com boas histórias e filmes arrasa-quarteirão com direito a muitos produtos licenciados. E o mercado literário aumenta à beça suas vendas.

E se os filmes ficarem legais, e, apesar de diferentes, mantiverem o espírito dos livros, sempre os defenderei porque existem mil razões para eles não poderem ser 100% fiéis. Muito embora nem sempre essas razões me convençam de que um filme não poderia ter ficado melhor. Depende do caso.

E é isso que eu queria que você guardasse desse texto. Cada caso é um caso. Umas adaptações são fiéis por alguns motivos, outras não são por outros. Algumas ficam boas, outras não. E isso ainda é muito subjetivo. Depende de quem vê.

Só não vamos sair execrando as coitadas das películas somente por elas não seguirem os livros à risca. Não é o fim do mundo. Vários desenhos que a gente assistiu quando era criança modificaram E MUITO as versões originais. E ninguém morreu por causa disso. Critique-as sim, mas dentro das suas limitações.

Pra mim, no geral é o seguinte: se os filmes continuarem levando as pessoas para os livros, mesmo que o filme seja ruim já está bom. Mas isso sou eu e bom, eu já disse que defendo até os filmes que não merecem, então, pelo menos essa última frase você não precisa levar muito a sério.
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