terça-feira, 24 de janeiro de 2012

SIA: Sistema Inútil de Avaliação

Eu sempre fui uma aluna Nota 10. Não necessariamente todas as notas eram 10 (realmente até a 8ª série, essa afirmação ficava bem próxima da literalidade), mas sempre fui uma boa aluna. Só fiquei de recuperação uma vez na vida, e fiz Prova Final uma única vez também, num dos últimos períodos da faculdade.

Dito tudo isso, você há de pensar que eu supervalorizo o sistema de avaliação por notas e que acho que os alunos que não pintam o boletim com notas azul berrante são de fato menos inteligentes do que os outros ou coisa do tipo. Mas na verdade exatamente por estar nessa posição, posso dizer sem medo de parecer invejosa que ter um boletim repleto de notas 10 não quer dizer absolutamente nada.

No meu último semestre de faculdade, mesmo com um CR invejável, não consegui vaga pro TCC com o professor mais disputado de todos (e por sorte não fiquei com o mais temível de todos). É difícil você encontrar algum estágio que leve as notas em consideração (os que levam não são economicamente interessantes ou não tem possibilidade de efetivação) e nenhum gestor vai pedir o seu histórico para decidir se vai contratar você ou não.

Isso não quer dizer que eu me arrependa de ser uma aluna exemplar e que aconselhe todo mundo a não estudar e ficar pendurado na prova final. Ter notas boas é uma coisa boa. A gente já não se preocupa com a escola em pleno mês de outubro, não precisa ir pro colégio dia de sábado, entra de férias mais cedo e não fica dependendo da boa vontade do professor para aprovar você ou não. Mas notas, no final das contas, são só isso: notas.

Elas não definem quem você é ou vai ser. E não definem nem se você sabe mais determinada matéria do que outra. Só se você vai passar de ano ou não.

(Ah, sim, isso não quer dizer que eu ache que as escolas devam passar todo mundo direto, ou que não devam aplicar nenhum tipo de prova. No sistema educacional, as notas são necessárias para que o aluno não entre numa eterna zona de conforto. Elas podem não significar quase nada, ou serem totalmente justas, mas ainda assim são necessárias, para que tudo não fique à mercê da subjetividade)

Sendo assim, agora já não causará tanta surpresa a revelação que farei a seguir de que, fora do ambiente acadêmico, além de inútil, o sistema de avaliação por notas é, principalmente, injusto.

A discussão se tal obra merece uma, cinco ou mil estrelinhas é e sempre será baseada na subjetividade do autor, assim como seus argumentos, com a diferença de que a cotação escolhida supostamente apresenta um padrão equalizador de toda essa subjetividade.

Só que as notas quase nunca conseguirão transparecer tão perfeitamente a sensação final que se teve da mesma quanto um texto de duas páginas. E ao contrário da apresentação de argumentos, em que se pode discuti-los à exaustão sem cair numa briguinha boba de “Mas eu achei e pronto!”, o sistema de avaliação por notas não dá espaço para debate de ideias. Só para uma discussão comparativa que não leva a lugar nenhum.

E agora a gente chega numa das palavras-chave das notas: “Comparação”. Ao colocar sua opinião em nota, o que se faz é traduzi-la em escala. As notas, assim como as escalas, servem justamente para isso. Para estabelecer um padrão de comparação (tem algum índice estatístico com nome de letra grega que faz isso, eu acho). Através das notas você consegue comparar banana com laranjas, e no final chegar à conclusão de qual das frutas é mais gostosa.

E todo mundo sabe que esse tipo de decisão quase sempre é injusta. Por que, ora bolas, laranjas são diferentes de bananas! Aliás, quanto menor o intervalo, diminui também o detalhismo da avaliação e aumenta a possibilidade de distorção. Ou seja, uma escala de 0 a 10 certamente será mais precisa do que uma de 0 a 5. Assim como um sistema que permite acréscimo de casas decimais por décimos, será mais preciso do que um outro que só marca a medida a cada 0,5. E um que possui nota a cada 0,5 pt obviamente será mais preciso do que um só com números inteiros.

E desse jeito, num sistema de 0 a 5 (só com números inteiros), por exemplo, você, sem querer, você acaba entrando em um mundo onde A Origem* é tão bom quanto Rebeldes sem Páscoa. Um mundo em que Um Dia tem o mesmo nível de excelência que Amanhecer – parte 1. Um mundo em que você tem sempre de ficar lembrando a nota que deu antes para não cair em contradição. Um mundo escravo das regras e dos números e chato pra dedéu!
* Essa história de A Origem levar 3 ovos rende até hoje naqueles comentários! Porque, tá legal que A Origem não é um filme perfeito, mas, sem dúvidas, é um filmaço!

As notas tornam-se fator decisivo, o mais importante de uma avaliação. Elas se tornam o veredicto final, quando, na verdade, tal veredicto pode variar muito mais facilmente do que os argumentos e não tem graça nenhuma de discutir.

Elas ganham importância demais, quando, no final das contas, as notas são só...notas. E não querem dizer absolutamente nada.
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quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Pop Art

Às vezes é muito difícil explicar o tipo de música de que eu gosto. As pessoas tendem a achar que eu sou roqueira. Ou que só escuto música erudita.

Na verdade, não tenho paciência para gente que pinta o olho e se veste de preto para dizer que é “rebelde”. Também não simpatizo com os músicos das bandas de rock, que, ou pregam a rebeldia sem causa e fazem coisas estúpidas no palco como forma de auto-afirmação (mesmo que indiretamente façam parte da mesma engrenagem da indústria fonográfica que o Justin Bieber), ou são rebeldes de pelúcia, pregando a paz e amor, apesar de toda a pose de bad boy. Ademais, acima de tudo, não suporto todos aqueles gritos guturais em cima de qualquer acorde sujo de guitarra.

Da mesma forma, não tenho paciência para aqueles álbuns com músicas lentas de dar sono, nem com o público, em sua maioria, apático nos shows, que só sabe cantar uma das canções.

E eu sei que é difícil de acreditar, mas eu gosto de música pop. Tenho certa predileção por canções que grudam no ouvido, ficam na cabeça o dia todo e fazem todo mundo cantar junto (e alto). Gosto do pop justamente por ser tão despretensioso, aberto e assumidamente “vendável”.

I don't know why you say goodbye, I say hello, hello hello

Não me importa se é comercial, porque tenho a consciência de que o comércio é que move o mercado. E, mais do que isso, me enxergo dentro desse contexto como consumidora. O pop comercial, aliás, é aquele que financia os projetos não tão comerciais assim. Faz parte do jogo. Essa é uma das razões, inclusive para o Pop do Brasil andar tão pobre de coisas novas e de qualidade. Porque a indústria fonográfica quebrou e não tem mais dinheiro pra aplicar na divulgação de gente legal também, direcionando todo o orçamento para os Restarts da vida. Mas acho que isso é assunto para um outro dia...

No entanto, não gosto de qualquer pop. Também não tenho lá muita simpatia para esse pop pré-fabricado, vazio e sem talento das rádios. Me cansa quando alguns desses fantoches insistem em nos convencer que não são de plástico (que assumam logo que só querem a fama e o nosso dinheiro!!!), ou quando querem conquistar seu espaço com um marketing que “choca” a sociedade.

All we hear is Radio Ga Ga, Radio Goo Goo, Radio Ga Ga

Gosto de pop melódico, swingado, com alma, letras bacanas e se possível com uma pitada de poesia (sim, dá pra fazer).

Muito me irritam também os artistas que acham que só porque fazem música – ou arte – não precisam cumprir suas obrigações como qualquer outra pessoa e só querem lançar um disco novo a cada década, com só 5 músicas, do jeito que bem entenderem... E tudo bem que a inspiração é importante e tudo, mas acontece que aquilo lá é o TRABALHO dele!!! Fico bem do lado da gravadora quando esta começa a ameaçar com chicote se os músicos não entrarem em estúdio ou reclama do conteúdo do disco, porque, né, eles estão ganhando pra isso. Escritores também dependem da inspiração e dão o seu jeito pra cumprirem seus prazos. Na verdade, em qualquer profissão a gente tem que dar o nosso jeito e leva bronca do patrão. Por que com eles seria diferente?
[Edit: Acho que vale a indicação de um post do Zeca Camargo sobre a música pop perfeita e como isso requer muito mais transpiração do que inspiração. O texto é tão bacana que eu fiquei com vontade de ter escrito. Acho que no fundo é porque é o texto que eu tentei fazer aqui, mas não tinha o nível de conhecimento sobre o assunto que ele tem. Porque, se você não sabe, Seu Zeca, mais do que o apresentador do Fantástico, é um poço sem fundo de cultura pop. E já que estamos falando dele, queria deixar registrado que entendo quando vocês se cansam dos textos demasiadamente longos deste blog. Eu também me sinto assim no blog do Zeca. ;)]

Também muito me irritam os artistas autistas que acham que fazem música para eles mesmos. Não cantam as músicas que o povo espera, agem como se a platéia não existisse, lançam discos meia boca... Até parece que não somos nós, o público, que garantimos o leitinho das crianças deles. Eles têm mais é que nos paparicar muito! E ainda tem de fazer isso com verdade e paixão, porque, caso contrário, não adianta muita coisa.

Aliás, se tem uma coisa que eu detesto é aquele papinho de: "Nesse disco a gente mostrou realmente quem a gente é, agora sim estamos fazendo música com a nossa cara". Primeiro porque dá a entender que antes eles estavam "nos enganando" e fazendo algo de que não gostavam, quando diziam adorar aquilo tudo (no mínimo anti-ético isso) e depois porque esse discurso costuma se repetir disco após disco, tirando toda a credibilidade da declaração.

E é aí que mora o perigo porque nem sempre o que os músicos querem é o que a gente quer. Até porque o “a gente” é dividido em um monte de facções. Cada um tem um gosto e uma mentalidade diferente. Tem a galera que prefere qualidade ao invés de quantidade. Tem a galera que prefere as superproduções. Tem a galera que acha tudo o que o cara faz lindo e maravilhoso...

Como consumidora, eu quero o “pacote completo”. Quero CDs que sejam legais por inteiro e não apenas 3 músicas boas. Quero clipes bacanas, shows bem feitos e artistas que gostam do que fazem. E nem acho que seja muito exigente, mas se querer um trabalho de qualidade é ser exigente, bom, então eu sou mesmo.

Mas fazer aquilo que se gosta e ainda por cima agradar ao público é algo difícil de se conseguir.

Por causa disso eu fico extasiada quando encontro um artista que tem suas metas alinhadas com as minhas expectativas. Quando vejo que tudo o que ele quer é tocar, se divertir e que as pessoas se divirtam com o seu trabalho, eu já fico feliz. Simples assim. E quando eu consigo me incluir nesse grupo de “as pessoas”, eu já fico mais feliz ainda. E se o trabalho tiver um toque de originalidade e sofisticação, aí eu fico é fã. Porque é praticamente uma combinação cósmica achar música pop grudenta de qualidade e feita com paixão ainda por cima.

É, Michael, você faz falta, viu!

É difícil, mas não é impossível. Por isso, da próxima vez que você vir um post começando com UPP, fique tranqüilo, não é a polícia que apareceu por aqui para pacificar o blog, é só uma postagem de Um Pé no Pop. Uma coluna que tem como missão vez ou outra tirar alguns artistas legais das ondas obscuras do meu player e compartilhar com você, leitor, o sentimento de que existe música pop (ou com um pé no pop) muito boa por aí, embora muitas vezes não encontre espaço sob os holofotes do mercado brasileiro.
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quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

BBB, No Limite e a Guerra dos Cupcakes

Você deve ter acompanhado nas redes sociais a polêmica envolvendo comentários sobre o BBB. Uma galera defensora da inteligência iniciou uma campanha pelo fim dos comentários do BBB alegando que “é fútil, não acrescenta nada, é um programa aculturado, etc”, e ofendendo todos os seus espectadores mais fervorosos ao chamá-los de acerebrados e afins. Daí começou a briguinha do “Você não pode me proibir” e ainda “Gosto do BBB, mas isso não tem nada a ver. Também leio Marx, Kant, Nietzsche”. Zzzzzzzz

Realmente não gosto do BBB. Gostaria até de não encontrar minha TL cheia de comentários sobre. E também não consigo entender direito o que esse programa tem que deixa todo mundo louco de janeiro a abril. Mas é claro que não posso proibir você de comentar. E também não quer dizer que toda pessoa que goste do BBB tenha QI abaixo de 100. Blablablablá...

Mas se você tem o direito de comentar e adorar o BBB. Eu também tenho de dizer que odiar e dizer por quê.

Houve um tempo em que até assistia um pouco, por pura falta de opção. Mas depois que chegou a benção de TV paga aqui em casa e, graças a Deus, isso não se tornou mais necessário.

Eu podia engrossar o coro do pessoal que justifica a multiplicação dos realities como um fenômeno destrutivo que só serve para as TVs ganharem dinheiro fácil, uma vez que não precisam apostar em novas ideias de programas roteirizados legais, como bem falava a Tina Fey em um episódio de 30 Rock. Mas acontece que existem reality shows bons, e que realmente acrescentam alguma coisa mesmo. Vide SuperNanny, O Aprendiz, aquela série do Fantástico com lições de economia, etc.

Mas minha aversão ao BBB vai um pouco além do “é fútil, não acrescenta nada, é um programa aculturado, etc”.

Não gosto do Big Brother porque ele é big bobo. Trancam pouco mais de uma dezena de pessoas com corpos esculturais em uma casa para eles não fazerem absolutamente NADA!

Os caras têm tudo do bom e do melhor e passam o dia numa piscina deliciosa em pleno verão carioca! E depois o Bial ainda vem chamar essa galera de “heróis”!!! Herói é o brasileiro que acorda cedo, pega trem lotado, toma esporro no trabalho, volta pra casa cansado e ainda tem que assistir um programa desses.

E você aí na sua piscina 3000 litros tomando sol na laje...

Reality por reality, sou mais No Limite em que a gente pelo menos pode ver os outros em situações deploráveis, passando fome, comendo olho de cabra, e uma gordinha deixando pra trás as duas concorrentes magrelas, remando na canoa e depois tacando fogo numas toras com o nome do programa. Não quer 1 milhão? Vai ter que ralar!

É tipo uma supergincana no meio da selva em que os prêmios são mantimentos para a SOBREVIVÊNCIA!!!!! (Não à toa o nome do programa original se chama Survivor)

(Lost no início, aliás, antes de se tornar uma série muito louca com direito a viagens no tempo – que eu adoro –, laguinhos da Disney, realidades paralelas, e muita, muita luz, era praticamente um No Limite roteirizado com o Time da Praia, liderados pelo homem de fé, John Locke vs o Time da Caverna, liderados pelo homem da ciência, Jack Shepard)

Agora o que eles fazem o dia todo no BBB? NADA! Como já falei, ficam tomando sol na piscina o dia todo e ainda ganham uma festa toda semana para encher a cara e garantir algumas baixarias na TV. (Não consigo entender mesmo como tem gente que assina o PPV. Sério, gente, é muito chato!!!)

Tenho que dar os parabéns pros caras da edição (é Zeus, o nome agora, né?) porque transformar 24 horas de gente fazendo NADA em algo interessante no final do dia não deve ser fácil. Talvez seja esse o segredo do sucesso do BBB, e a razão pela qual A Fazenda não consegue decolar de jeito nenhum. A Record, por exemplo, não tem a manha de transformar um material superpobre em algo superdivertido. Aliás, a Record não sabe editar mesmo. Até o Ídolos deles é mais sem graça. (Mas tenho de tirar o chapéu para a edição ágil do Aprendiz – que em outras mãos podia ficar ruim à beça – e pro Troca de Família).

Na verdade, também acho que os realities em que o público participa são muito menos interessantes. Em No Limite, por exemplo, era bacana acompanhar aquele povo sedento por dinheiro (e por água também) traçando alianças e pensando se deviam votar para tirar o melhor da competição para safar a própria pele e arriscar perder as provas seguintes ou deixá-lo na equipe para garantir as vitórias, e, sem se preocupar se o público ia gostar ou não.

Adoro como os caras do No Limite têm que votar escrevendo com um carvãozinho nesse papel pseudovelho. 
No BBB nunca que ia acontecer uma pérola dessas...

Com o voto do público, o programa fica muito previsível também. Você descobre quem vai ganhar 10 semanas antes de acabar, só de conversar com os seus amigos. Concentrar as decisões nas mãos de alguém do próprio formato do programa dificulta isso. O espectador fica na apreensão de saber se o jurado vai fazer alguma bobagem e eliminar o melhor, o seu favorito, etc. E ainda dá pra xingá-lo sem culpa no dia seguinte. (No primeiro caso, se o cara que você torce sai, a culpa é sua porque não votou o suficiente).

Sem contar que em No Limite, as pessoas queriam o prêmio. No BBB, como todos são lindos e loiros, o pessoal já entra pensando em como faturar mesmo sem levar a bolada principal, ao assombrar a mídia pelos próximos seis meses (taí outra coisa em que prefiro No Limite, depois de acabado o programa, seus participantes SOMEM da nossa vista!). Seja sendo capa da Playboy, da G Magazine, estrelando algum filme proibido (ou um quadro no Zorra Total), conseguindo participações especiais em programas da Lucina Gimenez ou cobrando para comparecer em eventos que vão desde festas de 15 anos a inaugurações de estabelecimentos.

Qual a graça de acompanhar uma competição em que os concorrentes não querem vencer?

É por causa da competição que é divertido acompanhar futebol. É por causa da competição que é divertido ver Ídolos toda temporada, mesmo sabendo que ganhar esses programas de calouros não significa porcaria nenhuma. É por causa da competição que Top Chef já está na, sei lá, décima temporada!!!! (Outro dia, lendo um infográfico sobre tipos de nerd, descobri que existe uma ramificação chamada “Nerd Culinário”. Talvez isso explique também)

E eu sempre me perguntei como um concurso de culinária fazia tanto sucesso. Aí, um dia, domingão, hora do almoço, aquele horário em que não tem NADA passando na TV, passamos pelo canal de viagens e lá estava um programa chamado A Guerra dos Cupcakes.

Cupcakes Nerds

A princípio pensei que fosse uma GUERRA mesmo em que os competidores atiravam cupcakes uns nos outros (uma ótima ideia de programa de TV, se você quer saber minha opinião). Infelizmente, era só uma competição tipo Top Chef, só que com cupcakes, cujo prêmio era fazer os bolinhos de algum evento especial a cada episódio.

Eu assistiria

Resolvemos assistir mesmo assim, só pra ver como era. Acontece que o negócio é tão absurdamente ruim, que acaba sendo bom. (Pois é, também como a Tina Fey, tem vezes que também não resisto a essas coisas indiscutivelmente ridículas.)

A dublagem totalmente fora de sincronia, o apresentador gritando: “Faltam 10 minutos! Vocês vão ter que se superar porque isso aqui é a Guerra dos Cupcakes!!!!!”, aquelas pessoas arrancando os cabelos por causa de um bolinho, os jurados fazendo cara de maus e dizendo coisas como “Você foi muito ousado com esse cupcake”, “Não consegui sentir o gosto do abricó porque ficou camuflado pela abóbora” e “Essa textura está divina, mas você não entendeu a proposta da prova” são coisas, no mínimo, engraçadas.

 "Achei essas borboletinhas muito MSN..."

Mas passados 15 minutos você começa a se interessar pela competição e fica realmente torcendo e fazendo comentários sérios, como quem entende do assunto: “Viu só? Eu sabia que esse bolinho de abricó com abóbora não ia dar certo”.

Uma delícia crocante de programa, como já diria o pessoal dos Seriadores.

Vista você também essa camisa!

Não precisa muita coisa pra entregar entretenimento de qualidade (nem que seja de qualidade duvidosa). Mas pra isso é preciso que as pessoas façam alguma coisa que não se bronzear. E que elas queiram ganhar também. Porque senão aí não tem graça.

PS Mas a principal razão pela qual eu odeio o BBB é porque ele é responsável pela Globo não passar metade da cerimônia do Oscar. Ainda bem que saí dessa vida de TVAberta...
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quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Fechado para Balanço

Geralmente no início ou no fim de ano, você já deve ter visto, as empresas anunciam que ficarão um ou dois dias "fechadas para balanço". Nesses dias elas não obrigam todo mundo a ajudar na contabilidade a fim de fechar o balanço a qualquer custo, nem instalam um balanço para que os funcionários se divirtam um pouco e muito menos colocam para tocar Betty, Balanço o dia todo. Na verdade, se você achava que a tarefa tinha a ver com a contabilidade, estava correto, mas o trabalho realizado nesse dia é menos contábil do que parece e se chama INVENTÁRIO.

Também não significa que os balanços não podem entrar na empresa nesse dia

Ao contrário do que a minha mãe achou, o inventário em questão também não tem nada a ver com a herança de alguém. Fazer inventário de um supermercado, por exemplo, consiste na árdua tarefa de contar cada item dentro e fora das prateleiras, a fim de validar o estoque registrado na contabilidade. Se houver divergência, a contagem é feita de novo, e persistindo ela, conta-se novamente para tirar a dúvida.

Por isso, nos dias de inventário, a empresa tem de fechar, porque aí o sistema é desativado e naquele dia, ninguém faz mais nada (não vende, nem compra) além de contar. Ou então fazem à noite. Ou no fim de semana. E podes crer, a auditoria tem de estar lá para verificar se os funcionários todos estão contando tudo mesmo, ou estão inventando os números da cabeça deles. Já deu pra perceber que não é dos trabalhos mais intelectuais e sim dos braçais, podendo durar dias e noites (literalmente) e nas datas mais ingratas, podendo ser no dia 24 ou 31 de Dezembro, inclusive. Então, você já imagina como as pessoas ficam felizes quando ficam sabendo que estão programadas para fazer inventário.

E eu dei essa volta toda para falar que esses dias fiz meu primeiro inventário, numa fábrica de torneiras aqui do Rio.

Foi uma experiência muito cansativa. Acordei cedinho e voltei pra casa nos dois dias morta, já sem pernas de tanto andar pelo parque fabril e acompanhar as contagens em pé. No entanto, também foi uma experiência diferente e de muito aprendizado.

Primeiro porque você vê todo o processo produtivo e se sente dentro do Castelo Rá-tim-bum quando eles cantavam aquela música do “Você vai ver, fazendo tudo com carinho vai acontecer”.

Depois porque você percebe na prática que aquele filme do Chaplin em que ele fica maluco de tanto repetir os mesmos movimentos não é ficção, como já tinha dito aquele seu professor de história quando foi explicar Revolução Industrial. Coloque aqui nesta lição também conceitos das aulas de geografia, administração, contabilidade de custos e até matemática, como fordismo, linha de produção, a importância de uma política de recursos humanos, o rateio dos custos por área e problemas simples de regrinha de três, por exemplo.

E por último, porque você começa a dar muito mais valor àquilo que você tem.

Hoje o tempo voa, amor... Escorre pelas mãos...

A gente do setor de serviços está acostumado com ar condicionado, cadeirinha, computador. Mas no segundo setor, o negócio é trabalho braçal, uniforme, sinal marcando hora do almoço, comida igual pra todo mundo (e nem todo dia é das melhores), os caras trabalhando num calor infernal, perto de máquinas de carvão, com um barulho desgraçado, e muito óleo no chão. E tudo bem, eles até devem ganhar algum percentual de insalubridade, mas a gente fica pensando se este acréscimo na folha de pagamento compensa o tempo de vida encurtado... E tendo em vista a base em que será calculado esse acréscimo, a "mais valia" aí é grande.

Inventário é o único dia em que a nossa empresa permite usar traje casual: calça jeans, tênis, camiseta, afinal você vai passar o dia todo em pé. E nem pode usar roupa social mesmo. Nesse dia a gente vai ficar em contato com os operários, os caras que põe a mão na massa, usam uniforme, carregam o pesado! Se às vezes, vestidos assim “à paisana”, alguns deles não entendem o sentido do que estão fazendo nem nosso papel ali, trajar uma roupinha chique pode aumentar ainda mais a distância e a resistência ao nosso trabalho.

Alguns são legais, puxam papo, e são felizes com o que fazem, o que dá gosto de ver, tendo em vista a ralação que é. Mas dá pra ver a insatisfação de outros só de olhar. Ao imaginar aquelas condições de trabalho todo dia, você começa a entender o porquê das reivindicações. Dá pra perceber um clima de revolta no ar. E você fica só esperando o momento de alguém gritar e anunciar a volta do ludismo e quebrar todas as máquinas. Ou alguma coisa pior, sei lá.

De um certo modo, os muros da fábrica pareciam lembrar uma prisão, com os uniformes e os sinais, marcando o horário de tudo (ou uma escola extremamente disciplinada, se você quiser viajar um pouco mais*). Na verdade, existe uma teoria de administração que compara as empresas a prisões mesmo. Interessante mesmo era ver as mulheres que, mesmo cercadas de graxa, eram vaidosas e passavam batom na hora do almoço e pareciam ser outras pessoas na hora da saída, sem a roupa cheia de óleo.
* O que me lembrou daquela aula da Talita em que a gente foi debater O Alienista/Bicho de 7 Cabeças e acabou chegando à conclusão de que a hora do recreio – falo recreio até hoje, e daí? – não era nada muito diferente do banho de sol das penitenciárias.

E aí você dá graças a Deus que pôde estudar, porque sabe-se lá o que acontece com esses caras que ralam pra caramba se a empresa resolver colocá-los no olho da rua, ou se machucam durante o expediente. A competição entre os funcionários em alguns setores é ferrenha. Que empresa vai querer contratar um senhor de meia idade para esse tipo de serviço quando se pode ter um jovem de vinte com muito mais disposição?

Você sai da fábrica morto de cansado, mas admirado com a força de vontade e da força laboral mesmo (se eu fiquei assim com um dia, imagina eles em encaram essa rotina direto) da classe trabalhadora do Brasil. E o aprendizado que eu tirei do inventário, esse daí não deu pra ser contado no fim do dia, não.

PS Então, acabei de voltar de um inventário de 3 DIAS(!!!!) de uma fábrica de cosméticos, e dessa vez aprendi inclusive que se deve responder "Sim" para a pergunta "Você tem namorado?", mesmo que não tenha, a fim de cortar logo o assunto com funcionários, digamos, mais saidinhos.
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