sexta-feira, 11 de maio de 2012

A volta dos que não foram

Você percebe que está ficando velho quando começa a notar que assistiu às versões originais na época de sua estréia de atuais reboots ou remakes que hoje fazem reboliço na mídia. E do jeito que as coisas andam ultimamente, não é preciso ter mais do que 15 anos para ter esse tipo de sensação. É o que aconteceu com o Homem-Aranha, que volta às telas completamente renovado nessas férias, somente 10 anos após sua primeira estréia, em 2002. Também esse ano chega às telas o aguardado final da trilogia do Batman sob a batuta do diretor Chris Nolan. Trilogia essa que já nasceu readaptada e que, corre à boca miúda, pode ganhar mais uma releitura em seqüência tal qual aconteceu com o Aranha.

Na onda do ecologicamente correto, um conceito que faz muito sucesso é o da reciclagem. Reaproveitar aquilo que já não é mais útil e evitar o desperdício são as ordens em um tempo em que a população mundial atinge a marca dos 8 bilhões e o meio ambiente dá sinais de derrota na guerra contra o consumismo. Mas, enquanto a reciclagem de papel, plástico, alumínio, etc, ainda parece engatinhar, em Hollywood, a reciclagem de ideias funciona de vento em pompa.

A cada ano que passa, a proporção de seqüências, remakes, reinícios, adaptações, releituras, etc aumenta consideravelmente em detrimento do espaço oferecido a novas histórias, roteiros originais, propostas diferentes na telona. Em 2011, foram nada menos do que 27 sequências estreando (um recorde que pertencia ao ano de 2003, com 23 delas). Isso porque, principalmente, ao contrário do reaproveitamento ecológico, a reciclagem de ideias dá dinheiro e faz muito bem aos cofres dos executivos, que, em tempos de crise, não querem saber de trocar o certo pelo duvidoso. Mas será que ela traz algum benefício para o ambiente e para a sociedade num geral? Será que chegará o dia em que só teremos ideias repetidas e conversões para 3D sendo vendidas como novidade?

Eu pessoalmente não tenho nada contra seqüências, prelúdios (prequência é sua MÃE, tradutor preguiçoso!), remakes, etc. Entendo que é um modelo lucrativo para a indústria e me deixo levar pela promoção exagerada da mídia mesmo. O que me incomoda de verdade é a sensação de que elas só estão sendo feitas por causa da ganância de algum produtor picareta que não sabe a hora de parar! Quando esses desgraçados querem ressuscitar alguma franquia há muito adormecida e que vive muito bem em nossa memória afetiva desse jeito! Quando está claro que nada que seja feito com aqueles personagens vá acrescentar mais alguma coisa pra ninguém!

Por isso, sempre que vejo o anúncio de uma dessas seqüências inusitadas, penso comigo mesma:
“PRA QUÊ???? POR QUE VOCÊS TÊM QUE ESTRAGAR TUDO? POR QUÊ???? POR QUÊ? POR QUÊ????”

Afinal, se o filme é bom, para que refazer? E se é ruim, não está claro que trazê-lo de volta das tumbas é um erro? No caso das seqüências, se a série terminou tão bem, pra que exumar o corpo?

Pode ser difícil de acreditar, mas, às vezes existem motivos além dos óbvios (leia-se $$$) que fazem esse tipo de projeto andar pra frente.

1. Falta de Criatividade
Será que todas as histórias do mundo já foram contadas? Onde foram parar as boas ideias? Se o mundo muda o tempo todo, por que as histórias continuam a se repetir tanto na tela? – o que nos leva ao motivo nº 2.

2. Atualizar a franquia e apresentá-la aos mais jovens
Pois é, o mundo gira, e muda, e se transforma e, ao mesmo tempo...não muda NADA! Fora os aparatos tecnológicos, alguns motes continuam intactos e absurdamente atuais! Daí importância talvez de apresentar aquelas histórias icônicas aos mais jovens, para que elas permaneçam contemporâneas e eles tenham oportunidade de também poder chamar aquela franquia de sua. – o que nos leva ao motivo nº3.

3. Prestar uma homenagem ao original
Se o item anterior mira as atenções nas novas gerações, este aqui foca no pessoal que já tem um certo envolvimento afetivo com a saga. Afinal de contas quando uma franquia tem personagens muito queridos, é inevitável a saudade que se sente daqueles caras que você aprendeu a amar por tanto tempo. Assim, um remake, reboot, seqüência, especial de fim de ano, ou o que quer que seja, não deixa de ser uma oportunidade de promover o reencontro de grandes amigos (ou grandes cenas) com o público, nostálgico, também. 

Pois bem. Quando eu vi a notícia de que iam fazer um Pânico 4, eu pensei exatamente aquilo que eu penso sempre:
 
PRA QUÊ???? POR QUE VOCÊS TÊM QUE ESTRAGAR TUDO? POR QUÊ???? VOCÊS NÃO TINHAM PROMETIDO QUE TINHA ACABADO?

E à medida em que surgiam as imagens promocionais, os reforços no elenco, os trailers, e as críticas, eu sentia que minha língua começar a arder. Eu bem que quis assistir ao filme no ano passado, quando saiu, mas, cadê que eu consegui arrastar alguém pra ir comigo? (Você vai dizer que eu podia baixar o filme, mas tenho muita preguiça pra esse tipo de coisa) Então, a experiência de ver Pânico 4 foi adiada para TV, um ano depois. E, como eu já previa, QUEIMEI MINHA LÍNGUA, e com prazer. Roteiro genial, metalinguagem elevada à quarta potência, divertido, inteligente e muito relevante dentro do contexto em que se encontra.

Pânico surgiu em 1996, deu novo gás ao gênero do terror adolescente e virou figurinha carimbada na geral dos estádios brasileiros. O filme fez sucesso ao brincar com as tais regras dos filmes de terror e se diferencia de seus similares por apostar na metalinguagem. A paródia ao gênero é tanta que Pânico não chega nem a ser terror e sim, terrir. 

Galvão: Olha lá a alegria do torcedor! Aquele ali está fantasiado de uma espécie de fantasma...(Produção entra em contato). É o Pânico! 

(Aos desavisados, eu ainda estou falando de Pânico, a franquia original. E não daquele lixo que é Todo Mundo em Pânico! Tenho ódio profundo dessa praga dessas paródias primeiro porque elas não têm a mínima graça, e depois porque até fazer as pessoas entenderem que Pânico em si já era uma paródia – essa sim, inteligente e engraçada - é um custo!)

Como esquecer da cabeça que continua falando mesmo decapitada em Pânico 2? Ou do melhor diálogo da série, entre Courtney Cox e David Arquette*?

C. Cox: Você guardou o telefone na memória?
D. Arquette faz careta, como se tentasse lembrar o número.
C. Cox: Na memória do celular, seu idiota!
(Viu só, gente! Terrir!)

* Interessante como a série está sempre presente em momentos importantes do relacionamento dos dois. Eles se conheceram em Pânico 1, namoravam em Pânico 2, casaram na época de Pânico 3 e divorciaram em Pânico 4! Será que com um Pânico 5, eles se reconciliam?

Palma, Palma, Palma, Não priemos cânico!

Pânico não se leva a sério. E é por isso que eu gosto.

O que não quer dizer que ele não tenha consciência de seu papel na mídia ou na cultura pop. A cada filme que se passa, praticamente tudo o que é falado dos anteriores acaba por virar auto-referência, como se os roteiristas compartilhassem uma piada particular com o público.

E é exatamente desse jeito que voltamos à Woodsboro, 11 anos após o fim do terceiro filme (e teoricamente o fim da trilogia).

Logo na seqüência inicial o filme diz a que veio com o filme dentro do filme dentro do filme (quase uma Origem dos filmes de terror) e me ganhou sem fazer esforço. Se ainda havia alguma revolta em mim por conta da existência desse 4º episódio, ela foi embora já nos 10 minutos iniciais. Porque Pânico brinca com o fato de ser uma continuação inesperada e com todos esses filmes de terror sem graça que têm milhões de seqüências que em nada acrescentam (sim, Jogos Mortais, é de você que eu estou falando)!

Não bastasse isso, o roteiro ainda dá um jeito de reinventar a franquia (lembra do item nº 2?) sem esquecer de seus personagens principais de outrora, o que traz até um ar de nostalgia para o antigo fã (cumprindo com louvor a tarefa do item nº3!).

Sidney escreveu um livro de auto-ajuda (Ha!) e resolve encerrar sua turnê de divulgação na sua cidade natal, onde sobreviveu a uma série de terríveis assassinatos. E ela chega em péssima hora, pois, durante as festividades do aniversário das mortes (sim, os adolescentes da cidade comemoram isso assistindo a todos os 7 filmes – Ha! De novo! - da saga baseada nos massacres motivados pelo ódio a Sidney), o Ghostface volta a atacar novamente. Também reencontramos Gale (Cox) e Dewey (Arquette), que, enfrentando uma crise no casamento (ó, ironia!), vão ajudar a desvendar a identidade de mais um assassino, no meio de toda a garotada nova.


E ao retomar a franquia 11 anos depois, Pânico acerta justamente por incorporar tudo aquilo o que mudou durante esse tempo (desde os celulares e conexão via streaming, passando pelo elenco jovem e renovado, com pontas de praticamente toda uma galera que faz/fazia sucesso nas séries teen da TV), mas também retomar tudo aquilo que fez o público gostar da série como as piadas, a metalinguagem, os sustos, aquela groselha descarada e principalmente o elenco original (ou o que sobrou dele), ao contrário do que fazem algumas seqüências inesperadas*.
* Essa é uma das manias mais picaretas de Hollywood. Ressuscitar franquias com outros atores nos papéis principais que não tem a metade do carisma dos antigos e fazem os outros filmes com um terço da qualidade. Muitas vezes a história é exatamente a mesma, só mudam os rostos mesmo. Existem muitos exemplos desse tipo de picaretagem, mas um dos casos mais curiosos é Um Príncipe em Minha Vida. No segundo filme, o elenco já não conta com a Julie Stiles, só sobrando o tal príncipe do casal. E no terceiro, nem ele dá as caras! Ou seja, zero conexão com o público. 

Com o argumento de que o novo Ghostface está produzindo um remake, o filme se enriquece com as tradicionais regras (dessa vez das refilmagens) e ainda deixa implícita a crítica à moda de produzir remakes (principalmente do gênero do terror) surgida no hiato da série que, muitas vezes, só fazem f*** com o original. E, mesmo apresentando uma proposta assim, Pânico não deixa de prestar sua homenagem a outros filmes do gênero (aqui representada, veja só, pela nova turma que acabou de chegar à franquia!) ou de oferecer um final de cair o queixo, como sempre! Um mega de um meta-filme!

Ao fim da película, fiquei com duas certezas:

1) Mesmo preferindo ver coisas novas no cinema, se for pra fazer seqüências, remakes, reboots, releituras, ou o que quer que seja, desse jeito, quem sou pra não concordar com a ideia?; e

2) Se me perguntarem, eu não sei você, mas Pânico é de longe o meu filme de terror favorito.

A propósito, essa cena NÃO está no filme!

Aproveitando o tema, deixo no ar algumas perguntas: Qual o seu filme de terror favorito? 
1) O que você acha de cada vez mais termos cada vez menos ideias originais circulando? (E eu dei ênfase ao cinema, mas na verdade serve pra tudo: TV, literatura...)
2) Qual a seqüência/reboot/remake que faz você ter vontade de esfaquear os produtores do projeto?

8 comentários:

  1. Alguns remakes até são legais, mas já está ficando exagerado. Bacana homenagear e atualizar um filme que fez sucesso há 20, 30 anos. Mas... Homem Aranha? Eu ainda nem assisti ao de 2002 e já vão fazer outro?

    Odeio Pânico. Tenho trauma. Você sabe que sou medrosa à beça, né? As tentativas das minhas colegas de cursinho pra me levar à força pra ver o 3 me fizeram ter aversão. Sem contar o dia que eu tentei assistir ao 1 na TV, o portão bateu bem na hora que ia acontecer a primeira morte, e eu saí correndo e quase deixei cair do colo minha prima de seis meses. E sem contar, também, o dia que um cara vestido de pânico correu atrás de mim e das minhas amigas quando voltávamos da igreja. Pode até ser engraçado, mas continuo passando longe.

    Esse post me lembrou que eu queria ver Titanic 3D e não fui. Nem sei se ainda está em cartaz, mas sei que, provavelmente, não conseguirei ir nesse final de semana, de novo :(

    Respondendo à sua pergunta 2... Eu não tenho muitos filmes assistidos no currículo, mas as continuações de Meu Primeiro Amor e Diário da Princesa são as coisas mais desnecessárias que eu já vi na vida.

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    1. Eu gosto de Meu Primeiro Amor - parte 2, apesar desse título nacional ser meio bizarro. Quer dizer, Primeiro Amor é só um, né? Tá igual a uma menina que eu conheci que pra cada pessoa contava um "primeiro beijo" diferente...

      DP2 é absurdo tb. Outro dia li uma notícia que deu vontade de matar a Julie Andrews. Ela respondeu a um jornalista que se a Disney quisesse fazer um DP3 mesmo sem Anne, ela ia achar chato, mas ia aceitar, pq ela não consegue dizer "NÃO" pra Disney. Ia ficar igual Um Príncipe em Minha Vida. Mas, relaxa, por enquanto a Disney não tem nenhuma ideia dessas.

      Se Titanic fosse mais curto, eu ia assistir em 3D tb. É ganância, mas não se esqueça que o diretor é o mesmo de Avatar. Pra ele ter filmado pensando em 3D (como dizem) não custa.

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    2. My girl 2 também é bizarro, porque a "girl" é a mesma.

      Diário da princesa, sem a princesa? Que a Disney continue sem pensar no assunto, amém. Já foi ruim o suficiente tirarem o Michael.

      Meu problema com Titanic foi exatamente a duração do filme. A única sessão que dá pra eu pegar é a de sábado 20h, mas toda semana aparece algo mais importante pra fazer.

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  2. HAHAHAHAHA, prequência! Mas cê jura que traduziram assim? Sério? Gente, isso é muito bizarro. XD

    Eu nunca fui fã de Pânico, acho que nem assisti na ordem certa - se é que vi os 3 filmes -, mas fui ver o 4 no cinema (porque era a única coisa legal em cartaz) e achei ótimo!

    Na verdade, eu sou falsa. Eu fico de mimimi, mas se o filme é bom, não ligo taaanto de ser remake, continuação de série [supostamente] fechada ou coisa parecida. Mas não gosto muito dessa moda dos "origens". O único que vi foi O Planeta dos Macacos (e amei).

    E ainda não tinha visto ninguém que queria ver Titanic 3D. Esse é o verdadeiro exemplo de ganância. u.u'

    E eu até meio que gosto de Todo Mundo em Pânico, assisti todos. XD Mas também a modinha de fazer filme de zoação me estressou e eles foram os únicos que gostei.

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    1. "Prequência" é o que vc mais vê em sites pseudoprofissionais. Na Wiki tem um verbete "Prequela" tb. É menos feio, mas ainda é horrível.

      Acho prelúdios mais descarados do que sequências. Mas tb sou dessas que reclama, reclama, reclama e se diverte depos.

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  3. Não consigo entender essa sua paixão toda por Pânico! E eu vi esse Pânico 4 e morri de rir! Achei desnecessário, sério. Não dá pra filmes de terrir serem bons! Se Pânico 4 se apresentasse como comédia até ia, mas como terror não dá.

    Todo mundo em pânico não é lixo! É hilário! Ok, o primeiro o hilário, depois a coisa foi desandando um pouco. As outras paródias escrachadas são muito sem graça, realmente, mas Todo Mundo em Pânico me mata de rir.

    Jogos Mortais é perfeito! *-*
    Tudo bem, eu só assisti pedaços das várias sequências (70% do 1º, 90% do 2º, 20% do 3º e 0% dos seguintes) mas pelo que sei as histórias se encaixam perfeitamente. É tão empolgante saber que tudo está conectado! E acho que há uma mensagem legal também: Cuide da sua vida direito, seu miserável. Ou algo assim.
    Agora Pânico é só um serial killer (que já deu o que tinha que dar). Também acho chato trocarem o elenco inteiro (como acontece com Premonição) mas, GENTE, não dá pra ter a Sidney em todos os filmes! Todo lugar que a mulher vai tem um ghostface! Que desgraça! Coitada...

    Sobre as suas perguntas:

    1) Para o cinema eu não dou a mínima, mas, nos livros, o fato de TODO livro fazer parte de uma série me incomoda muito. É muito raro ver um livro "único" por aí.

    2)Estou muito incomodado com o fato de Becky Bloom não acabar. Se vier mais um depois desse da filha dela...

    PS: Adorei as imagens brincando com "O grito" Hahahah

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    1. Aí é que tá. Por isso que eu gosto. Porque é comédia. Não suporto filme de terror. Acho muito bobo. Agora Pânico tira sarro de si mesmo o tempo todo. É terrir! rs Não sei se cabe mais algum filme depois desse, mas esse 4 foi bem bacana, preencheu um espaço interessante sobre o que aconteceu na mídia nos últimos 10 anos.

      Sobre suas respostas:
      1) Touché! Era exatamente isso que eu queria ouvir. Rs! No cinema eu tb não ligo não pq eles geralmente deixam finais satisfatórios pra cada fita, mas nos livros, geralmente os caras abusam dos ganchos, criam uma "fidelização excessiva".
      2) Becky é a única série que eu não ligo de não acabar. Exatamente pq ela "acabou" tantas vezes. Vamos ver se vc muda de ideia depois de ler esse da filhinha.

      PS. "Touché! 2" É que título original do Pânico é exatamente o mesmo do quadro, e acho eu, por isso o Ghostface tem essa cara ;)

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  4. Também gostei de Pânico 4. Achei inteligente e gostei da forma como eles mesmos não se levam a sério.

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