domingo, 31 de janeiro de 2010

Alagados

No geral eu sou uma pessoa bem-humorada. Rio de tudo, tento achar graça nas desgraças, brinco com as situações... Mas tem três coisas que são capazes de acabar com tudo isso e aí nem eu me agüento: fome, cansaço e trânsito. As duas primeiras são basicamente fáceis de resolver. Se eu estiver faminta, vou lá e como alguma coisa. Se estiver cansada, uma soneca de 20 minutos já dá uma revigorada. Agora quanto a problemas relacionados ao trânsito, é algo que me tira do sério porque acaba com todo o meu planejamento para o resto do dia, tenho a sensação de que estou perdendo um tempo precioso e o pior de tudo: não posso fazer nada a respeito.

Segunda-feira caiu o maior pé d’água aqui no Rio e aí eu fiquei intragável durante todo o dia seguinte porque demorei nada menos do que 4 HORAS pra chegar em casa, quando era pra eu levar no máximo duas.

Você tem noção do que dá pra fazer em 4 horas? Em 4 horas eu vou a Juiz de Fora, MG, de carro. Em 4 horas dá pra ir a Recife de avião. Mas em 4 horas eu não conseguia nem atravessar a cidade. Foi triste. Eu achei que eu não ia chegar em casa nunca mais.

Sou usuária do transporte ferroviário do Rio, que é precário, mas resolve o meu problema e geralmente faz eu chegar na hora em qualquer tempo, tendo em vista que eu nunca pego engarrafamento. Mas também, quando não tem trem, eu estou roubada.

De tempos em tempos, a Supervia apronta umas e quase me deixa na mão e aí eu fico com vontade de arrancar os cabelos porque o tempo que eu levo para percorrer todo o trajeto pelos trilhos, não dá nem metade do caminho de ônibus.

Mas então, voltando ao assunto, segunda-feira, na hora de voltar pra casa, no fim da tarde, fui lá e peguei o trem parador até Deodoro porque pegar o Japera às 18:00 é suicídio, mas nesse daí eu ia sentadinha e tal. Ainda na estação, começou a chover um monte, mas eu nem me preocupei porque trem não pega engarrafamento, então estava tudo certo.

Só que, entre Engenho Novo e Méier, o trem pára. O maquinista avisa que a plataforma está alagada e vai ter que esperar até a água escoar. Affe! Tá de brincadeira, né? Atravessa logo essa água! Não nos restava escolha senão esperar. SÓ QUE NÃO PARAVA DE CHOVER! AQUELA ÁGUA NÃO IA ESCORRER NUNCA! Resultado: quase uma hora parados no meio das estações.

Nisso já eram mais de 19h, sendo que eu tinha saído do estágio às 17h! É nessas horas que eu fico com inveja dos pássaros. Eles nunca têm problemas de trânsito. É por isso que dizem que as aves são seres livres. Porque elas não são escravas do transporte público das grandes cidades! O Clark (Kent) também é um cara de sorte. Mesmo que não queria voar, tem supervelocidade então num piscar de olhos já está em casa sempre.

E é nessas horas que eu fico com raiva dos cientistas também. Eles inventam cada coisa inútil! Por que não inventam uma mochilinha a jato igual a das Três Espiãs Demais? Ou então por que não inventam um tênis que voa igual naquele livro Super Tênis? Ou o que que custava criar logo um teletransporte? Ia acabar com todos os problemas! Quer dizer, só ia dar um pouquinho mais de trabalho para os advogados alegarem um álibi no caso de um assassinato ou coisa assim, mas quem liga?

Enfim, quando o trem finalmente começou a andar, o fazia numa lerdeza só, uma vez que as outras estações também estavam alagadas. Ao chegar a Madureira, eu penso: “bom, não vai demorar esse negócio vai parar no meio caminho de novo... Pior do que está não pode ficar” e desço. Só que a Lei de Murphy é certeira e o que era ruim, conseguiu ficar pior. Pego o ônibus cheio já e antes de Marechal já está tudo parado. Eu não sei nem mais se é porque está alagado ou não.

Sinto vontade de chorar porque, além de parecer não ter mais solução, agora eu estou em pé, sozinha, e o cansaço e a fome estão começando a bater. Não havia previsão de quando as coisas iam melhorar. Tem uma música dos Titãs que diz que Enquanto Houver Sol, ainda há de haver esperança, mas já estava chovendo há horas! Certamente, a esperança já tinha ido se abrigar em outro lugar.

As pessoas dentro do ônibus começam a ficar revoltadas porque o motorista não pega uma saída alternativa pra tentar escapar do trânsito. “Ô piloto, vira ali do lado! Não vai andar nunca isso aqui!” Ligo pra casa na esperança de que meu pai sugira alguma solução. Ele diz que não tem jeito. AAAAAHHHH!

Depois de muito tempo, o motorista finalmente toma vergonha na cara e vira numa outra rua. O bus anda um pouquinho e logo caí numa rua também alagada. O telefone toca. Meu pai pergunta onde eu estou e eu digo que estou engarrafada de novo. Quando o informo de que ainda estou em pé, ele completa: “Ih, então você está ferrada mesmo”. Eu rio. “Valeu, pai! Era desse tipo de apoio que eu estava precisando.” Ele passa pra minha irmã, e ela começa a conversar comigo. Depois de perguntar como eu estava e essas coisas, ela começa a puxar papo.
  
Esther: Vê se você consegue chegar a tempo de ver Gossip Girl. (no dia era estreia no SBT)
 
Elisa: Vou chegar a tempo de ver É tudo Improviso se continuar assim.
 

Esther: Que horas passa isso? 22H30? Ah, não. Chega a tempo de Amanhã é Para Sempre então.
 

Elisa: Jornal da Globo, pronto. Não, não! Melhor, prometo que chego antes do Corujão.

Aquilo desvia o meu pensamento do trânsito e me dá um pouco de ânimo por estar conversando com alguém. É por isso que eu amo a minha irmã! Graças a Deus, a essa hora, o ônibus começa a andar. Depois ela me pergunta do livro que ia tentar trocar no sebo. Eu queria contar aquilo quando chegasse em casa e isso me anima porque eu tenho a oportunidade de xingar o cara do sebo logo, naquele dia horrendo.

Esther: E aí? Conseguiu trocar o livro lá no sebo?
 

Elisa: Nada. Nem te conto! Você tinha que ver como aqueles caras eram nojentos! Eu cheguei lá, disse que queria trocar o livro, aí me mandaram sentar um pouco porque o dono estava na internet. Enquanto isso, os funcionários ficaram empilhando uns livros e eu lá esperando. Olha só que absurdo! O cliente chega na loja e mandam a gente esperar!
 

Esther: Que idiotas! Mas por que ele não quis trocar?
 

Elisa: Espera que tem mais. Aí depois uma mulher veio e perguntou se eu estava com o livro pra trocar. Aí eu disse que sim e entreguei o livro pra ela. Aí ela foi mostrar o livro pro dono que nem olhou na minha cara e nem pro livro e 5 segundos depois eles disseram que não queriam! Eu fiquei meio besta porque o negócio estava em perfeitas condições e a mulher disse que eles não queriam porque só aceitava se tivesse os 3 volumes (obs. O livro era O Senhor dos Anéis 1 – também adquirido de segunda mão. Sozinho), que era mais fácil de vender os 3.
 

Esther: Eu hein! Que pensamento mais ridículo! E se a pessoa quiser comprar só o 1º pra ver se é legal?...
 

Elisa: Pois é. E se ela achar que é uma porcaria? Aí vai, e fica com o livro guardado por toda a eternidade porque não comprou os outros dois. Se ele ainda dissesse que estava sujo (coisa que não estava...) Ah, faça-me um favor! Deu vontade de mandar o cara pra %&#*@. Mas ao invés disso eu só falei: “Valeu”, porque sou uma uma pessoa educada.
 

Esther: Isso aí. Ele merecia! Agora quem não quer mais é a gente. Cara idiota!
 

Elisa: Pois é. Mas bem que eu devia logo ter desconfiado pelo nome da loja, que o negócio era muito elitista. Berinjela com J! Onde já se viu?
 

Esther: Mas berinjela é com J!
 

Elisa: Eu sei. Mas todo mundo sabe que em coisas assim populares nunca se escreve com J. É sempre com G.
 

Esther: Mas que nome mais ridículo também? Berinjela! Eu hein! Quem é que gosta de berinjela? Se ainda fosse uma leguminosa mais legal tipo cenoura, inhame, laranja...
 

Elisa: Limão... (piada interna)
 

Esther: Pois é. Limão! Se a loja se chamasse Limão, com certeza ia aceitar.

Papo vai, papo vem. Em mais uns minutos eu estava em casa (cheguei antes de Gossip Girl, porque o SBT nunca começa os programas em ponto). Ufa! Cheguei! Entendo perfeitamente o significado da expressão Lar, Doce Lar. Acho que nunca foi tão bom estar em casa.

No dia seguinte, eu estou azeda que só porque o estresse foi tão grande que não consegui dormir direito. No caminho para o estágio, eu passo pelo Aterro e vejo o Pão de Açúcar de um lado, o Cristo de braços abertos do outro, os barquinhos ali no mar e um avião voando baixo no meio. Dá pra ver porque Jobim e Vinícius fizeram tantas canções em homenagem à cidade.

Sabe de uma coisa? O Rio vai fazer a maior vergonha em 2016 com relação a transporte porque é só cair uma águinha a cidade toda pára (não alagou só onde eu estava. Eu ouvi uma mulher na terça-feira falando que saiu do trabalho às 18h e só chegou às 23h em casa. Dentre outras pessoas), o trem  é fantasma e anda sozinho e o metrô é superlotado... Mas mesmo com tudo isso, eu me sinto privilegiada. Tanta gente querendo essa vista e eu tendo a oportunidade de passar por aqui todo dia... Morram de inveja!

Toda cidade tem seus problemas, e daí? Pelo menos a gente tem o Cristo lá em cima pra lembrar pra gente que, Viver a Vida é difícil, mas numa cidade maravilhosa, até que vale a pena. Mas morar no Rio tendo uma mochilinha a jato não ia ser nada mal, hehe.

Cristo: Não sei qual o problema das chuvas? Aqui em cima nunca enche!

Edit (dia 01/02/2010):  Hoje vim pra casa de ônibus e num é que o negócio enguiça no meio da Brasil? Graças a Deus, passou outro logo e eu entrei de graça (alô, eu já tinha pagado uma passagem!), mas vou te contar! Quando a gente tá com azar não adianta, né cara?

3 comentários:

  1. Não tenho essa vista aqui, mas as ruas não alagam, não tem congestionamento a não ser que alguma coisa esteja acontecendo no Centro e eu nem PRECISO ir ao Centro, então... Nessas horas agradeço viver onde vivo!

    Beijos.

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  2. A conversa deve ter te alegrado mesmo, eu mesmo esqueci q vc estava no trânsito

    " Esther: Pois é. Limão! Se a loja se chamasse Limão, com certeza ia aceitar. "
    kkkkkkkkkkkk, morri de rir com essa.

    Graças a Deus eu sempre volto pra casa de ônibus, sentado. O ônibus é parador e leva 1 hora e meia pra chegar na minha casa, mas isso não faz diferença, eu durmo e só acordo perto do meu destino ;)
    Qd cai aquele temporal e alaga td, e as pessoas ficam reclamando, me dá vontade de falar:" Gente, cala a boca e vai dormir!"
    Dormir é a melhor solução, mas qd se está em pé, ouvir música ajuda um pouco...

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  3. Transito é sempre um problema né! Já cheguei na faculdade em 4 horas por causa de um engarrafamento infernal na Brasil, e o motorista não queria cortar caminho. Pra vc ter noção, ele cochilou no volante!!! Tiveram que acordar ele pra ele andar com o onibus, huehuehuehue. Quando ele cortou caminho, todo mundo do busão comemorou. Ficaram gritando: aaaeeeeee!!!!
    E o mais engraçado é que quando eu cheguei na faculdade, a professora tinha ACABADO DE CHEGAR. Adivinha quem era??? Sim, vc acertou, era a CÍNTIA! Mais incompetente do que o trânsito brasileiro, só a Cintia msm.
    Bjs

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