domingo, 18 de julho de 2010

Balanço no Busão

Senhoras e senhores passageiros, desculpe interromper o silêncio da sua viagem. É que eu venho trazendo aqui o passatempo para alegrar o seu caminho. Estou falando do delicioso (coloque aqui alguma guloseima). Quem pega o ônibus sempre, é sagaz e já conhece o camelô e está até mexendo na bolsa agora para pegar o dinheiro. Isso porque a (guloseima) nas Lojas Americanas, Casa do Biscoito e outros estabelecimentos custa R$ X,xx. Aqui na mão do camelô, você vai levar a deliciosa (guloseima) por somente R$ Y,yy. Isso mesmo. Na mão do camelô, você leva 3 das mais sortidas (guloseimas) por apenas R$ Y,yy ...

Se você já pegou ônibus ou trem, com certeza já ouviu um desses discursos. Às vezes a gente nem quer levar nada, mas a retórica do ambulante é tão boa que nos convence e acabamos comprando o tal doce, ou outras das mais diversas quinquilharias como caneta-calendário, aquelas bolinhas que crescem na água, revistinhas de concurso público, etc.

E esses são só os mais tradicionais vendedores com seus produtos mais comuns também. 
Tem ambulante sem noção:
“Eu não sei falar, só sei latir. Halls, Halls, Halls...”;
engraçadinho:
“Compre uma empada e ganhe um Oi!” – aí a pessoa compra a empada e o cara fala: “Oooooii”;
tecnológico:
“Está no cinema e já está aqui na mão do camelô. DVD do Eclipse! Com quem você acha que a Bella vai ficar? Com o Edward ou com o Jacob? Compre aqui na minha mão e descubra. E se você estiver com medo do disco não funcionar, a gente testa aqui na hora” – sim, o cara vem equipado com um DVD Player de teste. Nem na loja você tem essa garantia!);
moderno:
O carinha vende aqueles corta-tudo de cozinha, demonstrando e com um alto-falante!;
com dor de consciência:
“Você aí que acha que o camelô está fazendo por esse preço porque é roubado, eu garanto! Não é roubado. Eu repito. Não é roubado!”
e descarado:
“Acabou de virar um caminhão ali da na Dutra e aqui na minha mão você leva pela metade do preço”

E aqueles caras que vendem o Meia Hora na época do caso do Ronaldo com travesti: “Extra! Extra! Depois da Mulher Melancia, e da Mulher Morango, Ronaldo saí com um novo tipo: A Mulher KinderOvo, aquele que vem com uma surpresa!”.

Sem dúvidas, essas coisas alegram a nossa viagem. Por isso eu acho o metrô um meio de transporte muito sem vida. Fica todo mundo em silêncio, não tem um mísero camelô vendendo bala... Andar de trem/bus é muito mais legal.

Mas, nos últimos meses, eu presenciei uma nova forma de entretenimento nos meios de transporte.

Estava lá eu, atrasada para a faculdade, e fiz sinal e peguei meu ônibus. Aí quando eu passo pela roleta, me deparo com, acho que, a maior figura que eu já dentro de um ônibus. Um carinha todo estranho com uns dreads na cabeça, o olho vermelho que só, amarradão, tocando uma espécie de banjo numa língua próxima do portunhol. Vou repetir pra você que não entendeu: UM CARA FAZENDO SHOW DE BANJO DENTRO DO ÔNIBUS! E o pior é que o maluco tocava bem! Só estava faltando a flautinha boliviana! Por isso, quando aquela música que ele performava acabou, todo mundo, acho que até eu, super aplaudiu!

Aí o maluquinho ficou todo emocionado, falando com um sotaque espanhol: “Ora, muito obrigado, muito obrigado. No esperaba tantos aplaussos... Muito obrigado! Essa musiquinha” – detalhe que ele não falou nem “musiquita”. Foi musiquinha mesmo! – “que eu acabei de tocar é una mistura de música brasileira, com indígena, com música latina....” – Aí eu me segurando para não rir, crente que já acabado, ouço – “Y ahora eu vou tocar una otra musiquinha para vocês que gostaram...Y para vocês que não gostaram também”.

Nessa hora eu quase que soltei a maior gargalhada. Eu não podia acreditar no que meus olhos e ouvidos me diziam. Era muito bizarro. Era um pocket-show, ou melhor, bus-show, de verdade! E ele ainda tinha completa noção do que estava fazendo!

A segunda música era muito parecida com a primeira, senão igual, e quando esta terminou, mais um monte de aplausos. E aí ele se despediu, e enquanto recolhia o couvert artístico (eu que estou dando esse nome), ia brincando com todos os passageiros, principalmente com as meninas (“Oh, chica. Estoy solo, quiero uma namorada... Tienes telefone?”). E aquilo só me fazia ter mais vontade de rir. E as pessoas deram dinheiro pra ele com o maior prazer! Teve um senhor que até falou pro Maluquinho-de-Dread: “Você faz aquilo que gosta e faz com amor! Continue assim! Parabéns!”

Naquele dia eu estava meio cansada, de saco cheio porque ainda ia ter que ir para a faculdade de noite e para uma aula tão inútil, mas depois do showzinho no ônibus, eu fiquei feliz. Já perdi a conta de quantas vezes já contei essa história porque, sério, foi muito marcante! Devia ter gravado aquilo com o celular pra mostrar pra vcs! E eu até ia dar um trocado pra ele, já que tinha alegrado tanto a minha noite, mas, como eu sabia que ele ia gastar com drogas, dada a vermelhidão de seus olhos, decidi não ajudar a sustentar esse vício.

E quando eu achei que não podia aparecer nada mais absurdo do que o Maluquinho-de-Dread, duas semanas depois eu peguei o mesmo ônibus e eis que me entra um PALHAÇO! Sim, um palhaço daqueles com nariz vermelho e tudo. Ai Jesus! Eu mereço! Depois daquele doido, agora me aparece um palhaço dentro do ônibus!

O palhaço era evangélico (menos mal), e fazia propaganda do seu grupo de teatro para possíveis festas infantis. O melhor da sua apresentação foi quando ele falou para a Jaqueline (ele se dirigia a todas as moças do ônibus como Jaqueline) ia colocar um telão lá no fundo e aí ia aparecer alguma coisa (não lembro mais o que era, só sei que era algo de última tecnologia, hahaha). Obviamente, não tinha telão nenhum, mas todo mundo (inclusive eu), não resistiu e olhou pra trás procurando igual a uns idiotas, hahahaha! Aí depois ele cantou uma música (sozinho, ninguém aceitou o seu convite de cantar com ele) e na hora de terminar a canção, o trocador ficou piscando a luz do ônibus para completar o grand finale. Sem brincadeira, ficou muito bom!

Teve um outro dia também que eu vi o mesmo palhaço parado na calçada se preparando para entrar em algum outro ônibus e há algumas semanas, eu presenciei um mímico entrando num outro busão passando.

Fico me perguntando o quê mais falta encontrar agora: Engolidores de Faca? Cuspidores de Fogo? (Isso já existe, mas por enquanto estão só nos sinais) Cortorcionistas? Equilibristas? Domadores de Leão? Daqui a pouco está o circo todo dentro do ônibus. E eu vou adorar se isso acontecer.

4 comentários:

  1. Aqui em Recife, além dos vendedores de balas e essas bugigangas, já entrou até repentista no ônibus q eu pego. O melhor é q eles sempre falam da mesma coisa: a mulher do homem pobre e a mulher do homem rico, do filho que virou viado, do cobrador e do motorista. E um dia qdo eu peguei o mesmo ônibus na ida com eles cantando e na volta com eles cantando a mesmíssima "música".
    HUSUHAHUSHUAHUSHUAHUA
    Adorei o post.
    beijo

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  2. As propagandas são sempre as mesmas, no mínimo no mesmo modelo... eu sempre quis saber pq esses vendedores alteram o tom da voz para vender os produtos, será que tem um curso para aprender isso?
    O papo de que "na minha mão é mais barato" tbm sempre acontece, ontem mesmo eu fiquei suspreso ao ver um chocolate que nas Lojas Americanas era 90 centavos mas que na mão do camelô saíria 3 por 1 real! Me fez desconfiar da origem e da validade do produto rs
    No que diz respeito a promoções, a única que eu vi era do vendedor de empadas no trem, se vc achasse uma azeitona na sua empada vc ganharia mais 5 empadas! O estranho era q o cara ia embora e nem dava tempo da pessoa procurar pela azeitona :p

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  3. Aqui em BH eu nunca vi nenhum desses tipos mais diferentes, não. Só os mesmos vendedores de bala de sempre. Mas também, dizem que aqui é o pior lugar pra eles, os motoristas deixam entrar, mas não pode vender nada nos ônibus.

    Bjos

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  4. Oi, Lisa!

    Respondendo ao seu comentário (de dias atrás, estou mega atrasada nas respostas, pra variar)... Minha mãe também tem mania de falar "tá broa", rsrsrs. Eu falo "tá jóia".

    E o "agarrado" a gente usa pra tudo, hahaha. Com a variante do "garradaço" quando "o trem tá feio mesmo".

    Bjos

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