terça-feira, 24 de janeiro de 2012

SIA: Sistema Inútil de Avaliação

Eu sempre fui uma aluna Nota 10. Não necessariamente todas as notas eram 10 (realmente até a 8ª série, essa afirmação ficava bem próxima da literalidade), mas sempre fui uma boa aluna. Só fiquei de recuperação uma vez na vida, e fiz Prova Final uma única vez também, num dos últimos períodos da faculdade.

Dito tudo isso, você há de pensar que eu supervalorizo o sistema de avaliação por notas e que acho que os alunos que não pintam o boletim com notas azul berrante são de fato menos inteligentes do que os outros ou coisa do tipo. Mas na verdade exatamente por estar nessa posição, posso dizer sem medo de parecer invejosa que ter um boletim repleto de notas 10 não quer dizer absolutamente nada.

No meu último semestre de faculdade, mesmo com um CR invejável, não consegui vaga pro TCC com o professor mais disputado de todos (e por sorte não fiquei com o mais temível de todos). É difícil você encontrar algum estágio que leve as notas em consideração (os que levam não são economicamente interessantes ou não tem possibilidade de efetivação) e nenhum gestor vai pedir o seu histórico para decidir se vai contratar você ou não.

Isso não quer dizer que eu me arrependa de ser uma aluna exemplar e que aconselhe todo mundo a não estudar e ficar pendurado na prova final. Ter notas boas é uma coisa boa. A gente já não se preocupa com a escola em pleno mês de outubro, não precisa ir pro colégio dia de sábado, entra de férias mais cedo e não fica dependendo da boa vontade do professor para aprovar você ou não. Mas notas, no final das contas, são só isso: notas.

Elas não definem quem você é ou vai ser. E não definem nem se você sabe mais determinada matéria do que outra. Só se você vai passar de ano ou não.

(Ah, sim, isso não quer dizer que eu ache que as escolas devam passar todo mundo direto, ou que não devam aplicar nenhum tipo de prova. No sistema educacional, as notas são necessárias para que o aluno não entre numa eterna zona de conforto. Elas podem não significar quase nada, ou serem totalmente justas, mas ainda assim são necessárias, para que tudo não fique à mercê da subjetividade)

Sendo assim, agora já não causará tanta surpresa a revelação que farei a seguir de que, fora do ambiente acadêmico, além de inútil, o sistema de avaliação por notas é, principalmente, injusto.

A discussão se tal obra merece uma, cinco ou mil estrelinhas é e sempre será baseada na subjetividade do autor, assim como seus argumentos, com a diferença de que a cotação escolhida supostamente apresenta um padrão equalizador de toda essa subjetividade.

Só que as notas quase nunca conseguirão transparecer tão perfeitamente a sensação final que se teve da mesma quanto um texto de duas páginas. E ao contrário da apresentação de argumentos, em que se pode discuti-los à exaustão sem cair numa briguinha boba de “Mas eu achei e pronto!”, o sistema de avaliação por notas não dá espaço para debate de ideias. Só para uma discussão comparativa que não leva a lugar nenhum.

E agora a gente chega numa das palavras-chave das notas: “Comparação”. Ao colocar sua opinião em nota, o que se faz é traduzi-la em escala. As notas, assim como as escalas, servem justamente para isso. Para estabelecer um padrão de comparação (tem algum índice estatístico com nome de letra grega que faz isso, eu acho). Através das notas você consegue comparar banana com laranjas, e no final chegar à conclusão de qual das frutas é mais gostosa.

E todo mundo sabe que esse tipo de decisão quase sempre é injusta. Por que, ora bolas, laranjas são diferentes de bananas! Aliás, quanto menor o intervalo, diminui também o detalhismo da avaliação e aumenta a possibilidade de distorção. Ou seja, uma escala de 0 a 10 certamente será mais precisa do que uma de 0 a 5. Assim como um sistema que permite acréscimo de casas decimais por décimos, será mais preciso do que um outro que só marca a medida a cada 0,5. E um que possui nota a cada 0,5 pt obviamente será mais preciso do que um só com números inteiros.

E desse jeito, num sistema de 0 a 5 (só com números inteiros), por exemplo, você, sem querer, você acaba entrando em um mundo onde A Origem* é tão bom quanto Rebeldes sem Páscoa. Um mundo em que Um Dia tem o mesmo nível de excelência que Amanhecer – parte 1. Um mundo em que você tem sempre de ficar lembrando a nota que deu antes para não cair em contradição. Um mundo escravo das regras e dos números e chato pra dedéu!
* Essa história de A Origem levar 3 ovos rende até hoje naqueles comentários! Porque, tá legal que A Origem não é um filme perfeito, mas, sem dúvidas, é um filmaço!

As notas tornam-se fator decisivo, o mais importante de uma avaliação. Elas se tornam o veredicto final, quando, na verdade, tal veredicto pode variar muito mais facilmente do que os argumentos e não tem graça nenhuma de discutir.

Elas ganham importância demais, quando, no final das contas, as notas são só...notas. E não querem dizer absolutamente nada.

10 comentários:

  1. Bom, acho que uma das primeiras coisas que eu fiquei sabendo sobre você era que você é super inteligente. E eu admiro muito o fato de que você não é só inteligente em termos acadêmicos, mas é legal, engraçada, criativa e NÃO É PEREBA! rs Acredite, isso é algo inédito! :P
    Também acredito que a avaliação de notas escolares seja injusta, conheço pessoas que são muito inteligentes mas na hora de uma prova ficam nervosas, desestabilizadas e aí já viu, né? E também tem gente picareta que cola, ou gente esperta que decora, tira 10 e, no final das contas, não sabe é nada.
    Eu vi que você falou dos ovos, olha, eu acho as críticas e as notas (em ovinhos) do Omelete muito ruins. O site é bom pra informação sobre filmes, mas pra críticas é muito fraco. O pessoal que escreve lá é meio arrogante, o que se nota, aliás, na crítica de A Origem, que eu também já li.
    Um filme ou livro, pra ser bom, não precisa ter perfeição técnica, ou te ensinar necessariamente alguma coisa, ter uma ideia inovadora... Precisa te entreter, te emocionar, te divertir, te fazer pensar. E os "críticos" não levam isso em conta.
    Aliás, as pessoas estão constantemente querendo buscar a excelência técnica de tudo (inclusive no caso das notas), mas esquecem de buscar a excelência em outras áreas das suas vidas... Mas isso já é outro papo rs.

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  2. Ei Lisa!

    Você definiu tudo!
    Notas são só notas, e percebi isso talvez tarde demais (já que não quero seguir carreira acadêmica).

    Eu já perdi um estágio porque tinha as melhores notas, acredita?
    O entrevistador falou com minha amiga (que também fazia a entrevista) que se ele quisesse as melhores notas ele me contrataria, mas que não era essa a intenção da empresa. o.O

    Mas no meu caso não há como contestá-las, porque todas as matérias que eu fiz na faculdade só tinham uma única resposta. Ou estava certo ou errado, não tinha meio termo.

    E incrivelmente, em empresas, se deram melhor aqueles que na faculdade erraram mais. Mundo doido!

    Bjins

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  3. Adorei! Esse ano na faculdade aquela coisa de "notas não definem quem vai ser o melhor profissional (...)" ficou ainda mais clara pra mim. Meu ordenamento estava lindo e eu passei só com A. E mesmo assim consigo ver vários dos meus colegas se tornando jornalistas incríveis - coisa que provavelmente não vai acontecer comigo (até porque eu estou desistindo desse plano. Mas mesmo se eu continuasse com ele, vejo as coisas dessa maneira).

    É muito difícil classificar livros, filmes ou o que seja em um sistema de estrelinhas que vão de zero a cinco - por isso tirei as notas das minhas resenhas. Eu até os avalio assim no Goodreads. Mas é bizarro pensar que dei a mesma nota para "Ladrões de Elite" e "O Grande Gatsby", por exemplo.

    Beijo!

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  4. @Roberta Obrigada pelos elogios. Assim vc me mata, quer dizer, me deixa encabulada. rs Não sabia que tinha tanto nerd chato no mundo. Só me lembro de conhecer pessoas inteligentes e legais (pelo menos na maior parte do tempo).

    Tem matérias na faculdade que não em jeito. É decoreba. Mas tb é decoreba muito em função da prova e da aula que o professor dá. Uma aula bem dada e uma prova bem feita fazem o aluno assimilar muito mais. Já passei em matérias assim tb, com nota máxima, e não me orgulho disso. Preferia ter tirado 8 e ter aprendido alguma coisa. Mas concordo com vc que tem gente que passa a vida acadêmica assim, só decorando as coisas. O problema de decorar é que se vc pega qq situação um pouquinho diferente, já não sabe mais como resolver.

    Eu gosto do Omelete e das críticas de lá. Acontece que varia muito de quem escreve. Esse cara que escreveu sobre A Origem, Um Dia e Amanhecer (Rebeldes sem Páscoa foi outra pessoa) é meio cri-cri realmente. Mas o que o povo pega mais no pé é com a nota. E antigamente nem tinha isso. Eles colocaram só pq o pessoal pedia muito e... olha no que deu. Preferia quando não tinha essa nota boba.

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  5. @Luciana Mara Uau! Sempre achei que essa história de eles contratarem os alunos com médias intermediárias fosse lenda! Achei muito engraçada a sua história pq, em outras palavras, eles disseram pra vc que "estatisticamente" os estudantes de estatística mais medíocres (de estarem na média) é que eram os melhores. Hehe!

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  6. @ Pois é. É por isso que eu acho esse negócio de ficar avaliando por nota uma palhaçada. Só pra completar o argumento (e isso serve como resposta a todos os comentários anteriores tb), a avaliação por notas, no campo acadêmico-profissional, não existe somente na escola e na faculdade. Algumas empresas (a que eu trabalho, por exemplo) avaliam seus funcionários por um sistema de notas também, para definir percentual a mais de salário e como critério de promoção. Pq por mais meritocrático que seja, sempre rola uma politicagem por trás pra definir a tal nota final e de vez em quando acontecem umas injustiças também. Acho os comentários da avaliação muito mais interessantes do que a nota final, na verdade. Diz muito mais sobre você e sobre quem avalia também, nesses casos injustos, infelizmente.

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  7. @Roberta Só pra complementar o seu comentário sobre pessoas que são boas mas não vão bem nas provas, Roberta. Lembrei ontem de uma coisa: lá no Cefet, as pessoas que tinham mais aptidão para a área e mais sabiam de Info raramente tiravam notas boas porque os professores não eram boas, e as provas eram feitas de um jeito decoreba. Dava raiva de ver tanta gente talentosa sendo esculachada por um professor fdp. A partir do momento em que chegou o Bira, que além de ser um prof sensacional, é um ser humano incrível, essas mesmas pessoas que eram ditas como os piores da turma passaram só a tirar 10.

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  8. É, o Danilo me contou sobre um professor (ou professora, não lembro) que entregava as provas pela nota, de forma decrescente. Ridículo só pra dizer o mínimo!

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  9. (Comentário idealizado há muito tempo atrás)

    Lisa, vou discordar um pouco de você.
    Concordo que as notas, definitivamente, não expressam o avaliado em sua totalidade. Resumir a inteligência de uma pessoa em um número ou o quanto fulano sabe de determinado assunto em algo com uma casa decimal beira o impossível. Ainda mais falando de seres humanos, que mudam dia após dia.
    No caso de livros, filmes, séries de TV e etc também não dá para por tudo em números, porém, não acho que seja de todo inútil.

    É um indicador a mais. Um texto completo com argumentos, prós e contras com certeza expressa melhor um objeto mas uma nota (por mais imprecisa que seja) pode ajudar a quem está lendo saber o que encontrará no texto. A nota sozinha não vale muita coisa mesmo.
    Quando leio resenhas de livros no skoob, por exemplo, ignoro todas as notas 5 e vou atrás das notas mais baixas pra saber do que as pessoas não gostaram. Se não tivesse a nota, eu teria que ler todas as resenhas, imagina.
    Faço isso com blogs também. Quando olho uma resenha, vejo primeiro a nota dada, para saber se me interesso ou não.

    Acho que é isso :-)

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    Respostas
    1. Então, Felipe, esse seu argumento de que "se não existissem as notas, eu iria ter que ler tudo" parece "coisa de preguiçoso". Tem gente inclusive que só faz questão de ver as notas, o veredicto final (quando, no final, ele é o que menos importa). Não quer ter trabalho de ler o texto inteiro. Retirá-las, além de evitar essas discussões idiotas, e o arrependimento futuro, é obrigar esse povo a ler mesmo!

      É bem verdade que quando eu vou ler uma crítica com nota, eu vou lá e dou aquela olhadela também e que no fim das contas a gente acaba selecionando os textos pelas notas mesmo às vezes, mas, ao fazer isso, a gente está sendo quase tão preguiçoso quanto as pessoas que só querem saber da nota.

      A nota é o preconceito estampado em forma de número. Preconceito tanto de quem escreve, quanto de quem lê.

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