quarta-feira, 20 de junho de 2012

Melhor que o filme do Pelé

Caro Nick Hornby,

Queria te dizer que li seu livro “Febre de Bola” e adorei.

Estou certa de que aqueles que ainda não tiveram contato com sua obra, mesmo eu fazendo a minha parte, devem fazê-lo através de Febre de Bola. JÁ!

Impossível não se identificar com o seu fanatismo futebolístico, mesmo não sendo uma torcedora fanática, porque até aqueles que não gostam de futebol certamente conhecem alguém que aprecie o esporte, nem que seja em época de Copa do Mundo.

Desculpe, esqueci-me de me apresentar. Sou Elisa, brasileira, 22 anos, natural do Rio de Janeiro, botafoguense. E eu sei que o futebol foi criado por vocês, ingleses, mas acho que ambos temos de concordar que nós, brasileiros, é que somos os melhores (desculpaê!). Aprimoramos o esporte de tal forma que nos apropriamos dele ao ponto de sermos conhecidos como “o país do futebol”. Aí estão as cinco Copas conquistadas pela Seleção Canarinha, que não me deixam mentir. No entanto, acho que no quesito “Paixão”, ingleses e brasileiros igualam o placar. Aí está o Febre de Bola que não me deixa mentir.

Sei que o seu livro é de 1992 (na época o Brasil ainda era tri), mas ele continua absolutamente atual. Até porque o ato de torcer – principalmente pelo futebol, um esporte tão imprevisível e mágico - é uma daquelas coisas capazes de unir pessoas de gostos, credos, cores, opções sexuais diferentes em prol de um único objetivo. E é claro que é capaz de desunir também na mesma proporção (que o diga o número de namoradas que você perdeu por causa da paixão pelo Arsenal, ora porque elas não aceitavam a sua relação com o clube, ora porque pareciam se apropriar dela de uma maneira, hmmm... injusta).

De certo modo, este livro é muito parecido com Alta Fidelidade, só que ao invés da música, o personagem principal é fanático por futebol, e o personagem ali na verdade não é um cara fictício, É VOCÊ! O que torna tudo ainda mais real!!!

Mas, como ia dizendo, sou brasileira e torço pelo Botafogo, um time que em muito se assemelha ao seu Arsenal. É um time que não joga bonito, não está acostumado a brigar por grandes títulos (houve um tempo em que o Bota ficou 21 ANOS sem ganhar um campeonato sequer!!!), chegou a cair para segunda divisão já (felizmente voltamos para a primeirona no ano seguinte) e, nos últimos anos, temos nos especializado em nadar, nadar e morrer na praia... Enfim, a torcida está até acostumada. Mas, fazer o quê se esse é o nosso time do coração? 

Mas não foi sempre assim. Houve um tempo em que o Botafogo foi a base da seleção brasileira com Didi, Garrincha, Nilton Santos, Jairzinho... Seleção essa que faturou as Copas de 58, 62 e finalmente foi tricampeã com aquele supertime em 1970. Sei que você viu esse povo todo jogar porque você bem chega a comentar como o futebol brasileiro, com Pelé servindo de ídolo, era imbatível e vistoso e mágico na época. (Engraçado que meu avô leu o seu livro antes de mim e ELE TAMBÉM VIU todos esses jogos do Brasil, e alguns do Porto, de que você falava! É, Nick, você tá velho, viu?)

E já que estamos falando de Pelé, você que o viu jogar e obviamente não precisa recorrer a seu filme (digo, o do Pelé) para saber o que o rapaz fazia com a “gorduchinha”, esclareça para nós uma dúvida: Quem foi melhor? Pelé ou Maradona? Não precisa responder. A gente sabe que foi Pelé. A pergunta foi retórica. (Ai de você se disser Maradona!)

Tudo bem, tudo bem. Eu sei que você não liga muito para as seleções, então, vamos voltar a falar do Arsenal, e do futebol de uma maneira geral.

Adorei ler seus relatos de torcedor e concordo que nada é mais emocionante do que assistir a um jogo no estádio. Fazer a Ola, cantar junto, levantar da cadeira, fazer “Uhhh” quando a bola passa rente à trave...  O mundo realmente está esperando lá do lado de fora, assistindo o que acontece ali dentro, como se fosse um show de rock! E o que dizer da dúvida para qual time torcer quando estão em campo a sua equipe do coração quando num jogo contra o time da sua cidade? E se você escolher torcer para o seu time do ano todo ao invés do time local? Constrangimento define, como você mesmo narrou.

Outra coisa legal que você comentou foi o negócio da superstição. Pra você que não sabe, botafoguenses são conhecidos por serem extremamente supersticiosos. Recentemente, estreamos uma nova camisa mais diferente, apelidada de Pierrô, e como perdemos aquele jogo, a camisa nunca mais foi usada, só pra exemplificar.  (Aliás, é por causa disso também que a camisa do Brasil agora é amarela, sabia? Nosso uniforme era branco, mas depois daquela final em que perdemos para o Uruguai em pleno Maracanã – o chamado Maracanasso -, decidiram trocar. Parece que deu certo, né?) Mas, por aqui, de maneira geral a superstição atinge as maiores proporções mesmo em época de Copa. Aquelas coisas de sentar sempre no mesmo lugar, usar sempre a mesma cueca, realizar o mesmo ritual antes dos jogos... O povo aqui leva isso muito a sério. Mesmo.

Mas assunto sério de verdade foi quando você comentou a violência nos estádios e o racismo. Foi muito legal ver um relato sobre os hooligans vindo de um cara que vivenciou todo aquele terror. E como tudo isso tem a ver com o aspecto político do futebol que, de uns tempos pra cá, resolveu diminuir os estádios e aumentar o preço dos ingressos. Aliás, incrível aquela parte que você fala da tragédia em que foi parar no meio do campo porque o alambrado quebrou, e que se o estádio já tivesse passado por alguma reforma para dar mais segurança aos torcedores e jogadores, aí é que você teria morrido mesmo no dia.

Aqui no Brasil inclusive, houve um incidente desses em plena final do Brasileirão (nosso campeonato nacional) em 2000. O jogo era Vasco vs São Caetano e o alambrado caiu e deu a maior confusão. A partida teve de ser suspensa e o campeonato só foi decidido no início do ano seguinte. Só pra você saber, o Vasco ganhou naquele ano, apesar de todas as lendas que dizem que ele é “eternamente vice”. Anos antes, em 1992, numa outra final de Brasileiro, Flamengo e Botafogo (advinha só quem ficou levou a taça? Dica: O título nacional do Botafogo só veio em 1995) que a tragédia foi no próprio Maracanã. As grades que ficam no primeiro degrau das arquibancadas cederam e umas 90 pessoas caíram!!!!!


Bom, agora estamos num processo de preparação para Copa do Mundo também e realmente tudo aquilo que você já comentava em meados de 70 e 80 é o que anda regendo a administração do evento.

O Maracanã, que em 1950 abrigou 120.000 pessoas, está passando por um processo de modernização para proporcionar maior conforto ao torcedor e isso também quer dizer que agora ele só vai receber NO MÁXIMO 75.000 cabeças. É claro que aumentar o preço do ingresso visa atrair um público mais esclarecido, mais família, que vai consumir mais* dentro dos estádios, o que, claro, afasta os torcedores que provocam brigas durante as partidas.
* Só não pode bebida alcoólica, né? Quer dizer, na Copa pode! O jogo de interesses venceu aqui também, igualzinho você comentou que aconteceu aí na Inglaterra.

Mas por outro lado, faz com que a tarefa de encher os estádios fique bem mais difícil, já que esse público não vai querer sair de casa para ver o seu time perder. (O pessoal pega muito no pé do Bota porque dificilmente o Engenhão, nosso estádio, lota, mas isso é pura intriga da oposição flamenguista invejosa que não tem um estádio pra ela). 

Teoricamente isso tudo isso é para beneficiar o torcedor, dizem eles, mas ninguém fala que, assim como aí na Inglaterra, quem realmente manda nos horários dos jogos são as TVs e sair de casa pra assistir a um jogo no estádio às 22h é brincadeira!

Ah, sim, mas, voltando à questão das reformas, na outra obra que teve no Maraca (nosso apelido carinhoso com para com o estádio, Ha-ha-hu-hu, o Maraca é nosso!), em 2007, para o Panamericano, acabou com antiga “geral”, que abrigava aqueles torcedores mais esquisitos, fantasiados, que ouvem o jogo todo no radinho de pilha, sabe? (Aliás, ouvir o jogo no rádio é bem mais emocionante do que assistir na Tv mesmo!) O QUE ESSES CARAS ESTÃO FAZENDO COM O FUTEBOL??? Felizmente aqueles figuraças continuam firmes e fortes! Particularmente adoro os cartazes de “Filma nós, Galvão” (este último é o nosso locutor mais famoso, não se iluda com os gracildos do Twitter que dizem ser uma espécie de ave em extinção) e os caixões de times.

Adorei quando você comenta da vez que conheceu um desses personagens quase folclóricos das torcidas. E quando você fala das musiquinhas que embalam o time (aqui no Fogão a gente também tem umas bem legais, tipo essa e essa daqui), e sobre os requisitos para um jogo perfeito ou mais emocionante (adoro a parte em que você diz que um jogo com jogadores expulsos e alguma confusão dentro de campo é muito mais interessante do que os outros. Também sou contra violência no esporte, mas que o jogo fica mais animado, ah, isso fica! Só acrescentaria uma coisa à sua lista: animais invadindo o campo. Quando cachorros entram em campo e dão Olé nos jogadores, esses são os melhores jogos!)

Legal ver como o futebol afetava a sua vida desde a infância (nessa época tornando sua vida mais sociável ao trocar figurinhas), passando por um período de depressão numa época em que o clube não correspondia ao seu apreço, até a emoção do título vindo no último minuto (vibrei muito com você nessa parte!) e como tudo parecia conspirar para que sua vida evoluísse por causa disso (na verdade, isso não era tão legal assim). 

Mas, devo dizer, Nick, você é doido! E eu sei que você sabe! Namoradas, deixar de fazer coisas por causa de jogos, se deixar abater tanto por causa de uma partida! Uma vez eu fiquei assim também quando o Brasil perdeu a Copa de 98, mas eu só tinha 8 anos. E depois eu fiquei foi com raiva por causa da maneira como eles perderam e de como o técnico foi um idiota por ter deixado o Ronaldo jogar daquele jeito lesado e como ele continuava podre de rico mesmo assim. (Malditos franceses! Escutamos muito sobre aquele 3 a 0 em vários outros esportes depois!) Sério, Nick, não vale a pena! Viva a alegria do futebol, mas não deixe que ele tire a sua alegria de viver. Até porque esses desgraçados desses jogadores não estão nem aí se você assistiu todos os jogos do time em casa desde que se entende por gente, ou decorou sua casa com artefatos do clube, ou se já quase morreu numa partida! Infelizmente hoje em dia os caras não têm mais amor à camisa, só querem saber de (muito) dinheiro no bolso.

É impossível não perceber como o seu Arsenal serve de espelho para todos os outros clubes, sem exceção. Porque conforme o tempo passa, e os rostos nas figurinhas se renovam (os jogadores não jogam pra sempre, né?) e o Arsenal também passa por diversas fases, das mais tristonhas com um time de perebas, às mais vitoriosas com craques inesquecíveis. E qualquer outro time que hoje esteja por cima sempre tem um passado vergonhoso para que os rivais tirem um sarro também. Acho que essa é uma das coisas mais bacanas do futebol. Como ele é equilibrado e capaz de se reinventar e surpreender e emocionar SEMPRE. Quem não gosta de futebol não entende NA-DA!

Para terminar, deixo aqui o convite para você fazer uma visita ao Brasil na próxima Copa (relaxa, o Arsenal não vai jogar nesse tempo) e lhe envio uns livros para autógrafo (porque eu já saquei que não rola de você vir ao Brasil autografar, já que sua agenda é tomada pelos jogos do Arsenal) e uma camisa do Botafogo de presente, porque tenho certeza que esse seria o seu time, caso fosse brasileiro.


Abraços,
Elisa

PS Ainda não assisti à versão cinematográfica de Febre de Bola de 1997, só aquela outra, americana, de 2004. É legal, mas trocaram o futebol por beisebol. Americanos, affe!

PS2 Você podia entrar em contato com a Rocco pra ela dar um jeito de trocar essas capas dos seus livros? Essas daí em P&B não são nem um pouco atrativas ou criativas ou fazem jus ao tamanho da diversão encontrada por entre as páginas. Isso certamente prejudica as vendas, sabia? Olha só essa de um AUDIOBOOK (!!!!) que fizeram por aqui mesmo como é bem mais legal!

5 comentários:

  1. Hoje é o dia das resenhas por carta? :S Também postei uma - de um livro totalmente diferente - e nem imaginava que você ia fazer o mesmo, rs.

    Superticiosos? Claro que não! Apenas coincidência eu nunca mais ter usado a camisa do Brasil depois do jogo contra a Holanda em 2010 e nem a do Cruzeiro depois da final da Libertadores contra o Estudiantes. Acho que vou comprar uma camisa do Corinthians...

    Não ando com muita animação pra assistir futebol, está tudo tão feio! De vez em quando ainda vejo um pouco dos jogos da Europa (Itália e Espanha, por exemplo, foi bonito em todos os sentidos), mas no Brasil tá difícil =/ Sem contar que os times de Minas estão terríveis e duvido que fiquem por muito tempo entre as primeiras posições do brasileiro. Espero que as coisas melhores antes da Copa.

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  2. Oie...
    Tudo bom?
    Nossa sem comentários pro seu post... AMEI... ficou show de bola... Muito bom mesmo... parabéns....

    Adorei seu blog... Já estou seguindo...
    Depois dá uma passadinha no meu para conhecer... Relíquias da Lylu =D
    http://reliquiasdalylu.blogspot.com.br

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  3. irado essa dissecação,bem outro livro que eu gostaria de ler,mas que infelizmente não encontro em lugar nenhum!O botafogo tá com tudo.

    A adaptação inglesa com Colin Firth foi bem melhor do que a americana,tenho até medo de como vai ficar o filme About boy/Um grande garoto com a visão americana,apesar do alta fidelidade/high fidelity,mas é um caso raro.

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    1. Oi Rene! Acho que esse seriado que eles vão fazer do Um Grande Garoto agora vai ficar legal, mesmo sendo americano. Não gosto muito do Alta Fidelidade como filme, mas não por ser americano. É porque acho que o livro é difícil de transpor pra tela, com muitas digressões do personagem, e o Rob não é daqueles personagens que dê muita vontade de torcer por ele. O filme abusou do John Cusack falando com a câmera, não curti muito não. Mas, apesar do beisebol, acho Amor um Jogo um filme legal. Só não dá pra levar a sério como adaptação de Febre de Bola. Se fosse com futebol ia ser perfeito.

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    2. Vai ser seriado?espero que não seja uma porcaria,bem que o filme Alta Fidelidade foi a porta de entrada para "conhecer" Nick Hornby,não literalmente,foi um filme que me atraiu e que até hoje me atrai,depois o que você disse sobre o livro eu vou correr atrás,mas percebe-se que o Rob é um anti-herói(apesar que todos os protagonistas são "meio" assim no mundo do Nick)...teve uma versão antiga do febre de bola,antes desse dos irmãos Farrelly,é uma versão inglesa que é bem cool,que é baseado no futebol e tem uma trilha maneira,uma música do smiths,pretenders,lisa stanfield e a versão orginal do There She Goes,que graças a esse filme eu descobrir que não pertencia aos sixpence none the ritcher...ih,falei de mais!

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