Passei os últimos meses pensando pra caramba. Pensei tanto que deve ter saído até fumacinha da minha cabeça. Coloquei algumas coisas na balança, fiz algumas projeções para o futuro e para todas as perguntas que fiz a mim mesma obtive “Não” como resposta. Relutei um pouco para admitir, mas decidi que do jeito que está não dá pra ficar.

Senti que era hora de me mexer, e então lá fui eu atualizar meu currículo. E tive uma grata surpresa até. Lembro que quando fui preencher meu primeiro CV, tive muita dificuldade, afinal, o que escrever, quando não se tem experiência? Sempre achei essa história toda um bando de papo furado. E nunca soube mentir, o que torna situação ainda mais incômoda.
Mas com dois anos de auditoria, percebi que nenhuma das qualidades ali mencionadas era mentira. Fiquei feliz em saber como tinha evoluído desde então. E como agora já não é qualquer anúncio que desperta minha curiosidade.
Até que uma dessas headhunters me ligou outro dia. Fez aquelas perguntas naturais de o que você faz, onde você está, pra onde você quer ir. Pra começar é difícil pra caramba explicar o que eu faço. Quem não é do meio não faz ideia do que seja. Dali em diante me arrependi das respostas. Podia ter falado a mesma coisa de outro jeito. Estava meio nervosa, fui pega de surpresa, com medo de falar alto e alguém ouvir. Ouvi a mulher rir do outro lado. Logo me arrependi do que disse.
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Tinha esquecido como esse processo de entrevistas e "marketing pessoal" era idiota. Falar com gente que não faz a mínima ideia de quem você é e muitas vezes também não faz a mínima ideia do que é preciso saber para determinada posição. De como nessas horas o "parecer" é muito mais importante do que o "ser". De ter que responder a questões estúpidas envolvendo animais da floresta e ficar à mercê da subjetividade de quem quer que esteja do outro lado.
Percebi que, por mais que muitas coisas daquilo que os avaliadores gostem de ouvir sejam de fato verdade, ainda é preciso muita conversa na frente do espelho pra treinar a lábia e eventuais mentiras. Ou pelo menos verdades menos assustadoras.
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No meio disso tudo, eu comecei a ler Obrigado por Fumar (já comentei do filme aqui). E sim, o livro é tão legal quanto o filme. Um pouco diferente também. O livro foca um pouco mais nos próprios personagens, na história do cigarro e acaba com um final um pouco moralista, até. O filme é muito mais sobre a capacidade de manipular a verdade e o poder de convencimento de um discurso bem feito do que sobre a indústria tabagista em si.
Acontece que, diante desse meu dilema, passei a prestar atenção nas técnicas que ele usava para defender a indústria do cigarro. E se ele consegue convencer as pessoas de que o cigarro não faz mal à saúde, com um pouquinho de convicção e cara de pau, é possível dobrar qualquer um em qualquer assunto.
Representante do tabaco que abraça crianças com câncer. Nick é desses.
Quer dizer, a propaganda é a alma do negócio. Quantas vezes você já não comprou alguma coisa no trem/ônibus só pelo carisma do vendedor? Esses caras são marketeiros populares. E dos bons! Porque o cara tem que ser muito bom pra discorrer as mil e uma utilidades da "caneta calendário". Não sei o que eles estão fazendo nos trens, sinceramente, quando deviam era estar dando cursos pra gerentes de multinacionais que não sabem nada sobre vendas.
E a bem da verdade é que todo executivo faz um cursinho desses com Nick Nalylor ou com um camelô de sucesso. Porque ao mesmo tempo em que o candidato floreia suas qualidades, quem contrata também enfeita ou esconde os defeitos do empregador para tornar aquela oportunidade mais apetitosa.
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E no meio disso tudo, tive uma dessas conversas sérias de feedback, conselhos, futuro com uma pessoa que eu admiro à beça. E enquanto ela falava, eu ria comigo mesma porque só corroborava aquilo que eu já tinha sacado algumas semanas antes, por causa do incidente mencionado ainda há pouco.
O conflito incoerente sobre o “ser” e o “parecer”. A sinceridade que em 99% das vezes é vista como qualidade, mas pode ser um empecilho nos outros 1%. A falta de jeito para fazer propaganda de si mesmo. A inabilidade de “fazer social” com gente que não tem nada a ver comigo.
Porque a bem da verdade eu nunca precisei dessa palhaçada toda. E não me fez falta. Porque sou o tipo de pessoa que os atos falam mais do que a boca. E quem me conhece sabe de tudo isso.
O problema é fazer com que as pessoas certas, que ainda não me conheçam, saibam também.
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