domingo, 21 de setembro de 2014

Mudanças

O mês é setembro e é com muita vergonha que venho aqui escrever apenas o nono post do ano. É bem verdade que este blog nunca teve postagens diárias, mas nunca na história desse país elas foram tão escassas. Mas podem ter certeza que existem justificativas mais do que plausíveis para isso. Não estou pedindo desculpas. Encarem como um desabafo. Ou como um anúncio das novidades de um amigo com quem não se fala há muito tempo. 

Como expliquei em algum post desse ano, desde meados do ano passado, minha vida tem sido uma montanha russa de emoções. Um liquidificador de sentimentos. Um turbilhão de pensamentos.

Parte deles eu já expliquei nesse post, e nesse post, então os detalhes vocês conferem por lá. Farei apenas um pequeno resumo do que aconteceu nos episódios anteriores da minha vida.

Previously on My Life

1. Minha irmã viajou pelo Ciências Sem Fronteiras pra Espanha
2. Comecei a procurar outro trabalho
3. Viajei pra visitar minha irmã no fim do ano
4. Tive uma das conversas mais impactantes da vida, com minha chefe, regada a soluços e lágrimas sem fim

Só que ainda rolou um monte de outras coisas esse ano que tomaram muito meu tempo e me desestruturaram pra caramba, fora as minhas férias... Que férias! 

Ainda esse ano eu:

1. Perdi minha (outra) chefe. (Março)
Ela não morreu. Só foi pra outra empresa. Mas sabe o baque que é saber que você não vai mais estar com uma pessoa que você gosta e admira? Chorei muito, de verdade. De um jeito que eu não chorava desde a despedida do Cefet. Pra você ver só.

2. Perdi meu principal cliente (Abril / Maio)
O meu caminho lá na empresa estava mais ou menos traçado. Eu fazia esse cliente, de que eu gostava muito, desde o início. Só que, ninguém esperava, eles não renovaram esse ano e aí eu fiquei chateada pra caramba. Acabou que no fim das contas, acho que foi para o bem. E dessa experiência, eu percebi uma coisa muito gostosa que foi que tinha alguns “anjos da guarda” que gostavam e cuidavam muito de mim. (Tem mais detalhes corporativos nessa história, mas vou poupar vocês disso tudo).

3. Comecei a academia. E parei. (Junho)
Minha amiga do trabalho me chamou e eu falei: “Por que não?”, e eu malhei durante um mês. Foi legal. Só que aí eu entrei de férias e...

4. Viajei. (Julho)
Em plena Copa do Mundo, viajei pra Madrid novamente pra re-econtrar minha irmã. Lá assistimos Brasil x Colômbia na Fan Fest madrilena cheia de colombianos e de lá partimos para Londres, de onde pensamos em assistir ao fatídico Brasil x Alemanha de um bar, mas depois do 5º gol foi impossível continuar por lá. (Eu estava de casaco no dia, e conforme os gols iam sendo sofridos o zíper só subia de tanta vergonha). Fora isso, bom, zeramos as férias. Como vocês podem conferir no meu albo do Feice. Depois disso, minha irmã voltou comigo pro Brasil.

5. Pedi demissão (Agosto)
Vocês acompanharam aqui mesmo quando eu consegui o emprego. Meu primeiro emprego. E entre um post e outro, também viram tudo o que eu passei. Já tinha tempo que estava procurando outra coisa. E por mais que não estivesse dando muito certo, sabia que o que era meu estava guardado. Porque as oportunidades aparecem para quem se prepara. E quem me conhece sabe que esse não é problema pra mim.

E, se vocês não se importam, gostaria de discorrer um pouco mais sobre isso hoje (talvez sejam necessários mais do que um post para fazer isso até). Porque foram 3 anos intensos que mudaram a minha vida e o meu jeito de eu ver o mundo. 

E daí que eu queria fazer um balanço dessa minha trajetória (porque balanço é uma coisa de que eu entendo). E se preparem, porque tem mais de um mês que eu não escrevo, então, eu tô quente, fervendo.

O balanço

Acho que um dos conflitos mais constantes dentro da minha cabeça nesses anos foi uma discussão sem fim sobre identidade. Até que ponto você pode ser você mesmo, até que ponto você deve mudar para se adaptar e ser aceito, e por fim, que tipo de pessoa eu estava me tornando e que tipo de pessoa eu queria ser.

No início não foi nada fácil. Pra alguém que só usava jeans, tênis e camiseta, camisa social, e sapatilha eram coisas de outro mundo. Era muito esquisito se olhar no espelho e não enxergar a menina de camiseta e calça jeans.

Me senti muito deslocada no começo. A sensação que tinha era de que não pertencia aquele lugar. Era tudo muito novo. Pessoas com cabeças diferentes, hábitos diferentes, gostos diferentes. E daí que eu ficava o tempo todo me policiando, media 3 ou 4 vezes as palavras, pensando no que iam pensar.

Por muito tempo também me incomodava o fato de as pessoas estarem mais interessadas em mudar a minha personalidade do que de fato entender quem eu era. E aí eu me fechei. E muitas vezes fui grossa. Porque eu tenho essa cara de menina (até porque eu sou mesmo!), e por proteção, vendi uma imagem de quieitinha talvez até um pouco mais distante da realidade do que deveria. E tem gente que confunde isso com ser otário. E se tem uma coisa que eu não sou é otária. Daí a necessidade de engrossar a voz de vez em quando.

Só que não demorou muito para descobrirem que eu era muito boa. E aí eu descobri que talvez eu pertencesse aquele lugar mais do que muita gente ali. E aí eu pude me soltar um pouco mais e me sentir em casa, afinal. Só que quando isso estava acontecendo, a cobrança aumentou e o salário nem tanto (costumo dizer que a primeira cresce em PG, e o segundo em PA), e junto com isso a pressão para mudar um pouco do que você é*. E aí eu fiquei rebelde pra caramba. E soube que estava na hora de ir embora.

(*Demorou muito pra eu entender que não era nada de mais e que ia me fazer bem no final das contas, mas até lá o dilema de identidade que me assombrava desde o começo voltou com tudo e na minha cabeça tinha toda uma guerra mental que soa até infantil de "E o que mais vocês querem, então? Será que tudo isso que eu faço não é suficiente?" e "Não vou fazer porque eles falaram, mas porque EU quero")

É difícil explicar auditoria pra quem está de fora. Só quem vive entende. Não são só os prazos apertados. É a falta de pessoal. É o sentimento de estar sozinho, às vezes. É o peso que fica sobre os ombros (e não só do computador que tem que levar pra casa). Ao contrário do que se pode pensar, esse peso não é psicológico. É físico. E é uma sensação horrível de se lidar.

Utilizando os verbos modais do inglês, o "must" tinha se tornado uma constante. Mas eu sentia falta de conjugar o verbo "can" na sua forma mais simples do presente. Só que todas as vezes que as possibilidades eram expressas de uma forma positiva, era usando o "might", que está num futuro incerto, remoto e distante.

Tenho certeza de que se continuasse lá, as possibilidades seriam infinitas e eu poderia ser muito grande. Eu só NÃO QUERIA. Porque no fim do dia, elas estavam todas no futuro. E não dava mais pra viver uma vida de promessas.

Colocando as coisas na balança, e projetando outras, a percepção do que estava por vir não era muito animadora. Quer dizer, obviamente as coisas iam dar muito certo, tendo um pouco mais de paciência. Porque em auditoria o plano de carreira é alavancado mesmo, e essas é uma das poucas certezas que se têm. (E modéstia à parte, eu estava mandando muito bem também) Mas o preço a se pagar por isso era alto demais. Minha vida, meus planos, minha paz de espírito. E esse tipo de coisa não dá nem pra parcelar, só à vista.

E o pior é que a recompensa por esse preço, permanecendo por lá, parece que não chega nunca. Ela não vem em forma de dinheiro, nem em forma de diminuição de trabalho, nem de diminuição de estresse. Só em status e conhecimento. E eu decidi que eu posso viver muito bem sem status e podia adquirir conhecimento de outras formas menos doloridas. 

Não se pode ter tudo. Sei tudo que deixei de ganhar. E tudo que deixei de perder. Escolher é renunciar. E eu escolhi viver. Viver agora. 

Não existe empresa boa. Existe a empresa que é boa para você. Estava numa empresa ótima. Só que não estava mais sendo boa pra mim.

Já não estava gostando de quem eu era. Estava me tornando uma pessoa amarga (vocês podem comprovar pelos posts do último ano. Até parei de escrever um pouco por causa disso), adiando os meus planos indeterminadamente, vivendo em função do trabalho. A gente tem que trabalhar pra viver. E eu estava vivendo pra trabalhar.

Não sei se a velocidade dos posts vai voltar ao que era antes. Porque, querendo ou não, a verdade é que eu mudei. Mudei muito. 

Já não sou mais aquela menina de jeans e camiseta que começou o blog e o usava como forma de terapia. Porque a menina cresceu, os problemas também, e uma página de Word já não estava mais sendo suficiente. Agora eu alugo o ouvido das pessoas, que é mais rápido, rs!

E também passei a dar muito mais valor ao tempo efetivamente VIVIDO, fazendo coisas legais, e não apenas relatando, comentando, debatendo, como fazia antes. Não que isso também não seja legal, só que...o mundo é tão grande! E eu quero aproveitar muito mais. Viver muito mais. Estar mais perto das pessoas que eu gosto. Fazer mais coisas diferentes.

Mudei tanto que já não tenho mais aquele medo de mudança de quando esse blog começou. Porque uma das coisas que eu aprendi nesses anos foi a conviver com a mudança constante. E mudei tanto que a vontade de mudar partiu de mim. E a cada dia que passa eu fico mais feliz de ter mudado. 

No final das contas, foi uma experiência incrível (de verdade, no próximo post eu explico melhor). Mas eu estou curtindo essa nova fase, que eu também espero que seja tão legal quanto. Obrigada!

8 comentários:

  1. Lisa, você postou! Que coisa boa! :) Eu adoro o Inútil, acho que você sabe, mas entendo por que esteve afastada. Só que mesmo entendendo, é bom ver post novo lá no feed do Blogger.

    Como uma pessoa que tem muito medo de mudanças, preciso dizer que minha sensação lendo foi de... Sabe, quero passar por isso. Não por toda a parte difícil e o estresse que você passou e que tenho certeza de que foi bem difícil. Claro. Mas por esse processo de não ter mais receio em relação às mudanças.
    Acho que a sua escolha foi bem corajosa. A gente vê tenta gente por aí vivendo num estresse infinito porque vive pra trabalhar. Se tem uma coisa que eu aprendi com os meus pais é que, exatamente, a gente tem que trabalhar pra viver, e não o contrário (e é uma coisa que eu estou sempre tentando internalizar).
    Boa sorte na nova fase, de verdade! Que bom que você está curtindo. Acho que muito disso vem de a gente estar disposta, né? E, pelo jeito, você está. Que ótimo!

    Beijo!
    PS: a diferença gritante entre minha disposição e espírito nesse post que você linkou e os últimos meses é algo que me assusta :(

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    1. Acho que muito do processo de mudança passa pela autoconfiança. E hoje eu sou muito mais autoconfiante do que há alguns anos. Ainda tenho que trabalhar muitas coisas. Mas sem dúvida, hoje eu acredito muito mais em mim do que antes. E quando a gente acredita na gente, mudar fica mais fácil.

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  2. Não consegui ser assim ainda. Tenho medo de mudanças e medo de decepcionar quem me cobra, seja lá quem for. Ainda me vejo insatisfeita com diversas áreas da minha vida, mas sem coragem de realmente fazer o que eu gosto e dane-se o resto. Deve ser uma sensação tão boa, né?
    Mas olha, paz de espírito não se compra e acho que é o que mais devemos perseguir na vida. Assim, você tá mais do que no caminho certo!

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    1. A parte de superar o medo da decepção eu ainda estou trabalhando. E tenho que melhorar na parte de encarar com naturalidade quando ela vem também.

      Sobre a sensação de tomar uma decisão importante que estava pra ser tomada tem tempo: é muito boa mesmo. Principalmente quando você sabe que está tomando a decisão certa, consciente de todos os riscos, os prós e os contras.

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  3. Uma coisa que me chocou nesse post: ACADEMIA!!! O dia que eu pisar em uma será uma mudança radical na minha vida.

    Mas já me senti que nem você. Povo acha que eu tenho potencial pra fazer um monte de coisa, e eu realmente acho que tenho mesmo, mas não quero. Tem um monte de área "que paga muito bem" nas quais eu poderia trabalhar, mas eu simplesmente não quero. Então, eu fico mirando em coisas menos apreciadas, mas que me satisfazem. Minha mãe fica louca, mas é a minha vida :)

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    1. Então, não tem nada de mais na academia. Tem os bombados, as patricinhas, mas também muita gente fazendo exercício pra manter a saúde e tal. Mas, ainda prefiro natação.

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  4. (Tinha feito todo um comentário, mas na hora de postar ele simplesmente desapareceu, eike delícia. #sqn Mas vamos de novo)

    Nem sei bem o que comentar, mas amei o post, de verdade. Super me identifiquei com muito do que você disse aí. Tomar decisões e fazer certas escolhas pode ser bem difícil, bate a insegurança... fico feliz por você estar se encontrando. Eu continuo bastante perdida, pro meu azar, mas uma hora chego lá. Chegaremos lá! Pelo menos você já tem muita noção do que NÃO quer, o que já é um grande passo... pra enxergar o que você quer de verdade é só um pulo. Eu fico aqui, na torcida. Mudar pode ser meio estranho, e até assustador às vezes... mas é bom. :)

    Bjs!

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    1. (Olha já é a terceira vez que tento postar esse comentário! O problema é com você!)

      Uma das coisas mais curiosas nesse meu processo de saída foi receber emails de colegas com elogios do tipo: "Parabéns pela coragem e por você saber o que quer para sua vida", principalmente porque para algumas pessoas, eu não fazia ideia do que estava fazendo. Mas eu sempre soube que não queria aquela vida por muito tempo. E sempre achei que as pessoas soubessem o que elas queriam também (quaisquer que fossem os seus objetivos). Pra mim sempre foi uma questão quase matemática de análise de riscos e retornos. Mas pelo visto, tem muita gente se questionando se não fez a escolha certa, ou ainda tentando descobrir qual é a escolha certa.

      Sobre a parte de descobrir primeiro o que NÃO se quer, para depois descobrir o que se quer, bom, foi assim que eu escolhi o curso pra que ia prestar vestibular. Primeiro pensei em tudo o que eu não queria. Depois analisei as opções restantes e escolhei. Deu certo. ;)

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