domingo, 15 de novembro de 2009

Mais lit. pop, clássica, novelas, Rei Leão, etc

Todo mundo vive dizendo que o brasileiro não gosta de ler e que o jovem prefere o videogame a palavra escrita, no entanto, ficam querendo empurrar goela abaixo livros com realidades diferentes das nossas e ainda querem que visualizemos todo o pensamento subliminar por trás de cada frase, quando a leitura, no fundo, deve ser simplesmente o prazer de apreciar as palavras. Fica difícil saborear a sopa de letrinhas quando a gente não se identifica com os personagens e isso é feito de forma obrigatória e cheio de regras por trás.

Como bem colocado aqui nesse outro blog*, primeiro a gente come e sente o gosto da comida. Depois faz a digestão. O mesmo deveria acontecer com a leitura. Primeiro a gente deveria ler e gostar. Depois, numa segunda ou terceira leituras, tentar interpretar mais a fundo. Quanto mais lermos, mais conhecimento de mundo teremos e de menos leituras adicionais precisaremos para fazer uma boa análise. É até crueldade querer que o jovem engula todo aquele conteúdo clássico e ainda cuspa de volta um pensamento, ou melhor, O pensamento que os professores querem que seja enxergado ali.
*Não sou a única que compara leitura com comida

O que acontece na escola todo mundo sabe: não só os alunos não lêem os livros propostos, como desenvolvem uma certa aversão ao livro. Os resumos na Internet salvam a vida dos estudantes, mas também, junto com todo esse sistema de ensino, mitificam muito o conteúdo dos clássicos. Ler e entender as obras se torna algo inalcançável. Eles digerem tanto a leitura que tiram o sabor das palavras que eu falei lá no início.

Muitas vezes eles apresentam visões até exageradas para partes aparentemente sem importância. Tudo bem que numa leitura mais aprofundada é esperado que se analise a obra com um pouco mais de atenção (e eu gosto mesmo de fazer esse tipo de coisa), mas às vezes os pontos destacados por essas interpretações de estudiosos dão a impressão de que o autor fez tudo de caso pensado e com uma segunda intenção por trás de cada palavra, quando na verdade às vezes o fato só ganhou espaço porque era algo comum na época e não necessariamente caracteriza uma crítica ou algo do tipo.

Por exemplo, numa das análises de Inocência, era destacada “a questão da escravidão”. Quem lê o resumo acha que existe uma grande crítica ao sistema escravocrata, mas só o que há é uma personagem que era escrava e está lá fazendo figuração.

Quer dizer, esses caras ficam procurando pêlo em ovo. E o pior é que esses autores dos séculos passados nem estão aqui para se defender. Porque hoje em dia se a gente tem uma desconfiança de alguma coisa subliminar, é muito fácil de a dúvida ser sanada. Entra no site do autor, manda um e-mail e ele responde. Agora se os coitados dos autores defuntos não tiverem dado alguma entrevista, escrito um diário ou coisa assim, dá-lhe acadêmico achando crítica sobre o sistema servil em A Comédia dos Erros, denúncia de maus-tratos aos animais em Atirei o pau no gato e influência da geração condoreira em funk do Cria Asa Periquita.

Aí eles ficam se prendendo a esses detalhes ínfimos e o estudante esquece o que realmente importa nisso tudo: a história. Que muitas das vezes são muito simples e talvez nem representem isso tudo, mas que também são muito legais. São só o retrato de uma época. Sem Photoshop. Como qualquer novela. E por algum acaso você assiste à novela das oito pensando em todas nuances da personalidade humana, ou você quer assistir mesmo é a vilã se dar mal e os mocinhos ficarem juntos no final?

Para quem está a ponto de me chamar de herege, saiba que muitos dos chamados clássicos da nossa literatura foram publicados primeiro em forma de folhetim nos jornais. Há quem diga que são os precursores do gênero noveleiro. O mesmo vale para quem reclama da atual chick-lit. Existem correntes que defendem Jane Austen como a madrinha do estilo.

Ou seja, talvez, nem naquela época o objetivo das obras fosse que as pessoas analisassem cada expressão da novelinha do jornal. Talvez fossem só um bom passatempo. Então por que essa obrigatoriedade toda em ficar “distrepando” cada linha se o que importava mesmo era a história de amor dos mocinhos? Alguns clássicos talvez fossem tão pop quanto romance de banca.

Só pra reforçar aqui, eu gosto de interpretar os textos. Gosto mesmo. Fico até me sentindo orgulhosa quando consigo enxergar uma coisa que talvez não estivesse ali muito às claras. Mas gosto de fazer isso por minha conta e de ter a minha própria opinião. Não gosto de ter que fazer isso obrigada, tendo que enxergar coisas que eu, pessoalmente, não vejo. Acho que isso tira toda a graça e afasta as pessoas dos livros.(e de tudo, aliás). Sou a favor da liberdade não só da escolha dos textos como da liberdade de interpretação também. A leitura é algo de prazeres singulares. Cada um sente um gosto diferente. E às vezes uma mesma pessoa pode sentir um outro gosto para um mesmo texto dependendo da fase da vida que esteja passando. Nosso paladar, além de diferente do das outras pessoas, também muda conforme o passar do tempo. Essa obrigatoriedade em analisar aquilo EXATAMENTE do jeito que os acadêmicos fazem mitifica muito as obras.

Por exemplo, quando se fala de Hamlet o que vem a cabeça é: “Ser ou não ser, eis a questão” e todo mundo acha que não vai entender nada. Só que todo mundo já viu um pouco da história de Hamlet e nem sabe. A não ser que você não tenha tido infância e nunca tenha assistido O Rei Leão. É, O Rei Leão. Aquele da Disney. Pra você ficar ainda mais chocado, saiba também que O Diário de Bridget Jones é Orgulho e Preconceito do século XXI (Mr. Darcy!) e As patricinhas de Beverly Hills é releitura de Emma. E o que tem de novela aí inspirada em clássicos da literatura não está no gibi.

O que eu estou tentando dizer é que: existem histórias hoje que são tão boas e simples quanto as de antigamente. Não há razão para todo esse mito, nem para pressão para que sejam lidas, nem para o desprezo das obras que fazem sucesso hoje. As pessoas deveriam ler se sentissem atraídas pela sinopse e gostassem do estilo do autor. Como qualquer outro livro.

É claro que a linguagem nem sempre é das mais atraentes e é preciso um pouco mais de paciência para encarar os clássicos (paciência essa que eu admito não ter sempre), mas muitas vezes os enredos são divertidíssimos. E também é claro que nem todos são tão legais assim. Como tudo na vida, existem as espécies boas e as ruins. E como tudo na vida, isso vai variar da opinião de cada um. Porque livros são como comida. Tem gente que não gosta de chocolate e gente que come jiló e lambe os beiços. Vai entender!

Só que quando a gente encontra alguém que não suporta chocolate, não vai adiantar dizer que é bom, abrir a boca dela e enfiar o negócio goela abaixo, porque aí mesmo é que ela vai tomar a maior bronca do doce.

Hakuna Matata, eis a questão...

Obs. Só pra deixar claro aqui, sou apenas uma mera gourmet amadora e grande parte do texto foi baseado nas aulinhas de literatura da escola, misturadas a minha opinião, algumas leituras e muita pesquisa em artigos acadêmicos e de jornal. Então, se algum profissional encontrar alguma bobagem literária nesse texto, sinta-se à vontade para me corrigir. Ficarei até feliz porque então, estarei enriquecendo minha bagagem cultural.

Obs2: Extras! Links legais.
- E se Lizzie Benneth e Mr. Darcy mandassem SMS's? O resultado ficou bacanérrimo. Não esqueça de olhar a 'legenda' para as siglas embaixo da figura.
- E nem O Rei Leão se salva das análises-viagens. Ainda bem que ele fala que as crianças não precisam analisar o filme igual a ele.

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