terça-feira, 2 de novembro de 2010

Lost in Translation

Antes de tudo, deixa eu só deixar claro uma coisinha. Eu não sou tradutora. Não fiz, não faço e não tenho a menor intenção de fazer faculdade de Letras, nem de me especializar no assunto. Sou apenas uma curiosa que conhece um pouco de uma língua estrangeira e gosta de aumentar o seu vocabulário.

Eu procuro saber o que está escrito no original antes e qual alternativa eu daria para uma possível inventividade. Só critico se for muito absurdo e alterar completamente o sentido das coisas. Porque às vezes tem questões dão no mesmo e outras que o tradutor tem que dar o seu jeito e aí faz o melhor que pode. E outras em que ele não ia ter que fazer mais nada além de prestar atenção no contexto e traduzir, sem mais mistérios. Essa última é imperdoável.

E se tem uma coisa que me irrita mais do que esse tipo de erro grotesco (e mesmo assim, dependendo do caso, nem me irrita tanto), é gente que é assim “apenas mais um curioso” igual a mim e fica inventando moda dizendo que tudo está errado e que devia deixar logo tudo no original de uma vez.

Traduzir é preciso, viver não é preciso
Admito. Tenho uma comunidade no orkut que critica as traduções da Ana Ban, e sempre fico com vontade de comparar os originais. Mas não só para ver se tem alguma coisa errada, mas também para adicionar umas expressões novas no meu vocabulário. E mais: só reporto lá aquilo que é absolutamente absurdo. E sou a primeira a defendê-la quando alguém levanta uma questão em que a Banana na verdade acertou.

E mais: gente, eu reli os livros tem pouco tempo e tenho que dar o braço a torcer: apesar de tudo, a tradução da Banana ainda é melhor do que as de antes. Tinha muita expressão grotesca nos livros anteriores. Questão de sintaxe, má escolha de palavras, problemas com medidas, personagem que troca de sexo, salame que vira gafanhoto e muito mais bobagens que eu ainda estou pra descobrir. Mas, o mais engraçado, é que eu confio mais nas outras capengas do que na da Banana. É psicológico, acho hehe.

Pois então, antigamente as traduções eram bem piores. Pega só um episódio dos Flintstones ou algum filme de 20 anos atrás só pra você ver. São umas coisas bizonhas. Have fun = ter diversão, Have sex= ter sexo... O pessoal de Chaves fazendo massa de bolo e na dublagem aparecer que eles estão fazendo pastel... Esse tipo de coisa bem tosca.

Eu nem sei se eles alteraram os sabores dos sucos também
Acho que era Gromerindo, né? A mistura de Groselha com Tamarindo!
Ai, ai, Chaves é o ápice!

Mas naquela época não tinha Google e ficava muito mais difícil procurar significado de uma gíria, por exemplo, então ninguém nem notava.

O problema é que hoje todo mundo fala, ou acha que sabe falar inglês. Aí não só temos traduções profissionais com currículo de amadores, como amadores que se acham profissionais.

É preciso entender que a gente mora no Brasil, nossa língua é o português e por isso a tradução é um instrumento muito necessário. Nem todo mundo tem obrigação de falar outra língua. O país é pobre. A gente não sabemos nem falar português! E mesmo que todos falássemos inglês fluentemente, não temos que saber todas as suas palavras. E nem a obrigação de decorar todo o dicionário da nossa língua materna. Porque além de tudo, a língua ainda varia de região em região! E tem os jargões de cada profissão também, o dialeto de cada “tribo” jovem, enfim!

E deixar aquele bando de séries da TV a cabo com título original já se tornou até comum e todo mundo acha legal porque os nomes que o SBT inventa tem vezes que ninguém merece, mas você sabe por que os canais da TV a cabo não trocam os nomes? A resposta é PREGUIÇA!!!

Sim, amigo, PREGUIÇA! Eles têm apenas uma central para toda a América Latina, e aí para não terem que ficar fazendo um negócio em Espanhol, outro em Português, deixam logo tudo na língua original mesmo. Eles já traduzem as coisas para passar nas intermináveis chamadas do canal em português muito a contra-gosto. E é por isso que de vez em quando a gente vê uns absurdos do tipo comerciais com legendas hispânicas, um locutor falando castelhano, etc.

É muito fácil defender esse tipo de coisa quando se tem um domínio mesmo que básico de inglês, que é uma coisa que meio que já faz parte do nosso dia-a-dia (muito embora, mais uma vez repito, se o trabalho da pessoa não exigir esse tipo de conhecimento, ela não tem a menor obrigação de aprender a língua). Eu quero ver só começar a deixar sem tradução os desenhos japoneses, os filmes iranianos, o discurso de um presidente africano. Vai lá! Lê aqueles símbolos todos estranhos, vai!

 É a mãe!

Sabe aquela história do “em latim é mais engraçado”? Pois é.
Uma coisa é você ler/escutar e encaixar um sentido na sua cabeça. Outra coisa é você ter que arrumar esse sentido em palavras que se encaixem o mais perfeitamente possível a esse sentido numa frase coesa.

Tradutor sofre. Dá-lhe neologismos, aliterações, assonâncias, rimas, trocadilhos, cadências, piadinhas. Às vezes eu acho que os coitados encontram umas situações em que a vontade é sentar e chorar. Tem que ter uma criatividade incrível para se livrar de algumas situações e adaptar, sem deixar o sentido original se perder.

Então, antes de criticar o coitado do tradutor, pesquise se aquilo está errado mesmo, pense se realmente fez diferença ou se você tem uma alternativa melhor... Se não tiver, acho que você não tem o direito de reclamar.

O Franklin sim! Esse pode reclamar sempre!

Mídia impressa x Legenda x Dublagem
Outra coisa interessante a ressaltar é que a tradução não só pode como deve variar de acordo com o meio de comunicação.

Na mídia impressa (livros, jornais, revistas, etc) é mais fácil deixar o texto na íntegra porque se tem espaço pra isso. O cara pode até colocar um asterisco (*) e lá no rodapé pôr uma nota do tradutor para algo que não ficar bem explicado, porque o leitor não tem obrigação de saber tudo. Esse trabalho de mediação ‘cultural’ também é obrigação do tradutor.

O trabalho do ‘legender’ já é um pouco mais complicado e é meio Se Vira Nos 30. Ele tem que transmitir a mensagem num espaço curto de caracteres. E aí, a preocupação não vai ser em explicar tudo tim-tim-por-tim-tim. A idéia é o mais importante e a simplicidade é a regra geral. A pessoa escuta o original e meio que faz as associações. Porque, ou você fica lendo a legenda, ou assiste o resto do filme.

E o trabalho de dublagem, além de tudo isso que faz o ‘legender’, ainda tem que encaixar a tradução na fala. E aí o trabalho tem de ser muito mais minucioso porque aí o espectador também não vai ter acesso ao original imediatamente. Geralmente, aqui é que entram aquelas adaptações com piadas que certamente só fazem sentido pra quem mora no Brasil. Bom, eu não sei se isso é muito certo, mas, na maioria das vezes, à primeira vista funciona e eu rio, então, leigamente falando, sei lá, é questão de opinião.

Eu só não acho certo trocar o nome dos lugares, tipo Acapulco que virou Guarujá, mas também, o que seria de Chaves sem essas coisas? É um negócio histórico e ninguém morreu por causa disso, apesar de ter causado uma bela de uma confusão na mente das crianças!*
*Sério, apesar desses deslizes, a dublagem de Chaves tem umas sacadas ótimas! É tanta coisa que dava pra fazer um post só disso. Até quando os caras erram, eles acertam de tão bons, haha!

Obs. Para quem ODEIA filme dublado: dublagem também é importante porque às vezes a gente quer assistir um negócio enquanto se arruma pra sair, passa uma roupa, esquenta a comida, sei lá, e não tem como ficar prestando atenção na Tv, então, nessas horas, filme dublado é uma mão na roda.

Outra coisa: Os responsáveis pela dublagem são as pessoas do estúdio de dublagem (aquele negócio de Versão Brasileira Hebert Richards é isso. A marca do Estúdio de Dublagem, viu!), não as emissoras de TV. A não ser que o estúdio de dublagem pertença ao canal. É ele quem encomenda e pode até dar alguma diretriz de como quer o trabalho, mas geralmente fica por conta dos dubladores mesmo. As coisas se profissionalizaram, gente! Não é mais igual à dublagem de Chaves em que os caras chamaram qualquer pessoa que estava passando no corredor, não! Então, quando você ver uma dublagem absurda, não culpe o Silvio Santos! Culpe o Herbert Richards! Hehe!

Obs. O título do post faz alusão ao premiado filme de Sofia Coppola sobre a dificuldade de adaptação de um ator a cultura do Oriente. Ironicamente o título original ficou perdido na tradução tanto aqui (Encontros e Desencontros), quanto em Portugal (O amor é um lugar estranho).

Mas como o assunto “Nomes /Títulos” é uma questão super-hiper-mega-polêmica, a gente conversa sobre isso na próxima semana. Até mais!

PS. Como disse, não sou profissional da área, então, se eu equivoquei em algum fato, pode avisar que eu faço questão de editar.

3 comentários:

  1. Achei esse post genial!
    Esse lance da tradução é muito complicado. Acho que os tradutores/dubladores/"legenders" merecem um prêmio de vez em quando por algumas mágicas que eles realizam de vez em quando. Só tem umas traduções meio "burras" que não fazem sentido, como no Home-Aranha 1 quando o Peter pede os seus "chemistry books" e na dublagem sai um "gibis" --'

    Eu acho que soa falso quando eles tentam trazer o contexto do filme para o Brasil, tipo trocar Barney por Bozo, ou por a Xuxa no meio da história. Prefiro que as referências sejam mantidas.

    O SBT inventa uns nomes horríveis que eu acho totalmente desnecessários. Não é mais fácil deixar o título original?

    PS: O lance do chaves era "Suco de tamarindo, que parece limão e tem gosto de laranja" ou alguma outra coisa que troque os sabores de posição rs

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  2. Nossa li, que post show!!!!
    Amei ^^
    Acho que você tinha que fazer um post tb só do chaves, ele rende cada coisa ^^
    Enfim, também acho a dubalgem importante, já cansei de ver filme enquanto fazia outras coisas (ou desenhava na sala hehehe), e realmente é uma mão na roda.
    Quanto ao fato dos canais terem preguiça de dublar, eu concordo, não acho que seja "para deixar o sentido original". Isso é desculpas para a preguiça ^^
    Quanto as dubalgens, concordo que antigamente era bem pior, apesar que hoje em dia ainda aparece umas pérolas terríveis. Odeio quando eles mudam o nome dos personagens sabe, entra naquela história do contexto. Acho que algumas coisas tinham que ser fiéis mesmo, mas algumas expressões não tem como mudar. Vou dar um exemplo de algo do meu universo ^^, um mangá que lançou no Brasil, Death Note, o nome do personagem é Raito que seria a forma japonesa de falar Light (é como se a gente falasse laiti). Enfim, espertamente o pessoal da tradução mudou o nome dele pra Light!!!
    Quem aqui no Brasil chamaria ele de Light??? Não é pq o negócio ocorreria lá no Japão que teria que ocorrer aqui! Porque não deixar o nome dele de Raito??? Isso é uma das coisas que me irritaram. As dublagens dos desenhos japas são importantes sim (eu acho). Tive infância por causa delas e gostaria que outras crianças tb tivessem ^^ só acho que podiam ser mais bem feitas, acho as dublagens antigas bem feitas, melhores dos que a de alguns desenhos hoje, em que eles colocam qualquer um pra fazer a voz de um personagem sem ver como era o tipo de voz no original! =/
    E sim, eu tenho saco pra ouvir as palavras esquisitas e ler legendas em port com animes!! ^^ Para mim elas são muito melhores do que as dublagens brasileiras (pela atuação mesmo dos dubladores), mas não digo que as brasileiras são ruins! Enfim vou parar de andar em círculos! ^^
    Amei o post
    E viva chaves!
    =D

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  3. Eu sou "metida a tradutora". Sabe como é? Aprendi inglês pra ler uma série que não foi publicada aqui e agora faço parte da equipe de tradução não oficial.

    Gosto de assistir tudo legendado e queria poder ler tudo no original também. Mas eu sei o quanto tradutor sofre. Já cheguei a passar uma hora pesquisando, discutindo e escolhendo a melhor alternativa. Mesmo sendo "não oficial" a gente acha que tem que ficar perfeito, nem que tenhamos que passar a noite em claro.

    Enfim... Tem que ter bom senso dos dois lados. Uma tradução nunca vai ficar perfeita ou agradar todo mundo, mas não dá pra relaxar também (como alguns relaxam e dá pra perceber).

    Bjos

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