sábado, 5 de março de 2011

CEO #04: Entorpecidos

Eu sei. Demorei tempo demais para atualizar minha “coluna” (ainda não acostumei com isso, parece até que eu sou jornalista!). Mas vocês entendem que procrastinar é uma dádiva quando se pode concretizá-la pelo simples fato de não ter de fazer absolutamente nada.
 
Não se enganem! Eu já tinha esse texto meio engatilhado na cabeça e queria mesmo pô-lo em palavras, mas sabe como é, né? A preguiça é traiçoeira e nos prende com uma facilidade indescritível.
Bem, deixemos as desculpas de lado e vamos ao texto! Espero que gostem!

A vida é difícil.

Assim. Sem mais desculpas ou rodeios.

Mas não há motivo para pânico, a “coluna” do CEO de agora não termina aqui, com essas quatro palavrinhas que, apesar de dizerem muito, não dizem absolutamente nada sobre o tema a ser discutido. Na verdade, essa frase pequenina com sujeito facilmente identificável e verbo de ligação é de grande ajuda para a conexão de fatos a seguir.
   
Sim. A vida de uma pessoa é uma coleção de lágrimas, decepções, baixas expectativas... E por isso, alguns buscam atalhos escusos para sua fuga. Eles fogem da realidade, seja para encontrar inspiração ou para, pura e simplesmente, esquecer o que os aflige. Vivem então como fantasmas, entorpecidos, flutuando em sua idéia ilusória de felicidade e paz.
   
Esse torpor é encontrado devido ao uso de vários instrumentos: vinho, cerveja, LSD, maconha... Não, meu ponto não chegará nem perto de questões legais como tráfico, violência e política. Talvez por isso me questione se chocolates, bombons, refrigerantes ou sorvetes também não entrariam para lista desse arsenal de meios para sanar a tristeza e os males da alma de maneira furtiva. Digo-o não porque sou contra meios de afastar a dor física, decidindo incinerar todos os anestésicos das farmácias, mas por acreditar que é importantíssimo estar presente em sua própria vida, seja ela uma porcaria ou um mar de rosas.
   
Sendo a última hipótese quase impossível, já que a beleza e o desespero em ser humano são perder-se e desesperar-se todo instante pela insatisfação com o que se tem, tornam-se ainda mais pungentes e justificáveis os goles de uísque no bar e os comprimidos de antidepressivos mergulhando esôfago abaixo. Entretanto, tais justificativas são frágeis quando se deparam com as conseqüências pós-torpor. Adormecer ou alucinar com delírios de constante felicidade durante momentos de crise via pílulas ou soluções intravenosas não torna a realidade mais simples, apenas a cobre com uma máscara colorida.
   
A definição de realidade para os entorpecidos é trêmula e imprecisa, o que, para mim, é gravíssimo. Não há alegria real, não há beleza, não há tristeza... Eles seguem enganando seu corpo e sua mente com recompensas abstratas, o que torna as concretas pouco valiosas, quando, na verdade, o inverso é mais confiável.
   
Certamente, muitas vezes o delírio de uma dimensão fantástica, em que dor e rejeição são substituídos por finais felizes para todo o sempre, parece a única saída para sentir-se um pouco mais vivo, mas, no fundo, é o acordar que o mantém respirando, não o sonho. São os cortes e as cicatrizes. São as lágrimas e as palpitações. É o amargo que faz o doce tão saboroso. É preciso estar presente para sentir as inúmeras possibilidades ao seu alcance.
   
Serve de nada fugir. Viver a mentira enfraquece a verdade e também a si próprio. Sua presença transforma-se em um vagar translúcido e fantasmagórico. Sua voz é silenciada e não existe desculpa sobre busca de uma inspiração maior que me pareça mais infundada. Para que negar a realidade? Para que fingir um caleidoscópio de imagens sem sentido quando o mar e o céu já ditam adjetivos e mensagens diferentes quando se está triste e quando se está contente? Contudo, é preciso senti-los para isso, não rumar errante em sua inconsciência.
   
Inexiste necessidade de ser estranho ou anormal, aéreo ou controverso. A sobriedade mantém seus olhos e seus sentidos alertas para a poesia e os remédios para a infelicidade podem chegar pela exaustão de uma dose cavalar de canções e acordes cinzentos ou pelas palavras doces de uma lembrança recorrente em um filme genial de brinquedos falantes e até mesmo de um velhinho e sua casa que voam com balões. Porém, experimentá-los mais plenamente é apenas possível para aqueles que se permitem estar, com os pés no chão e a mente passeando tranqüila, não esquizofrênica e perturbada pelo veneno injetado/ingerido. Para aqueles que acreditam que as possibilidades dos sóbrios são limitadas, enganam-se, pois os entorpecidos sim, estão presos, não o contrário.

2 comentários:

  1. Show Esther, arrebentou! Concordo com tudo o que vc falou. Sei que não está ligado diretamente ao tema, mas enquanto eu lia, eu lembrei daquele filme Click, em que o cara simplesmente pula as partes chatas e ruins da vida, como se isso fosse o mais certo a fazer (pode-se pensar numa pessoa se dopando tb pra passar rápido por períodos difíceis)mas depois ele percebe que ao pular as partes ruins, ele só piorou a vida dele. Ele perdeu mta coisa boa que aconteceu e mto aprendizado que poderia ter.
    Amei seu post.
    Que meu comentário seje um incentivo pra vc continuar a seguir em frente.
    Bjs

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  2. Também não vou com a cara dos Entorpecidos. Parece ser uma situação muito delicada e eu nunca consigo entender o que leva uma pessoa a se entorpecer.

    Tudo bem que você esquece da sua vida e deve sentir umas sensações loucas mas na volta tudo PIORA! Os efeitos colaterais de todos esses entorpecentes não valem a pena! Sem contar que esse tipo de fuga ainda prejudica um monte de gente que nada tinha a ver com a história.

    Quer dar uma fugida do mundo real? Ponha um fone de ouvido e escute as músicas que mais gosta, gaste seu tempo lendo um livro que te transporte a algum lugar.
    Se entorpecer é para os fracos --'

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