sábado, 23 de abril de 2011

Bolsonaro, blablablá e um pouquinho de matemática

Opa, voltei! Queria deixar uma réplica lá nos comentários mesmo pra acabar de vez com esse assunto, mas quando comecei a minha argumentação, o texto foi ficando comprido e legal demais pra ficar restrito à caixa de comentários.

Antes de tudo, gostaria de parabenizar os leitores por protagonizarem um debate civilizado e bonito pra caramba aqui na semana passada. Vocês são a prova de que existe vida inteligente na blogosfera, e que não só de trollagem vive a internet. E já que o juridiquês tomou conta e espantou a galera das exatas, enquanto escrevia, sem querer apelei para as metáforas matemáticas.

Pois bem, no post anterior, deixei um monte de perguntas e joguei pra galera mesmo, pra vocês se degladiarem lá na caixa de comentários. E olha só que engraçado, eu, que sempre achei as aulas de filosofia a maior bobagem no colégio e que falava que estudar Direito devia ser muito chato, estava aqui puxando uma discussão pautada em filosofia e legislação. Devo confessar até que fiquei com a maior vontade de cursar Direito ou de pelo menos assistir uma aula dessas assim, num estilo debate, igual àquela aula que a Rory invade enquanto visita Harvard, agora. Mas tinha que ser com objetivo igual estávamos fazendo aqui. Não gostava das aulas do colégio porque nunca se chegava a lugar nenhum.

E ao contrário do que eu também achei que ia acontecer por aqui, até que chegamos a algum lugar, sim. Pode não ser o lugar final, mas certamente já é um outro lugar mais à frente daquele cheios de pontos de interrogações do início (agora já um pouco menos de interrogações do que antes). O que corrobora ainda mais a citação do comercial do Futura muito bem lembrada pela Fê, de que “não são as respostas que movem o mundo, são as perguntas”.

Pois então, a Annie veio aqui e me provou por absurdo que liberdade tem limite, sim! E por mais paradoxal que seja, esses limites não são aquilo que nos tornam menos livres, como eu pensava, mas justamente o contrário! (Depois vocês catam o comentário dela pra ver que argumentação bonita de cair o queixo).

Coexistência só existe através do pacto “Você faz o que quiser com a sua vida, que eu faço o que quiser da minha”. Só que a vida em sociedade não deixa que isso sempre ocorra, porque às vezes o que você quer vai de encontro àquilo que eu quero.

Fisicamente falando, dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço. Aritimeticamente falando, o único subconjunto que faz parte de todos os outros é o vazio. E a menos que você tenha alguma coisa dentro, não dá pra concordar com tudo. Não dá pra ficar em cima do muro e aceitar o que os outros pensam sempre.

(Aliás, eu posso até aceitar a pessoa, mas não seus atos, como muito bem colocou a Cíntia. Até porque Jesus mandou amar - e ama - os pecadores, mas não seus pecados. O que, no fundo, é a Regra Número Um da política da coexistência e da boa vizinhança.)

Mas e agora, se eu quero A e você quer B, e os conjuntos são mutuamente exclusivos, comofaz? Aí eu acho que entra a política e o jurídico pra decidir o que é certo e o que é errado.

Então, sim, a liberdade tem limites, e sim, é claro que existe certo e errado! É claro que existe!

Posso não concordar com uma palavra que tu dizes, mas defenderei até o fim o direito de dizê-las (Voltaire)  

Será?

A gente até tenta levar essa filosofia hippie de convivência em harmonia a maior parte do tempo porque, imagina só se todo mundo resolve ficar ofendido só porque o outro pensa diferente de você, mas tem certas coisas que É CLARO que causam indignação, porque obviamente estão do lado considerado errado. São coisas que não dá pra aceitar. São intoleráveis mesmo. Quer exemplo? Pedofilia. Racismo. Violência. Assédio Sexual.

Aparece na TV defendendo alguma dessas coisas pra você ver o que acontece contigo.

O problema está em quando todos os assuntos, seguindo o raciocínio da regra da exceção da Annie, se tornam intoleráveis por causa da tolerância. Claro, todo mundo tem o direito de “falar o que quiser”, contanto que arque com as conseqüências depois, porque eu também tenho o direito de me sentir ofendida e apelar pra justiça para que você seja punido.

(E, pois é, tolerância tem limite também!)

E a-há, aqui a porca torce o rabo de novo porque esses conceitos do que é tolerável ou não MUDAM de acordo com o que a justiça determinar! Pois é, o Direito muda, porque, adivinha só, a sociedade TAMBÉM muda! E aí a gente entra num loop infinito porque o Direito muda para acompanhar a sociedade, ao mesmo tempo em que a sociedade muda para acompanhar o Direito. (Isso falando em justiça dos homens. Porque na justiça de Deus, o papo é bem outro)

O lance está realmente na parte de ser punido, porque a justiça, dependendo do caso, também está do lado da opinião pública (essa mesma que muda de acordo com o vento ou com a novela na TV). E qualquer coisinha pode ser considerada racismo, preconceito, ou a palavrinha da moda: homofobia. Ao mesmo tempo em que outras, não pertencentes ao grupinho dos intocáveis, permanecem incólumes por aí.

E então, finalmente, voltamos ao Bolsonaro. Há um projeto de lei para que se aprove (acho até que já foi aprovado) um kit de combate à homofobia nas escolas. Assunto MEGA polêmico. Só porque o cara se manifestou contra o projeto tem que ser linchado? Eu acho que não. Afinal de contas, é pra isso que serve a democracia. Existem aqueles que são a favor, existem aqueles que são contra. A gente vota e decide! Agora, ele perde a razão por causa da maneira como se manifesta. Como já foi amplamente discutido aqui na semana passada, e eu claramente me posicionei contra seus argumentos infundados.

E realmente, tudo depende do modo como você se expressar. Eu mesma vim aqui semana passada e explanei por que sou contra as cotas, sem ofender ninguém. Mas quando você está lidando com esses temas intocáveis, não é a mesma coisa que discutir se você gosta de Crepúsculo ou não. E, como eu disse, qualquer deslize que for, já é motivo para que a outra parte se sinta ofendida. E mesmo que você não diga nada ou nada de mais, mesmo assim ainda é capaz de a pessoa se sentir ofendida! É a parte chata do politicamente correto. Todo mundo SEMPRE vai se sentir ofendido com tudo. Mas, fazer o quê? Nem todo sistema é perfeito, né?

Mas, é exatamente por isso que ninguém discute o tal projeto na TV! Discutimos muitas coisas interessantes aqui a partir do caso Bolsonaro (o assunto foi fundo, foi parar na filosofia até), mas em nenhum momento você ouve falar de um debate se você é a favor ou contra o tal kit, e até que ponto o governo  tem o direito de meter o bedelho na educação dos nossos filhos. Porque qualquer argumento utilizado pode ser usado contra você.

E se a tolerância tem limite, a intolerância também tem! E do mesmo jeito que a gente discutiu com a liberdade, é justamente a falta de tolerância que permite que a tolerância exista e vice-versa, e quem define que limite é esse é a justiça e... (loop infinito de novo).

Resumindo: Lindsay Lohan estava errada. O limite existe, sim. Está na liberdade. E está na tolerância. E ele existe para que elas mesmas possam existir. Qual é o limite? Isso aí é com a justiça. Seja ela qual for.

Obs. Fui um pouco mais atrevida nesse post, e me aventurei a divagar um pouquinho até pelo Direito, que não é minha praia. Tive algumas aulinhas de Introdução ao Direito na faculdade (faço Contabilidade – uma ciência que tem um pouquinho das exatas e um pouquinho das humanas - e se você quiser trocar de faculdade mesmo, Fê, acho o curso uma boa pedida), mas não era nada excepcional e minha professora mais faltava do que ia, então... sou leiga mesmo. Se eu falei alguma coisa muito errada, a galera do Direito pode falar, que eu não vou ficar ofendida, não, ok?
Obs2. Annie e Marcus, mas é claro que em casos de guerra todo o ordenamento jurídico se altera! Até eu sei disso, rs! (Sei porque tem algo do tipo na exceção ao princípio da legalidade do Direito Tributário, e essa matéria aí eu aprendi direitinho :-))

1 comentário:

  1. Fiquei totalmente perdida no juridiquês da Annie com o Marcus.

    Essa questão da liberdade é bem complicadinha. Como você mesma disse, essa filosofia hippie de "paz e amor, todo mundo se respeita e tal" é muito bonita, mas nem sempre funciona. Ou melhor: funciona, até tocar num ponto que pra você é insuportável. Eu sou chatinha, já passei muito por isso. Mas vamos levando, né...

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