segunda-feira, 21 de abril de 2014

O lado ruim de ser ótimo

Eu sempre fui a aluna nota 10. Não que meu boletim fosse nota máxima do início ao fim (ok, no primário isso era bem próximo da verdade), mas sempre fui uma boa aluna. Dá pra contar nos dedos de uma mão a quantidade de vezes que fui pra recuperação ou prova final.

Não sei dizer se era a melhor aluna. Talvez fosse a mais “completa”. Gostava tanto das humanas, quanto das exatas. Tinha o mesmo prazer em fazer uma redação, quanto de resolver uma lista de matemática. E contrariando a imagem criada por todos os filmes, ia bem até na Ed. Física (era do time de handebol do colégio e nunca era escolhida por último pelos capitães dos times).

Também contra todas as expectativas, nunca liguei muito pra essa história de notas e alto desempenho. Nunca quis ser “a melhor”. Só queria dar o meu melhor. E curtir ao máximo meu período escolar. Os resultados seriam consequência.

Fiz questão de manter a humildade e os pés no chão pra não virar aquela pessoa chata que se acha e não tem amigos. Aliás, minha maior vitória talvez tenha sido o grupo de amigos mais legal que eu poderia ter. Porque a escola, os boletins, as notas... passam. E a vida lá fora não tem nada a ver com esse experimento pelo qual passamos toda a nossa vida até os 18 anos.

Acontece que eu ando descobrindo que, bom, talvez a vida aqui fora não seja tão diferente assim do colégio. E que esse negócio de ser uma aluna nota 10 talvez não tenha sido a melhor estratégia. Porque a vida não te prepara para certas coisas que já deveriam estar no sangue e aí:

1) Você tem vergonha de pedir ajuda
Você está acostumado a ser a pessoa a quem as pessoas perguntam as coisas. A pessoa que resolve os problemas. Aquele que tem as respostas na ponta da língua. E às vezes você se sente na obrigação de saber tudo. E se sente frustrado por não saber todas as respostas. E tem vergonha de ser aquele que pergunta. E às vezes também não sabe a quem perguntar, já que quem geralmente tem as respostas é você.

2) Você não sabe lidar com o fracasso
Você está acostumado ao sucesso o tempo todo. E quando falha se sente a pior pessoa do mundo. E tem dificuldade de seguir em frente e fica com aquilo martelando na cabeça durante um bom tempo, racionalizando, tentando entender onde você errou, até chegar à conclusão que não é o fim do mundo e que errar não te faz pior, só te faz humano.

3) Você trabalha mais que os outros
Talvez essa seja a principal diferença para os tempos de colégio. Afinal, realizar um bom trabalho durante o ano te garantia mais fins de semanas livres, saídas mais cedo durante os dias de recuperação e férias garantidas em pleno mês de novembro. Mas, ao contrário dos tempos áureos da escola, quando você é bom no que faz, a única coisa que você ganha é... “Mais Trabalho!”. Você faz o seu e refaz o dos outros que fazem errado. Você ganha mais responsabilidade e mais preocupação. E começa a pensar que ser “medíocre” seria um negócio muito mais vantajoso, mas é orgulhoso demais para fazer as coisas de qualquer jeito e acaba “carregando o mundo nas costas” assim mesmo.

4) Você tem que lidar com altas expectativas o tempo todo
As pessoas criam expectativas muito grandes em cima de você. E te dão mais trabalho do que dariam para os outros, confiando na sua capacidade de resolver problemas. E todo mundo acha que você tem que ser o melhor sempre. E você se pega pensando que não pode errar (vide números 1 e 2) e que tem que agradar a toda essa gente e se esquece que você pode ser bom, mas ainda assim é gente, e que quem manda na sua vida, no final das contas é você.

5) Você vive o eterno dilema do herói
Como já diria o tio Ben: “Com grandes poderes, vem grandes responsabilidades”. E logo você sente a pressão das expectativas, do peso do possível fracasso, da dependência das outras pessoas e do mundo que colocou nas costas (o peso sobre os ombros não é psicológico, é físico, eu já senti). E aí começa a se perguntar: “E quem é que vai ‘me’ salvar?”. E se eu não for nada disso? E se eu for, mas não quiser ser? Alguém me perguntou alguma vez a minha opinião?

Outro dia li um texto, com gráficos e desenhos no paint (indicado pela Karol, Valeu, Karol!), sobre as pessoas da geração Y se sentem especiais quando na verdade não são. E precisam parar com isso.

Acho que meu problema é um pouco o contrário. Aceitar esse fardo do destino, ao mesmo tempo em que tento encontrar o meu lugar no mundo e um jeito de sobreviver. 

Nunca me senti especial, de forma alguma. E também rejeitei muitas vezes o título de líder, pois nunca achei que levasse jeito pra coisa. Mas estou começando a aceitar o fato de que talvez seja mesmo diferente, de alguma maneira (porque eu já me formei e continuo sendo uma das melhores no que eu faço – não sou eu que estou dizendo, é o que venho escutando nos últimos meses de várias pessoas, gente inclusive que nem tem tanto contato comigo assim -, mesmo ainda achando que na maioria das vezes não faça nada de mais). 

E como já dizia o Mr. Schue: “Às vezes ser especial é um saco”.

5 comentários:

  1. Acho que sofro do mesmo mal, mas num nível mais baixo. Talvez eu tenha sido um aluno nota 8 (Cirto confirma), só que um 8 na faculdade faz diferença pra caramba quando a média dos seus amigos é 6, 4, 3... Você era um absurdo no CEFET, sendo boa em Ed Física e Matemática ao mesmo tempo,

    1) Na escola, eu tinha muita vergonha em perguntar as coisas. Sempre achava minhas perguntas muito estúpidas e detestava ser a pessoa que não entendeu o que era claro para todo mundo. Ainda bem que perguntavam por mim Hahahahah (E isso era um sinal óbvio de que outras pessoas também não sabiam senão teriam me dito a resposta, mas, né, vergonha). Graças a Deus, mudei muito nesse aspecto. Adoro perguntar, adoro ter dúvidas. Me acho até mais sábio por perguntar. Nunca me achei na obrigação de saber tudo, ainda bem, porque eu seria um fiasco.

    2) Verdade. Nunca consegui compreender o conformismo dos colegas da faculdade reprovando ou tirando notas abaixo da média, fazendo piada e tudo. Pior quando eu tentava consolar a pessoa dizendo que estava tudo bem, que ela podia tentar de novo, sendo que, se fosse comigo, eu entraria numa depressão profunda. Tenho até vergonha de errar. Minha cara fica vermelha quando percebo um erro básico que cometi.

    4) Isso acontece comigo no curso de inglês. Sinto que, de fato, estou uns níveis acima dos colegas de classe, mas nunca gabaritei uma prova. Eu nem me esforço tanto, sabe, não fico na paranóia de gabaritar, sempre erro uma coisinha ou outra. As pessoas que ficam chocadas com meu erro, mas nem ligo.

    Eu já me senti especial várias vezes, mas jamais assumiria esse título porque isso parece eleger-se o melhor/infalível/whatever. E o especial nem sempre é esse super herói. Acho que o lance é nós mantermos as nossas expectativas baixas. As pessoas acabam notando que somos bons em alguma coisa, mas, se a gente não confiar TANTO no nosso taco, os fracassos são minimizados.

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    1. Então, Felipe, acho que o Cefet me acostumou muito mal também. Nossa turma quebrou todos os paradigmas (lembra que o Bira comentou isso no discurso dele do técnico?). Aí eu fico achando que dá pra ser assim sempre (PS. Não dá!).

      Também acho que a chave do sucesso é manter as suas expectativas baixas. E não se achar coisa nenhuma (achei até meio prepotente escrever isso, pra falar a verdade). Mas estou passando por uma fase em que muita gente vem me dizer isso de que eu sou "diferenciada", que tenho muito potencial, que tenho um futuro brilhante, mas que também devia ser um monte de coisas mais que eu não necessariamente quero ser porque não vão me trazer vantagem nenhuma. Então, eu meio que estou chegando a conclusão que "talvez" seja tudo isso que as pessoas digam, mas que preciso me valorizar também pra colocar os MEUS planos em prática.

      Acho que a confiança me faz bem (não em excesso, mas na medida, me faz bem). Quando eu confio em mim, eu erro menos. Meu emocional abalado acaba comigo.

      Então passei a acreditar mais nessa história de que eu SOU boa. Só que acrescentei a parte de que vou ser boa em qualquer lugar, porque isso é meu. Ninguém vai me tirar. E que eu posso ir atrás do que EU quero. Correr atrás do MEU sucesso (e não necessariamente o que os outros acham que é).

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  2. Tão eu.
    Olhando por esse lado, é ruim ser aluno nota 10 (ou 9,5).

    Mas odeio esse texto da geração Y.
    Meu ex-chefe (graças!) não conseguiu fazer meu setor crescer e me enviou esse texto. Como posso ter expectativas demais se não tinha pra onde crescer? Eu tinha era expectativa de menos e me acomodei lá.
    Ainda bem que essa fase passou

    Bjins

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  3. A minha história é meio diferente... Durante o colégio eu sempre fui a melhor aluna da turma. E também era ótima em educação física e matemática. Mas quando entrei na faculdade sofri um choque de realidade que foi, bom, chocante. Eu nunca tinha precisado estudar pra nada e achei que seria a vida toda assim. Nem foi. A pior parte foi lidar com a decepção dos meus pais que estavam acostumados a ter uma aluna nota dez em casa nos tempos de escola, mas tinham que lidar com uma que penava pra conseguir um sete nos tempos da faculdade.

    Acho que foi bacana esse choque de realidade chegar, porque é irreal a ideia de ser bom em tudo. Admiro quem consegue, depois da vida adulta, manter um nível de excelência em tudo o que faz e tento ser assim, mas nem sempre dá. No trabalho tudo bem, mas a Faculdade de Direito me mostrou que até posso estar acima da média, mas não sou nenhum gênio.

    E, sim, eu me sinto a Ana, Lisa. Decepcionada com a minha carreira e achando que não é o suficiente tudo o que consegui. Preciso urgentemente rever alguns conceitos ou ir atrás de coisas novas.

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    1. Karol, você provavelmente está insatisfeita porque não consegue crescer onde você está, mesmo depois de ter metido as caras e estudado tanto. O meu caso é o contrário. Estou em um lugar em que se cresce muito rápido. Só que se trabalha muito. E ganha-se muito pouco. E ouço todos os dias (hoje escutei mais uma vez, só pra constar) que tenho um potencial absurdo. Só que não estou disposta a sacrificar tanto a minha vida pelo trabalho (e sem a remuneração adequada). Se eu sou tão boa assim, um dia eu vou chegar lá. Pode ser um pouco mais devagar, mas vou chegar. É como eu tentei explicar para o Felipe, tem uma hora em que você tem que se dar valor, sim. E eu nem tenho essas pretensões todas. Só queria ganhar o justo. E trabalhar o normal. Ter minha mesa, rotina, fim de semana, feriado, não sair depois da meia-noite. Acho que não é pedir muito. A minha vida é agora, não posso viver de promessas. E é isso o que é tão difícil pra algumas pessoas entenderem.

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