terça-feira, 30 de setembro de 2014

Toy Story 3 e o Fim do Orkut

A pessoa que diz que não chorou com Toy Story 3 ou é muito mentirosa ou é muito sem coração. Um dos primeiros filmes da seqüência de seqüências da Pixar (sério, Pixar, vocês têm que parar com isso!), Toy Story 3 mira direto na turma que ainda estava trocando os dentes na época do primeiro filme e acerta no lado esquerdo do peito do povo que nesse meio tempo esqueceu dos brinquedos. 

* Tenho uma teoria de que, tirando Carros 2 (por que, sinceramente, quem liga para Carros?), a Pixar vem num movimento de atingir seu antigo público com tramas que se aproximem de sua atual realidade. Primeiro Toy Story 3, com Andy indo para a faculdade. Depois Monstros Universidade, com Mike e Sully também durante a vida universitária.

Se a Disney queria um terceiro filme (e a Pixar relutou um bocado para fazer esse aqui), o estúdio da luminária saltitante não poderia ter feito escolha mais acertada ao acompanhar os 15 anos que separavam o filme de 1995 do fim da trilogia. 

E o filme cativa já desde o início justamente por transpor na tela tudo o que aconteceu com o público do lado de cá no decorrer de todos esses anos em que não nos encontramos com Woody, Buzz e cia.

Só que Toy Story 3 não é só o nosso reencontro com aqueles brinquedos que nos encantaram há 15 anos atrás. Toy Story 3 é o reencontro com uma parte de nós que pensávamos que já estava muito bem, obrigada. O reencontro com a criança escondida lá dentro de nós, espremida pela imposição da vida adulta, e que cresceu, sem saber muito bem como ou quando isso tudo foi acontecer. Ah, e claro, que Toy Story 3 também é o reencontro do próprio Andy com os leais companheiros teoricamente inanimados. Mais do que nunca, #somosTodosAndy, afinal de contas.

O filme já começa matador com a sequência do crescimento do dono de Woody e nos deixa com uma sensação imensa de culpa por termos abandonado nossos brinquedos no baú por tanto tempo, sem nem dar satisfação. 

E mesmo com um desenvolvimento eletrizante, o final, com a derradeira despedida – mas não sem uma última aventura - volta com tudo para aniquilar de vez nosso coração, que já tinha esquecido como era não ser criança durante a projeção, para nos lembrar que a vida lá fora continua e nos espera e mesmo que seja difícil, uma hora isso ia acontecer. 

Porque a gente tem essa ilusão de achar que consegue enganar o tempo e não percebe direito as mudanças que aconteceram até que uma das grandes nos encara de frente e não deixa escolha senão seguir em frente. E a hora do adeus dói. Crescer dói. E perceber que a infância acabou pelos olhos de um brinquedo pode ser ainda mais doloroso do que se dar conta disso sozinho.

E daí que esses dias o Google anunciou que vai descontinuar o serviço do Orkut até 30 de Setembro (mais conhecido como HOJE). A rede social, que já vinha cambaleando nos últimos anos, fechará suas portas de vez e não dará mais donuts para ninguém. E mesmo quem tripudiou em cima do bichinho depois de ter migrado para outros sites mais descolados, ficou com dó na consciência e cheio de nostalgia agora que o site vai acabar. O Twitter, que tem uma tag só para relembrar coisas antigas, nunca viu tanta poeira em sua linha do tempo. Isso porque, com a notícia, muita gente resolveu entrar no há muito abandonado perfil para salvar as coisas mais legais e dar aquele último adeus, tal qual o Andy, de Toy Story 3.


Eu, particularmente, sempre fui #TeamOrkut, mesmo depois de abrir conta nas outras redes da moda. E quando o pessoal ironizava “Volta pro Orkut!” (aliás, Deus tá vendo vocês falando que vão ficar com saudade agora, hein!), eu queria mais é que todo mundo voltasse mesmo, porque o Orkut era o melhor “site de relacionamentos” (rs!) disparado.

Criado em 2004, o Orkut foi a 1ª rede social de verdadeira expressividade no Brasil (talvez até no mundo). Mais do que isso, o Orkut foi a porta para a inclusão digital do brasileiro. Numa época em que nem todo mundo tinha computador, e quem tinha internet era daquela discada que fazia barulhinho para conectar, muita gente ia para a lan house (lan house!) para acessar e dar aquela atualizada no perfil. O nome do turco virou música de corno e tema de funk proibidão. E o site provou que a vida virtual não é uma realidade alternativa, mas apenas uma extensão do mundo real.

Posso dizer com orgulho que sou praticamente pioneira da rede. Entrei meio a contra-gosto, sim. Meu pai estava enchendo o saco pra ver qual era a desse negócio e descolou um convite (sim, convite, amigos), com um colega de trabalho. Mas não demorou para eu me apaixonar por aquele site azul que demorava para carregar e quase sempre dava erro.

Porque o Orkut era uma estrutura com milhares de fóruns - as tais comunidades (mais sobre elas depois - e eu sou forunzeira de carteirinha!!!!!!!!! O Orkut tinha os fóruns mais legais, uma boa organização para trocar idéias, promover debates, conhecer pessoas por afinidade... Pra discutir livros, filmes e séries, então? (Pra baixar também, diga-se de passagem!) Era a melhor coisa que tinha!!!!!!

Participei ativamente da comu do Diário, virei moderadora, conheci a Paula (gente, fiquei sabendo do resultado do concurso da Meg, via Orkut, pela Paula!!!!), conheci outras pessoas legais via Comunidade, criei comunidades também (Ana Banana), passei tardes e mais tardes rindo das comus mais absurdas (seria bobagem tentar listar todas aqui)... 

Tinham as nossas comus também, onde estão guardadas nossas lembranças de adolescência (Elisa’s Club foreveeeeerr, Info Geração Eterna e as outras que eu ri demais quando voltei esses dias – Mateus, você está impossível, A fatídica piada da Cinderella, Eu tenho medo da escada da Li – para todos os que tem medo da escada aqui de casa que balança, mas não cai)... Tinha aquela com a receita do brownie da Jami que a gente sempre acessava quando queria fazer o bolo porque ninguém tomava vergonha na cara pra anotar a receita (E agora como vamos fazer brownie???).

E os fakes? Minha amiga tinha um fake da Andy (Diabo Veste Prada) e, cara, ela VIVEU a vida fake como ninguém. Está desolada com o fim do Orkut. Ela fez muitos amigos de verdade no fake, por mais irônico que isso possa parecer. 

Antes da Andy a gente fez um fake do Raffaello (o ex-detento e ex-namorado da Anne, agora. Mas a gente fez antes dele ser preso.) Cara, só a gente!!!! O perfil dele era muito bom. Me lembro até hoje da gente no telefone criando as coisas. Tipo: “Livros: Como enriquecer rápido. Programa de TV: O Aprendiz.”. Mas o melhor era a senha. BUFUNFA!!!!! Me estrago de rir só de lembrar.

Encontrei um amigo de infância por causa do Orkut! Acompanhei a vinda da Anne no Brasil também via Orkut (já na época do seu declínio, mas nessa época é que as comunidades ficaram boas para debate, com bem menos Spams)!

E as histórias? Tinha uma menina que brigava que tinha visto o Michael na webcam (Senhor!), e uma menina que dizia que era amiga da Anne e, o pior, a gente acreditava!!!!! Ficávamos horas no telefone discutindo esse tipo de coisa, pra você ver.

Mas nada dá tanto aperto no coração quanto ler os depoimentos. Muito S2 pros depoimentos.

Com tanta coisa legal, é realmente de ser admirar como um site tão maneiro foi cair no esquecimento. Já há algum tempo, não passava de um parque de diversões abandonado. Uma cidade fantasma que só faltava aquela bola de feno passando de tão desabitada. Mas o negócio é que, por melhor que fosse, o código do Orkut era um código “velho”, pouco dinâmico, que não conseguiu sobreviver à era do mobile.

A bem da verdade é que o Orkut sempre foi um site bugado. Quem não se lembra do famoso “Bad, bad server. No donut for you?”. Ou dos inúmeros spams que dominavam páginas de scraps e comunidades? Parece difícil de acreditar, mas o Orkut foi beta por quase toda a sua existência.

O Orkut era uma coisa, um lugar, e, mais do que nunca, agora é uma lembrança. Um retrato virtual de toda uma geração, ali parado no tempo.


Mas não são só as fotos (até porque os álbuns, no comecinho mesmo só podiam ter 12 fotos – o que levou muita gente a criar um Flogão. Ai, Senhor, Flogão! Isso eles não apagam, rs! Engraçado que do Flogão ninguém tem saudade, né?), são as NOSSAS memórias. Quem o Google pensa que é para decidir jogá-las fora assim, sem perguntar o que a gente acha?  (Diz ele que vai manter um arquivo no futuro. Estudo psicológico com propósitos obscuros? Registro histórico? Só o tempo dirá!)

O Orkut estava presente em nosso cotidiano e seu auge coincide com os anos dourados de muita gente. Éramos felizes. E sabíamos. Daí a nostalgia ainda maior.

Acho que vale a pena revirar e se divertir em nosso baú virtual pela última vez. Nossos brinquedos estão para a infância, assim como o Orkut está para a adolescência. E dizer adeus é sempre uma tarefa inglória.

Talvez a culpa seja nossa, porque paramos de acessar. Talvez a culpa seja do próprio site, que não conseguiu acompanhar velocidade dos dedos nervosos de seus usuários agora também no celular. Talvez não seja culpa de ninguém e sim, do tempo, que muda tudo sem pedir permissão.

Em Toy Story 3, o Andy tem dificuldade de dar o passo adiante. De deixar pra trás. E, antes de dar adeus, faz questão de vivenciar a última aventura com aqueles bonecos. Então, convido a todos a vivenciar uma última aventura no brinquedo de tela azul que nos fez tão feliz na última década.

O fim do Orkut veio nos lembrar que crescemos. E que não é só o Google que não nos dá opção de escolha. Pra falar a verdade, a vida também não.

Peraí, mãe, tô fazendo backup do Orkut!

3 comentários:

  1. Post lindo, Lisa.

    Eu realmente vivi minha adolescência no Orkut, fui da turma que tinha fakes e jogava RPG por lá. Conheci mta gente, criei e participei de comunidades, tinha até certa fama na ala do Orkut que era dominada pelos fãs de Cavaleiros do Zodíaco. Mas me decepcionei com a banalização do Orkut, com os spams, com as mensagens coloridas e pulsantes, etc. Abandonei em 2010 e poucas vezes depois entrei pra ver o que se passava por lá. Tenho boas lembranças, mas passou.

    Quanto a Toy Story... Amo os três filmes, mas o último tem "aquilo". Aquilo que só filmes realmente ótimos tem, de trazer uma memória afetiva tão intensa que mesmo anos depois de assistir ainda tenho uma vontadezinha de chorar lembrando. A nostalgia, o trauma de crescer, o abandonar os brinquedos e a infância continuam me tocando e Toy Story é a metáfora mais perfeita pra isso que já pude ver. Maravilhoso.

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  2. Gente, Orkut <3 E os testimonials? Que orgulho ostentar aquelas mensagens no nosso perfil. Isso quando não mandavam mensagem privada por ali e a pessoa aceitava, hahaha. Vai fazer falta mesmo.


    Sou a única que nunca viu Toy Story?! O.o

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  3. Ai, Lisa, que post lindo!

    Não tinha parado pra pensar no fim do orkut assim antes. Entrei lá depois do anúncio de que ele ia terminar e acho que você descreveu bem: era como os parques de diversão abandonados (uma coisa que, diga-se de passagem, é bizarra e fascinante ao mesmo tempo). Se a gente for parar pra pensar, o orkut era tão tão melhor do que o facebook (eu detesto esse último, estou lá porque às vezes é necessário).

    Quanto a Toy Story 3: não chorei. Nem achei tão emocionante. Saiu no meu último ano de colégio, e talvez eu tivesse que ser um pouquinho mais velha. Não revi, mas por enquanto posso dizer tranquilamente que prefiro Universidade Monstros (talvez porque esse sim saiu na época certa pra mim, até porque Monstros SA é da minha infância mesmo, e Toy Story não foi). Aliás, um dia ainda preciso escrever sobre tudo que amei nesse filme, do qual eu realmente não estava esperando muita coisa. Pixar é tão amor (e o melhor deles é Ratatouille, que acho meio negligenciado).

    Beijo!
    PS: um belo post pra se ler no dia das crianças. Que nostalgia!

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