segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Pacas, gráficos e fotos

Dia desses eu estava aqui falando com orgulho do quanto havia mudado nos últimos anos. De como estava mais confiante, mais madura, e mais realista. E de como tinha perdido um pouco o medo de mudar de quando comecei esse blog.

Só que a bem da verdade é que, bom, talvez eu não tenha mudado taaaaanto assim.

Nesses dias de transição, aproveitei para tirar uma folga dos problemas e resolvi que só ia me preocupar com o futuro no mês seguinte. 

Nesse período, também compartilhei mais bobagens no Facebook do que nunca. Talvez a mais idiota delas seja essa logo abaixo:


E eis que quando postei essa piada que ultrapassa os limites do infame no Facebook, tive a grata surpresa de receber um comentário de uma professora do ginásio que há muito não falava comigo:

Será que algum dia nossos gostos pelas mesmas bobeiras vão mudar?!? Ri alto com essa piadinha torpe agora! Obrigada.

E aí eu brinquei falando que ela ia fazer uma questão pra colocar na prova com essa piada (porque ela adora essas coisas!) e ela respondeu:

Elisa ainda me conhece tanto...! Ainda é a mesma, desde a época em que me mandava a música de abertura do Bob Esponja em trocentas línguas diferentes.

Nem me lembrava dessa história do Bob Esponja em trocentas línguas. Quer dizer, me lembro que procurei as aberturas em todos os idiomas. Mas não lembrava que tinha mandado PRA ELA (ela e seu filho eram fãs do Bob!).

Mas aí eu parei pra pensar e... realmente eu sou a mesma menina de 13, 14 anos que assistia a aula dela!!!! 

Ainda gosto das mesmas bobeiras, e ainda procuro as músicas da Disney em todos os idiomas quando aparece algum filme novo. Ainda tenho um apreço muito especial por piadas que beiram o infame e me pego rindo sozinha, matutando algumas. Ainda tenho uma vontade louca de aprender coisas novas. E ainda tenho dificuldade de encarar alguns fracassos.

Ainda sou a pessoa menos experiente com quem as pessoas mais experientes vêm conversar sobre coisas sérias. Coisas que talvez não deveriam nem conversar comigo. Mas confiam em mim a esse ponto. Ainda sou o “projeto pessoal”, o “orgulhinho” de alguns mentores que encontrei ao longo da vida. E por mais que os ambientes mudem, continuo tendo a sorte de encontrar esses mestres (geralmente com uma personalidade bem diferente da minha!) em quem me espelho e com quem converso algumas coisas que talvez também não conversasse com qualquer um.

Ainda gosto de presentear de forma especial as pessoas que são especiais para mim. E ainda tenho uma dificuldade imensa de lidar com a saudade dessa gente que "considero pacas" e dos lugares que foram marcantes pra gente.

Engraçado como a vida segue seu rumo e algumas coisas meio que se repetem, apenas com personagens diferentes, em lugares diferentes. Tem uma teoria que diz que ela não pode ser representada numa linha reta. Tampouco por um círculo, em que a o giro é 360 . Mas por um espiral, em que segue sempre em frente, com pontos de inflexão semelhantes.

Por exemplo, há 10 anos encontrei essa professora que foi minha referência para muita coisa. Me ensinou o que era sujeito, verbo de ligação e precativo do sujeito (o famoso pacotão 3 em 1) e Oração sem Sujeito de uma maneira que eu nunca mais esqueci. Ela era muito doida. E cheia de energia, com vontade de mudar o mundo. E eu a adorava por isso. (Acho que me realizo nessas mentoras que encontro ao longo da vida.) Mas talvez tenha sido aquele episódio no fim da prova (ou era teste?) do primeiro bimestre que nos uniu para sempre. Ali ela descobriu que o antigo professor simplesmente tinha nos enganado total nos outros dois anos anteriores, e basicamente teve que tirar o atraso e ensinar a matéria dela durante a sétima série. E desde então, a gente criou um elo impressionante. Não, a gente não se fala todos os dias. E ela já não me dá aula há muito, muito tempo (uns 10 anos). Mas o carinho mútuo permanece. E é muito gostoso perceber que você foi marcante para alguém a esse ponto. Uma vez, isso também já tem tempo, eu já tinha saído do colégio e voltei apenas para aulão de fim de semana às vésperas do vestibular. Ela era uma das professoras. E durante a aula a gente trocava vários olhares do tipo: "Acho que a gente já viveu isso antes! Que bom ver você de novo!". 

Mas, como ia dizendo, se a gente parar pra pensar, consegue perceber direitinho os pontos de inflexão e a as semelhanças entre uma fase e outra. Quer dizer, pelo menos eu percebo. Se minha vida fosse um gráfico, com o eixo X representando o tempo e o eixo Y os momentos de decisão (também ainda continuo fazendo metáforas mil, inclusive metáforas matemáticas), os pontos de inflexão vêm em períodos a cada 3 ou 4 anos.

Nesses pontos ficam os momentos de decisão, em que a gente toma coragem ou é obrigado a fazer mudanças radicais que colocam a vida em outros trilhos. E esses momentos geralmente são difíceis pra caramba. Porque substituir peças e rotinas e pessoas não é nada fácil.

Mas, ao mesmo tempo, é muito gratificante você olhar para o gráfico que você construiu e ver o quão bonito ele ficou (sim, acho gráficos lindos). E que por mais que agora ele esteja em outra direção, ainda existe uma outra linha, reta e constante, que corta esse gráfico e ainda faz parte de você, e ainda faz parte da sua vida. 

Essa é uma das razões pelos quais Um Dia é um dos meus livros favoritos de todos os tempos (estou relendo*, inclusive). Esse exercício narrativo INCRÍVEL em que a gente coloca a vida em perspectiva (mostrando apenas pontos únicos na tal linha do tempo) e vê com muita clareza como a gente muda, e ao mesmo tempo, como continua o mesmo.

* Engraçado como da primeira vez, as coisas que mais me chamaram atenção foram aspectos relacionados ao “tempo”. Agora, o que anda atraindo olhares é o “espaço”. Porque depois de ter ido a Londres, eu reconheço praticamente todos os lugares que aparecem no livro. Engraçado também que nessa releitura de Um Dia, também estou notando que os pontos de inflexão de Em e Dex também acontecem mais ou menos na mesma freqüência que os meus. :S E depois de ter vivido alguns bons 3 anos, os sentimentos da primeira parte do livro passaram a fazer mais sentido do que nunca para mim. Um Dia é um desses livros que tem a magia de acrescentar coisas diferentes a reencontro. E pretendo repetir o exercício da releitura de tempos em tempos. 

Certa vez li uma entrevista com David Nicholls em que o autor comparava seu romance à sensação de olhar um álbum de fotos. E quando a gente olha uma foto, as roupas e os cabelos, e os móveis estão diferentes, e muitas vezes as pessoas também estão em momentos totalmente diferentes. Mas se você parar pra pensar, a essência delas não mudou nada. Continua ali intacta.

E a impressão é de que, não importa o que aconteça, quanto mais a gente muda, mais continua o mesmo.

1 comentário:

  1. Outro post muito legal com uma reflexão muito legal. Eu realmente acho que a gente muda, e muda bastante, ao longo da vida. Muda o nosso jeito de perceber e entender e avaliar certas coisas e experiências, e acho que isso é bom (ainda que eu seja medrosa com as mudanças, já disse). Mas, sim: a essência da gente é sempre a mesma essência. Até comentei com minha mãe depois, no outro dia, quando a gente estava conversando: "é engraçado que a gente esteja tão diferente, mas na verdade ainda somos todos as mesmas pessoas".

    Ah, sempre que eu vejo você falando de Um Dia eu fico aqui me perguntando... como foi que eu não amei Um Dia? Porque a proposta é tão excelente, e eu acho desde... sempre? Tenho muita vontade de fazer essa releitura porque, lá na época que eu li, pensei que uns bons aninhos a mais de vivência provavelmente fariam a diferença. Só não sei ainda *quando* reler.

    ResponderExcluir

Não seja covarde e dê a cara a tapa.
Anônimos não são bem-vindos.
O mesmo vale para os spammers malditos. Se você fizer spam nesse blog, eu vou perseguir você e acabar com a sua vida.
Estamos entendidos?