sábado, 25 de outubro de 2014

Economia, escolhas e eleições

Muita gente acha que economia é sobre números, índices e projeções mirabolantes. E de certa forma, elas não estão totalmente erradas. Mas aquilo que ensinam pra gente na primeiríssima aula de qualquer cadeira de economia é que o principal estudo da economia na verdade são os recursos escassos. Tempo, comida, dinheiro...

E como os recursos são escassos, a consequência natural é que é preciso fazer escolhas, afinal, não se pode ter tudo.

E dessas escolhas que surgem todos os dilemas da sociedade e um milhão de teorias econômicas.

“Compro um carro ou uma bicicleta?”
“Assisto TV ou leio um livro?”
“Azeite ou Manteiga?”

Não faz muito tempo (na verdade faz sim, tem uns 4 ou 5 anos), escrevi um post aqui no blog, sobre a dificuldade em tomar decisões. Na época, trouxe para a discussão uma metáfora com análise combinatória e montagem de pratos no Spoletto, e cheguei a comentar como era mais fácil quando ainda éramos crianças e nossos pais faziam as escolhas por nós, e então tínhamos alguém para colocar a culpa.

Mas, bom, o tempo passou. E hoje vim aqui para dizer como a Elisa versão 2014 pensa totalmente diferente da Elisa de 2010.

Pra começar, não acho mais tão aterrorizante a idéia de ir ao Spoletto e pedir um prato com 8 ingredientes. Estou suficientemente treinada para responder aos gritos de incentivo dos cozinheiros da rede de massas rápidas: “Mais um! Mais um! Vai lá, jovem, só faltam 3!”. O mesmo vale para os artistas do sanduíche do Subway. Hoje em dia já prefiro o Subway ao Bob’s (estou até meio traumatizada com o Bob’s, inclusive).

E depois, talvez por estar no meio de situações em que muitas coisas não eram por minha vontade, agora acho fundamental que não escolham por mim, mesmo tendo que assumir todas as conseqüências depois.

È claro que diante de um monte de opções, ainda fico paralisada no momento da decisão. E isso é absolutamente normal.

Mas hoje em dia não abro mão de ter a palavra final nas coisas referentes a minha vida. Mesmo que eu não saiba direito para onde eu estou indo. Ou não tendo 100% de certeza se estou fazendo a coisa certa ou vou me arrepender depois.

Porque a questão é que, quando EU ESCOLHO, geralmente eu não me arrependo. Pode até ser que depois eu chegue à conclusão de que de outro jeito poderia ter sido melhor. Mas tenho a consciência de que no momento da escolha, nem todas as variáveis eram conhecidas e que tomei a melhor decisão possível. E não fico me culpando do jeito que ficaria se terceirizasse o direito de escolher. Porque eu fiz o que eu quis. E quando a gente quer, a gente não se arrepende de nada. E vive mais feliz do que se estivesse colocando a culpa nos outros.

Mas, e quando a decisão não se trata daquilo que você efetivamente QUER, mas daquilo que você NÃO quer?

Às vezes fazer escolhas não tem tanto a ver com decidir “o melhor” caminho, mas simplesmente optar pelo “menos pior”. 

Vou te dizer que não é uma situação nada agradável. Mesmo assim, ainda é melhor a possibilidade de escolher a opção “menos pior” do que simplesmente não ter direito de opinar em nada. E bom, essa é a lição número 1 da economia e que a gente leva pra vida: “Os recursos são escassos e não se pode ter tudo, e é por isso que a gente faz escolhas”.

Passei por uma situação dessas, de escolher o caminho menos pior esse ano. E vou te dizer que foi legal.

Num desses posts em que contava sobre minha demissão no último mês, cheguei a comentar como fiquei chateada por ter perdido meu principal cliente, que eu já fazia desde o início e de que gostava muito. Só que aí aconteceu uma coisa que eu também não esperava. E vi 3 gerentes brigando (sério, só faltou caírem no tapa) pra me colocar nos clientes deles! Dois deles eram na Barra, um em Botafogo. (Pra quem não mora no Rio, a Barra da Tijuca é um lugar de dificílimo acesso, até pra quem mora lá!) E eu pude ESCOLHER qual que eu queria fazer.

Todas as opções tinham seus prós e contras e a decisão chegava muito mais perto do “menos pior” do que do “melhor” caminho, propriamente dito.

Acabei por optar por um desses clientes na Barra, mas que seria um trabalho menos burocrático e mais a ver comigo. 

E foi essa possibilidade de escolha que me permitiu acordar mais bem disposta pra encarar o caminho até o “fim do mundo”. No mesmo ano, também tinha passado uma temporada, em outro cliente ali por perto, e levantava todos os dias de mau humor, com raiva da vida, porque era uma coisa que eu não queria, e estava sendo obrigada a fazer.

É claro que em última instância eu não queria nenhuma daquelas coisas. Minha vontade mesmo era ir embora (coisa que acabou acontecendo depois).

Mas, dentro das opções, o simples fato de poder optar já era um privilégio imenso. 

E às vezes a gente se esquece disso.

E aí eu volto ao início do texto, quando comecei falando de Economia. Quer dizer, amanhã é dia de eleição e eu sei que, com tanta sujeira nessa política, a gente fica desanimado de ir lá, apertar os botõezinhos da urna e participar da festa da democracia. E bom, vamos combinar que não só nessa, mas basicamente em toda a eleição a gente cada vez mais vota no “menos pior”, por não acreditar mais nem em partido, nem em candidato, nem na política em si.

Mas quando eu fui votar nesse primeiro turno eu lembrei dessa história que tinha acontecido comigo nesse ano. E vi o quanto nós somos privilegiados de PODER ESCOLHER os nossos representantes, por pior que eles sejam. 

Quer dizer, o próprio Brasil até “pouco tempo” não podia. Tem países na África e na Ásia que até hoje não podem.

E então eu também me peguei pensando no meu voto da eleição passada e como tinha me decepcionado com o meu candidato. E em como, mesmo assim, eu não me arrependi. Porque na época tomei uma decisão consciente e que achava que era a mais correta.

Às vezes a gente esquece que votar é ESCOLHER. E ter voz pra dizer o que você acha que é melhor, ou “menos pior”, é LEGAL PRA CARAMBA. 

Eu sei que é difícil chegar a essa conclusão, mas, pense em quantas vezes na sua vida você não ficou revoltado porque decidiram alguma coisa e não perguntaram a sua opinião. E amanhã você vai poder ESCOLHER o seu PRESIDENTE!

É claro que eu ainda acho que nosso modelo de democracia ainda tem que ser muito discutido, principalmente porque depois da eleição, parece que nosso poder de escolha vai todo pelo ralo. E acho também que esse é um dos motivos pelos quais a gente fica tão revoltado durante os 4 anos que sucedem a eleição, afinal, parece que depois temos é que engolir as decisões desses caras, que, tudo bem, fomos nós que escolhemos, mas que não foi pra isso que nós colocamos eles lá.

Ao contrário da Elisa de 2010, a Elisa de 2014 prefere escolher. E até escolher errado. Do que sofrer pela escolha dos outros.

1 comentário:

  1. Oi, Elisa! Conheci seu blog hoje através de um post sobre o CD Sim da Sandy e vim parar nesse texto com o qual MUITO me identifiquei.
    Eu tenho uma tendência de ficar paralisada diante de decisões e por anos quis ser das pessoas que resolvem as coisas de pronto. De uns tempos pra cá, percebi que, na verdade, eu preciso dessa cautela porque, como você, sinto que quando sou eu que faço as escolhas (depois de ponderar e analisar um monte) eu aceito melhor as consequências sejam elas quais forem. Nada como assumir as próprias decisões.
    Tô gostando muito da tua escrita. Abraços!

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