sexta-feira, 15 de julho de 2022

Um Dia: 3a leitura

Feliz dia de São Swithin, meus amigos!

Hoje, 15/07, eu terminei de ler Um Dia pela 3a vez (confesso que dei uma roubada ontem, deixando as últimas 10 páginas pro dia seguinte). Pra quem não sabe Um Dia é um dos meus livros favoritos DA VIDA. E, de vez em quando, eu pego pra ler de novo. E toda vez ele me diz coisas diferentes, me aperta em lugares diferentes, me traz imagens diferentes... Até porque, mesmo sem querer, a cada releitura percebo que marquei mais uns pontos no bingo do tour europeu proposto por Nicholls (na 2a leitura, me situei um pouco melhor depois de ter ido a Londres e a Paris. Agora, reconheci os lugares de Roma. Pelas minhas contas agora só falta a Grécia).

E eu sei que o livro tem filme e tudo, mas a cada leitura percebo as semelhanças com outro gênero brasileiríssimo: as novelas do Maneco. Aqueles personagens endinheirados e sem preocupação que passam a vida viajando pela Europa (vide o parágrafo anterior) como quem fosse à, sei lá, Búzios, poderiam muito bem ter sido escritos pelo novelista brasileiro. E se você reparar bem, essas cenas na Europa lembram muito as primeiras fases dessas novelas do tempo em que o real era quase pareado com o dólar e a Globo bancava que parte da equipe passasse uns tempos na Europa, fazendo imagens fabulosas (bons tempos!). (Essa parte de sempre situar sua história ou pelo menos um pedaço delas, aliás, é quase uma marca registrada de Nicholls. Nós tem mais ou menos os mesmos maneirismos. E se você juntar esse com Um Dia e fizer uma comparação com Maneco, verá que as Helenas completaram o bingo muito antes de mim).

Mas, como ia dizendo, gosto de reler Um Dia porque é um livro que me traz sensações diferentes a cada releitura. E daí que eu estava numa fase em que percebi que era a própria Emma Morley, cansada de escutar as pessoas dizerem que deveria ir a Paris, foi lá passar um tempo mesmo! (Com a diferença, que, né, Brasil, não dá pra pegar um trem e chegar assim em Paris). Mas, o ponto é que percebi: "É, está na hora de ler esse livro de novo".

Fora as partes em que passei a reconhecer lugares que não conhecia, de fato, mais uma vez, o livro me trouxe sentimentos diferentes em partes diferentes. Não necessariamente por já ter vivido aquela situação exata, mas por... olha, sei lá, acho que vou ter que levar essas coisas pra terapia. Por exemplo, não chorei nenhuma lágrima no final dessa vez. Mas naquela cena da mãe doente e o Dexter carregando ela pela casa... Putz, acabou comigo. E minha mãe está ótima, só pra constar.

Outras coisas são bem mais óbvias: mais ou menos na mesma faixa etária, eu e Emma somos ainda mais parecidas do que "há 11 anos". O momento de vida com a vida amorosa pouco movimentada, o momento de carreira cheio de sucesso, a vocação para magistratura e mentoria, o reconhecimento dos mentorados xodozinhos... Até andar de bicicleta e praticar natação! Mas também um pouco da falta de esperança com o mundo. A percepção de que as coisas não são tão simples quanto parecem. O sentimento de que a nossa geração falhou. 

Achei engraçado que dessa vez as referências pop ou tecnológicas quase não fizeram cosquinha em mim. Talvez seja porque o truque anda meio batido nas produções atuais que querem apelar para a nostalgia. Talvez seja porque elas não foram óbvias demais...

Também foi esquisito perceber que 2007 agora parece um tempo muito distante. E eu mal me recordo da Elisa dessa época, ou do que acontecia no mundo naquele ano. Só sei que certamente ela era muito feliz, embora cheia de dúvidas sobre o futuro (tal qual Emma Morley), e que o mundo não era nem de longe esse lugar sombrio com neonazis no poder, do jeito que está hoje.

A única coisa que não muda a cada releitura, por incrível que pareça, é o quanto eu aprecio a escrita de Nicholls, especialmente a construção daquele final corajoso, que tem um balanço de vida, sem entregar o que estava por vir. Adoro o significado por trás daquela escolha. Adoro como o escritor é hábil o suficiente para não descambar para o melodrama total e dá um jeito de acabar com final feliz, com direito a beijo e tudo, mesmo depois de tudo. 

Gosto especialmente da poesia da cena da caixa de fotografias, com um flashback de todos os acontecimentos mostrados no livro, sintetizando toda a ideia por trás do livro (como o autor uma vez já contou). As pessoas são como fotografias. Elas podem estar com roupas diferentes, em momentos diferentes, penteados diferentes. Mas elas não mudam totalmente. E você consegue reconhecer pois sua essência permanece a mesma.

Então, acho que é isso. Acho que, no final, mesmo tendo mudado de endereço, trocado de emprego, e com mais carimbos no passaporte, eu também não mudei tanto assim.

Vamos ver o que acontece na próxima releitura!

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