quarta-feira, 24 de março de 2010

CEO #02: Comédias apelativas

Alguns dizem que fazer rir e fazer chorar são tarefas igualmente complicadas. Mas outros alcançam a proeza de fazer rir e chorar ao mesmo tempo. Infelizmente, por razões bem distantes da maestria, afinal, ri-se do ridículo, da infâmia, e chora-se por pena daqueles que de fato acreditaram que o que fizeram era, no mínimo, “bom”.

Entre eles estão as ditas comédias.

Filmes como “Não é mais um besteirol americano”, “Espartalhões”, “Super-Herói” são lançados nas salas de cinemas à mesma proporção na qual as sacolas de lixo são, também lançadas, nos caminhões rumo aos aterros sanitários. Uma pena o destino de ambos não ser o mesmo, quero dizer, os filmes nos aterros, não as sacolas nos cinemas. No fim das contas, tudo se encontra e funde-se em uma informação só, se você prestar atenção.

A inspiração para tamanha sujeira veio da minha desafortunada perda de tempo assistindo a três desses produtos muito bem vendidos, recheados de astros que juntamente recheiam as revistas e até mesmo recebem estrelinhas por sua inovadora e desinibida forma de se fazer comédia. Sim. Os magníficos “Trovão Tropical”, “Ligeiramente Grávidos” e “Maldita Sorte” obtiveram a honra de despertar em mim uma fúria tão gigantesca que palavras muitas vezes ininteligíveis se esforçam para descrever. Tentando traduzi-las, surgiu o novo tema para esta “coluna”:

Chique, não? Ter uma coluna! Tudo bem, todos temos uma coluna, a vertebral, mas... Viu? Piadas sem graça são muito incômodas.

Eu odeio: “Comédias” apelativas.
        
Tal qual uma tríplice revolta contra mim, os primores de atores como Ben Stiller —  não coincidentemente o mestre das “comédias” sem graça” —, Katherine Heigl e Jessica Alba surgiram na minha televisão quase ao mesmo tempo, a diferença em seus horários de exibição não passava de um dia, o que contribuiu bastante para que a raiva inflasse-inflasse até que uma explosão de adjetivos como “horrível”, “nojento”, “patético”, “deplorável” e “sofrível” simplesmente escapasse dos meus lábios sem que eu pudesse contê-los.

O motivo de tamanha explosão é a quase completa incapacidade dos três roteiros em fazer rir quando sua claríssima proposta era arrancar gargalhadas. Somente para não ser injusta digo: o que mais se aproxima de uma risada é o primeiro visto e citado “Trovão Tropical”, contudo, o momento “pré-sorriso” não perdura por muito tempo.

Embora a irritação provocada pelo trio seja imensa, a verdadeira cólera se mostra em sua forma mais descomunal — em meio aos dentes trincando e a respiração ofegante após chutar e bufar por horas — devido à freqüência com a qual piadas de puro mau gosto são repetidas e jogadas no espectador. Este é tratado como estúpido, um ser digno de pouco.

Não digo que toda piada deva ser seriamente pensada. Todavia acredito que o humor espontâneo tem facetas que fogem às recorrentes táticas fáceis: palavrões, violência despropositada — algo como a “havaiana de pau”, cujo link não colocarei porque não acho necessário tampouco adequado, afinal, aqui ela está sendo odiada. — e, na falta de termos mais eufêmicos, a sensualidade.

Talvez possa soar pretensioso, mas não sinto nem mesmo encontro porquês para morrer de rir quando alguém diz um palavrão. Não gosto de palavrões e também admito que existem situações na própria história do cinema nas quais seu uso é razoável. Em filmes como “Cidade de Deus”, impingir um vocabulário rebuscado seria absurdo e ridículo, mas o caso de “Cidade de Deus” não é — e nunca será —  desculpa para que acreditem ser plausível repetir milhares de vezes qualquer verbete ofensivo enquanto esperam uma risada.

O mesmo raciocínio cabe à violência, mas principalmente, à sensualidade. Cansei de apertar os botões do controle remoto e sempre encontrar a mesma ladainha: pessoas sem roupa (em sua grande maioria mulheres) consumando-o ou simplesmente proferindo termos que remetem ao ato que faz da população sempre crescente. É nojento como simplesmente exibir pornografia camuflada de piada pode ser considerado comédia.

De onde surge essa urgência e necessidade em gritar os nomes científicos ou populares dos órgãos reprodutores feminino e masculino? De onde saiu essa idéia de que isso é o bastante para fazer um filme fora da área privativa das locadoras cobrir as prateleiras com o selo “Comédia”?

Provavelmente é muito mais fácil estampar imagens repulsivas como essas em formas grotescas do que buscar o humor pensado, embebido de informação prévia, seja ela política, seja ela a gafe de uma artista.

Apenas para comprovar minha teoria, exemplifico comédias que fazem rir sem artifícios infames e deploráveis: “Chaves” e até mesmo séries do “Disney Channel”.

Provavelmente você deve dizer que elas são infantis demais. Mas se ser adulto é suportar o lixo visual e sonoro desses três filmes, prefiro ser criança.

3 comentários:

  1. Sobre Ligeiramente Grávidos, bom, eu não vi, mas pelo que vc me falou: ainda bem que a Anne recusou o papel! Aliás, todos os filmes que ela é cogitada e não faz por inúmeras razões (ela recusar, conflito de agendas ou não ser aprovada nos testes) tem se revelado verdadeiras bombas. Eita garota de sorte!

    No mais, arrebentou como sempre. Mais 3 filmes pra lista dos piores...

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  2. Olha, acho q o único desses filmes q eu realmente gostei foi o pioneiro "Todo mundo em pânico I", depois q eles fizeram sucesso começaram a surgir essas outras "comédias"
    E realmente são MUITO sem-graças, q tipo de pessoa gosta de um filme desses? E como os atores se prestam a fazer esse papel ridículo?
    É um humor totalmente forçado que as vezes eu me sinto capaz de mostrar aos diretores/roteiristas como fazer pra q fique legal.
    Das comédias de verdade eu fiquei fã das românticas depois de ver "E se fosse verdade", mas até agora nada bate meu amor pela também comédia de verdade, "Meninas Malvadas" *-*

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  3. Té, você tem toda razão.
    Mas se você parar pra pensar, se eles ainda fazem esses filmes e porque existem pessoas pra ver =/
    Odeio esses besteróis americanos e o estúpido apelo de sensualidade. Me chateia quando percebo q nesse mundo, muitas coisas giram em torno de sensualidade, até mesmo desenhos animados!
    Ô povinho...
    Existem outras coisas na vida além disso
    ¬¬

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