Ano passado, foi assinado o agora tão falado Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. Dizem que as mudanças estavam sendo estudadas desde 1990. O que me levar a pensar que se eles tivessem sido um pouquinho mais rápidos, talvez eu já fosse alfabetizada de acordo com as regras novas e não estaria aqui escrevendo esse texto. Enfim... O tal acordo teoricamente visa a unificação da escrita do português do Brasil e do português de Portugal e tem levantado muita polêmica desde que foi noticiado que a partir do último mês de janeiro, ele entraria finalmente em vigor.
A maioria das pessoas, quando perguntadas sobre o que acham da reforma ortográfica, se posiciona do lado contra. Umas mais radicalmente, outras meio em cima do muro, mas ninguém fala: Adorei a reforma. Era disso que o português estava precisando. Mas, qual será a razão de tanta revolta?
A antenada UFF (Universidade Fofa Fluminense) em seu vestibular para os ingressantes no ano de 2008, ou seja, em suas provas realizadas em 2007, já abordava o tema em uma das provas específicas de português, que eu tive o prazer de fazer (parecia até que tia Talita que tinha preparado a prova). A prova continha dois textos acerca do tema: um do gramático, fã de chá e imortal da ABL, Bechara - defendendo a reforma - e outro de uma autora que tinha publicado um livro sobre a colonização do Brasil do ponto de vista dos brasileiros e pedido encarecidamente para não ‘traduzirem’ seu livro para o português da terrinha, quando o livro desembarcasse por lá, pedido esse que foi ignorado e por isso ela resolveu escrever o texto, mostrando sua indignação contra a ‘tradução’ e conseqüentemente contra a reforma.
E é aí que a provinha da UFF se mostra extremamente inteligente na abordagem do tema que é muito mais profundo do que a extinção de acentos ou colocação de hífens. O motivo do acordo é uma questão cultural. E o modo como ele foi assinado, vamos combinar, não foi dos mais democráticos.
Num mundo de globalização, onde a tendência é que o globo todo se torne um só, a unificação das ortografias cai como uma luva, uma vez que os livros de autores brasileiros e portugueses não precisariam mais serem submetidos à ‘tradução’. Será?
Será mesmo que depois do acordo entenderemos quando um portuga mandar a gente ‘entrar na bicha’? Podes crer que não. Mas também o que fazer? Será que o certo seria mesmo traduzir para ‘entrar na fila’? Será que não descaracterizaria o contexto?
Não há dúvidas de que existem diferenças entre nossas ‘línguas’. Mas será que o certo seria tentar tornar mais ‘igual’? Será que a gente deveria declarar independência da língua também? Será que isso importa mesmo?
Há aqueles nacionalistas radicais que, como Policarpo Quaresma, defendem o idioma Brasileiro ao invés do Português, uma vez que suas escritas (até 2008, pelo menos) e fonéticas são diferentes, e por isso constituiríamos um novo idioma. Outros dizem que isso enfraqueceria a língua no mundo cada vez mais dominado pelo inglês, correndo o risco de o ‘Brasileiro’ virar Latim. E os mais neoliberais dizem que esse negócio de diferenças culturais é uma palhaçada, que não sabem porque a gente ainda fala português se o mundo inteiro fala inglês mesmo, porque é muito mais simples, e que se fosse pra fazer uma reforma decente tinha que acabar logo com todas as conjugações, acentos e tantas outras coisas que fazem o português SER o português.
Acho que estou mais para o segundo grupo que não quer que mude e acha que está bom como está. Mas com certeza sou contra o último que quer mais é globalizar mesmo. Veja bem: não sou contra a globalização, tento aperfeiçoar meu inglês a cada dia que passa, mas acontece que a minha língua mãe é o português! Minha primeira palavra não foi ‘tuck’. Provavelmente foi ‘mamãe’ ou ‘papai’(checar isso com a mamãe depois).
Nossa colonização(a primeira) foi dos portugueses e por mais que agora os americanos colonizem a gente numa porção de coisas, é uma questão de HONRA mantermos PELO MENOS a língua que era nossa!
Aliás, por que tem tanta gente querendo colocar palavras estrangeiras onde já existem outras perfeitamente correspondentes no português? Outro dia vi um beliviando na internet que deu vontade de vomitar. Que coisa mais horrível!
E outra: outro dia passou no jornal que estão querendo mudar a grafia de Foz do Iguaçu para Foz do Iguassu porque os teclados estrangeiros não têm cedilha e fica difícil de procurar o lugar no Google! Quer saber? Eles que se virem pra achar. A gente se vira pra dizer ‘thank you’ com a língua entre os dentes! Por que eles também não podem se virar?
Ou você não sente uma pontinha de orgulho toda vez que um artista gringo vem ao Brasil e se mata pra falar português no show? Esse momento clássico dos shows internacionais é mágico porque VOCÊ está o tempo todo tentando se adaptar a língua DELE e naquela hora é ELE que tem que se esforçar pra dizer um simples ‘obrrrigado’. E aí é a NOSSA VEZ de zoar como eles falam. Enfim, viajei. Voltando...
Deixando a questão global um pouco de lado, o maior motivo da revolta das pessoas contra o acordo ortográfico é o sentimento de: Não acredito! A gente passa a vida todo tentando aprender como escreve certo e do nada, agora está errado e de olhar para toda uma prateleira de livros e pensar: É, tá tudo ultrapassado agora. Isso acontece principalmente porque, como já discutido aqui nesse blog, acho que a maioria das pessoas, assim como eu, tem aversão a mudanças.
Principalmente mudanças as quais não foram consultadas. Ou perguntaram algum dia pra você: "O que você prefere: com trema ou sem trema?”? Não!!!! Um grupo de velhos que tomam chazinho toda quinta-feira decidiram SOZINHOS uma questão que vai afetar toda a população! E a gente nem pode eleger esses velhos!!!!! Eles é que decidem quem pode entrar no seleto grupinho deles! Quer dizer, por que eles têm mais direito do que você ou eu? Somos falantes da mesma língua, certo? Será que eles são mais donos da Língua Portuguesa do que eu? A Língua Portuguesa tem algum dono???
Quer dizer, a gente tem sempre aquela visão de que a nossa língua é sempre a mesma. Como a matemática, 2 e 2 sempre vai ser 4. A língua não é assim. A língua é dinâmica. Mas quem dá o dinamismo a ela somos NÓS, falantes da língua.
Pra muita gente o acordo ortográfico devia regular isso aqui ó: OLah...migUxXxu...... tUDu BOM??!?! U Ki aCOnteCEu kUm VUxXxe??!?! pQ vuxXxe Naum ApareceU nAH fEsTAh??!?! Porque a língua tem que servir a nós, seu falantes, e não nós servirmos à língua!
Ok, acho exagero e errado os velhos regularem isso um dia, principalmente porque é ilegível. E teoricamente as reformas serviriam para FACILITAR a compreensão da língua e não o contrário.
E é aí que eu queria chegar desde o início. Têm umas novas regras que para mim ficaram indiferentes; outras coisas que eu só estranho, mas vou me acostumar; e outras que só estão DIFICULTANDO.
Confesso a você que nunca gravei as regras de acentuação, exceto a regra das proparoxítonas (adoro mesmo a regra das proparoxítonas. Aliás, a palavra proparoxítona, é uma proparoxítona! Ainda bem que não mudaram isso). Mas adoro os acentos. Acho eles muito úteis na hora da leitura. Quer dizer, lembra quando a tia passava aquele dever pra achar a sílaba tônica da palavra? Quando a palavra tinha acento era a maior felicidade! Era só marcar a sílaba com acento e a gente não precisava ficar ‘chamando’ a palavra como a tia mandava. Eu, particularmente, achava que esse negócio de ficar chamando a palavra muito constrangedor. 'Palavra', iu-huuu! E raramente me ajudava a achar a droga da sílaba tônica.
Segue abaixo o que eu acho das principais mudanças ortográficas.
• Hífens
Nunca aprendi mesmo a regra mesmo. Qualquer dúvida é só continuar procurando na versão atualizada do Pai dos Burros. Mas com a nova grafia tem umas palavras que ficaram muito FEIAS. Autorretrato? Micro-ondas? Re-escrever? Uma palavra: Eca!
• Trema
Confesso a você que tem sido um alívio não ter que colocá-lo. Afinal todo mundo sabe que em tranquilo, consequência e linguiça, o U é pronunciado. Agora eu quero ver chegar para uma criança que acabou de ser alfabetizada de acordo com as novas regras e mandar ela pegar o livro de geografia e ler ‘aquífero’? Quer dizer, ao contrário do que se pensa, a reforma vai afetar SIM aqueles não chegaram a saber da existência do trema antes de aprender a ler. E apesar de ser um saco colocar o trema, acho que ele era útil para palavras como essa. Só para constar, em aquífero, o U é pronunciado.
• Acentos de idéia, assembléia, jibóia, jóia, etc
Particularmente acho esses acentos muito lindos. È, lindos mesmo! Dão um charme todo especial às palavras. Sério. Jóia sem acento está mais para bijuteria. E o acento de idéia é tipo aquela lâmpada que acende quando o personagem de desenho é abençoado por uma dose de inspiração. E a assembléia legislativa, se quando tinha acento já não tinha tanto glamour, agora sem acento é que vai virar uma zona mesmo.
Mas o problema mesmo é quando a gente pega as palavras do tipo apóio – agora apoio, que a gente não sabe mais se é verbo ou substantivo de cara se o sujeito for elíptico. Conversando sobre isso com a minha irmã um dia, a gente teve a seguinte conversa:
Esther: E quando a gente for escrever nóia(de paranóia)? E véia?
Elisa: Pois é. Vai ficar parecendo veia! Como é que a gente vai diferenciar se está falando de uma senhora idosa ou do problema cardiovascular dela?
Esther: Exato. E quando a gente estiver escrevendo sobre a ‘veia da véia’? Vai ficar muito estranho! Veia da veia...
(...)
Elisa: Bem, tecnicamente véia não é nem uma palavra. Velha sim, mas escrever na informalidade vai ficar bem mais difícil agora.
• Acentos de enjôo, vôo, zôo, etc
Mas um caso do tipo ‘acentos fofos’. São muito lindinhos eles! Num dia de sol, certamente agora será mais fácil ter enjoo, uma vez que deixaremos o chapeuzinho do vovô em casa. Coitado dos vovôs! Vão se sentir rejeitados agora que estão dispensando o chapeuzinho deles. Mas no final das contas, a gente vai se acostumar a não escrevê-los, já que eu acho que não tem muita dificuldade na leitura na ausência do chapeuzinho. Será que não podiam colocar um boné, então?
• Acentos diferenciativos tipo: pára e para, pêlo e pelo
São os que fazem mais falta! Outro dia li a manchete “Roubo sacode estúdio, mas não para a música”. Demorei uns 10 segundos para entender que o ‘para’ ali era verbo. Ok, antigamente, usava-se o acento diferenciativo para reconhecer cor(‘aprendi de cor’ – porque o cor ali vem de coração) e côr(‘de colorido mesmo’). Assim como almoço podia ser grafado almôço(substantivo, ou seja, a comida) ou almoço(verbo, ‘Eu almoço’). Mas, sei lá, acho que era mais fácil diferenciar mesmo sem acento os casos de antigamente do que os novos. Afinal, pelo e para são preposições e estão presentes em quase toda frase, além de serem seguidos por praticamente os mesmos tipos de palavras. Ao contrário dos outros exemplos citados.
Mas agora não adianta reclamar. O acordo foi assinado e querendo ou não, vamos ter que nos acostumar a ideias não tão brilhantes e ‘paras’ esquisitos. Assim como nossos ancestrais se acostumaram a tirar o acento da flor e substituir o ph da farmácia.
Mas que vai ser difícil pegar qualquer livro publicado até o ano passado e explicar para nossos filhos que sinal era aquele em cima do U de algumas palavras, do mesmo jeito que nossos pais nos ensinaram que o cruzado foi uma antiga moeda do Brasil, ah, com certeza vai! Eles estarão lá jogando na nossa cara quão velhos nós somos, toda vez que olharmos pra eles. E eu acho que é esse o maior motivo de tanta revolta em torno da reforma. Ninguém quer ser chamado de velho! Principalmente por uma palavra!
Pelo lado bom, já tem gente comemorando porque até 2012 está ‘valendo tudo’. Qualquer coisa é culpa da reforma. Mesmo que a palavra não tenha sido alterada. E em forma de protesto continuarei com as regras antigas até que se exija o contrário. Parte por conta da revolta contras as novas regras, parte por causa do corretor do Word que não aderiu a reforma também. :p
PS. Hoje tem Soletrando com a Sandoca!
PS2. Já imaginou se tivesse reforma aritimética também? Ia ser um ótimo assunto nas aulas do Prof. Girafales. rs
A maioria das pessoas, quando perguntadas sobre o que acham da reforma ortográfica, se posiciona do lado contra. Umas mais radicalmente, outras meio em cima do muro, mas ninguém fala: Adorei a reforma. Era disso que o português estava precisando. Mas, qual será a razão de tanta revolta?
A antenada UFF (Universidade Fofa Fluminense) em seu vestibular para os ingressantes no ano de 2008, ou seja, em suas provas realizadas em 2007, já abordava o tema em uma das provas específicas de português, que eu tive o prazer de fazer (parecia até que tia Talita que tinha preparado a prova). A prova continha dois textos acerca do tema: um do gramático, fã de chá e imortal da ABL, Bechara - defendendo a reforma - e outro de uma autora que tinha publicado um livro sobre a colonização do Brasil do ponto de vista dos brasileiros e pedido encarecidamente para não ‘traduzirem’ seu livro para o português da terrinha, quando o livro desembarcasse por lá, pedido esse que foi ignorado e por isso ela resolveu escrever o texto, mostrando sua indignação contra a ‘tradução’ e conseqüentemente contra a reforma.
E é aí que a provinha da UFF se mostra extremamente inteligente na abordagem do tema que é muito mais profundo do que a extinção de acentos ou colocação de hífens. O motivo do acordo é uma questão cultural. E o modo como ele foi assinado, vamos combinar, não foi dos mais democráticos.
Num mundo de globalização, onde a tendência é que o globo todo se torne um só, a unificação das ortografias cai como uma luva, uma vez que os livros de autores brasileiros e portugueses não precisariam mais serem submetidos à ‘tradução’. Será?
Será mesmo que depois do acordo entenderemos quando um portuga mandar a gente ‘entrar na bicha’? Podes crer que não. Mas também o que fazer? Será que o certo seria mesmo traduzir para ‘entrar na fila’? Será que não descaracterizaria o contexto?
Não há dúvidas de que existem diferenças entre nossas ‘línguas’. Mas será que o certo seria tentar tornar mais ‘igual’? Será que a gente deveria declarar independência da língua também? Será que isso importa mesmo?
Há aqueles nacionalistas radicais que, como Policarpo Quaresma, defendem o idioma Brasileiro ao invés do Português, uma vez que suas escritas (até 2008, pelo menos) e fonéticas são diferentes, e por isso constituiríamos um novo idioma. Outros dizem que isso enfraqueceria a língua no mundo cada vez mais dominado pelo inglês, correndo o risco de o ‘Brasileiro’ virar Latim. E os mais neoliberais dizem que esse negócio de diferenças culturais é uma palhaçada, que não sabem porque a gente ainda fala português se o mundo inteiro fala inglês mesmo, porque é muito mais simples, e que se fosse pra fazer uma reforma decente tinha que acabar logo com todas as conjugações, acentos e tantas outras coisas que fazem o português SER o português.
Acho que estou mais para o segundo grupo que não quer que mude e acha que está bom como está. Mas com certeza sou contra o último que quer mais é globalizar mesmo. Veja bem: não sou contra a globalização, tento aperfeiçoar meu inglês a cada dia que passa, mas acontece que a minha língua mãe é o português! Minha primeira palavra não foi ‘tuck’. Provavelmente foi ‘mamãe’ ou ‘papai’(checar isso com a mamãe depois).
Nossa colonização(a primeira) foi dos portugueses e por mais que agora os americanos colonizem a gente numa porção de coisas, é uma questão de HONRA mantermos PELO MENOS a língua que era nossa!
Aliás, por que tem tanta gente querendo colocar palavras estrangeiras onde já existem outras perfeitamente correspondentes no português? Outro dia vi um beliviando na internet que deu vontade de vomitar. Que coisa mais horrível!
E outra: outro dia passou no jornal que estão querendo mudar a grafia de Foz do Iguaçu para Foz do Iguassu porque os teclados estrangeiros não têm cedilha e fica difícil de procurar o lugar no Google! Quer saber? Eles que se virem pra achar. A gente se vira pra dizer ‘thank you’ com a língua entre os dentes! Por que eles também não podem se virar?
Ou você não sente uma pontinha de orgulho toda vez que um artista gringo vem ao Brasil e se mata pra falar português no show? Esse momento clássico dos shows internacionais é mágico porque VOCÊ está o tempo todo tentando se adaptar a língua DELE e naquela hora é ELE que tem que se esforçar pra dizer um simples ‘obrrrigado’. E aí é a NOSSA VEZ de zoar como eles falam. Enfim, viajei. Voltando...
Deixando a questão global um pouco de lado, o maior motivo da revolta das pessoas contra o acordo ortográfico é o sentimento de: Não acredito! A gente passa a vida todo tentando aprender como escreve certo e do nada, agora está errado e de olhar para toda uma prateleira de livros e pensar: É, tá tudo ultrapassado agora. Isso acontece principalmente porque, como já discutido aqui nesse blog, acho que a maioria das pessoas, assim como eu, tem aversão a mudanças.
Principalmente mudanças as quais não foram consultadas. Ou perguntaram algum dia pra você: "O que você prefere: com trema ou sem trema?”? Não!!!! Um grupo de velhos que tomam chazinho toda quinta-feira decidiram SOZINHOS uma questão que vai afetar toda a população! E a gente nem pode eleger esses velhos!!!!! Eles é que decidem quem pode entrar no seleto grupinho deles! Quer dizer, por que eles têm mais direito do que você ou eu? Somos falantes da mesma língua, certo? Será que eles são mais donos da Língua Portuguesa do que eu? A Língua Portuguesa tem algum dono???
Quer dizer, a gente tem sempre aquela visão de que a nossa língua é sempre a mesma. Como a matemática, 2 e 2 sempre vai ser 4. A língua não é assim. A língua é dinâmica. Mas quem dá o dinamismo a ela somos NÓS, falantes da língua.
Pra muita gente o acordo ortográfico devia regular isso aqui ó: OLah...migUxXxu...... tUDu BOM??!?! U Ki aCOnteCEu kUm VUxXxe??!?! pQ vuxXxe Naum ApareceU nAH fEsTAh??!?! Porque a língua tem que servir a nós, seu falantes, e não nós servirmos à língua!
Ok, acho exagero e errado os velhos regularem isso um dia, principalmente porque é ilegível. E teoricamente as reformas serviriam para FACILITAR a compreensão da língua e não o contrário.
E é aí que eu queria chegar desde o início. Têm umas novas regras que para mim ficaram indiferentes; outras coisas que eu só estranho, mas vou me acostumar; e outras que só estão DIFICULTANDO.
Confesso a você que nunca gravei as regras de acentuação, exceto a regra das proparoxítonas (adoro mesmo a regra das proparoxítonas. Aliás, a palavra proparoxítona, é uma proparoxítona! Ainda bem que não mudaram isso). Mas adoro os acentos. Acho eles muito úteis na hora da leitura. Quer dizer, lembra quando a tia passava aquele dever pra achar a sílaba tônica da palavra? Quando a palavra tinha acento era a maior felicidade! Era só marcar a sílaba com acento e a gente não precisava ficar ‘chamando’ a palavra como a tia mandava. Eu, particularmente, achava que esse negócio de ficar chamando a palavra muito constrangedor. 'Palavra', iu-huuu! E raramente me ajudava a achar a droga da sílaba tônica.
Segue abaixo o que eu acho das principais mudanças ortográficas.
• Hífens
Nunca aprendi mesmo a regra mesmo. Qualquer dúvida é só continuar procurando na versão atualizada do Pai dos Burros. Mas com a nova grafia tem umas palavras que ficaram muito FEIAS. Autorretrato? Micro-ondas? Re-escrever? Uma palavra: Eca!
• Trema
Confesso a você que tem sido um alívio não ter que colocá-lo. Afinal todo mundo sabe que em tranquilo, consequência e linguiça, o U é pronunciado. Agora eu quero ver chegar para uma criança que acabou de ser alfabetizada de acordo com as novas regras e mandar ela pegar o livro de geografia e ler ‘aquífero’? Quer dizer, ao contrário do que se pensa, a reforma vai afetar SIM aqueles não chegaram a saber da existência do trema antes de aprender a ler. E apesar de ser um saco colocar o trema, acho que ele era útil para palavras como essa. Só para constar, em aquífero, o U é pronunciado.
• Acentos de idéia, assembléia, jibóia, jóia, etc
Particularmente acho esses acentos muito lindos. È, lindos mesmo! Dão um charme todo especial às palavras. Sério. Jóia sem acento está mais para bijuteria. E o acento de idéia é tipo aquela lâmpada que acende quando o personagem de desenho é abençoado por uma dose de inspiração. E a assembléia legislativa, se quando tinha acento já não tinha tanto glamour, agora sem acento é que vai virar uma zona mesmo.
Mas o problema mesmo é quando a gente pega as palavras do tipo apóio – agora apoio, que a gente não sabe mais se é verbo ou substantivo de cara se o sujeito for elíptico. Conversando sobre isso com a minha irmã um dia, a gente teve a seguinte conversa:
Esther: E quando a gente for escrever nóia(de paranóia)? E véia?
Elisa: Pois é. Vai ficar parecendo veia! Como é que a gente vai diferenciar se está falando de uma senhora idosa ou do problema cardiovascular dela?
Esther: Exato. E quando a gente estiver escrevendo sobre a ‘veia da véia’? Vai ficar muito estranho! Veia da veia...
(...)
Elisa: Bem, tecnicamente véia não é nem uma palavra. Velha sim, mas escrever na informalidade vai ficar bem mais difícil agora.
• Acentos de enjôo, vôo, zôo, etc
Mas um caso do tipo ‘acentos fofos’. São muito lindinhos eles! Num dia de sol, certamente agora será mais fácil ter enjoo, uma vez que deixaremos o chapeuzinho do vovô em casa. Coitado dos vovôs! Vão se sentir rejeitados agora que estão dispensando o chapeuzinho deles. Mas no final das contas, a gente vai se acostumar a não escrevê-los, já que eu acho que não tem muita dificuldade na leitura na ausência do chapeuzinho. Será que não podiam colocar um boné, então?
• Acentos diferenciativos tipo: pára e para, pêlo e pelo
São os que fazem mais falta! Outro dia li a manchete “Roubo sacode estúdio, mas não para a música”. Demorei uns 10 segundos para entender que o ‘para’ ali era verbo. Ok, antigamente, usava-se o acento diferenciativo para reconhecer cor(‘aprendi de cor’ – porque o cor ali vem de coração) e côr(‘de colorido mesmo’). Assim como almoço podia ser grafado almôço(substantivo, ou seja, a comida) ou almoço(verbo, ‘Eu almoço’). Mas, sei lá, acho que era mais fácil diferenciar mesmo sem acento os casos de antigamente do que os novos. Afinal, pelo e para são preposições e estão presentes em quase toda frase, além de serem seguidos por praticamente os mesmos tipos de palavras. Ao contrário dos outros exemplos citados.
Mas agora não adianta reclamar. O acordo foi assinado e querendo ou não, vamos ter que nos acostumar a ideias não tão brilhantes e ‘paras’ esquisitos. Assim como nossos ancestrais se acostumaram a tirar o acento da flor e substituir o ph da farmácia.
Mas que vai ser difícil pegar qualquer livro publicado até o ano passado e explicar para nossos filhos que sinal era aquele em cima do U de algumas palavras, do mesmo jeito que nossos pais nos ensinaram que o cruzado foi uma antiga moeda do Brasil, ah, com certeza vai! Eles estarão lá jogando na nossa cara quão velhos nós somos, toda vez que olharmos pra eles. E eu acho que é esse o maior motivo de tanta revolta em torno da reforma. Ninguém quer ser chamado de velho! Principalmente por uma palavra!
Pelo lado bom, já tem gente comemorando porque até 2012 está ‘valendo tudo’. Qualquer coisa é culpa da reforma. Mesmo que a palavra não tenha sido alterada. E em forma de protesto continuarei com as regras antigas até que se exija o contrário. Parte por conta da revolta contras as novas regras, parte por causa do corretor do Word que não aderiu a reforma também. :p
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