sábado, 25 de setembro de 2010

Alta Fidelidade

5 coisas que você deve saber sobre Rob Fleming

1.    Ele é meio egoísta
2.    E às vezes um pouco amargo
3.    Mas também sabe ser gentil quando quer
4.    Apesar de não saber viver sem cultura pop, e por isso,
5.    É certeza que você vai se identificar com ele

Segundo encontro com Nick Hornby, e o tiozão não fez feio. E apesar de a conta ter saído mais cara (eu paguei R$ 25 nesse aqui) que da primeira vez, o preço se justifica porque o passeio aqui foi bem mais legal. Não que o outro tivesse sido ruim, só que esse é o livro que, de fato, faz jus a toda a fama de pai da lad lit e da literatura pop que Hornby tem hoje.

Tinha visto o filme antes e embora não tenha gostado tanto, tive a impressão de que o livro ia ser muito mais legal. E antes de adentrar de vez no romance, façamos a pergunta que não quer calar quando se compara livro vs. filme.

É melhor? É melhor? É melhor?

Sim, claro, o livro é infinitamente melhor que o filme. E não pelo fato de não ser fiel ao mesmo. Seria até irônico se não fosse, uma vez que o título de ambos é Alta Fidelidade.

Acontece que o filme é fiel. Altamente fiel.* Irritantemente fiel. E por isso mesmo não funciona na tela. Os atores foram muito bem escolhidos (não consigo imaginar outro ator para fazer o Barry que não o Jack Black, por exemplo), mas a ironia e o estilo de Nick Hornby são coisas de difícil adaptação para a telona. O riso é daqueles de canto de boca (o tal do humor inglês), a prosa brinca com as palavras o tempo todo, a trama é reflexiva e segue até o final num ritmo de dia-a-dia quase sem clímax. E por ser uma história que necessita de tempo para digerir, o caminho de seus personagens parece não convencer numa fita de 2 horas.
* Altamente, mas não completamente, que fique claro.

Entretanto, é fácil perceber porque é o romance preferido entre os fãs do escritor. Embora seus personagens continuem ‘defeituosos’, não dá pra não gostar deles. Você já se pegou imaginando se havia uma música que descrevesse ‘aquele’ momento em que você está vivendo? Já olhou torto pra alguém que estampava uma camiseta ‘daquela’ banda que você odeia? Já gravou uma fita (coisa velha, troca pra CD, vai) como declaração de amor, ou mesmo só para que a pessoa pudesse ter a honra de escutar ‘aquela’ música que você acha perfeita? Se você respondeu sim a pelo menos uma dessas perguntas, pode encomendar o seu livro, porque corre um sério risco de se ver retratado ali.

Rob Fleming é dono de uma pequena loja de discos de vinil (o livro é 1995 e mesmo se não fosse, isso só daria mais charme a história do trintão), respira música e se diz um expert no assunto. Não perde a chance de gravar uma fita para educar outras pessoas que não tem o mesmo bom gosto que ele e faz listas de “As 5 melhores” para qualquer coisa o tempo todo. Rob é tão aficionado que não é capaz de pagar miséria por um disco considerado raridade (impagável essa cena). Coisas de fã.

(Imagino como Rob Fleming deve reagir a toda essa modernidade na hora de consumir música em 2010. Deve desprezar o iTunes e a USB-Mixtape. È provável que continue gravando as famosas fitas - porque são muito mais trabalhosas - e faz questão de ressaltar isso na hora de entregar o presente. Por isso, Mixtape ia entrar fácil no seu Top5. – Será que ele ia gostar do Jamie? Bem provável, ele já é inglês...- Entretanto, deve odiar a opção que coloca as músicas no aleatório dos atuais players também, mas deve ter pagado pelo menos 1 libra para ter, mesmo que digitalmente, as músicas do último CD do RadioHead. Não sei se ele gosta do RadioHead, mas é que eles fizeram uma política a la Casas Bahia de “Quer pagar quanto?”, e o Rob é muito ético nessas coisas. Não ia querer receber de graça.).

Só que agora ele está na fossa porque sua namorada o deixou e além de se perguntar “Eu ouvia música pop porque era infeliz, ou era infeliz porque ouvia música pop?”, resolve fazer uma lista dos “5 maiores foras” que ele já levou na vida.

É claro que o livro não é só isso, mas é que ele fala de tanta coisa, e os personagens são tão complexos, que não dava para colocar tudo de uma vez, além do que, eu não quero tirar a emoção de você ir descobrindo o resto sozinho. E se você não se convenceu ainda, continuemos com a resenha, mas eu prometo que não comprometo, ok?

Alta Fidelidade é um livro que mostra o lado masculino do término da relação, que os homens têm sentimento embora às vezes pareçam um pouco insensíveis, também é sobre crescer (mesmo que você já tenha 35 anos) e ainda sobre a relação das pessoas com outras pessoas, a relação das pessoas com a música, e a relação das pessoas com outras pessoas quando a música está no meio.

E é aí que está o diferencial de Alta Fidelidade. É que ele não utiliza a cultura pop e as famigeradas listinhas só como complemento da história. Em Alta Fidelidade, a cultura pop é a base de toda a narrativa. Ela não é o backing vocal da canção. É o cantor principal. Porque, por mais que se tente negar, essas coisas FAZEM PARTE da nossa vida. E isso não torna o livro mais fútil. Pelo contrário. Aquilo que nos torna por vezes ridículos não nos impede de ter problemas sérios. Hornby sabe balancear muito bem a leveza de algumas situações com a profundidade de outras, e o resultado é muito satisfatório.

Não vejo a hora do nosso próximo encontro. Não sei quando ou ‘onde’ vai ser dessa vez, mas espero que continuem tão legais quanto os dois primeiros, porque esse Nick Hornby tem uma lábia que eu vou te contar...

3 comentários:

  1. Ih, não conheço, nem o filme e nem o livro, rs.

    Beijos

    PS: Eu nem me lembrava da música da Eliana. Eu já era bem grandinha nessa época (#velha), hehe.

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  2. Imagino que esse livro deve ser CHEIO de referências musicais e eu ia ficar completamente bioando, alienado musical.
    Gostei mais daquele outro livro que você resenhou, "A longa queda", gosto dessas histórias raras.

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  3. Felipe, eu boeiei em quase todas as referências musicais tb. Por mais que eu goste de música velha, as velharias que o Rob ouve não são as mesmas que as minhas. Mas nem por isso a experiência foi ruim. É claro que se eu conhecesse todas as músicas seria melhor, mas deu pra levar o livro numa boa.

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