No outro post, eu falava um pouco sobre crítica especializada, e deixei o tema em aberto meio que de propósito, porque sabia que se fosse para falar mais sobre o assunto, ia ter que ter um post só para isso, então, aqui vamos nós.
O crítico
O crítico é aquele cara que vê o que ninguém vê. Conta algo que ninguém sabe. Analisa o contexto da obra (porque texto não é nada, contexto é tudo). Faz comparações. Apresenta uma visão diferenciada e mais aprofundada da arte (e quando eu digo arte, falo de um jeito Nick Hornby, que também é crítico e considera cultura pop uma arte, sim, senhor!). E o faz de um jeito interessante de acompanhar.
O crítico
O crítico é aquele cara que vê o que ninguém vê. Conta algo que ninguém sabe. Analisa o contexto da obra (porque texto não é nada, contexto é tudo). Faz comparações. Apresenta uma visão diferenciada e mais aprofundada da arte (e quando eu digo arte, falo de um jeito Nick Hornby, que também é crítico e considera cultura pop uma arte, sim, senhor!). E o faz de um jeito interessante de acompanhar.
Isso não quer dizer que você deve concordar com tudo o que ele diz. A crítica não é um ultimato de qualidade. É só a visão de um um cara sobre algo. E muito mais do que te falar se é o negócio é bom ou ruim, sua missão é abrir os olhos do leitor para aquilo que talvez você não prestasse atenção e te fazer refletir um pouquinho. Depois de um tempo lendo as críticas e olhando as coisas por outros ângulos, a leitura (e por leitura eu quero dizer interpretação de qualquer coisa, inclusive daquelas sem nenhuma palavra) feita por você também vai ficando mais afiada.
A visão do crítico obviamente estará comprometida pelo seu gosto pessoal, por sua história de vida, por experiências anteriores, sua formação profissional e acadêmica, entre muitos outros aspectos que variarão de acordo com aquele que escreve a crítica. Porque as pessoas são diferentes e ninguém enxerga a vida, e conseqüentemente, a arte do mesmo jeito.
Entretanto, mesmo aprisionado por razões altamente subjetivas - ou seja, relacionadas ao sujeito: o próprio crítico -, ele deverá sustentar sua tese por meio de argumentos objetivos – ou seja, relacionados ao objeto: a obra.
E então, aquilo que para ele foi defeito, para você, pode muito bem ser uma qualidade.
Cri-críticos
Mas se o crítico é aquele que vê o que ninguém vê, muitas vezes, de tanto forçar a vista, ele acaba ficando um pouco míope.
Depois produzir toneladas de comentários diferenciados por tanto tempo, o crítico começa a achar tudo muito chato ou passa a super-analisar aquilo que nem precise de tanta análise assim. Se não for diferente de tudo o que ele já viu, o negócio já não presta. E todas as obras que ele considera inferiores são analisadas com desdém.
Ele se esquece que a crítica também deve levar em consideração o público-alvo e acha um absurdo que os outros, meros mortais desprovidos de tal intelecto, não concordem com ele.
E da mesma forma que um autor que só elogia tudo me parece muito suspeito (vide o post da semana passada), também fico com os dois pés atrás quando encontro um que não consegue enxergar nenhuma qualidade em nada. O cara não gosta nem do que todo mundo gosta e nem do que todo mundo não gosta. Fica parecendo implicância. São os cri-críticos.
Quem dera que a solução para os cri-críticos fosse usar óculos...
O perigo da visão raio-X
Uma questão muito delicada é aquela famosa história do “o que o autor quis dizer” (e quando eu digo autor, também quero dizer músico, pintor, diretor, etc). Porque nunca se sabe de verdade o que estava passando na cabeça do cara.
O crítico pega aqueles quadros que só são um bando de rabiscos e tenta arranjar sentido para aquilo que às vezes são só...um bando de rabiscos. Uma música que só tem um refrão grudento sobre algo banal vira ícone da poesia contemporânea. Um livro que é diversão pura é considerado a obra mais profunda do mundo.
Às vezes realmente existe algo mais por trás da superfície simplista da coisa, mas às vezes...não. E tudo bem que cada um pode (e deve) enxergar a arte da sua forma. Essa é que a parte legal de ler as críticas. É poder falar: “Olha lá que legal, não tinha reparado nisso!”, ou então: “Putz, nada a ver, viajou na batatinha”. A diversidade de opiniões é o que as torna tão interessantes. (Por isso eu peguei no pé das resenhas semana passada. Porque se você faz uma resenha que só repete o que todo mundo diz e não fala como a obra te fez sentir de verdade, não tem graça nenhuma).
Mas a parte perigosa dessa super-análise é quando justamente o crítico coloca palavras na boca do autor. Porque aí, ao invés de visão de raio-X, o super-poder utilizado é o da telepatia. E nem sempre ela funciona.
O outro lado da moeda
Eu preciso abrir meu coração. Já achei os críticos muito mais cri-cris. Hoje, depois de um pouco mais “vivida” e de começar a escrever pra cá também, vejo que às vezes eles são por muitas vezes incompreendidos. Deixe-me explicar direito.
Quando eu escrevo pra cá, eu penso duas, três, quatro vezes na escolha de uma palavra. Gosto de polir os meus textos. Deixo umas pegadinhas, uns easter eggs, escolho algumas palavras de propósito para fazer algum trocadilho ínfimo (ou infame) e ver se alguém vai reparar. E se EU, que não sou nada, faço essas graças, imagina um escritor/músico/diretor consagrado!
É até ingenuidade pensar que as palavras, os tons ou o jeito de filmar escolhidos por eles estão ali por acaso. Às vezes até estão, mas depois de tanto estudar e pescar essas coisas, um profissional com a visão mais aguçada custa a acreditar que talvez aquilo não tenha nada de mais. (Eu mesma já quebrei a cara uma vez. Tinha CERTEZA que um negócio tinha sido de propósito, e no final não era nada daquilo. Mas é que eu estava tão absorta no negócio que pra mim, tudo já tinha um outro sentido). É meio natural. E é por isso que também o cara tem que tomar cuidado pra não sair usando o seu super-poder assim em qualquer coisa.
Uma questão muito delicada é aquela famosa história do “o que o autor quis dizer” (e quando eu digo autor, também quero dizer músico, pintor, diretor, etc). Porque nunca se sabe de verdade o que estava passando na cabeça do cara.
O crítico pega aqueles quadros que só são um bando de rabiscos e tenta arranjar sentido para aquilo que às vezes são só...um bando de rabiscos. Uma música que só tem um refrão grudento sobre algo banal vira ícone da poesia contemporânea. Um livro que é diversão pura é considerado a obra mais profunda do mundo.
Às vezes realmente existe algo mais por trás da superfície simplista da coisa, mas às vezes...não. E tudo bem que cada um pode (e deve) enxergar a arte da sua forma. Essa é que a parte legal de ler as críticas. É poder falar: “Olha lá que legal, não tinha reparado nisso!”, ou então: “Putz, nada a ver, viajou na batatinha”. A diversidade de opiniões é o que as torna tão interessantes. (Por isso eu peguei no pé das resenhas semana passada. Porque se você faz uma resenha que só repete o que todo mundo diz e não fala como a obra te fez sentir de verdade, não tem graça nenhuma).
Mas a parte perigosa dessa super-análise é quando justamente o crítico coloca palavras na boca do autor. Porque aí, ao invés de visão de raio-X, o super-poder utilizado é o da telepatia. E nem sempre ela funciona.
O outro lado da moeda
Eu preciso abrir meu coração. Já achei os críticos muito mais cri-cris. Hoje, depois de um pouco mais “vivida” e de começar a escrever pra cá também, vejo que às vezes eles são por muitas vezes incompreendidos. Deixe-me explicar direito.
Quando eu escrevo pra cá, eu penso duas, três, quatro vezes na escolha de uma palavra. Gosto de polir os meus textos. Deixo umas pegadinhas, uns easter eggs, escolho algumas palavras de propósito para fazer algum trocadilho ínfimo (ou infame) e ver se alguém vai reparar. E se EU, que não sou nada, faço essas graças, imagina um escritor/músico/diretor consagrado!
É até ingenuidade pensar que as palavras, os tons ou o jeito de filmar escolhidos por eles estão ali por acaso. Às vezes até estão, mas depois de tanto estudar e pescar essas coisas, um profissional com a visão mais aguçada custa a acreditar que talvez aquilo não tenha nada de mais. (Eu mesma já quebrei a cara uma vez. Tinha CERTEZA que um negócio tinha sido de propósito, e no final não era nada daquilo. Mas é que eu estava tão absorta no negócio que pra mim, tudo já tinha um outro sentido). É meio natural. E é por isso que também o cara tem que tomar cuidado pra não sair usando o seu super-poder assim em qualquer coisa.
A crítica da crítica
E se de um lado você tem os cri-críticos que não gostam de nada, do outro você tem os cri-críticos dos cri-críticos. Reclamam de tudo o que o cara disser, e dizem que ele está errado, só porque o que ele falou não bateu com sua própria opinião.
Só que mesmo que pareça que o crítico é prepotente (e às vezes ele é mesmo) e está se fazendo de Jean Grey, é só o jeito dele enxergar a obra.
O que também não tira o seu direito de achar que ele escreveu um monte de besteiras. É importante também ter uma opinião sobre a opinião, para não ficar como aqueles acionistas minoritários que só balançam a cabeça.
Mas do mesmo jeito que ele não conseguiu vê-la de um jeito por não pertencer ao público-alvo, será que você também não é o público-alvo da crítica dele?
Finalizando
A crítica é um comentário subjetivo, porque é feita por pessoas. E por mais que as obras sejam as mesmas, as pessoas são diferentes, têm visões diferentes e com estilos de escrever diferentes. E se o escritor achou que aquela comédia romântica que você adora é horrível, essa é a opinião DELE. E você tem que respeitar. Assim como ele tem que respeitar a sua. Não é porque ele é critico que possui a "visão correta". Nem a visão do autor pode ser considerada desse jeito.
Por isso que as boas críticas são criticas interessantes, por mais que as obras não sejam. E se todas elas estão comprometidas pelos “olhos do autor”, a solução é ler um monte e tirar uma média. E principalmente, avaliar você mesmo e tirar suas próprias conclusões. Porque ninguém é dono da verdade. Aliás, como já diria aquela música, se você parar pra pensar, a verdade não há.
[BÔNUS TRACK]
Terminei o post falando de Pais e Filhos, mas tem uma outra música da Família Lima (pois é, eu conheço algumas músicas da Família Lima, rs!) que eu acho que se encaixa muito mais no tema de hoje. Fica tranqüilo que não é nada clássico, e é até animadinha. Mas a letra, como diria o próprio Lucas, é bala demais.
Liberdade é a felicidade
Que se sente quando consegue entender
Que nem sempre o que \"é\"
Vai ser o mesmo
Pra mim e pra vocêQue se sente quando consegue entender
Que nem sempre o que \"é\"
Vai ser o mesmo
E quem se interessar, eles cantam Pais e Filhos no show também.
A estrofe no final resumiu tudo. Cada um tem sua opinião, oras. O negócio é respeitar.
ResponderExcluirInteressante você ter citado as comédias românticas, haha. Eu (quase) sempre gosto das mais criticadas.
Eu não tenho olhar crítico pras coisas, falta atenção. Muitas vezes eu adoro um filme e, quando vou ler sobre ele, tem um monte de gente falando mal de aspectos que eu nem reparei. Confesso que me sinto meio tonta nesses casos... Mas eu vejo as coisas como elas devem soar pra mim, e não analisando!
ResponderExcluirHoje em dia, na internet, qualquer opinião contrária é vista como inveja ou preconceito. Sempre os mesmos argumentos batidos; as pessoas não entendem como você pode discordar de suas opiniões soberanas!
Acho que as pessoas estão precisando se divertir mais, até mesmo com as críticas :D
Eu simplesmente gosto e desgosto das coisas. Nem sempre eu tenho um critério pra dizer que gostei ou não de alguma coisa. Tem vezes que eu simplesmente gosto e nem sei o motivo.
ResponderExcluirEu pouco me importo com a opinião dos críticos ou dos cri-críticos simplesmente pela forma da maioria desses profissionais verem uma obra não ser a minha forma. Quando um crítico avalia um filme, por exemplo, pode encontrar várias conexões numa trilha sonora, elogiar as escolhas, dizer que a música combinou com o momento e tal e por isso o filme é ótimo. Sendo que eu nem reparo em trilhas sonoras! Ou seja, não serve de nada essa opinião pra mim.
O mesmo vale pra livros e qualquer outra coisa.
Eu levo em consideração, no caso dos livros, o que a pessoa já leu e gostou pra poder traçar um padrão do que bate comigo. Eu detesto auto-ajuda, logo, minha opinião sobre livros desse gênero não servem pra muita coisa.
Por isso gosto de ler críticas de pessoas que tem um gosto parecido com o meu, independentemente de ser um crítico profissional, um blogueiro qualquer ou o amigo da escola.