domingo, 29 de julho de 2012

Extremamente Regular & Incrivelmente Meh

Extremamente Alto & Incrivelmente Perto é dessas histórias que mais querem emocionar do que emocionam de fato. E as tentativas de levar o leitor às lágrimas são tantas que o efeito alcançado é justamente o oposto: a indiferença.

Extremamente Alto... é um livro incrivelmente constante e impressiona por sua regularidade, mas isso não é um elogio. Se fosse representado por uma função matemática, certamente seria alguma do tipo f(x) = K, com K=6, já que está sempre na média, mas em nenhum momento consegue empolgar de fato, contudo, também nunca dá vontade de abandonar a leitura. Obviamente ele tem seus bons momentos mas é tudo muito... morno. Tudo muito...meh!

Oskar é o garoto superdotado (e por vezes bem chatildo) que tenta lidar com a morte do pai, uma das vítimas dos atentados de 11/09. Ele acha uma chave dentro de um envelope que diz apenas “Sr. Black” e coloca na cabeça que não vai descansar até encontrar seu dono, nem que para isso ele tenha que bater na porta dos mais de 600 nova-iorquinos com sobrenome Black. Na cabeça do menino, a busca pelo dono da chave é uma oportunidade de ficar mais perto do pai.

Paralela à história do garoto estão capítulos que, ora são narrados pela avó dele, ora por seu avô, que nunca chegou a conhecê-lo, pois abandonou a esposa assim que soube que ela estava grávida. A razão para tamanha canalhice é desenvolvida ao longo de todo livro e tem início em outra tragédia que ocorrera anos antes, em Desdren, Alemanha. O livro tenta fazer o leitor ficar com pena daquele casal infeliz o tempo todo, e como desgraça pouca é bobagem, pra completar, o velho é mudo e se comunica através de um caderninho e tatuagens na mão com SIM e NÃO.

(Em determinado momento, o livro ainda chega a insinuar que a velha é cega e aí eu me peguei pensando: “NÃO É POSSÍVEL! É MUITA TRAGÉDIA PARA UMA FAMÍLIA SÓ!!!! 2 catástrofes, um cara mudo e a mulher cega! Aí vai ficar muito difícil mesmo!”. Felizmente, era só mimimi da velha e ela conseguia enxergar, sim!)

Se a história do menino ainda desperta algum tipo de simpatia e compaixão, o mesmo não se pode dizer do drama de seus avós (principalmente depois de ter lido o livro todo). Sim, é claro que ambos sofreram perdas traumáticas. Mas, ao passo que Oskar carrega consigo a inocência da infância (e, por mais insensível que seja o leitor, temos que concordar que criança nenhuma merece sofrer por causa da bagunça feita no mundo dos adultos), não dá pra deixar de pensar que os velhos meio que escolheram o caminho da infelicidade e parecem complicar o que já é complicado.


Suas más escolhas são sempre justificadas com base nos acontecimentos traumáticos, sim, mas, em certa altura, também remotos. Como se só eles tivessem o direito de sofrer. Como se ninguém no mundo sentisse dor. Como se, só porque eles passaram por um grande drama, não pudessem fazer nada a respeito e o resto das pessoas simplesmente tivesse que sentir pena e aceitar todas as suas atitudes subseqüentes (e idiotas) como se fossem certas.

Enquanto escrevo isso, percebo que Oskar não parece ter um destino muito diferente de seus avós. Mas, como disse ainda há pouco, ele é uma criança e pode mudar. Ao fim do livro, os velhos descartam essa possibilidade numa escolha que era para ser poética, mas não deixa de ser estúpida em vários níveis.

Realmente não é de meu feitio encarar histórias desse tipo. Mas peguei esse livro porque queria uma leitura diferente, que me desafiasse, e cheguei a ouvir comentários de que era um “História Sem Fim para Adultos” por causa da utilização de recursos gráficos na hora de conduzir a narrativa, que em tese tirariam o leitor do papel de mero agente passivo na busca do menino. E nesse último quesito, o livro cumpre o que promete e brinca o tempo todo com cores, números e figuras (nosso ex-presidente ia adorar!) que compõem elementos orgânicos à história. Mas basicamente é só isso e apesar de ser “infantil”, A História Sem Fim dá de 10 em inteligência e metáfora nesse daqui.

Se as inventividades propostas sustentassem a narrativa, eu faria coro com o resto dos críticos que dizem ser mais um trabalho “genial” de Jonathan Safran Foer. Como a história não convence por completo, até esses recursos visuais, que são o ponto forte do livro, soam apenas como um recadinho presunçoso do autor do tipo: “olha como eu sou f*dão e consigo fazer poesia concreta!”. Infelizmente a presunção não tem razão de ser, já que, aparentemente, ele não sabe que aqui no Brasil se fala português, como deixou transparecer em um trecho no qual Oskar encontra com uma mulher que falava espanhol e acha que ela pode ser brasileira.

Pareço profundo, mas acho que Brasil e Colômbia é tudo a mesma coisa

Tudo acaba quase do mesmo jeito que começa. E isso nem é o principal problema, porque nesse tipo de história, carregada no drama, um final muito diferente poderia soar incoerente, já que a vida não é assim tão simples.

E aí todas as tentativas de parecer profundo e esperto também provocam o efeito reverso e soam apenas...óbvias, já que não levam à lugar nenhum e estão tão na cara que não desafiam o leitor em nada. A revelação do porquê das fotos de fechadura? Méh. Paralelo do genocídio de Desdren? Óbvio. A moral da história de que guerra só traz sofrimento? MAS A GENTE NÃO ESTÁ CARECA DE SABER ISSO?

Mesmo assim, a jornada do garoto ainda rende alguns bons personagens, como o outro velho, centenário, que acompanha o menino durante um tempo (a gente podia ter ficado sem aquela parte de ele não escutar qualquer coisa há uma eternidade, mas enfim) e momentos inspiradores com a mulher que nunca mais desceu do Empire States, assim como a resolução da busca da chave.

Nas mãos de outro autor menos pretensioso, Extremamente Alto podia ter saído incrivelmente mais legal. Mas a presunção do escritor, que até escreve bem, é tanta que acaba por minar quase toda a simpatia que se pudesse ter por seus personagens imperfeitos. Eu bem que queria dizer que não é mais uma história sobre o 11/09, mas... Meh!

6 comentários:

  1. Eu folheei esse livro na livraria porque estava em promoção, mas alguma coisa nele não me chamou atenção.
    Agora posso respirar fundo e não me sentir culpada hehehe.
    Falando nisso, nunca li (nem ouvi) nada desse autor, e por enquanto eu passo.

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    1. Se vc ainda tiver o mínimo de curiosidade sobre a história, tem um filme que concorreu ao Oscar desse ano. Acredito eu que o filme deva ser pior que o livro, porque o que ele tinha de diferente, que são as fotos, a brincadeira com as palavras, o filme não vai conseguir reproduzir. Mas também pode ser que ele seja melhor justamente por não parecer tão presunçoso. Pelas opiniões que escuto por aí, as pessoas que viram o filme tiveram a mesma sensação que eu ao ler livro: acharam que ele quer te fazer chorar a qualquer custo.

      Eu não gostei, mas pode ser que você goste.

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  2. Lisa, você é uma pessoa de comédias, não sei porque insiste nesses dramas. E esse aí, pelo que me parece, é o drama dos dramas! Já ouvi algumas opiniões sobre ele mas foram todas apaixonadas. Acho que eu também não gostaria (ainda mais com essa história sem objetivo). Fiquei curioso por causa dos recursos gráficos, me fez lembrar de A Menina que Roubava Livros e desse, apesar de também ter cenas dramáticas, acho que você gostaria. Também tem desenhos e estilos diferentes, etc.

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    1. Não pensei que fosse TÃO dramático. Comprei meio no escuro até. Só sabia que tinha recursos gráficos e que falava alguma coisa sobre o 11/09. Tem gente que acha emocionante. E em certas doses até é. Só que no final fiquei com um gosto amargo na boca de que a presunção foi maior que a emoção. Não me pareceu uma história honesta e sim muito forçada. Nunca fui com a cara da Menina que Roubava Livros. Parece seguir a mesma linha do "olha como sou esperto e profundo". No momento estou passando por uma detox literária com o seu Sincero. Estava precisando de um Não-ficção pra espairecer a cabeça. Depois vou me dar uns presentes pra me parabenizar por esse fechamento de agosto lá no trabalho. Só quero coisa boa. Nada de risco por um tempo.

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  3. Uma amiga me indicou esse livro, mas o tempo passou - e eu queria ler em português - e acabei foi vendo o filme, e não lendo. 'Meh' o define bem. Tanto que vi o filme lá por fevereiro e boa parte da história simplesmente foi apagada da minha memória. Não sei o quão fiel a adaptação foi, mas só o que eu lembro (porque gostei) é da busca do menino. E aí ela aconteceu, e eventualmente o final chegou e eu nem consigo lembrar dele. Então, acho que a moral da história não me emocionou muito.
    E autores pretensiosos, na sua ânsia de parecerem profundos e bacanas, sempre acabam estragando um pouco os livros. É meu problema com Looking For Alaska, por exemplo (*corre das possíveis pedras a serem jogadas na minha direção* apesar de eu gostar do autor, no caso)

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    1. Eu não consegui assistir o filme até o final, achei extremamente chato. E eu AMEI o livro, ao contrário da crítica desse blog.
      Mas na verdade o que eu queria comentar é que estou muito feliz de encontrar alguém que também acha Looking For Alaska pretensioso. Eu odiei esse livro, vou correr das pedras junto com você!

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