segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Expresso Jabuti


Sexta-feira, 21 de Setembro de 2012

Você já me viu falando por aqui pelo blog das peripécias de se usar transporte público. Meu meio de transporte favorito é o trem porque não tem engarrafamento, é mais rápido e tem umas coisas absurdas que nos divertem.

Mas essa semana a SuperVia me deixou na mão 4 vezes!

Terça: Não passou o trem de 8:15, com saída de Mesquita, e por isso mais vazio.
Quarta: O trem estacionado na linha 8H às 19h não deu sua partida.
Quinta: De manhã, um outro trem quebra, deixou passageiros no meio do caminho. O meu, que vinha atrás, ficou parado durante meia hora em São Francisco Xavier. Isso porque um passageiro comentava com o outro como o serviço tinha melhorado! A gente não pode elogiar!
Sexta: Novo período de longa espera em São Francisco Xavier no período da manhã. 

Aí, na sexta, eu saí uma hora mais cedo do trabalho - todos dizem :O – e chegando na Central, já quase 18h, escuto anunciar no alto-falante a partida de um novo trem Expresso para Japeri que só realizaria a primeira parada em Ricardo de Albuquerque saindo da plataforma 10-I (O trem é novo no sentido de horário e itinerário só. Nada garante que tenham de ser novos “carros” mesmo) que começou ainda nessa semana, no máximo semana passada e quando eu escutei a notícia e olhei para plataforma 8, que é a oficial do Japera, com sua versão particular e diária de Jogos Vorazes por “um lugar ao trem”, pensei: “Já é! É nesse trem novo aí que eu vou!”.

Porque, fazendo as contas, se parando nas estações normais, no trem Direto, eu faço o trajeto em mais ou menos 50 minutos, nesse novo trem Expresso, parando somente a partir de Ricardo de Albuquerque, eu ia chegar em casa em, tipo, uma meia-hora! Olha só que delícia! Eu já tinha saído cedo do trabalho e ia chegar em casa MAIS CEDO AINDA!

Era só felicidade. Já estava fazendo a dancinha da vitória. Até que enfim alguma bola dentro da Supervia nessa semana!

Eu moro em Nilópolis, olha quantas estações eu pulei!

Eram 17h45, eu fui e entrei no trem. Estava semi-vazio (tem gente que pode dizer que estava semi-cheio, mas quem anda de trem no horário de pico aprende a ser otimista na marra), ou seja, dava para se mover com bastante facilidade. E sem contar que: eu estaria em casa em MEIA HORA! Em pleno horário de pico, quando os empata-portas fazem tudo ficar mais lento! Era um sonho virando realidade.

A civilidade tomava conta do vagão. As pessoas, em sua maioria fazendo sua primeira viagem no tal trem Expresso, conversavam e comemoravam a vitória da rapidez na volta pra casa. Tudo bem que o trem estava cheio (agora estava cheio mesmo, mas nada de anormal, nem de gente para fora da porta), mas isso não importava. Sabe por quê? Por que todo mundo ia chegar em casa cedo. A gente ia em pé, mas ia ser tão rapidinho que nem ia sentir. Quando a gente visse, já estava na hora de descer.

Só uma coisa afligia os passageiros: o trem Expresso não fazia utilizava a linha comum do ramal Japeri, que passa por Engenho de Dentro, Cascadura e Madureira, e sim a linha auxiliar, do ramal Belford Roxo, que simplesmente por lugares tipo Jacarezinho. Só a região onde fica a Cracolândia e em que os cracudos de vez em quando jogam pedras no trem e de vez em quando também rolam uns tiroteios assim. Coisa light.

Tinha gente dentro do trem colocando o terror, amedrontando as outras pessoas: “Os cracudos jogam pedras no trem!”, “Eu sei que as pedras não passam, mas será que a bala consegue atravessar a parede do vagão?” e “Imagina só se o trem quebra justamente nessa estação!”.

Se eu nunca estivesse estado lá, eu diria que é um pouco de exagero das pessoas. Mas acontece que, certa vez, há alguns anos, eu já estive por essas bandas - tem até relato aqui no blog, vale a pena conferir - e bom, como dizer, saí de lá com a o sentimento de “NÃO QUERO VOLTAR AQUI NUNCA MAIS”.

Então, lembra daquela música do Jorge Ben em que ele canta: "Jacarezinho! Avião!"? O "avião" aí são os aviõezinhos do tráfico. E o disco voador é a polícia.

Realmente o perigo por ali não é algo fictício. Mas é ruim que eu ia descer desse trem que ia me deixar em casa na metade do tempo! Quer dizer, eu nunca mais vou pegar ele mesmo, porque para pegá-lo às 18h seria necessário sair 17h do trabalho, e quando eu saio cedo, eu saio às 18h! E hoje eu ia chegar em casa antes das 19h e ponto final. Não queria nem saber.

E aí, 18h, o maquinista anunciou: “Senhoras e Senhores, esse é o trem Expresso que tem como destino a estação terminal Japeri. A próxima parada é na estação Ricardo de Albuquerque. A SuperVia agradece a preferência, tenham todos uma boa viagem!”

O trem começou a andar vagarosamente, como é de seu costume assim que ele sai da Central. E passou por São Cristóvão e não parou (Yes! Porque agora a partir das 15h, ele pára em São Cristóvão também. Affão pra vocês, SuperVia!). E entrou numa linha diferente da normal (aquela do ramal B. Roxo) e continuou andando. E começou a chegar perto de um lugar esquisito e continuou andando. Só que muito lento.

Segundo uma passageira mais experiente em trem Expressso, ele passa mais devagar lá pelo Jacarezinho para não atropelar os cracudos, porque se matar alguém dá muito problema (óbvio!).

E lentamente passamos pela Cracolândia, onde pessoas se drogavam no meio da linha do trem mesmo. Não dava para ver muito bem porque estava escuro, ainda bem, mas estava escuro porque simplesmente também não tinha iluminação direito. E QUE LUGAR MAIS FEIOOOOOOO!!!!!! Mesmo estando escuro, dava para ver que era o tipo de lugar que não tinha a menor condição de desenvolvimento. E não tinha nenhuma perspectiva de melhora.

A estação e a linha de trem ficavam espremidas entre casas e pessoas (não só os drogados), que também andavam no meio dos trilhos. E eu bem sei disso, porque, me lembro de ter atravessado essa linha, simplesmente porque não tem uma passarela para o outro lado!!!!!! E os moradores dividiam aquele espaço com os cracudos, numa cena em que se misturavam pobreza, pena e medo. Mas a pena e o medo eram apenas nossos. Porque a população que ali estava parecia indiferente à rotina do local.

O pessoal do Japeri, acostumado a ver monumentos como o Engenhão em seu caminho tradicional, parecia turista observando a miséria alheia. E de repente o povo do Japera se sentiu privilegiado por morar longe, mas morar com dignidade. E tirou a maior onda: “E depois o pessoal fala que o Japeri é o pior ramal, que só anda gente pobre, feia e fedorenta, hein!”

(O que é uma mentira! Tem muita gente de roupa social que desce de trem para o Centro da cidade porque é o meio de transporte mais rápido, mas mora aqui na Baixada porque prefere viver com paz, do que morar nesses buracos em que as balas atravessam as janelas de casa. Aliás, se você não tiver mais nada para fazer e resolver realmente passear de trem, tire um dia para ir à Paracambi, que ainda é depois de Japeri - em caso de dúvidas, voltar ao mapa do início do post. Gente, Paracambi é uma cidadezinha linda de morrer! E só tem casarão com piscina.)

Graças a Deus não fomos atingidos por nenhuma pedra, nem estava rolando nenhum tiroteio lá por perto. E então passamos por Del Castilho, Mercadão de Madureira e Rocha Miranda sem parar por lá também. Só que o trem ainda estava MUITO LENTO!!!!! Ele não parava. Mas também não corria!!!!

Já haviam se passado 40 minutos e a gente ainda estava em Deodoro!!!!! No trem normal, semi-direto, com 40 minutos a gente já até passado de Ricardo! Esse trem Expresso era mais devagar do que o outro.

Todo mundo no vagão ficou revoltado. Se é para ser assim é melhor encarar os Jogos Vorazes lá na plataforma 8! Pelo menos lá a briga é só na Central. Depois o caminho é mais seguro, a gente não fica com medo de o trem parar no meio da favela. Uma moça falou: “Valeu a experiência, mas semana que vem eu não venho mais nesse, não”. Uma outra, a experiente, disse: “Da outra vez que eu tinha vindo, o percurso foi rápido, mas hoje deve ter sido mais devagar por causa da chuva”, ao passo que uma outra retrucou em tom de brincadeira: “Ah, para de mentira! Quanto é que a SuperVia está pagando para a senhora defendê-la, hein?”

Quando chegou Ricardo, a galera fez: “Uhuuullll”. E às 19:00 eu desci em Nilópolis. Ou seja, não fez a menor diferença eu pegar esse trem.

Notas para o novo serviço REVOLUCIONÁRIO da SuperVia:
Eu sei que outro dia eu falei que achava uma bobagem esse negócio de ficar dando notas, mas hoje vou abrir uma exceção à regra e dar notas para esse novo serviço REVOLUCIONÁRIO da SuperVia. (Antes que você comece a chiar, vai ver que as notas dadas também são a maior bobagem.)

Emoção: 8
Cada nova estação era sempre uma surpresa. Nunca se sabia onde a gente estava. Novas Paisagens para observar. Um caminho totalmente novo. Sem contar a estação Jacarezinho.
Comércio: 0
Não passou nenhum vendedor. Interprete como quiser.
Conforto: 7
O trem tinha ar condicionado, o que também garante as janelas blindadas contra as pedras. Mas não tinha bagageiro. Muita gente precisou contar com a bom vontade dos outros pra colocar as mochilas perto da janela de maneira improvisada.
Socialização: 9
Os passageiros estavam animados, batendo papo, conversando sobre várias coisas. Todo mundo querendo saber detalhes do novo trajeto, muito bem-humorados e criativos. Alguns ofereceram para colocar a bolsa perto da janela. Sem empurra-empurra e sem funk no celular.
Medo: 10
Cracudos no trilho. Possibilidade de pedras atiradas/balas perdidas. Estação Jacarezinho praticamente no breu. E o medo do trem ficar parado ali pra sempre?
Agilidade: 0
O trem anda mais devagar que uma lesma.

Conclusão: Não vale a pena. #NãoRecomendo 2 estrelinhas só.

Como bem apelidou uma mulher dentro do vagão, esse é o novo trem Expresso. O Expresso Jabuti.

(Pensando agora, o trem podia ter um outro nome também: Trem Bala. Bala Perdida.)

"A SuperVia leva você com rapidez e segurança."
Sei....



PS1. Esqueci de contar ainda que nessa semana eu peguei um ônibus com Zé Pequeno. Quando ele entrou falou assim: “Senhoras e Senhores, desculpe incomodar o silêncio da sua viagem, eu podia estar matando, eu podia estar roubando, mas tô aqui pedindo a sua ajuda”. Brincadeira, ele só entrou e sentou no seu lugar.
PS2. Antes de entrar no Expresso Jabuti, ainda peguei um metrô, no horário de pico, com o candidato a vereador Rocco. Você, como a minha irmã, obviamente não sabe que é o cara, mas é que sempre tem um boneco gigante na Central fazendo propaganda do cara. Minha irmã não achou nada demais no cara pegar o metrô lotado às 17h. Ela disse que ficaria surpresa mesmo se o boneco tivesse entrado também.
PS3. Hoje, segunda-feira, mais um trem quebrou no meio do caminho pela manhã e o Japera operou "com atrasos". Vocês tão de sacanagem, né?

6 comentários:

  1. Eu adoro posts com nota. Sério, adoro!
    Tenho um pouco de medo do trem, porque faz um barulho muito sinistro, mas o metrô é pior porque não tem janela. Gente, não tem janela! Onde já se viu? E o ar nem dá vazão, ou seja, precisava de uma janela! Mas no trem as pessoas falam muito, sem contar o vagão do culto; mas eu sempre quero ficar no vagão do culto, porque na minha cabeça é onde tem menos chance de acontecer uma coisa ruim. Vai entender...
    Minha amiga pega esse trem que vai por Belford Roxo todo dia. Ela disse que na estação Jacarezinho nem roleta tem. É triste, né? E realmente, as pessoas acham normal. Deus me livre, não acho normal o Estado ser ausente e deixar pessoas doentes assim, desamparadas, na rua e causando risco aos outros.
    Já tinha ouvido falar do trem Expresso, mas já sei que não vou pegar. Prefiro o Japerizinho sacudindo, fazendo barulho e demorando 1h pra chegar rs.

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    1. Roberta, metrô nem pode ter janela, já que anda debaixo da terra, né? Mas o ar realmente tinha que funcionar exatamente por esse motivo.
      Eu até gosto da bagunça do trem. Ultimamente só tem me irritado aqueles vendedores com alto-falante, porque é muito alto o volume e não dá pra se concentrar em nada!!!! Antigamente qs nenhum tinha esse aparato tecnológico, aí era até engraçado. Agora é difícil achar um que não use microfone. Pode vender, pode gritar, mas colocar aquela caixa de som no ouvido dos outros já é sacanagem.
      O que mais impressiona é a ausência do Estado mesmo. Um lugar totalmente abandonado. Tão abandonado que não tem nem roleta na estação! Um absurdo. Também prefiro pegar o normal. Nem o tempo de viagem compensa...

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  2. Também tenho tido minhas aventuras com o trem... mas acho que pego a coisa mais tranquila, vou no ramal Deodoro - Central, da Piedade até São Cristóvão. Acho que esse é um dos ramais #rhycos do trem, haha.. pq utimamente, só tem passado aquele trem novo, azulzinho, bonito e brilhante, com a tia anunciando as estações no alto falante, ar condicionado, limpinho... Uma beleza. O único problema é quando atrasa, mas ultimamente isso nem tem acontecido. Aí a gente vê que estrurura pro negócio funcionar direito, tem (ou dá pra ter). Só falta mais boa vontade.

    Nem sabia que o ramal de belford roxo era barra pesada assim... mas passando no Jacarezinho, é de se esperar. Pura adrenalina, rs.

    Bjs

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    1. Qd o bicho tá pegando no Japeri, eu fujo pra esse ramal do parador tb. Hj mesmo, um trem descarrilou em Madureira, vc deve ter visto no jornal. Não estava nele, graças a Deus, mas peguei um outro trem mais tarde e ainda estava atrasando tudo. Ainda nem sabia de nada, mas só de perceber que ele estava parando demais, desci em Deodoro, peguei o parador, e fui no novo trem chinês. Enquanto esperava a partida do parador, vi o povo saindo do trem de onde eu tinha saído. Só fiquei sabendo do acidente pq meu pai me ligou no trabalho. Mas tá um absurdo essa semana. O trem deu problema em todos os dias nos últimos 7 dias úteis. Não teve um dia em que funcionou 100%. Deve ter alguma armação, não é possível.

      Depois que chegaram esses trens novos, aumentou o número de viagens nesse ramal de luxo (rs!), acho que a meta é diminuir o intervalo nele para 3 minutos. E eu vejo mesmo que toda hora passa um.

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  3. Qual o pior ramal? Japeri ou Santa Cruz?

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  4. E o ramal Belford Roxo é o pior e mais perigoso trajeto. Você passa dentro de favelas, cemitérios... Além de ser o ramal mais precário e mais desvalorizado pela SuperVia. A maioria dos Trens são velhos e demoram muito a passar. Mas mesmo com todos os fatos que coloquei acima sobre esse péssimo ramal, ainda acho o Belford Roxo menos pior que as LATAS DE SARDINHAS AMBULANTES Japeri e Santa Cruz.

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