terça-feira, 27 de novembro de 2012

Resposta mais ou menos Certa


Pergunta: Qual o nome do programa apresentado por Silvio Santos no final da década de 90 em que os candidatos respondiam a perguntas dos mais diversos assuntos e podiam chegar ao prêmio final de 1 milhão de reais em barras de ouro (que valem mais do que dinheiro)?
Resposta: Show do Milhão.

Embora Um Dia seja o mais famoso, Resposta Certa é que é o primeiro romance de David Nicholls. E com esse nome é impossível não associá-lo ao icônico programa de Silvio Santos (acho até que a editora devia se assumir e colocar o bordão do Silvio de uma vez, ao invés de tentar trocar a ordem das palavras como fez). A diferença é que no Desafio Universitário do livro, os alunos não são meros coadjuvantes e são eles que devem responder às perguntas, de modo que não podem ficar se esquivando: “Estou em dúvida, Silvio. Prefiro não opinar”, como no Show do Milhão, em que 3 estudantes universitários prestavam um verdadeiro deserviço ao participante quando este lhe pedia ajuda.

Na época, ainda no primário, achava um absurdo estudantes do curso superior, a nata da nossa sociedade, não saberem assuntos tão básicos que até um aluno da quinta série seria capaz de responder (mas esse aí já é outro programa do Silvio!). Hoje em dia, já egressa do ensino superior, até tenho um pouco de pena dos caras que iam no Show do Milhão, afinal, coitados, ninguém é obrigado a saber tudo, nem da própria área, que dirá de conhecimentos gerais. O que não exime alguns “universiotários” da vergonha que rendiam à classe no programa.

Pergunta: Na Rede Globo, a faixa da programação dedicada aos filmes no período vespertino se chama Sessão da Tarde. O SBT possuía uma programação parecida, sempre com filmes que passavam “pela primeira vez na televisão”. Ela se chamava...
Resposta: Cinema em Casa.

Mas, como ia dizendo, no tal Desafio Universitário os participantes são os próprios alunos. E o formato com todos aqueles nerds com espinhas, óculos fundo de garrafa, gel no cabelo e suéteres por dentro das calças lembra muito mais o desafio dos matletas de Meninas Malvadas, um dos episódios de Pimentinha e principalmente, um clássico do Cinema em Casa que eu só vi uma vez, mas nunca mais esqueci: O Computador de Tênis. Se liga na crocância da sinopse do filme:

Quando vai consertar o computador, o estudante universitário abaixo da média Dexter Riley toma um choque e todo o conteúdo da memória da máquina é transferido para seu cérebro. Por causa de seu novo conhecimento adquirido, ele compete num game show com várias faculdades, onde rouba todos os pontos. O geniozinho da outra universidade descobre sobre a fraude e faz de tudo para desacreditar Dexter.

Se o filme já era legal (e absurdo!) há 15 anos, imagina agora que aquela tecnologia já está completamente obsoleta! E eu sei que eu não devia contar o final (até porque eu nem lembro direito se o time do garoto ganha ou não), mas o menino perde os "poderes” quando lhe passam vírus via telefone público, com direito aquele barulhinho de internet discada!!!!! Como não amar???? Sério, assistam o filme! (O original é de 1969, mas o que eu vi era o remake de 1995)

Pergunta: Como se chama o rearranjo das letras de uma palavra ou frase para produzir outras palavras, utilizando todas as letras originais exatamente uma vez?
Resposta: Anagrama.

Brian (talvez um anagrama de brain – cérebro in ingrish) Jackson é um garoto de origem humilde. A primeira geração de sua família que consegue chegar à faculdade. Seus melhores amigos trabalham respectivamente num posto de gasolina e numa loja de eletrônicos e não parecem ter maiores perspectivas de vida. Perdeu seu pai ainda menino, mas quando este ainda era vivo, assistia o tal game show com seu velho, mais errando do que acertando as perguntas. Ele sempre sonhou com o dia em que sairia de casa rumo à universidade, o lugar onde finalmente encontraria gente culta e inteligente, capaz de entender todo o seu “refinamento cultural”.

Acontece que Brian Jackson é um mané. É inteligente, mas não é genial. É o típico nerd de raiz com espinhas no rosto e que não faz a mínima noção de como se comportar socialmente. Fala demais. Mete os pés pelas mãos. Se deslumbra muito fácil com o ambiente onde está e com as pessoas com quem conversa e não percebe que elas não estão rindo com ele e sim da cara dele. Em certos momentos, a voz do personagem me lembrou muito um amigo que é tão Brian que tem carrega consigo até os dad issues. Só que um pouco menos mané.

(Eu não ia falar que o amigo era o Felipe, porque achei que ele ia ficar chateado, mas, enquanto escrevia, sem querer li uma que falava que era, e tenho certeza de que o Felipe seria sincero o suficiente para se enxergar no Brian quando lesse este livro. Então, agora já foi.)

Logo no primeiro dia de faculdade Brian se apaixona perdidamente por Alice. A garota mais linda da faculdade e que nunca, jamais daria bola para um cara como ele. E não dá. Só que calha de Alice se inscrever no tal Desafio Universitário, e por um acúmulo de circunstâncias regidas mais por educação do que qualquer outra coisa, ela acaba trocando mais do que duas palavras com ele, e Brian (sem noção como é) não entende os sinais que estão mais do que na cara.


Alice é uma vaca! E não quer nada com ele!

Tipo Brian e Alice

Pergunta: Starter for Ten é uma das rodadas do programa University Challenge e dá nome ao primeiro romance de David Nicholls. Como o quiz show não é muito conhecido nos EUA, lhe foi dado o título de...
Resposta: A Question of Atrraction.

Histórias com competições embutidas sempre rendem bons momentos. Quiz Shows então, nem se fala! Se bem aproveitados, levam até o Oscar para casa. Não é o caso aqui. Nicholls desperdiça o trunfo das histórias de quiz show e os personagens só chegam ao estúdio de TV praticamente no final, somente no clímax do livro, de modo que o título dos EUA se torna muito mais adequado para descrever a história que foca muito mais no desenvolvimento romântico do protagonista do que no tal programa de perguntas e respostas.

Porque no fundo, no fundo, Resposta Certa é um YA encorpado. Uma história com uma estrutura muito parecida com os roteiros de séries de TV ou filmes de comédia romântica, com direito a Rebecca aparecendo toda hora sem motivo aparente, o protagonista meio abobalhado que não enxerga o que está bem debaixo do seu nariz, tenta ser quem não é e briga com o melhor amigo. 

O livro cresce quando toca em assuntos como a saída de casa, a pseudo-independência e a preocupação com o futuro. Mas Nicholls se deixa levar pela fórmula do boy meets girl e perde a oportunidade de tocar verdadeiramente o leitor. E o problema maior é que ele não deve ser muito bom de matemática porque errou nos cálculos da fórmula mais manjada de todas.

Devo dizer que depois do incidente do ano novo, achei que aquilo seria a gota d’água na relação dos dois e por mais sem noção que fosse o protagonista, qualquer pessoa com um mínimo de dignidade não a procuraria nunca mais. Mas a gente ainda não tinha chegado nem na metade do livro e esse tipo de reviravolta geralmente só vê da metade pro final. E Alice foi lá e pediu desculpas. E aí a gente voltou exatamente onde estava antes. E essas 30 ou 40 páginas no meio fizeram falta no final, que foi abrupto demais.

Ficou faltando o ato final da comédia romântica em que o mocinho conserta tudo com um grande ato de heroísmo. Ficou faltando a parte em que Brian iria à forra e se vingaria de Alice. E ficou faltando ao livro dizer a que veio de verdade.

A predileção de Nicholls pela elipse, que é o charme de Um Dia, aqui até que dá um ar engraçadinho de dúvida no fim, mas também deixa um gosto agridoce na boca, num livro que não precisava desse tipo de artifício àquela altura do campeonato.

Talvez o tal Desafio Universitário do livro não seja o game show e sim a sobrevivência aos atrativos da vida universitária. Mas a impressão que dá mesmo é que Resposta Certa é o Um Dia que deu errado.

Pergunta: Qual o nome do jogo de tabuleiro em que dois ou mais jogadores procuram marcar pontos formando palavras interligadas, usando pedras com letras num quadro dividido em 225 casas?
Resposta: Scrabble.

Certa vez li em algum lugar que Um Dia era o romance definitivo enquanto Resposta Certa era o rascunho. Quem escreveu essa sentença não poderia ter sido mais feliz porque após ter lido Resposta Certa, também fiquei com a sensação de que, desde aquele tempo, Um Dia era o livro que Nicholls queria escrever. 

De certa forma, Resposta Certa pode ser lido como um prenúncio de Um Dia. Há diversas cenas que são verdadeiros deja vus para quem já leu este último antes. Ontem assisti ao filme novamente e notei até mais coisas do que já tinha notado durante a leitura. Estão lá: os amigos que viajam juntos e tentam dividir o quarto, a discussão política sempre citando os fascistas, a exaltação da nostalgia de tempos idos, o Scrabble, o encontro romântico hiper-desconfortável com uma visível preocupação com o valor da conta, a visita constrangedora à casa dos pais excêntricos e esnobes...

Sem contar algumas digressões, o subtexto sobre presente, passado e futuro que às vezes aparece e a óbvia personalidade dos personagens principais.

Também tipo Brian e Alice, só que direitos

Emma é uma mistura de Brian* (tímido, inteligente, humilde, amante das artes e da poesia, quer ser escritor no futuro) com Rebecca (reacionária, sarcástica, esperta, nunca deixa uma contestação sem resposta). Ambos alimentadores de paixões por pessoas que não lhe dão o devido valor. Já Dexter é exatamente como Alice. Baladeiro, com um passado sexual recheado, rico, egoísta e arrogante.
* Acho que vale dizer que as tentativas de Brian de ser engraçadinho também lembram Ian, o comediante frustrado de Um Dia.

Se não fosse Rebecca, eu diria que Um Dia era a história de Brian e Alice com gêneros trocados alguns anos mais tarde. Se vocês não considerassem sexista, eu diria até que os gêneros trocados é um dos motivos pelos quais Um Dia funciona e Resposta Certa não. Se eu tivesse gostado mais do livro, diria que Um Dia era um livro escrito por Brian, depois que acabou a faculdade. Mas não é o caso.

Se serve de consolo, como esse romance veio antes, talvez Nicholls ainda não soubesse como escrever a história que tanto queria.

Pergunta bônus: Qual o símbolo gráfico utilizado para marcar o início da fala de um personagem?
Resposta: Travessão.

Aqui um puxão de orelha na Intríseca, que podia ter atentado mais às revisões e deixou escapar vários travessões voadores no início de parágrafos que não eram diálogos. Geralmente não implico com esses erros de revisão, mas quando a coisa influencia na sua percepção de leitura, ou quando são muito graves e recorrentes como foi essa história do travessão, minha paciência diminui consideravelmente. Quando se trata de uma editora de grande porte e de um livro que já foi lançado há quase 10 anos e podia ter esperado mais dois meses para sair mais perfeitinho então...

Pergunta final: Qual a fórmula da satisfação?
Resposta: Satisfação é igual a Expectativa menos Percepção.


Resposta Certa erra na fórmula da comédia romântica e peca por não aproveitar mais o jogo de perguntas e respostas, o que não quer dizer que seja ruim. O estilo do escritor ainda está lá e sua narrativa continua deliciosa. O romance tem personagens para amar e odiar, diálogos adoráveis e momentos que deixam você com o coração na boca. Tenho certeza que se o livro fosse de outro autor teria gostado muito mais. Mas o negócio é que Um Dia é um dos meus livros favoritos de todos os tempos e eu esperava muito mais desse aqui. E quem já comeu caviar não quer saber de ovo frito.

PS. Tem um filme também e que Nicholls também roteirizou. Pode ser que o filme fique até melhor que o livro porque a película tem James McAvoy no elenco. E James MacAvoy é amor.


s2.
Só isso.


PS2. Assisti o filme, e infelizmente, a película padece dos mesmos problemas do livro. Parece uma história perdida, que não sabe aonde quer chegar. Algumas mudanças na ordem e nos autores dos acontecimentos até tornam a trama mais interessante, e Nicholls quase conserta a parte da ausência do ato final de redenção do mocinho. James MacAvoy faz um Brian adorável, mas, bom, é só isso.

3 comentários:

  1. Eu não consigo ler sobre esse livro sem me lembrar do dia que dormi no chão tentando assistir "Quem quer ser um milionário?" Não entendo como um filme tão chato pôde ganhar um Oscar, sinceramente.

    Mesmo sem você dizer que o tal amigo é o Felipe, quem o conhece desconfiaria, rs. Principalmente pelo "não faz a mínima noção de como se comportar socialmente". Na verdade, essa descrição me lembrou do Sheldon e me fez pensar que esse livro deve ser tipo a história dele na faculdade, com a diferença que ele praticamente nasceu com dois doutorados.

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    1. Não consigo acreditar q vc não gostou de "Quem quer ser um Milionário?". É um dos poucos filmes ganhadores de Oscar que eu realmente gosto. Cinemão de qualidade. Deixa o público com o coração na boca o tempo todo e a gente torce demais para os personagens. Maaaaas, existe uma razão para "Quem quer ser um milionário?" ter ganhado o Oscar, sim. E ela se chama RECESSÃO. O filme saiu exatamente na mesma época em que estourou a crise financeira de 2008, e entre os críticos pairava o pensamento de que o filme passava uma mensagem de otimismo que o mundo precisava ouvir. E o filme termina com uma dancinha que dá vontade de ser feliz.

      Na verdade, não achei o personagem parecido com o Sheldon não. O Sheldon é sem noção por ser antissocial. O Brian é sem noção porque quer ser sociável demais com gente que não merece.

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  2. "Certa vez li em algum lugar que Um Dia era o romance definitivo enquanto Resposta Certa era o rascunho. Quem escreveu essa sentença não poderia ter sido mais feliz porque após ter lido Resposta Certa, também fiquei com a sensação de que, desde aquele tempo, Um Dia era o livro que Nicholls queria escrever. " - bom saber que vc gostou.

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