Primeiro de tudo, se você acha que o título do post faz menção aguardadíssimo dia 13/03, sim, você está correto. Graças a Deus e a Theo, alguma coisa tocou o coração da nossa duplinha e aguardamos ansiosamente o dia em que finalmente as coisas vão começar a dar certo de novo para o Brasil com a volta de Sandy e Junior. E eu que estava esperando alguma coisa bem menos espalhafatosa, depois da foto de Sandy ensaiando balé, agora já acho que o negócio vai ser de arrasar mesmo. Porque o que eu tô vendo é comprometimento, minha gente. E quando esses dois tão a fim, ah, meus queridos, não tem pra ninguém não.
Mas, enquanto dia 13 não chega, assisti essa romcom da Rebel Wilson que estreou na Netflix, cujo título em português com certeza está com uma letra a mais, e fiquei extremamente desapontada com como uma ideia tão boa pode ser tão mal aproveitada.
Sinopse: Uma jovem desencantada com amor misteriosamente se encontra presa dentro de uma comédia romântica.
Antes de tudo uma contextualização: durante a década de 90 / 00, as romcoms tiveram sua era de ouro com títulos que basicamente se tornaram clássicos do gênero como Uma Linda Mulher, Notting Hill e Noiva em Fuga (Julia Roberts é a rainha do gênero mesmo). Era uma época linda em que a gente ia à locadora num sábado chuvoso e sempre tinha alguma comédia açucarada dando sopa pra alegrar nossas tardes embaixo do edredon. Muitas pessoas subestimam o gênero, alegando que "são cheios de clichês" ou "muito formulaicos", mas o que o tempo nos ensinou é que fazer uma boa romcom realmente é uma arte e o sucesso dessas histórias está no nível de envolvimento emocional do público com aqueles personagens, e não necessariamente numa fórmula pré-estabelecida.
Tanto é que após essa era de ouro, tivemos filmes não tão legais assim como Ligeiramente Grávidos, A Verdade Nua e Crua e Par Perfeito, e com isso, Katherine Heigl praticamente enterrou o gênero. Os estúdios pararam de produzir as romcoms por motivos de Katherine Heigl $$$$ e passaram a investir somente em filmes de super-heróis que basicamente dão uma rentabilidade muito maior. E então tivemos uma era de escassez de comédias românticas, porque, com um orçamento de US$ 30-40 MM, ninguém queria colocar dinheiro nesses filmes já que os chineses (e os outros países) não curtem romcoms no cinema (não se enganem, Crazy Rich Asians não é sobre diversidade em Hollywood, é sobre um chinês muito rico que tem um plano ambicioso de faturar muito no mercado oriental!!!).
Só que aí veio a Netflix e eles perceberam que as pessoas ainda amavam as comédias românticas, porque eram sempre os mais assistidos do catálogo (porque, afinal de contas, ainda existem sábados chuvosos e tudo o que você precisa num dia desses é de um romance com bastante acúcar para ficar debaixo do edredom) e eis que estamos vivendo um momento de retomada das comédias românticas, puxado principalmente pela Netflix que parece ter o orçamento e o público alvo perfeitos para acomodar esse tipo de projeto.
Dentro desse contexto, no dia dos namorados dos EUA o filme estreou nos EUA e uma semana depois na Netflix no resto do mundo. E eu estava muito animada porque a premissa do filme realmente era muito boa, mas, não foi dessa vez.
Como eu disse antes: fazer uma boa romcom é uma arte, e um projeto desse estilo, com os dois pés na metalinguagem, exigia um comprometimento além da fórmula ou do óbvio. O filme tinha potencial para ser, basicamente, um "Encantada das romcoms" e entrar no hall dos clássicos do gênero, mas fica perdido entre a paródia e a homenagem e não entrega nenhum dos dois direito.
(Se quiserem uma boa paródia de comédia romântica procurem Encontros e Desencontros do Amor, com a Amy Poeheler, Paul Rudd e Nova York, afinal, "a cidade é praticamente um personagem" das melhores romcoms)
Atenção para a o elenco do filme ali embaixo nas letrinhas miúdas
O roteiro problemático é a causa raiz dos problemas. É claro que ele tem boas sacadas e explora alguns dos maiores clichês do gênero, mas até nisso peca ao subestimar a inteligência do expectador e explicar todas as referências tin-tin-por-tim. Mas o problema maior é estrutural mesmo, com uma mocinha que não abraça sua nova realidade em nenhum momento e por isso não transmite verdade na mensagem empoderadora quando deveria subverter as regras do jogo. Além disso, os plots dos coadjuvantes não complementam em nada a história da protagonista, sem contar aqueles que acabam subutilizados entre uma realidade e outra.
A direção, por sua vez, também tem momentos inspirados (repare como por exemplo, no início, ele filma com a câmera na mão e iluminação propositalmente incômoda para refletir como a "vida real" não é nada como nos filmes, mas após a virada, os cenários estão sempre floridos e excessivamente iluminados*), mas na mão alguém mais apaixonado pelo gênero, o filme poderia ter feito um estrago nas referências. É claro que estão lá o Central Park, a cena do sorvete, vários figurinos de Uma Linda Mulher e um número musical fora de contexto, mas fiquei extremamente decepcionada pela ausência da cena da montagem da transformação. Especialmente porque eles tiram muito sarro disso! E depois não mostram? Por favor! Achei até falta de respeito! Além disso, existem incoerências geo-temporais que não sei até que ponto se sustentam pelo argumento da paródia, piadas que com certeza se perderam em algum momento da edição e uma trilha sonora**, que apesar de pinçar músicas-tema de outras comédias românticas, é basicamente só isso mesmo.
* Mais ou menos como Encantada troca o tamanho da tela de 4:3 para 10:9 (widescreen), quando altera entre o desenho animado 2D e o live action.
** Um exemplo de trilha paródia esperta é Amizade Colorida, por exemplo, que tira um sarro das musiquinhas chiclete ao mesmo tempo em que se apropria da fórmula na cena do flashmob. Tá vendo, gente, não precisa muito. É só ter um roteiro arrumadinho.
O negócio todo é que muitos desses elementos às vezes parecem jogados na tela de qualquer jeito apenas pelo fan service e não se encaixam dentro de um roteiro desconjuntado que acha que só o fan service é suficiente. Juntando roteiro e direção, tem um episódio de Crazy Ex Girlfriend com a mesma premissa que dá um banho nesse aqui e também tem uma cena do karaokê 1000 vezes mais divertida (fun fact: quem escreveu o episódio foi a mesma roteirista de O Diabo Veste Prada. Tá vendo: paixão é a chave!).
Sobre as atuações, Rebel Wilson obviamente não é Amy Adams e tem suas limitações, mas só incomoda mesmo por não convencer como mocinha vulnerável. Mas também não é Amy Poheler, que além de engraçada, contribui criativamente para os projetos e certamente acrescentaria pelo menos um par de piadas acima da média. Pensando alto, a Aidy Bryant do SNL ia cair como uma luva aqui. Mas já estamos no lucro, pois não tivemos Rebel Wilson fazendo nenhuma piada de pum. O resto do elenco entrega o que é necessário e Liam Hemsworth tem bom tempo de comédia, mas com esse roteiro meio sem pé nem cabeça, fica a impressão de que poderiam fazer muito mais.
Como sempre faço, em um rápido exercício de brain storming era possível ajustar as arestas e chegar no mesmo resultado, o que claramente denota uma falta de carinho com o material. O que não quer dizer que o filme não seja divertido. É. Muito. Ri alto em vários momentos. A decepção é muito mais pelo desperdício de uma ideia tão boa resultar num filme tão meia boca. E nesse momento de ascensão reticente, a gente não pode ficar desperdiçando romcoms assim! Essa premissa nas mãos de pessoas mais experientes ou mais apaixonadas certamente resultaria num novo clássico do gênero (coisa que nenhuma das romcoms pós-era de ouro conseguiu até então***). Fazer comédia romântica é uma arte. Fazer uma comédia romântica sobre comédias românticas então, nem se fala. Mas não foi dessa vez. Ficamos aqui no aguardo do dia 13 e de uma romcom que não só tenha o final feliz, mas que aqueça nossos corações por muitos sábados chuvosos debaixo do edredom.
*** E ninguém na música pop conseguiu depois de Sandy e Junior, no Brasil, aliás.
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