segunda-feira, 5 de agosto de 2019

Quando (1+1) > 2

Quando Sandy e Junior terminaram a dupla em 2007, li um texto no blog do Zeca Camargo cobrindo a emoção do último show ever da dupla em que ele colocava que ali não era só uma questão de admiração e fanatismo, mas quase um ritual de passagem em que os fãs se despediam de um ícone que marcou uma geração e representava praticamente "a trilha sonora" dos ali presentes.

Como se nos consolasse, Zeca dizia que tudo foi muito intenso até ali, mas que o tempo ia lentamente fazer a chama se apagar. E todos íamos ficar bem. Um dia iríamos lembrar com carinho da época que passou, mas estaríamos em outra, que aquela paixão toda inevitavelmente se transformar em memória apenas. Pois bem, Zeca, gostaria de dizer que nesse ponto você estava terrivelmente enganado.

(Agora fui procurar o texto da época, e na verdade não tinha nada disso, mas juro que li em algum canto ele comentando algo parecido com relação a alguma fascinação dos tempos da adolescência. Tem um que ele comenta como ficou desolado com o fim dos Smiths enquanto discorre sobre o final de Harry Potter sobre a geração. Será que minha memória está fazendo mash up das coisas? Talvez. É a idade...)

Pois, 12 anos depois do final da dupla, bastou um anúncio no início de janeiro desse ano para que esse turu turu aqui dentro voltasse a bater com toda a força. (De verdade, o coração tem dado uns pulinhos muito estranhos desde que isso tudo começou). Tenho acordado feliz, sorrio sem motivo, rio à toa, me divirto nos fóruns, canto alto e sinto que tenho 15 anos (ou seria menos?) novamente. Mesmo que sejam só 10 shows*, está sendo extremamente gratificante viver todas essas emoções, compartilhar toda essa adrenalina que só o fã hardcore é capaz de sentir.
* que depois se tornaram muito mais!

(E olha que quando eu tinha essa idade aí eu era até bem normal, depois de velha é que eu fiquei retardada!)

E se a gente tá assim, é claro que pelo resto do Brasil o negócio tá muito doido! Não é preciso ser fã para entender o tamanho da comoção. Basta ter um mínimo de memória.

Desde 2007, ídolos teen vieram e se foram, mas duvido que algum desses cause o nível de comoção causado pela volta de Sandy e Junior. Primeiro porque nenhum deles chegou perto do nível de alcance dos irmãos. Para quem não lembra, lá em 90, não existia música boa ou música ruim. Existia Sandy e Junior. Simples assim. Eles estavam em todos os lugares. Rádio, TV, cinema, revistas. Nas festas de aniversário, era só isso que tocava. Até quem não gostaaaaaava, tinha simpatia pela dupla. Você pode até não curtir, mas não pode negar os fatos. Eles são o maior fenômeno pop que esse país já viu. Fizeram parte da história de toda uma geração por quase 2 décadas, e isso é coisa pra caramba! (Aliás, extremamente feliz o nome da nova turnê). Aceitem isso.

É claro que existia todo um complexo midiático em volta dos dois. Mas quem acompanhou sabe que o talento dos dois é DE VERDADE. Tanto é que, musicalmente, também não apareceu mais nada igual. Boysband vem e vão, mas duplinha magia assim só Sandy e Junior, meus queridos. (Eu tive que ir buscar NO MÉXICO uma dupla de irmãos pop parecida, e mesmo assim não é a mesma coisa. O fator "trilha sonora da vida" conta muito nessa relação) As músicas, antes subestimadas, sobreviveram ao teste do tempo e envelheceram superbem. Ainda soam adolescentes? Talvez sim, mas também parecem extremamente bem produzidas (principalmente as da era de ouro 1999-2002) e absurdamente divertidas. Experimenta ouvir o 2001 de novo. Senhor do Céu, esse CD é um hino do início ao fim. E isso eu tô falando quase 20 anos depois!

Sandy e Junior desafiam a matemática. Com eles, 1+1 não é igual a 2. Os dois juntos são muito mais. É magia, é nostalgia, é muita emoção. Não dá pra explicar. A história de toda uma geração se confunde com a história da dupla, e a memória afetiva é um negócio poderoso demais.

Remexer no baú da história de Sandy e Junior é mexer nas memórias de toda uma geração e a produção da turnê foi extremamente feliz em perceber isso. Muitos dos fãs gostam de Sandy e Junior antes mesmo de se entenderem por gente. Tem fitas aqui em casa de uma Elisa bebezinha dançando ao som da k7 de Sábado à noite. Ver os vídeos antigos da carreira deles é lembrar de momentos importantes das nossas próprias vidas, pois, afinal de contas eles foram a trilha sonora perfeita para quem crescia ali nos anos 90 / 2000. O dia do último show no Rio (02/12/2007), por exemplo, foi o dia em que fiz prova de vestibular pra UERJ, e eu passei naquele vestibular e hoje sou uma profissional super realizada na área que escolhi. Vê-los mais novos nessas imagens é quase como um espelho que nos lembra que já fomos pedaços de gente também.

Por último, pode ser coisa de millenial, mas lidar com esse mundo de 2019 não está sendo fácil. E essa "fenda no tempo" sugerida pelos dois veio bem a calhar. A realidade tem batido com muita força, e está difícil aguentar um mundo tão sem compaixão, e sem esperança de solução no curto prazo. E dá vontade de voltar no tempo mesmo, para uma época mais simples, em que as únicas preocupações eram chegar na segunda-feira na escola e comentar o episódio do seriado que passou no dia anterior. Tem sido um verdadeiro alívio chegar em casa e acompanhar todo esse frenesi novamente e esquecer todas as outras tragédias que inundam o noticiário. O escapismo nostálgico não é só uma maneira de negar a realidade, mas tem sido a única solução para manter um mínimo de saúde mental. 

Sandy e Junior povoam o imaginário de muita gente com um significado que talvez só agora eles se deem conta: o amor. E a gente estava precisando disso. Desse amor fraternal representado no palco, desse amor puro da adolescência traduzido nas canções, desse afago no coração do fã que diz que vai retribuir um pouco desse amor e realizar todos os seus desejos... Já tem tanta coisa ruim acontecendo no mundo, sabe? A gente tava precisando de mais amor. Em doses cavalares. E eu só posso agradecer a dupla por injetar essa quantidade de amor nas nossas vidas esse ano.


E se a ideia era não só fazer uma homenagem, mas também gerar novas lembranças, o objetivo está sendo cumprido. Pois junto com todas as memórias de mais de duas décadas, agora se juntam as lembranças do tumulto que eles estão causando em 2019 com essa nova turnê. Eles estão fazendo história... de novo!

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