terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Carta ao ET Bilu

Caro ET Bilu,

Há muito tempo que eu queria falar sobre esse assunto, mas sinto que só agora encontrei a pessoa, digo, o ser certo para debatê-lo.

A história é a seguinte, Bilu: mesmo antes da sua aparição, eu venho me empenhando em “buscar conhecimento”, mas acontece que essa tarefa não é tão simples quanto parece.

Eu sei que agora temos a Internet e que o surgimento do olho-que-tudo-vê do Google facilitou muito na hora de procurar o que se quer (como reza a lenda, se o Google não achou o que você queria, é porque aquilo ainda não existe. E é por isso que eu acredito em você, Bilu. Você está no Google, pode procurar), mas em algumas situações toda essa tecnologia, ao invés de ajudar, atrapalha. Porque o que o Google tem, Bilu, não é conhecimento. É informação. E nem sempre de fontes confiáveis.

E não me leve a mal, eu ADORO o Google, mas de vez em quando fico meio chateada com o bordão do Christian Pior - um humorista de um programa chamado Pânico na TV! - que diz “Não sabe? Joga no Google”. Parece que o “não saber” virou sinônimo de preguiça de procurar. Dizer “Não sei” nos dias de hoje é algo que chega a ser constrangedor, entende? Quer dizer, todo mundo diz que “Ninguém é obrigado a saber tudo”, mas ao mesmo tempo em que afirmam isso, reclamam como se a sua ignorância para determinado assunto fosse quase um crime. Sabe aquela frase de Sócrates que diz que “Quanto mais sei, mais sei que nada sei”? Acho que tem a ver com isso.

Mas deixemos o Sócrates e o Google um pouco de lado - porque, como eu disse, o Google não acha conhecimento e sim informação – e falemos daqueles realmente responsáveis por facilitar o acesso ao conhecimento: as instituições de ensino.

Para começar aqui no Brasil, a educação nunca é prioridade dos governos: o orçamento desse ano prevê uma redução de R$ 500 milhões para a educação, ao passo que os gastos com salário de parlamentares acabaram de subir mais de 50%, e há pouco tempo havia uma lei aqui no Rio de Janeiro que proibia os professores da rede pública de reprovar os alunos. No ensino particular (e eu posso falar tanto da rede pública quanto da particular, porque já estudei nas duas), a coisa é um pouco melhor, mas também falta compromisso por parte dos educadores para com o futuro do nosso país.

Quer dizer, existe muito professor ruim por aí, Bilu. Professores que não aparecem para dar aula, professores que só querem saber de reprovar o máximo de alunos possível, professores que passam a aula inteira contando piadas ao invés de ensinar alguma coisa e até professores que lecionam uma disciplina sem sabê-la e nem têm o cuidado de preparar as aulas antes. Nesse último caso, eu não sei nem quem é pior: se é o professor que aceita um cargo desses ou o coordenador do curso que o coloca em sala de aula.

Não sei como é lá no seu planeta, Bilu, mas posso garantir a você que esse tipo de comportamento não é o correto, porque por algum acaso, também já tive o prazer de assistir aulas com bons professores e o rendimento das turmas era absurdamente superior quando estimulados por esses verdadeiros heróis.

E sabe como eu me sinto quando tenho aula com esse tipo de charlatão enrolador? Me sinto enganada e perdendo meu tempo! Porque eu acordo cedo e pego condução cheia por um motivo, Bilu, eu quero aprender. E fico morrendo de raiva quando todo esse esforço se mostra em vão. Não sou autodidata, e tenho lá minhas ressalvas para com a educação à distância, por isso faço o curso presencial. Mas no final de um curso com montes desses professores, o que se percebe é que foi tudo uma grande mentira e que para APRENDER de verdade, vai ser necessário pagar OUTRO cursinho por fora. E sinceramente, isso é muito desanimador!

Também é engraçado notar como ultimamente há uma corrente de educadores que defendem o que eu gosto de chamar de “terceirização da educação”.Veja bem, não sou pedagoga, e nem tenho pretensão de ser, mas sou aluna e vou falar como tal. Parece que quanto mais o tempo passa, e mais os currículos são atualizados, menos conhecimento eles se comprometem em transmitir.

A alegação para tal segue mais ou menos o seguinte raciocínio: “Hoje em dia a informação está em todo lugar. Temos de tornar o conhecimento útil para a vida do aluno. O professor deve ser apenas um facilitador na busca pelo conhecimento e promover o debate, o pensamento próprio, não pode ser apenas um transmissor do conteúdo, porque se for para isso, o aluno vai lá - adivinha onde – no Google”.

Quer dizer, a tendência é ensinar cada vez menos, porque cada vez mais o conhecimento adquirido recebe o rótulo de “inútil” pela meninada ou ele poderia ser facilmente encontrado na Internet. Mas como definir o que é importante? Como definir o que não é? Tudo bem que uma pessoa que quer ser artista plástica não queira estudar Equilíbrio Químico, e que um futuro químico não queira estudar Machado de Assis, mas como saber do que se gosta e do que não se gosta se não se experimentou antes?

Não seria melhor que as instituições ensinassem pelo menos um pouquinho de tudo, mesmo que o estudante decida esquecer aquilo tudo? Quer dizer, não seria melhor que elas ensinassem de uma vez ao invés de terceirizar a passagem de conhecimento e aí o aluno não teria de apelar para o Google (afinal, nem tudo o que se tem na Internet é assim tão confiável), ou buscar OUTRO curso para suprir a deficiência do primeiro? Aliás, até que ponto esse “pouquinho de tudo” vai? Porque o conhecimento é infinito, mas o tempo é escasso...

E já que estamos falando em escassez de tempo, é ainda mais engraçado ver que esses mesmos caras que defendem “menos conteúdo, mais debate” são aqueles que criam um monte de matérias “anexas”. Sabe aquelas matérias em que “todo mundo passa”, mas que só fazem o aluno perder mais tempo no colégio e fazer mais provas e mais trabalhos? Pois é, Bilu, como se não houvesse disciplinas suficientes na grade curricular, circulam no congresso alguns projetos de lei para que sejam incorporadas milhões de novas matérias no currículo escolar, inclusive um que defende o ensino de “Amor ao próximo”. Amor ao próximo, Bilu! Isso lá é matéria que se coloque no quadro negro?

Eu sinceramente odiava (e ainda odeio) essas matérias. Não só porque não tinham objetivo nenhum, mas porque elas poderiam muito bem ser abordadas dentro de alguma outra disciplina, sem a necessidade de mais tempo na escola e mais provas. Agora, me responde uma coisa, Bilu, como ter tempo para realmente estudar e ensinar Português e Matemática se o aluno está preso na própria escola ouvindo “Como o amor ao próximo é importante”? Depois reclamam que os estudantes não sabem ler e nem fazer conta! O professor de português e matemática às vezes já não é bom, e o aluno não consegue recuperar a matéria em casa porque está “aprendendo” a amar ao próximo... Assim fica difícil, você não acha, Bilu?

Bem, desculpe a revolta, mas é que esse assunto realmente me tira do sério. E o pior é ver que às vezes as pessoas estudam, estudam, estudam e na hora do ‘vamo ver’, o QI (Quem Indica), ou fatores totalmente alheios (como o corte do seu cabelo ou o lugar onde você mora) é que mandam mesmo...

Quer dizer, sabe aquela história de que falar uma língua estrangeira é fundamental pro mercado de trabalho atual? Bom, não é tãããão fundamental assim. Passou no Jornal Hoje outro dia – é um jornal da Globo que passa na hora do almoço esse, Bilu. A Globo, infelizmente, não acredita em você – que o domínio de uma língua estrangeira é só o 15º (ou algo próximo disso) quesito que avaliam num candidato a vaga de emprego. 15º, Bilu! Antes disso, tinham 14 OUTRAS qualidades consideradas mais importantes! Espero que essa pesquisa esteja errada – o que não seria lá uma novidade porque o Jornal Hoje coloca no ar um monte de pesquisas duvidosas todos os dias. Mas também o que esperar de uma emissora que não acredita em você?.

De qualquer forma, prefiro continuar seguindo o seu conselho e buscando bastante conhecimento. Porque também como dizia um outro filósofo grego (Aristóteles, dessa vez), “A educação tem raízes amargas, mas os seus frutos são doces”, e eu espero colhê-los muito em breve.

Desde já agradeço sua atenção,
Elisa

PS. Se não for pedir muito, será que num próximo pronunciamento, você não poderia tentar abrir os olhos da população e deixar essas raízes da educação um pouco menos amargas?

6 comentários:

  1. Realmente, essas instituições de "ensino" de hoje não são mais como antigamente. Tbm acho revoltante esses professores-tapa-buraco de faculdade que não sabem nada do assunto e tao lá só pra cumprir horário, é revoltante vc acordar cedo pra ouvir ladainha...
    Pesquisei no google sobre o ET Bilu! E ele fala igual ao Dobby do Harry Potter! Bilu isso, Bilu aquilo... HUSHUAHUSHUAHUSA
    Bilu na verdade é um elfo doméstido!
    beeijo

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  2. E sabe como eu me sinto quando tenho aula com esse tipo de charlatão enrolador? Me sinto enganada e perdendo meu tempo! Porque eu acordo cedo e pego condução cheia por um motivo, Bilu, eu quero aprender. E fico morrendo de raiva quando todo esse esforço se mostra em vão. Não sou autodidata, e tenho lá minhas ressalvas para com a educação à distância, por isso faço o curso presencial. Mas no final de um curso com montes desses professores, o que se percebe é que foi tudo uma grande mentira e que para APRENDER de verdade, vai ser necessário pagar OUTRO cursinho por fora. E sinceramente, isso é muito desanimador!

    Falou TUDO.

    E se chegarmos no ponto de insensibilidade em que 'amor ao próximo' tenha que ser ensinado NA ESCOLA, me desculpe, mas, por favor, pare o mundo, que eu quero descer.

    E quem é o Bilu? Acho que vou ao tio Google perguntar, pq eu eu não sei... olha a informação aí, gente! :P

    Bjs

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  3. Aaaaai, meu Deus! :D

    Apenas que... busquem conhecimento!

    Hushasuhs... xD

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  4. Essa história de abduzir professor me lembrou uma certa pessoa chamada Vanuza, mas é melhor deixar isso pra lá huahuahuahua to meio nostálgica hoje
    Enfim, concordo com vc, ninguém tem mais o que fazer e fica enchendo o colégio com essas diciplinas. Acho tb que o colégio podia ter coisas mais úteis, coisas que os alunos podem fazer como atividade extra, se quiserem, pq nem todo mundo que tá na escola, como vc msm disse, vai virar engenheiro ou físico. E se eu quisesse aprofundar meu lado artístico, não poderia ter uma disciplina extra em que eu poderia melhorar meu dons? Acho isso válido. Agora sinceramente, ensino do amor ao próximo ???? ¬¬ Daqui a pouco eles vão ensinar algumas matérias que tem no ensino poli técnico da estácio, como carnaval. Imagina vc estudar na escola uma diciplina do carnaval, huahuahua, tosco né?
    Bjs

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  5. Eu simplesmente ADOREI este post. Já é clichê eu comentar aqui que seu post é genial mas esse é MAIS que genial. Só você mesmo, Lisa.

    Entrando no mundo das cartas! Esses posts ficam ótimos.

    Eu também amo o google mesmo que ainda não recorra a ele sempre que preciso, as vezes prefiro perguntar aos outros mas ele serve de um ótimo tira-teima quando ngm sabe a resposta.

    Professores ruins são um verdadeiro CAOS. Também acho um absurdo quando encontro um cara desses. Sabe, é o trabalho deles, o único propósito de estarem numa sala de au7la recebendo dinheiro é para ensinar os alunos decentemente para que eles realmente aprendam e construam um futuro melhor. E eles ainda negligenciam isso? Como pode? O pior de tudo é saber que aquilo que o professor negligente não ensinou seria importante mais para frente. ABSURDO!
    Eu adoraria ver a prova de aula que esse tipo de professor fez para entrar na instituição de ensino. Será que foi boa?

    Ensinar "Amor ao próximo" numa escola é fogo mesmo! Isso lá é coisa que se ensina. Fico imaginando que os alunos que reprovassem nessa matéria se sentiriam as piores pessoas do universo.
    Pior ainda foi a matéria de Carnaval falada no comentário aqui em cima, nessa eu iria reprovar kkkk

    Eu também não conhecia o ET Bilu. Perdão, Bilu, terei que apelar para o Google também.

    PS: Você tem algum link para essa lista das coisas mais importantes para se conseguir um emprego?

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  6. Excelente texto!! Meus parabéns! Pesquisei ET Bilu no Google esperando encontrar um monte de baboseiras e me surpreendi com essa excelente crítica. Concordo com tudo e assino em baixo

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