Becky Bloom é uma personagem incrível. Cercada por amigos ainda mais legais. Conhecemos nossa querida viciada em compras quando ela ainda trabalhava como jornalista de economia (mesmo não sabendo nada de economia, nem aplicando qualquer coisa na sua própria vida), rimos horrores quando ela foi à NY, acompanhamos a loucura que foi seu casamento, descobrimos que ela tinha uma irmã há muito perdida (apesar de ser um dos clichês mais safados de séries, adoro o livro da irmã com todas as forças!!!), e nos acabamos quando ela ficou grávida.
Conforme o passar dos livros, ficava cada vez mais claro que Becky era muito mais do que uma compradora compulsiva. Sua habilidade em se meter em confusão, mesmo com a melhor das intenções, e criatividade para sair delas é o que move a série. Não é sobre comprar ou não comprar. Os livros da Becky valem só pelo prazer de vê-la entrando em confusão, metendo os pés pelas mãos e acertando tudo no final. E costumava dizer que só isso garantiria a longevidade eterna para a série. Costumava, porque acho que, infelizmente, chegamos a um ponto em que não dá mais. É chegada a famigerada hora de parar.
Desde Mini Becky Bloom, em que a personagem encara os percalços da crise financeira de 2008 (bela sacada de Kinsella!), Becky já não compra enlouquecidamente como outrora. E isso não fez a menor falta. Becky #6 é ótimo, e foi bacana ver a personagem amadurecendo um pouco. Seu comportamento compulsivo já estava sendo espelhado pela filha, que, apesar de fofa, estava ficando mimada que só. O livro termina com um gancho para um Becky #7 que parecia óbvio: Becky em Hollywood ia colocar Los Angeles de cabeça pra baixo! Como a gente ainda não tinha visto isso antes?
No quesito comédia Becky #7 é nota 10. Não tem do que reclamar. Muitas situações constrangedoras que fazem o leitor passar vergonha no transporte público, ou rindo enlouquecidamente, ou gritando e arregalando os olhos, sem acreditar que no que a nossa personagem favorita estava realmente aprontando. No quesito desenvolvimento do personagem, infelizmente, ficou devendo. Becky sempre teve um pé na futilidade, mas passou do limite. Foi egoísta ao extremo e por pouco não perdeu a família e os amigos por causa de uma teimosia infantil de se tornar uma celebridade. Esse tipo de comportamento da Becky há 10 anos seria OK. Com quase 40 anos na cara, e com uma filha pra criar, não muito. Ao final, felizmente ela recobra a consciência, mas uma das pontas ainda fica solta para um inesperado oitavo livro. Agora Becky e toda a sua turma entram numa missão rumo a Las Vegas. E a partir daí tudo vira uma fanfic oficial que não tinha necessidade nenhuma de um livro de 400 páginas.
Acho que Sophie Kinsella, praticamente uma engenheira de histórias pela habilidade de encaixar arcos e surpreender o leitor, teve um erro no planejamento. Os livros da Becky, sempre tão episódicos e redondinhos, nessa última trilogia de revisita terminaram com assuntos inacabados que foram se acumulando até esse último aí, que basicamente só serviu para dar fim nos dramas introduzidos nos volumes anteriores, pois a história que devia mover o episódio em si não funciona. Não por acaso esse é um dos livros mais curtos da série. Porque realmente não há muito o que se contar aqui.
É tudo muito forçado, desde todo mundo (todo mundo mesmo!) num trailer no meio do deserto pra procurar o pai da Becky, até o motivo pelo que o cara sumiu, passando por uma crise no casamento de Suze e um abalo na amizade dessa última com Becky. É fácil perceber Kinsella tentando justificar a falta de sentido do desenrolar da trama o tempo todo. E é preciso uma dose de descrença da realidade muito maior do que o normal aqui, muito embora o que mais faz mais falta sejam justamente as cenas absolutamente irreais protagonizadas pela nossa mocinha favorita.
Era de se esperar que Becky em Las Vegas renderia algumas delas, mas, Sra. Bloom está irreconhecível. Triste e com remorso, ela sabe que passou do limite em Los Angeles, e.... choque, nem sente vontade de comprar nada!!!!! E se por um lado foi bom vê-la agindo como uma pessoa responsável de vez em quando, pelo outro, um livro de Becky Bloom em que ela não mete os pés pelas mãos não tem a menor razão de existir.
Temos então, pela primeira vez, uma mudança na dinâmica da série. Ao invés de ser um livro movido a constrangimento, este é um volume inspirado nos road movies. Apesar de ainda ser uma comédia, Becky #8 baseia-se na resolução de um mistério, com toques de emoção e muitas cenas contemplativas do deserto dos EUA. O problema é que o mistério não tem a menor graça, e, quando revelado, o leitor fica esperando o tempo todo uma reviravolta kinsellística que nunca acontece.
O final com a turma toda unida em prol da resolução de um plano infalível de Becky é bonitinho e quase justifica o livro. Mas, ao invés de um volume completo, podia ser um de 50 páginas só com essa parte que eu ia ficar feliz da vida. Afinal, é sempre bom ver Becky e seus amigos interagindo.
Mas, ao final desse livro, me pergunto se isso é o suficiente para manter o fôlego para possíveis continuações. Os personagens continuam extremamente carismáticos, mas, fica a sensação de que todas as histórias já foram contadas e continuar pode comprometer seu o desenvolvimento ou a verossimilhança da jornada. Talvez a partir daqui só as fanfics deem conta. Talvez realmente tenha chegado a hora de parar. E se a saudade for tão grande que Sophie Kinsella sinta a necessidade de voltar, talvez esse formato de fanfics oficiais curtinhas possa ser uma solução que faça todo mundo feliz. A gente pode até não ser shopaholic, mas é claro que a gente não vai deixar de comprar.
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